24 de abril de 2010

Não, Ciro. Serra não é mais preparado para enfrentar crise

Brizola Neto, em seu Tijolaço, comenta as manipulações feitas em torno das declarações de Ciro Gomes, exagerando sempre suas críticas ao governo e à Dilma, e omitindo os petardos que ele solta, como de praxe, contra o serrismo.

Não dá, todavia, para tampar o sol com a peneira. Ciro conhece de perto a disposição antilulista da mídia e tem inclusive se utilizado dessa contraforça para se projetar. É muito fácil. Basta criticar o PT em temas mais ou menos óbvios, de forma não muito violenta para não queimar pontes, nem suave demais a ponto de não chamar a atenção dos hidrófobos antipetistas da big press, obcecados em coletar e divulgar qualquer crítica a seus inimigos.

O Ciro de ontem resolveu elevar a dose de antipetismo para, proporcionalmente, ganhar mais mídia. Quanto mais violento for seu ataque ao PT e, particularmente, à menina dos olhos do petismo, a sua candidata Dilma Rousseff, mais holofotes se acenderão para Ciro Gomes desfilar.

Conseguiu. O nome Ciro aparece em todas as manchetes de jornal.

Ou seja, Ciro Gomes sabe o que fez.

A mídia parou de xingar Ciro Gomes, pintado agora como um campeão. Destemperado, mas valente.

As forças dilmistas, como era de se esperar, assistem a cena estarrecidas, com medo de qualquer manifestação que bote ainda mais fogo na fogueira.
Segundo a pesquisa Ibope, Ciro Gomes marcou 8% na pesquisa estimulada. Isso corresponde a quase 10 milhões de votos. Ele é uma figura importante no xadrez eleitoral, e sabe disso. Suas manifestações serviram como advertência, tanto aos governistas, quanto para a oposição. Ciro tem expertise midiática. Na verdade, ele se tornou uma espécie de celebridade.

Mas Ciro, outra vez, deslumbra-se com a luz dos holofotes. Por mais intensa que esta seja, o poder não está em quem está sob a luz, e sim em quem liga ou desliga a lâmpada. E não é Ciro quem faz isso.

O deputado está nitidamente confundindo política com uma cultura de celebridade, e querendo impor a sua opinião política, que é válida, mas é SUA opinião pessoal, ao povo brasileiro. Isso não se impõe. Conquista-se. Ser presidente da República não pode ser puramente uma ambição pessoal. O candidato deve estar no centro de um conjunto de forças políticas, partidárias e sociais, para ser um representante dessas idéias, e não de SUAS idéias.

Daí que o parlamentar declarou, no meio dessa confusão, que pode abandonar a política e virar "intelectual". Toda frase de Ciro recende a uma arrogância que me assusta. Em primeiro lugar, ele parece menosprezar a função do intelectual. Se quer virar intelectual, ótimo. O Brasil precisa tanto de intelectuais como de políticos, contanto, claro, que seja um intelectual competente e corajoso. Afinal, da mesma forma que há políticos corruptos e incompetentes, também há intelectuais desprezíveis.

Em segundo lugar, Ciro simula um ceticismo em relação à política que não é coerente, nem com sua astúcia, nem com as circunstâncias históricas. Nunca houve política ideal em lugar nenhum do mundo. Muito menos no Brasil. Provavelmente nunca haverá. A política, por ser um ringue onde se disputa o poder, sempre atrairá os espíritos mais violentos e mais ambiciosos. Isso é natural e por isso mesmo que os cidadãos devem se organizar para lidar da melhor forma possível com esse Leviatã.

As circunstâncias históricas atuais, por outro lado, também não respaldam o sarcasmo e o cinismo de Ciro Gomes, porque estamos testemunhando mudanças sócio-econômicas profundas no país e o deputado sabe disso. Em meio à névoa neo-maquiavélica em que partidos e forças sociais se digladiam, pode-se vislumbrar o povo caminhando, silenciosamente, discretamente, indiferentemente, em direção à um futuro um pouco melhor. É um silêncio cheio de orgulho, porque os governos não lhe fazem favor algum. É uma conquista de seus próprios direitos, e que lhe custou, nos últimos séculos, muita fome, muito trabalho, muito sofrimento. Ciro Gomes sabe disso. Ciro Gomes sabe que dezenas de milhões de nordestinos já morreram de inanição e doenças. Ciro Gomes sabe que as capitais do Sudeste foram construídas por braços nordestinos, ao mesmo tempo que o Nordeste agonizava.

Ciro Gomes sabe, enfim, que o Nordeste passa por uma fase de grande transformação social, registrando índices de crescimento econômico muito superiores ao do resto do país.

Não quero acreditar que Ciro, mesmo sabendo e testemunhando tudo isso, quer pular para o outro lado do balcão e defender os conservadores do Sudeste.

Irá Ciro agora defender que Serra está mais preparado que Dilma para enfrentar crise? Por quê? Serra não será um ditador. Será a cabeça de um conjunto de forças políticas, e essas forças, na minha opinião, não estão nada preparadas para enfrentar nenhuma crise, principalmente porque foram essas mesmas forças as grandes produtoras de crises no Brasil. A ideologia política do serrismo não passa de um êmulo tropical e mambembe das idéias estrangeiras que geraram a última grande crise econômica mundial.

