Deixemos as pesquisas de lado, por enquanto. A campanha acabou de começar. As alianças partidárias estão se configurando. Ainda teremos debates na TV, propaganda gratuita, muitas águas irão rolar por esses rios. Analisemos tudo com muita calma. Vamos repassar as características do principal adversário de Dilma Rousseff. Não faço o mesmo com Dilma porque achei que ficaria ridículo, no mesmo espaço, mandar bala no tucano e rasgar seda para a petista. Fá-lo-ei num outro post, ao menos. Esforçar-me-ei, todavia, para não repetir o que todo mundo já sabe. O público aqui, creio eu, é bem informado, quase especializado.
José Serra
Tem posição crítica e negativa em relação ao Mercosul. Defende sanções contra o Irã. Tem um perfil intervencionista em termos econômicos. Seria uma espécie de Chávez da direita. Já ameaçou romper contratos e governar com medidas provisórias. O que faz sentido, visto que, mesmo ganhando, Serra dificilmente terá maioria parlamentar. Seu histórico político recente não é bom. Elegeu-se prefeito por São Paulo e, depois de prometer ao vivo, na TV, cumprir seu mandato até o fim, descumpriu a promessa e concorreu ao governo do estado. Sua gestão em São Paulo foi considerada "sem brilho" até mesmo pela Folha de São Paulo, jornal fortemente aliado. Desaparece nas crises, numa tentativa de não colar sua imagem a nenhum tipo de problema. Buraco no metrô? Cadê o Serra? Sumiu. Cai viaduto? Some de novo. Enchentes em São Paulo? Evapora.
A eleição de Serra constituiria uma reviravolta geopolítica na América Latina, um golpe nas esquerdas de todo continente. Mas a consequência mais grave, em termos globais, seria o apoio ao belicismo americano contra o Irã, produzindo uma nova fronteira de conflitos no mundo. O Irã, todavia, não é Palestina, um estado falido, miserável, desesperado. Tampouco é o Iraque, um país que não tinha um exército organizado. Uma guerra contra o Irã despertaria uma nova onda terrorista em todo planeta, e se o governo brasileiro, sob liderança de Serra, apoiar essa barbaridade, nosso país se tornaria alvo do ódio muçulmano e vítima potencial de atentados terroristas.
Outro ponto negativo: elegendo-se com forte apoio midiático, e ao mesmo tempo com toda esta fragilidade parlamentar, o governo Serra ficaria dependente das famiglias que dominam a comunicação de massa no Brasil. Frias, Mesquitas e Marinhos estariam no poder, visto que Serra não poderia negar-lhes nada, sob o risco de ser derrubado politicamente. Escândalos serão sistematicamente abafados. Esses grupos, fortalecidos e consolidados à sombra do regime militar, tornaram-se o símbolo máximo, para boa parte da população esclarecida, de uma tirania midiática de caráter fortemente conservador, e recuperariam boa parte de seu poder político sob a batuta de um governo tucano.
21 de abril de 2010
O fator Serra
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