(Basquiat)
Estou atrás de fatos negativos sobre o governo Dilma. Decidi criar uma editoria especial para isso, usando a tag #dilmabadfacts. Quem quiser me mandar críticas ou denúncias contra Dilma, o PT e o governo de maneira geral, mande que irei publicar, dar destaque e fazer análises destruidoras. Talvez eu até me filie ao DEM. Quero ver então quem vai me chamar de chapa branca ou governista!
Mas antes quero fazer uma última defesa de madame Rousseff e seus comparsas.
Hoje eu navegava pelo blog do Nassif e topei com um
post intitulado "Irã: muda a política brasileira na ONU" e daí vinha transcrita uma
matéria do Estadão, cujo subtítulo era "País muda posição e aprova resolução do Conselho de Direitos Humanos contra governo de Ahmadinejad". Dêem uma olhada no post do Nassif, eu comentei várias vezes por lá. Depois que eu comentei ele mudou o título para "Irã: a nova posição brasileira na ONU".
Eu aguardava essa matéria há meses. Já havia até adiantado, num
post feito dias atrás, que isso iria acontecer, que o Brasil iria dar voto contrário ao Irã na comissão de direitos humanos da ONU. Escrevi o seguinte, no dia 18 deste mês:
No ano passado, o Brasil votou contra sanções ao Irã no Conselho da ONU, não somente como protesto contra a "seletividade" parcial do episódio, mas por entender que a discussão sobre direitos humanos deve acontecer na Comissão de Direitos Humanos. Lá, sim, o Brasil pode condenar o Irã, assim como pode condenar também a Arábia Saudita, países africanos e os EUA. A Comissão de Direitos Humanos é o fórum adequado para esses assuntos, até porque não tem o poder de gerar sanções econômicas. Quando o caso do Irã, portanto, for votado na comissão de direitos humanos da ONU, a representante do Brasil poderá concordar sim que há violação de direitos humanos no país, até porque estes existem e são incontestáveis.
Aconteceu exatamente como eu esperava, e as reações são exatamente como eu esperava. A campanha da mídia para mostrar que Dilma rompeu com a política externa de Lula visa inicialmente provar a seu público que ela, a mídia, sempre esteve certa quando criticava Lula. Se Dilma tomou outro rumo, era porque Lula estava errado e ela, a mídia, certa. No entanto, Dilma não mudou nada. Ou antes, mudou para melhor, mantendo os mesmos objetivos, de ter uma postura independente, altiva, e perseguir a paz e a justiça no mundo. Sem contar que são bastante ridículas essas suposições psicodélicas sobre "o que Lula faria se estivesse ali".
Conforme se pode ver lá no Nassif, que publicou meu comentário, eu lembrava que, na
votação da Assembléia Geral da ONU, em novembro do ano passado, a representante do Brasil afirmou que nós nos abstivemos, mesmo diante de provas apresentadas de violação dos direitos humanos (o caso da mulher a ser apedrejada estava no auge), porque
entendíamos que o fórum adequado para discutir o tema era a Comissão de Direitos Humanos da ONU. Antes disso, em junho de 2010, havia acontecido
outra votação, desta vez no Conselho de Segurança, em que se aprovaram sanções ao Irã. Nesta votação, o Brasil votou contra, porque era um absurdo, a ONU condenou o Irã por pura pirraça, já que o país havia aceito as principais condições impostas pelas potências ocidentais, como enriquecer parte de seu urânio na Turquia, etc.
A votação na Assembléia Geral da ONU, em novembro, não falava da questão nuclear, e sim de direitos humanos, e o Brasil, repito, se absteve porque não era o fórum adequado.
Desta vez, porém, estávamos no lugar certo. E o Brasil deu voto para forçar o Irã a aceitar que um representante da ONU inspecione os direitos humanos em seu país. O texto do voto brasileiro explicita didaticamente: o Brasil aprovava aquela resolução justamente por acreditar que todos os países do mundo onde existam denúncias de direitos humanos (e todos os países,
diz o texto, tem problemas) devem aceitar visitas do comissariado da ONU para que estas denúncias sejam investigadas.
O texto do Brasil inicia assim:
O Brasil acredita que todos os países, sem exceção, têm desafios a superar na área de direitos humanos.
Uma moça lá no Nassif veio logo me atacando, dizendo que não me reconhecia mais, e que a ONU deveria antes acusar Israel e os EUA. Eu respondi que continuava o mesmo, e dei o
link para uma matéria que informava que Israel havia sido condenado pela... Comissão de Direitos Humanos da ONU.
