12 de março de 2011

A família de Cartola não tem direitos?



Críticas de alguns ativistas à Ana de Hollanda estão ficando mais sofisticadas: de autista agora passaram a chamá-la de esquizofrênica. Imagino que o próximo adjetivo seja: psicopata.

Quem faz cultura de verdade no Brasil, no entanto, está calmo e sereno, porque nunca dependeu e nunca dependerá de Ministério nenhum. Eu me considero um ativista cultural e por isso mesmo o meu foco é a banda larga pública e acessível para todos, de preferência gratuita, como um serviço do Estado, assim como se faz com o sinal da TV aberta.

O Brasil tem que enfrentar o século XXI de frente, com ousadia, seguindo o exemplo dos asiáticos. Se ficarmos nessa moleza, vamos ficar para trás. O governo federal tem que implementar, urgentemente, uma banda larga de alta qualidade para todos os brasileiros.

Essa é a revolução cultural. Essa é a liberdade na rede.

Limitar o debate cultural à discussão de um anteprojeto de Lei que sequer foi apresentado ao Congresso e cuja aprovação pode se arrastar por anos é desvirtuar a atenção dos aspectos mais práticos e urgentes, de um lado, e também os mais intelectuais, os estudos políticos e históricos. A própria questão do direito autoral é algo cujo debate deve ser apresentado à sociedade sem nenhum clima de medo. A sociedade brasileira, o Congresso e a Presidência certamente alcançarão um denominador comum inteligente, em harmonia com as legislações de outros países e com o espírito da nossa Constituição, que é o de promover a liberdade e o desenvovimento.

Quanto ao funcionário que já assinou um livro com um advogado ligado ao Ecad, não vejo nada demais. Sou contra o Ecad, mas não vou demonizar alguém porque trabalhou com um cara que prestou serviços para o Ecad.

Quem manda no Ministério é o ministro, não um funcionário de terceiro escalão. Em se tratando da Lei de Direitos Autorais, quem manda é a sociedade, o Congresso e a Presidência da República. O ministério terá que elaborar as leis que lhe forem sugeridas, não vai inventar nada por si só.

Tem um pessoal aí que prega democracia direta, mas quando ela chega, quer voltar à representativa, ao eleger Juca Ferreira, e não a sociedade, como agente mais importante na formulação da política cultural. E quando vem a política representativa, quando Ana de Hollanda, ministra nomeada por Dilma, começa a montar a sua equipe e a expor suas opiniões, querem voltar à democracia direta, querem amordaçá-la e derrubá-la. De maneira que nunca estão satisfeitos.

E sobre os pontos de cultura, muita gente que nunca tinha ouvido falar deles, subitamente se tornou defensor dos mesmos. Eu queria saber mais sobre os pontos de cultura. A impressão que eu tenho é que eles burocratizam, viciam e escravizam movimentos populares espontâneos e autênticos, que nunca precisaram de recursos do Estado para nascer e florescer. Os pontos podem ter sido uma boa ideia num determinado momento, mas agora estão criminalizando milhares de agentes culturais, porque estes não conseguem preencher corretamente os formulários de prestação de contas e estão sem dinheiro e com nome sujo na praça. Juca Ferreira entregou o ministério com grande parte dos pontos de cultura sem receber há 2 ou 3 anos, devido a problemas apontados pelos tribunais. Com isso, eles ficam proibidos de receber qualquer novo financiamento antes de resolverem suas pendências.  A bomba está explodindo agora nas mãos de Ana.

Com o país em desenvolvimento acelerado, os artistas populares tem mais oportunidades de realizarem-se profissionalmente com muito mais liberdade, e ganhar muito mais do que os recursos sempre limitados do Ministério da Cultura, sobre os quais eles tem que prestar rigorosas contas, como se fosse possível ao governo entender a necessidade, por exemplo, do artista gastar seu dinheiro em cerveja. Sem contar o aspecto dirigista, que é a aprovação dos projetos por funcionários que sempre estarão distantes da realidade concreta dos lugarejos onde a cultura acontece. E o problema principal: fico imaginando como esse dinheiro, mesmo pouco, não deve desagregar comunidades, ao criar disputas intestinas sobre a forma de investi-lo.

O governo tem de ajudar os movimentos populares, mas sem amarrá-los a prestação de contas e com vistas a deixá-los independentes e não o contrário, como tem acontecido. Pode repassar verbas a fundo perdido, a título de patrocínio, por exemplo.

