18 de março de 2011

Veja escondeu entrevista-bomba de Arruda

(Pintura de Goya, retratando Saturno devorando
seus filhos, ou Arruda devorando seus aliados)


Há tempos venho procurando um pretexto para citar o Antigo Testamento. Eis minha chance. Com essa entrevista, não apenas o DEM, mas sobretudo a Veja - por ter ocultado a entrevista, que aliás foi concedida ao xodó do Instituto Millenium, Diego Escosteguy -, precipitaram-se "no mais profundo abismo", "como um aborto que causa horror". O DEM, assim como profetizava Isaías, tornou-se uma "terra devastada, inteiramente pilhada, porque o Senhor assim o decidiu. A terra [o DEM] está na desolação, murcha, o mundo definha e esmorece, e os chefes do povo estão aterrados. A terra foi profanada por seus habitantes, porque transgrediram as leis, violaram as regras e romperam a aliança eterna. Por isso a maldição devora a terra e seus habitantes expiam suas penas; os habitantes da terra são consumidos, um pequeno número de homens sobrevive."

Agora, falando sério, Arruda terá que provar suas acusações. A mídia, que se torna ultraprudente sempre que seus amigos envolvem-se em falcatruas, tentará neutralizar de alguma maneira o depoimento do ex-governador do Distrito Federal, o qual só terá efeito jurídico se vier acompanhado de provas. Quanto ao efeito político, porém, representa um verdadeiro terremoto, seguido de tsunami e vazamento nuclear.

Não custa nada a base governista entrar em ação e criar uma CPI para investigar o caso. Por muito menos, fizeram-se CPIs contra o governo Lula. Afinal, não se trata de um bandido comum e sim o único governador do DEM, o sujeito cotado para ser o vice de José Serra nas eleições presidenciais de 2010. O povo brasileiro não aceita compaixão. Uma CPI permitirá a quebra de sigilos bancários e telefônicos, fornecendo dados para esclarecer de vez o tamanho da podridão de um partido que nos últimos tempos tem investido pesadamente no moralismo como uma de suas principais plataformas políticas.

Ressalte-se, todavia, que faltam provas, e não quero emular o comportamento irresponsável de setores da imprensa, que julgam e condenam antes de qualquer investigação mais séria. A prudência neste caso é necessária sobretudo porque Arruda envolveu o nome de ao menos uma pessoa até então considerada imune a esse tipo de pilantragem, o senador pedetista Cristóvão Buarque.

O mais grave nisso tudo é o fato de Arruda ter concedido a entrevista em setembro do ano passado e a revista ter divulgado só agora. O depoimento aconteceu antes das eleições. Era uma notícia fundamental para o brasileiro entender os bastidores da política partidária. Se a rede Globo deu sete minutos no Jornal Nacional para um ex-presidiário pé-de-chinelo inventar que pediu emprestado 9 bilhões ao BNDES, teria que dar tempo para Arruda dizer o que sabia na TV sobre as lideranças do DEM. Era um fato relevante, que certamente mudaria o rumo da campanha. Mais uma vez, vemos que a democracia brasileira apenas será completa quando possuir uma imprensa ética e não esse conglomerado de golpistas sem-vergonhas, situação que talvez só conseguiremos alcançar através de uma legislação mais adequada para a comunciação social no país. Será que a mídia, agora, dará a publicidade condizente ao caso? Será que a Globo vai botar o Arruda falando no Jornal Nacional?

Sobre as razões que teriam levado a Veja a publicar a entrevista agora, dias depois do DEM eleger seu novo presidente, a hipótese mais plausível é que Arruda deve ter ameaçado dar o "furo" para outra revista. O ex-governador diz, na entrevista, que o mais hipócrita de seu partido foi Agripino Maia (agora o novo presidente), que lhe pediu dinheiro, sabendo de onde vinha, e depois, quando a bomba estourou, foi o primeiro a lhe apontar o dedo acusatório. Ao ver Agripino ganhando destaque na mídia como novo chefe do partido, Arruda deve ter sentido o sangue subir-lhe às têmporas e decidiu usar as cartas que tinha na manga para se vingar.