O governo Serra não apenas não estaria preparado para enfrentar crises, como seria o pivô de muitas crises. Sua conhecida intransigência e seu centralismo autoritário deflagrariam conflitos em toda parte: com prefeitos, com governadores, com movimentos sociais, com sindicatos, com outros partidos.

Além disso, Serra se elegeria com um reduzido grupo de partidos. Os únicos aliados do PSDB são partidos decadentes, reacionários. Quase não são mais partidos. PPS e DEM já articulam integrar-se ao PSDB para escaparem a uma humilhante extinção natural. Ninguém mais quer votar em PPS e DEM. Esse é o governo mais preparado para crise?

Não tem sentido.

Um governo mais preparado para enfrentar uma crise é um governo forte, que lidera um amplo leque de alianças partidárias, que exerce com sucesso a mediação entre segmentos sociais fortemente antagônicos. Serra não serve para fazer esta mediação porque os tucanos defendem apenas um lado. Serra não tem apoio de nenhuma entidade sindical, trabalhista, estudantil, indígena, camponesa. Nenhum instituição com um mínimo de enraizamento popular apóia ou apoiará Serra.

Não, Ciro, Serra não está preparado.

Ao longo de sua carreira, Serra afastou-se do povo brasileiro, e de seus interesses.

Serra não está preparado para representar o Brasil lá fora.

Ele já começou atacando o Mercosul, uma das maiores conquistas da América do Sul das últimas décadas. Ao mesmo tempo em que defende que o Brasil amplie suas exportações de manufaturados, Serra não vê (por cegueira ideológica) que é o Mercosul, e a América Latina, o destino de 90% de nossos manufaturados.

Serra defende o belicismo neocon dos norte-americanos e já escreveu um artigo fortemente ofensivo ao Irã.

Contribuirá, portanto, para as articulações pró-guerra que os poderosos lobbies armamentistas semeam na mídia corporativa mundial.

Não, Ciro. Serra não está preparado. E, pelo jeito, tampouco você está.

8 comentarios

Marcos Doniseti disse...

Excelente texto, Miguel. Gostei tanto que o reproduzi no meu blog, com os devidos créditos, é claro. Qualquer problema, é só me avisar, ok?

Link:

http://guerrilheirodoentardecer.blogspot.com/2010/04/miguel-do-rosario-diz-nao-ciro-serra.html

Pax Vobiscum disse...

Fiz muitos elogios a Ciro, inclusive acreditando que seria a solução para desbancar o mesmo grupo político que governa São Paulo há 30 anos.
Por isso o estado virou o que é hoje. Um estado a reboque do progresso do resto do país, exacerbação, que chega quase a unanimidade dos conceitos neo-conservadores da população do estado, quando outrora isso era "privilégio" somente das elites.
Os números não me deixam mentir. Alckmin têm 53 % das intenções de voto no estado, o que para mim é um espanto, face ao medíocre governo que fez em conjunto com Covas, o revolucionário que deu início a desconstrução de São Paulo.
Certamente depois de contrariado, Ciro não seria a solução para São Paulo, divinamente providencial o encaminhamento da sua postulação em ser candidato a presidente. Mostrou, apesar dele dizer que está, totalmente despreparado para o cargo de presidente.
Interessante o que a cultura faz com certas pessoas. Embebecido por vasto conhecimento se afoga no mais elementar atributo para um político se dar bem. Raciocinar politicamente. Desgraçadamente para ele Ciro, essa é uma virtude que não têm, nunca teve e jamais terá, embora ele teime em dizer que aprendeu com o tempo. Não aprendeu não, e o seu comentário Miguel, diz que não aprendeu. Concordo plenamente. É uma pena que seja assim. Seu talento poderia ser muito útil para o país.
Mas não podemos querer tudo. Não é?

José Carlos Lima disse...

"Ser presidente da República não pode ser puramente uma ambição pessoal. O candidato deve estar no centro de um conjunto de forças políticas, partidárias e sociais, para ser um representante dessas idéias, e não de SUAS idéias."
Ao ler este trecho me lembrei de Collor que, sem apoio enraizado nos partidos, sindicatos e organizações sociais, deu no que deu.
Collo, como Serra, só tinha mesmo o apoio da mídia, apoio que perdeu por pressão popular, quando a Globo teve que entregar os anéis para não perder os dedos.
Tomara que a história não se repita.
Quanto a Ciro, ótimo texto este seu, deveríamos circular pela web.
Às vezes me pergunto se Ciro não virou garoto de recado de seu amiguinho Aécio Neves, queria Deus que eu esteja errado, mas Aécio é expert em dividir e enfraquecer a esquerda ao cooptar quadros do campo progressista, um exemplo foi a prefeitura de BH, que Pimentel deu de mão beijada para uma pessoa de confiança de Aécio.
Pimentel desobedeceu as orientações do PT e hoje há uma dificuldade em MG, fora esta minha suspeita de que Ciro está a serviço disparando torpedos a mando de Aécio.
Será que estou viajando na maionese?
Estou vendo coisas demais?
Segue link para texto de Emir Sader/Carta Maior
http://www.cartamaior.com.br/templates/postMostrar.cfm?blog_id=1&post_id=455

RLocatelli Digital disse...