Eu sou a favor, sim, da profissionalização do artista, do escritor, do ator, do músico, para que tenham planos de previdência especiais e seguro desemprego, como há em toda Europa, incluindo na liberal Alemanha, onde o governo, mesmo com a crise, não reduziu os gastos em cultura.

Nesse debate sobre direitos autorais ouvi muita besteira. Um falou que o músico não tem que ganhar dinheiro com música e sim dando show. Ora, alguém já mapeou quantos milhares de artistas vivem no Brasil às custas de seus direitos autorais? Rebati: e seu o sujeito não puder mais dar show? Ele respondeu, de  um jeito que achei cínico e cruel (embora talvez essa não fosse a sua intenção): ora, se aposenta! Muito bonito! Muitas vezes, o músico tem 30 anos e já compôs obras-primas, mas não tem condição de dar mais shows. Como vai se aposentar? Um intelectual que não quer dar aulas, pode escrever livros e viver deles, porque um músico não pode fazer o mesmo?

Na verdade, essa pessoa costuma ir a shows cujos ingressos custam de 40 a 600 reais, e acham que isso sim é ser "popular".

É engraçado: Cartola chegou a virar flanelinha na Lapa, e morreu sem deixar grande coisa à família. E agora querem surrupiar os direitos autorais de seus filhos e netos? Tudo isso porque fulano pode pagar 50 reais num show no Circo Voador mas não quer gastar 5 reais num CD?

Os grandes sambistas do Rio de Janeiro iniciaram suas carreiras vendendo direitos autorais de suas músicas para rádios. Assim conseguiam dinheiro e compravam as refeições e cervejas que abasteceriam sua imaginação para compor outras músicas. As rodas de samba, ao contrário dos shows que a playboyzada frequenta hoje, eram gratuitas.

É evidente que as novas tecnologias geram novas formas de distribuir a cultura. Inferir disso, porém, que devemos acabar com o direito autoral não é correto.

Amiga minha falou-me que os artistas se consideram "especiais", como se fossem uma classe privilegiada...

Na verdade são na maioria uns pobres coitados que lutam bravamente para construir o que há mais de importante para um povo: a sua cultura.

Aí ela fala que, desde o pós-modernismo, caiu o mito do artista como alguém especial na sociedade.

Certo, só que o pós-modernismo, na minha opinião, foi um movimento ultra-capitalista, que transferiu o prestígio do artista para curadores pedantes, acadêmicos oportunistas e galeristas ambiciosos.

O fato é que o Brasil ainda não construiu uma indústria cultural à altura de sua grandeza. O cinema, por exemplo, ainda é dependente de recursos governamentais, o que é bem triste para um país com tamanho potencial de público.

Escritores consagrados não conseguem viver de sua literatura, e logo se tornam dependentes do dinheiro pago por colunas publicadas em grandes jornais, com todas as consequências danosas para sua independência e honestidade intelectual, haja vista o macarthismo ideológicos desses jornais.

Outro problema gravíssimo é a dependência dos artistas de uma chancela da grande midia para se realizarem profissionalmente. Problema que não seria tão grave se as editorias de cultura dos jornais não estivessem tão sucateadas. Um jornalão paga menos de 300 reais para um articulista escrever uma resenha literária. Ora, qualquer revista de pequena circulação minimamente profissional paga o triplo disso. Acontece que, em função do prestígio de ser publicado num grande jornal, os articulistas escrevem até de graça; mas não com periodicidade, de maneira que faltam jornalistas especializados no país. Repórteres que mal entendem do assunto se convertem em críticos de arte.

Alguns jornais, verdade seja dita, tem se esforçado para aprimorar a qualidade dos cadernos de cultura, mas há um outro ponto que atrapalha o surgimento de uma crítica independente: a ideologização da mídia, que se torna cada vez mais reacionária, e mesmo sem querer acaba discriminando artistas e críticos que não partilhem de suas visões de mundo.

Em outros países, inclusive na América Latina, há uma diversidade política muito maior na mídia, de maneira que os artistas e críticos sempre encontram espaço para expor suas opiniões. A situação no Brasil é particularmente opressora. Se considerarmos apenas Rio de Janeiro, um dos principais pólos de cultura do país, temos um quadro quase totalitário, com toda uma classe artística dependendo de somente um jornal.

Essas são as minhas opiniões. Reitero que não sou dono da razão e se alguém me apresentar razões para eu mudar de ideia, ou se eu mesmo, por conta própria concluir que estou errado, eu mudo sem problema algum.

