1 de dezembro de 2009

Malandragem nos subtítulos

Agora a onda é embaralhar nos subtítulos e títulos. A Folha foi atrás do "menino do MEP", que além de negar a história do César Benjamin, segundo a qual Lula o teria assediado na cadeia, atacou o jornal e o editor. Sua esposa também atacou. Disse que era uma baixaria, que atingia a honra da família.

A Folha, em vez de pôr a negativa no subtítulo, o que faz? Publica o seguinte:

João Batista dos Santos diz não ter "nada a comentar" sobre texto em que colunista relata ter ouvido Lula dizer que tentou "subjugar" companheiro de cela

O próprio título também é ambíguo:

Ex-preso do MEP afirma que artigo de Benjamin é "um horror"

O que os leitores querem saber é se é verdade ou não. E as respostas de Santos são bem claras: trata-se de uma baixaria sobre a qual ele se recusa sequer a pensar. Por razões óbvias: ele é um homem, tem mulher, família, amigos. A sua honra foi ofendida. Um inocente, preso pela ditadura, é novamente torturado, desta vez pelo jornal que apoiou a ditadura e emprestou kombis para leva-e-traz de presos políticos. Santos, como todo mundo, deve possuir seus desafetos, seus amigos desbocados, que irão tentar humilhá-lo com essa história. Quem o irá defender?

Onde isso vai parar?

Não satisfeitos com as respostas que põem o jornal em maus lençóis, os editores da Folha manipulam subtítulos e títulos para lançar fumaça sobre os dados concretos da matéria. Agem como um Mefistófeles invertido. O personagem de Goethe dizia que ele era o que: "fazendo o mau, emprenhava o bem". A Folha finge fazer o bem para engendrar o mau. Embaralha verdades para produzir mentiras.

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Leiam o post do Eduardo, que fala exatamente sobre esse ponto.

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O irritante é que o artigo da Folha traz informações completas sobre a vida do homem, expondo-o gratuitamente. Mais uma vítima da violência midiática. Se eu fosse esse rapaz, processava a Folha.

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Entrentanto, esse é o tipo de caso em que não adianta a lei. O tipo de decência humana de que falamos aqui não está na Constituição. Está no bom senso. É algo realmente terrível, porque interdita o diálogo democrático, remove aquele mínimo de confiança mútua necessário para que o debate político tenha existência. Produz o clima de vale tudo, de guerra, que desvaloriza a argumentação política por torná-la supérflua e ingênua. Do que adianta esforçar-se para manter um debate ideológico de alto nível se o adversário apela para artimanhas de baixo calão?

2 comentarios

JanuskieZ disse...
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Douglas Yamagata disse...

Não sei nem como a "Foia" publicou a parte que Souza diz que o Frias pai era melhor que o Frias filho(dp).

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