Ouçam abaixo o canto dos cisnes da raça demista:


Do Blog do Noblat (via Nassif)

Arruda diz à VEJA quem ajudou com dinheiro

Advogados de Arruda informam que essa entrevista foi concedida à VEJA em setembro passado, antes das eleições.

Segundo o ex-governador, dinheiro da quadrilha que atuava em Brasília alimentou campanhas de ex-colegas como José Agripino Maia e Demóstenes Torres

VEJA Online

José Roberto Arruda foi expulso do DEM, perdeu o mandato de governador e passou dois meses encarcerado na sede da Polícia Federal (PF), em Brasília, depois de realizada a Operação Caixa de Pandora, que descobriu uma esquema de arrecadação e distribuição de propina na capital do país.

Filmado recebendo 50 mil reais de Durval Barbosa, o operador que gravou os vídeos de corrupção, Arruda admite que errou gravemente, mas pondera que nada fez de diferente da maioria dos políticos brasileiros: “Dancei a música que tocava no baile”.

Em entrevista a VEJA, o ex-governador parte para o contra-ataque contra ex-colegas de partido. Acusa-os de receber recursos da quadrilha que atuava no DF. E sugere que o dinheiro era ilegal. Entre os beneficiários estariam o atual presidente do DEM, José Agripino Maia (RN), e o líder da legenda no Senado, Demóstenes Torres (GO). A seguir, os principais trechos da entrevista:

O senhor é corrupto?

Infelizmente, joguei o jogo da política brasileira. As empresas e os lobistas ajudam nas campanhas para terem retorno, por meio de facilidades na obtenção de contratos com o governo ou outros negócios vantajosos. Ninguém se elege pela força de suas ideias, mas pelo tamanho do bolso. É preciso de muito dinheiro para aparecer bem no programa de TV. E as campanhas se reduziram a isso.

O senhor ajudou políticos do seu ex-partido, o DEM?

Assim que veio a público o meu caso, as mesmas pessoas que me bajulavam e recebiam a minha ajuda foram à imprensa dar declarações me enxovalhando. Não quiseram nem me ouvir. Pessoas que se beneficiaram largamente do meu mandato. Grande parte dos que receberam ajuda minha comportaram-se como vestais paridas. Foram desleais comigo.

Como o senhor ajudou o partido?

Eu era o único governador do DEM. Recebia pedidos de todos os estados. Todos os pedidos eu procurei atender. E atendi dos pequenos favores aos financiamentos de campanha. Ajudei todos.

O que senhor quer dizer com “pequenos favores”?

Nomear afilhados políticos, conseguir avião para viagens, pagar programas de TV, receber empresários.

E o financiamento?

Deixo claro: todas as ajudas foram para o partido, com financiamento de campanha ou propaganda de TV. Tudo sempre feito com o aval do deputado Rodrigo Maia (então presidente do DEM).

De que modo o senhor conseguia o dinheiro?

Como governador, tinha um excelente relacionamento com os grandes empresários. Usei essa influência para ajudar meu partido, nunca em proveito próprio. Pedia ajuda a esses empresários: “Dizia: ‘Olha, você sabe que eu nunca pedi propina, mas preciso de tal favor para o partido’”. Eles sempre ajudaram. Fiz o que todas as lideranças políticas fazem. Era minha obrigação como único governador eleito do DEM.

Esse dinheiro era declarado?

Isso somente o presidente do partido pode responder. Se era oficialmente ou não, é um problema do DEM. Eu não entrava em minúcias. Não acompanhava os detalhes, não pegava em dinheiro. Encaminhava à liderança que havia feito o pedido.

Quais líderes do partido foram hipócritas no seu caso?

A maioria. Os senadores Demóstenes Torres e José Agripino Maia, por exemplo, não hesitaram em me esculhambar. Via aquilo na TV e achava engraçado: até outro dia batiam à minha porta pedindo ajuda! Em 2008, o senador Agripino veio à minha casa pedir 150 mil reais para a campanha da sua candidata à prefeitura de Natal, Micarla de Sousa (PV). Eu ajudei, e até a Micarla veio aqui me agradecer depois de eleita. O senador Demóstenes me procurou certa vez, pedindo que eu contratasse no governo uma empresa de cobrança de contas atrasadas. O deputado Ronaldo Caiado, outro que foi implacável comigo, levou-me um empresário do setor de transportes, que queria conseguir linhas em Brasília.