No dia 24 de março de 2010, ou seja, há exatamente um ano, a CDH da ONU aprovou três resoluções contra Israel.
Naturalmente é difícil para as pessoas entenderem que há três instâncias bem diferentes: o Conselho de Segurança, a Assembléia Geral e a Comissão de Direitos Humanos. Esta última foi criada em 2006
contra a vontade dos EUA, que fez tudo para impedir a iniciativa. Quando não pode impedir, sob pressão do mundo inteiro, aceitou de má-vontade. Por quê? Porque à diferença do Conselho de Segurança e da Assembléia Geral, a CDH é dominada pelos países em desenvolvimento.
Como foi criada há pouco tempo, ainda não houve tempo de condenar os EUA, mas estes
já foram questionados em plenário.
Um colega veio dizendo que "Amorim não concorda" e transcreveu mais uma matéria nebulosa, onde o repórter afirma que Celso Amorim, ex-ministro das Relações Exteriores, disse que "provavelmente" votaria contra. Ora, esse provavelmente diz tudo. Ele não sabe o que faria. Ele não participou das negociações, ele não é mais ministro. Além disso, tanto Amorim quanto Lula, no caso do Irã, envolveram-se demais para terem opinião imparcial. Eles estavam certos no que fizeram, em lutar contra a satanização do regime persa, mas o seu envolvimento pode atrapalhar que tomem decisões mais objetivas e racionais. Neste caso, o que estava em jogo não era apenas a questão geopolítica mundial, mas sim efetivamente os direitos humanos.
O blog Amigos do Presidente Lula
ressalta que Dilma, por ser mulher, precisa ter uma postura diferente em relação a um país que viola terrivelmente os direitos da mulher. Eu acrescentaria que Dilma foi barbaramente torturada na ditadura, à diferença de Amorim e Lula, que jamais o foram, então ela é mais sensível às denúncias de tortura em outros países, seja no Irã, seja em qualquer parte.
Observe
quem votou a favor, quem votou contra e quem se absteve:
A favor (22): Argentina, Belgium, Brazil, Chile, France, Guatemala, Hungary, Japan, Maldives, Mexico, Noruega, Polônia, Moldova, Coréia do Sul, Senegal, Slovakia, Espanha, Suíça, Ukraine, Inglaterra, Estados Unidos e Zambia.
Contra (7):Bangladesh, China, Cuba, Ecuador, Mauritania, Pakistan, e Russia.
Abstenções (14):Bahrain, Burkina Faso, Cameroon, Djibouti, Gabon, Ghana, Jordan, Malaysia, Mauritius, Nigeria, Saudi Arabia, Thailand, Uganda, e Uruguay.
A América Latina votou em sua maioria a favor (Argentina, Brasil, Chile e México). Mesmo a indepedente e anti-americana Argentina, cujo governo é admirado pela esquerda brasileira por suas decisões corajosas em vários campos, votou em favor da resolução. Provavelmente, o fato da presidente ser mulher também pesou...
Cuba é obrigada a votar contra, porque ela é alvo preferencial dos EUA e tem a eterna fragilidade de não ter um regime democrático, problema que enfrenta também China e, em parte, a Rússia. Equador, por sua vez, é presidido por um socialista orgulhoso, o intrépido e "macho" Rafael Correa.
O Brasil não pode se dar ao luxo, além disso, de ir sempre contra a maioria, sob o risco de não conseguir seu apoio quando precisar. Ou de o acusarem, quando houver realmente uma grande razão para ser contra a maioria, de fazê-lo por "anti-americanismo" terceiro-mundista.
Não somos amiguinhos eternos do Irã. Lula se envolveu pessoalmente com Ahmadinejad para tentar influenciá-lo positivamente. Chegou a dar conselhos ao presidente persa para que evitasse despertar a fúria do Ocidente com declarações estapafúrdias sobre o holocausto.
O Conselho de Segurança é outra coisa. Se o governo Dilma apoiar uma resolução no Conselho de Segurança contra o Irã, sem que haja uma explicação muito convincente (tipo Ahmadinejad trucidar 300 mil pessoas num só dia), aí eu me comprometo a vir aqui e a acusar Dilma de ter rompido com uma política independente, e aderir ao imperalismo norte-americano, que vem há tempos querendo se vingar da surra que tomou no Irã em 1979, quando os últimos agentes americanos tiveram que fugir do país com o rabo entre as pernas, pulando assustados em helicópteros de resgate.
