Dentre os que fizeram ressalva, está o Clarín, jornal conservador que faz oposição à Cristina Kirchnner; ainda assim, optou pela manchete: "Lula, no alto do pódio, entre os mais influentes do mundo".
Abaixo, um apanhado de alguns sites que visitei. Para ver melhor, clique sobre a imagem. Volto a escrever lá embaixo.
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O constrangimento foi geral nas redações. Apesar de, em seu portal na web, ter sido de longe a matéria mais lida e comentada, o Estadão não botou na capa e publicou apenas nota no pé da página. O Globo também não deu na capa, mas publicou quase uma página inteira, enfatizando contudo não o prêmio, seu significado e repercussão, e sim o fato de Michael Moore, que comenta sobre Lula, não ter mencionado o mensalão, problemas na saúde pública, etc, como se o cineasta pudesse sintetizar todos os problemas do governo e do país num texto com menos de uma lauda. O Globo sequer informou a seus leitores que Lula ocupou o topo da lista.
A Folha deu na capa o seguinte:
Ou seja, assim como o Globo, a Folha também ocupou o espaço para "explicar" a seus leitores que não se tratava de um ranking. Pelo menos informa que ele é citado em primeiro lugar, embora não tire a conclusão lógica do fato.
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Alguns colunistas comentaram a notícia na imprensa de hoje. Separei dois textos que me chamaram a atenção: um de Barbara Gancia, na Folha; e outro de Fernando de Barros e Silva, no mesmo jornal.
Reparem nesse trecho da coluna de Gancia:
Ah, e como a gente precisa que gostem de nós! Norte-americano não está nem aí se o resto do mundo quer ver os EUA riscados do mapa; suíço, holandês, canadense, belga, sueco e finlandês tampouco estão se lixando se você aprovou ou não o país dele. Já o italiano faz questão de criticar a Itália junto com você. E só os mais humildezinhos, digamos, uma Honduras, uma Gana, uma Nigéria, um México, uma Venezuela ou... um Brasil têm aquele patriotismo rasgado, de chorar pela pátria quando toca o hino.
Ué, vocês sabiam que o brasileiro era tão patriota? Eu achava que, ao contrário do que diz Barbara, os americanos é que eram. Não tem um filme americano em que não apareça a bandeira deles. Na Europa, o nacionalismo é tão grande que já mataram dezenas de milhões por causa disso. No Brasil, sempre ouvi as pessoas só falando mal do Brasil, sobretudo entre os missivistas de jornal. Nos últimos anos, com Lula, é que temos visto emergir um orgulho maior pela nacionalidade, mas nada que seja tão piegas e exagerado. Ou seja, Barbara esculacha o brasileiro por um patriotismo que só ela vê. Sem contar que ela compara o Brasil a Gana e Nigéria...
Sobre o texto do Fernando, eis um trecho:
No perfil que escreveu do petista, o documentarista Michael Moore diz platitudes, mas é certeiro ao afirmar: "O que Lula quer para o Brasil é o que nós costumávamos chamar de sonho americano".
Um mundo de consumidores banais e felizes. Uma sociedade remediada na sua selvageria pela força integradora do dinheiro. Do socialismo, nem o cadáver. Esse é o horizonte em que se movem Lula e sua utopia mundana. Moore viu o que muito petista ainda não entendeu.
O antilulismo desses caras é tão doentio, tão radical, que eles preferem se tornar antiamericanos (renegando portanto a si mesmos) a aceitarem um elogio ao presidente. O sonho americano a que se refere Michael Moore é o velho sonho de liberdade e oportunidade para todos. Reduzir a grande nação americana, pátria do rock, do blues, do jazz, da literatura beat, de uma gigantesca e eclética indústria de cinema, que desenvolveu a informática moderna e inventou a internet, a uma "sociedade remediada na sua selvageria pela força integradora do dinheiro" seria coerente na boca de um militante do PSTU, não num assumido conservador ianque como Fernando de Barros e Silva.
Como já dizia Jorge Maravilha, eles podem não gostar do Lula, mas o povo gosta.