3 de dezembro de 2009

Iniciando o folhetim

Então, meus caros. Vamos publicar uma pequena novela, em capítulos, à maneira dos folhetins de antigamente. Minha estratégia para fugir ao aborrecimento inerente à leitura de literatura na web é publicar em capítulos bem curtos. Essas são minhas férias, a maneira que encontrei de descansar um pouco da política e exercitar a imaginação. Espero que isso não dure mais que alguns dias. Lembro ainda que continuo fazendo, diariamente, a Carta Diária Óleo do Diabo, e que, este mês, está vindo com uma série de artigos e estatísticas muito interessantes sobre comércio exterior, os quais possibilitam comentários pertinentes sobre a geopolítica e a diplomacia comercial do Brasil. Sem mais rodeios, eis a primeira parte do "folhetim". O título da novela é "O golpe".



O golpe

1

Abriu os olhos e viu as nuvens, deslocando-se lentas e decididas, qual fila de imigrantes a fugir, desordenadamente, de um país em guerra. O chão da estrada era o céu, de um azul claro que sempre lhe pareceu tão calmo, tão alegre. Já era final da manhã, ele podia ver pela qualidade da luz. Hora de partir, Lima. Hora de partir.

Ligou o carro e a voz do locutor, grave e nervosa, lhe deu um susto.

"... o governo interino pede à população que procure permanecer em casa nas próximas 48 horas. O presidente do Congresso assumiu a chefia da república em meio a violentos protestos de alguns parlamentares... Entretanto, segundo a polícia, as ruas de Brasília estão calmas... "

Desligou o rádio, nervoso. Falou consigo mesmo, rilhando os dentes: "Calmas... também, depois do que fizeram ontem... estão aterrorizados... isso sim".

Deu partida e ganhou a estrada. O vento no rosto, as paisagens em fuga, o céu azul salpicado de nuvenzinhas brancas deslocando-se suavemente, libertavam-no de pensamentos que não queria ter. Não no momento. Ainda tinha muita estrada pela frente. Olhou para a maleta pousada sobre o banco ao lado, tranquila como uma criança morta. Ali estavam guardadas sombrias imagens do passado. Ali descansavam promissoras perspectivas de futuro.

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