Olá, Miguel! No final do mandato de FHC, com o Brasil falido, Ciro ficou na dúvida se queria mesmo ser candidato a presidente. Ele declarou: "não quero ser síndico de massa falida", referindo-se à situação do Brasil. Hmmm, então Ciro só quer ser candidato se o Brasil estiver em boa situação, como agora? Ôpa, esse é o tipo de presidente que não queremos pois, assim como houve a crise de 2008/2009, pode haver outras. Queremos um (a) presidente que não tenha medo de enfrentar dificuldades. Quanto a Serra ser mais "preparado", é uma expressão totalmente desprovida de sentido. Preparado como? Com mais cursos superiores? Tendo sido ministro do planejamento de FHC, justamente no período do apagão DE UM ANO, causado por falta de planejamento? Comprando ambulâncias superfaturadas quando ministro da saúde? Deixando de desassorear o rio Tietê, o que causou um desastre? Privatizando os reservatórios do Alto Tietê, o que causou outro desastre? Tentando privatizar a CESP - Centrais Elétricas de SP, sem licitação (ainda bem que a Justiça barrou essa maracutaia)? Isso é ser mais "preparado"? Não, não, fico com a Ministra Dilma, que lutou contra a ditadura com risco da própria vida, reorganizou o setor elétrico depois do sucateamento promovido por FHC e comandou o ministério de Lula com maestria.

Alexandre Porto disse...

Miguel parabéns pelo texto.

"Ou seja, Ciro Gomes sabe o que fez."

Foi que eu disse para dois amigos que assistiram comigo a entrevista no SBT. Ele sabe que todas as ácidas críticas que fez ao Serra e os elogios que fez a Dilma e Lula seriam ignoradas diante de uma frase que fosse em sentido oposto.

Eu mesmo defendi e ainda defendo sua candidatura. Escrevi isso no meu blog.

http://bit.ly/aAHquA

Na verdade mais do que apoiar sua candidatura, defendi que o PT fizesse uma declaração formal de que não interfere. Ao contrário, não sei bem pq, o partido deixou que a versão de um rolo compressor anti-Ciro se consolidasse. Acho que é um erro estratégico. Nem Ciro tem certeza diso, pois só cita uma suposta intervenção de Dirceu que, no frigir dos ovos, não fala pelo partido. E mesmo assim, o PT cearense nunca vinculo esse apoio à sua candidatura.

Quanto ao Ciro é um sujeito que faz política personalista. É capaz de ver uma enorme diferença entre Serra e Aécio; entre Sérgio Guerra e Tasso Jereissati. Em ato falho praticamente se definiu como um coronel cearense, irritado com a visita de Dilma ao estado.

Foi um leal parceiro do governo Lula, mas realmente não entende o desafio que é construir uma candidatura dessa magnitude.

Unknown disse...

Ciro está mesmo determinado a ser a HH da vez, Hiena histérica, agora na figura masculina.

Irritantemente, faz o q nao se espera de 1 candidato oposicionista, ataca o q de melhor temos na cena eleitoral do Brasil, nesnte momento.

Infeliz Ciro.

Expoe suas idiotices políticas, como os fascistas gostam, na baixaria midiática q (sobre)vive assim, de "escândalos", falsas crises e manipulacoes.

Aliás, ele nao está sozinho: Marina vai pela mesma toada.

Parece oferta comercial:
saia do PT, ganhe 1 mídia de presente!

"Vire" opositor, agora sem partido, mas c/ mídia, e te daremos o q vc nunca teve: voz - já q vez ... nunqinha.

Enfim, Marina e Ciro, siameses no reacionarismo, vao longe ... alí na esqina, onde o capim dos asnos políticos é farto, e gratuito (e efêmero).

Inté,
Murilo

Unknown disse...

Ciro está mesmo determinado a ser a HH da vez, Hiena histérica, agora na figura masculina.

Irritantemente, faz o q nao se espera de 1 candidato oposicionista, ataca o q de melhor temos na cena eleitoral do Brasil, nesnte momento.

Infeliz Ciro.

Expoe suas idiotices políticas, como os fascistas gostam, na baixaria midiática q (sobre)vive assim, de "escândalos", falsas crises e manipulacoes.

Aliás, ele nao está sozinho: Marina vai pela mesma toada.

Parece oferta comercial:
saia do PT, ganhe 1 mídia de presente!

"Vire" opositor, agora sem partido, mas c/ mídia, e te daremos o q vc nunca teve: voz - já q vez ... nunqinha.

Enfim, Marina e Ciro, siameses no reacionarismo, vao longe ... alí na esqina, onde o capim dos asnos políticos é farto, e gratuito (e efêmero).

Inté,
Murilo

Unknown disse...

Que texto maravilhoso!! Análise perfeita!! Parabéns!!

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