Entretanto, se o que está em jogo não é uma guerra, mas sim efetivamente os direitos humanos no Irã e no mundo, não tem porque fecharmos os olhos para o que acontece naquele país. Recentemente, o embaixador iraniano deu uma
entrevista à Folha em que fez as seguintes declarações:
É o único país do mundo que não tem gay?
Na República Islâmica do Irã, não há.
Se houver, há punições?
Nossa visão sobre esse tema é diferente da de vocês. É um ato feio, que nenhuma das religiões divinas aceita. Temos a responsabilidade humana, até divina, de não aceitar esse tipo de comportamento. Existe uma ameaça sobre a saúde da humanidade. A Aids, por exemplo. Uma das raízes é esse tipo de relacionamento.
A Aids é uma punição divina aos gays?
Não creio nisso. Mas vi que no Carnaval [do Brasil] foram distribuídos 90 milhões de preservativos, e isso é muito feio. Não é a favor da saúde da humanidade.
Então as pessoas tem que ser racionais. A continuidade exigida de Dilma não pode corresponder a um engessamento de nossa política internacional. O Brasil continua, por enquanto ao menos, com a mesma postura: o Irã tem direito a um programa nuclear, e não é producente impor sanções econômicas ao país. Agora, em se tratando de direitos humanos, e discutindo-se no fórum adequado, que é a Comissão de Direitos Humanos da ONU, não há porque não aprovar o envio de um funcionário da ONU para checar a situação no país. Imagina-se que suas prisões devem estar cheias de homossexuais, presos apenas por viverem, e isso deve ser denunciado sim, desde que não implique em guerra ou sanções injustas. A Comissão não é um órgão dominado pelos EUA, embora os americanos tenham naturalmente grande influência, como tem em toda parte, e tenha sido ele que tenha levado a proposta ao plenário. Outras propostas virão e teremos muitos países recebendo comissários da ONU, e assim teremos a oportunidade de melhorar os direitos humanos em todo planeta.
Pronto, esta foi minha última defesa do famigerado governo petista. Agora tenho que ir ao DEM me registrar. Aproveitarei que o partido está se esfacelando, e precisando desesperadamente de filiados, para ter a ficha aprovada com rapidez, apesar de meu negro histórico esquerdista... O Indio saiu e eles vão querer outro moreninho. Aí sim poderei escrever com liberdade, sem ser vilipendiado. Se porventura eu mudar de ideia e escrever mais um texto defendendo a Dilma, vocês poderão dizer: olhem, escutem esse cara, ele não é nenhum governista, ele é do DEM!
Obs: A história de se filiar ao DEM é zoação, naturalmente, mas falo sério sobre denúncias, fatos negativos e críticas severas ao governo federal. Vou pesquisar por aí, mas se vocês souberem de alguma coisa, por favor me
enviem ou comentem aí embaixo.
PS:
Marco Aurélio Garcia, assessor especial da presidente Dilma para política externa,
nega mudança de posição em relação ao Irã. Garcia lembrou que o Brasil já votou, em quase 90% das vezes, em favor de resoluções similares. Se alguém acha que Garcia seria capaz de fazer o jogo do imperialismo, está cometendo um grande equívoco. Garcia era o assessor também de Lula na mesma área. E o atual ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, foi o chefe de gabinete e depois secretário-geral de Celso Amorim. Amorim é um gênio da política externa, mas apenas cumpria ordens de Lula, que por sua vez recebia conselhos de Garcia.
PS2:
A Folha, sem disfarçar muito sua estratégia, tascou na manchete que Dilma muda política de Lula. O texto vem cheio de sutis manipulações. Por exemplo, quando diz que "é a primeira vez que o Brasil vota contra o Irã desde 2003 no órgão", ele omite que:
- A Comissão de Direitos Humanos da ONU foi criada em 2006, portanto não tinha como o Brasil votar "contra" o Irã nessa instância antes disso. O "órgão" na matéria, então, seria a própria ONU? Mas aí cria-se uma confusão, pois a CDH foi criada justamente para permitir que a ONU investigasse casos de violação de direitos humanos sem passar pela Assembléia ou pelo Conselho de Segurança, cujo poder de aplicar sanções econômicas e aprovar intervenções militares, acabam por politizar os debates. No CDH há menos politização, o foco são exclusivamente os direitos humanos.
- Não se trata de modificar a política de Lula. É outra situação, outro fórum, são outras circunstâncias.
- Nesse pouco tempo de funcionamento, a CDH já aprovou, com anuência do Brasil, envio de representantes para diversos países, inclusive Israel e Honduras. O caso do Irã, portanto, não é uma exceção injusta.