O senhor ajudou mais algum deputado?

O próprio Rodrigo Maia, claro. Consegui recursos para a candidata à prefeita dele e do Cesar Maia no Rio, em 2008. Também obtive doações para a candidatura de ACM Neto à prefeitura de Salvador.

Mais algum?

Foram muitos, não me lembro de cabeça. Os que eu não ajudei, o Kassab (prefeito de São Paulo, também do DEM) ajudou. É assim que funciona. Esse é o problema da lógica financeira das campanhas, que afeta todos os políticos, sejam honestos ou não.

Por exemplo?

Ajudei dois dos políticos mais decentes que conheço. No final de 2009, fui convidado para um jantar na casa do senador Marco Maciel. Estávamos eu, o ex-ministro da Fazenda Gustavo Krause e o Kassab. Krause explicou que, para fazer a pré-campanha de Marco Maciel, era preciso 150 mil reais por mês. Eu e Kassab, portanto, nos comprometemos a conseguir, cada um, 75 mil reais por mês. Alguém duvida da honestidade do Marco Maciel? Claro que não. Mas ele precisa se eleger. O senador Cristovam Buarque, do PDT, que eu conheço há décadas, um dos homens mais honestos do Brasil, saiu de sua campanha presidencial, em 2006, com dívidas enormes. Ele pediu e eu ajudei.

Então o senhor também ajudou políticos de outros partidos?

Claro. Por amizade e laços antigos, como no caso do PSDB, partido no qual fui líder do Congresso no governo FHC, e por conveniências regionais, como no caso do PT de Goiás, que me apoiava no entorno de Brasília. No caso do PSDB, a ajuda também foi nacional. Ajudei o PSDB sempre que o senador Sérgio Guerra, presidente do partido, me pediu. E também por meio de Eduardo Jorge, com quem tenho boas relações. Fazia de coração, com a melhor das intenções.

3 comentarios

bicho branco disse...

DO RIO "VITRINA FACE-NOSSA MÃE,Ouvir tudo isto ex-Governador,é muito forte declarações,na maior Cara de Pau.Sinto vergonha,ódio políticos Canalhas maltratam Povo,pensam só em reeleger-se custe o que custar é Brasil..

José Marcio disse...

Segue abaixo, cópia do e-mail que enviei para todos os deputados e deputadas federais do PT-RJ:

Exmºs Deputados e deputadas federais do RJ,

Peço a V.Exªs urgência na formação de uma CPI para apurar as declarações contidas na entrevista que o ex-governador do Distrito Federal, José roberto Arruda, concedeu à revista Veja em que o mesmo fala sobre caixa 2, corrupção, lavagem de dinheiro dentre outros crimes.

Seria interessante também apurar o porquê de a entrevista que foi concedida em setembro de 2010 só agora, em 2011, tenha sido publicada.

Os casos de crimes eleitorais e corrupção têm que ser devidamente apurados, pois apenas as declarações do ex-governador não constituem provas.

Não é possível que a oposição se articule e muitas vezes consiga formar CPI por casos muito mesmos graves, enquanto a base do governo (no caso dos de V.Exªs do próprio partido do governo) se omitam.

Saudações,

José Marcio Tavares
Rio - RJ
21 - 3435-5040
21 - 9881-5040

Relação dos deputados com seus respectivos e-mails:

dep.alessandromolon@camara.gov.br,
dep.beneditadasilva@camara.gov.br,
dep.edsonsantos@camara.gov.br,
dep.chicodangelo@camara.gov.br,
dep.elianerolim@camara.gov.br

Unknown disse...

Nâo foi inveja de Arruda o motivo da divulgação: foi a vitória de Aécio O DEMOCRÁTICO(o das Leis Delegadas em MG) que visou a abalar Agripino e Cia. A Veja trabalha para Serra. E vice-versa.

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