Nunca ganhei um tostão do Ministério da Cultura, nem pretendo ganhar nessa gestão. Nem acho que mereço nada. Sempre ganhei dinheiro no setor privado e quero continuar assim.

Só não quero baixaria. Por exemplo, a Regina Duarte teve sua peça aprovada pela Lei Rouanet esta semana (nem sei se foi essa semana, mas divulgou-se essa semana) e daí vieram espalhar pela rede uma mensagem maldosa: "Ana de Hollanda libera 1,2 milhão para Regina Duarte".

Desculpem-me, mas isso é baixaria pesada, pelas seguintes razões:

  1. O Ministério da Cultura aprova centenas de projetos de Lei Rouanet por semana. Sem discriminação se fulano fez campanha para PSDB ou PT. A própria insinuação de que a aprovação do projeto de Duarte não seria correta é uma visão tosca e antirrepublicana da função do Estado e do Ministério da Cultura.
  2. O dinheiro da Lei Rouanet não sai do orçamento do Ministério da Cultura (Minc), conforme dá a entender a mensagem. 
  3. A gestão Juca Ferreira sempre liberou verba para peças de teatro de Regina Duarte e demais artistas ligados à Globo. Arnaldo Jabor recebeu quantos milhões, via Lei Rouanet Lei do Audivisual, pra fazer seu filme? Juca nunca discriminou artistas da direita, e nunca foi censurado por isso. Até porque seria absurdo, antiético e inconstitucional o Ministério discriminar um artista por conta de sua  posição política.
  4. A disseminação dessa mensagem, com destaque para o nome de Regina Duarte, visa explorar oportunisticamente o lado mais beligerante da militância lulista, para quem a atriz se tornou uma espécie de carantonha sinistra. 
  5. Daí compararam a "liberação" de verba para peça da Regina Duarte com a não-liberação para milhares de pontos de cultura: duas inverdades que foram conectadas apenas para fazer efeito, já que a campanha anti Ana de Hollanda perdeu as estribeiras. A primeira já foi explicada acima. A segunda, foi explicada pelo próprio Emir Sader, em sua entrevista infeliz para Folha de São Paulo. Emir explica a crise nos pontos de cultura, que não recebiam há dois ou três anos, porque, segundo ele, os agentes seriam "merdinhas" que não sabiam, como de fato não sabem, preencher os longos e complicados formulários de prestação de contas referentes aos recursos do Minc. Foi um problema estrutural dos Pontos de Cultura e um problema da gestão Juca, uma bomba que acabou caindo no colo de Ana de Hollanda. O Minc está tentando resolver, mas o Estado é proibido, por lei, de repassar verba a qualquer instituição que não esteja em dia com o próprio Eatado.
Ou seja, as mesmas estratégias usadas pela grande mídia para construir verdades e pintar personalidades e instituições com uma maquiagem pesada e maligna também podem ser usadas por gente que usa as redes sociais. 

Não digo que Ana de Hollanda não tenha seus defeitos. Ela me parece ser uma pessoa insegura, por exemplo, um defeito que naturalmente ganha amplitude num momento como esse, em que ela acaba de assumir a maior responsabiliade de sua vida e está sob fogo cerrado dos grupos que eram ligados à gestão anterior. Mas me parece também uma pessoa franca e honesta. Vem de uma linhagem muito nobre de pensadores e artistas. Seria surpreendente que a filha de Sérgio Buarque de Hollanda e irmã do Chico Buarque adotasse uma postura conservadora e reacionária no Ministério da Cultura. 

E ao usar os termos "conservador" e "reacionário", volto à questão dos direitos autorais, onde vemos segmentos não ligados às artes e cultura tentando sustar o debate e ganhar no grito, e ao mesmo tempo posando de arautos da esquerda, como se houvesse no mundo um manual esquerdista que chancelasse suas ideias. Não há. 

A internet é algo maravilhoso e revolucionário. Eu tenho vivido dela e para ela. Mas ela é apenas uma plataforma. Eu sou a favor de museus públicos abertos, gratuitos; livros, teatro e filmes a custo acessível. Aliás, o custo do livro no Brasil apenas cresceu nos últimos anos, na contramão do mundo inteiro. Um livro novo na Europa ou EUA é muito mais barato do que no Brasil. 

A nossa legislação de direito autoral dá liberdade para distribuirmos arte gratuitamente com fim didático e científico, embora talvez não com a clareza que seria necessário. A nova lei de direito autoral visa, entre outras coisas, trazer mais segurança jurídica nessas questões. 

Não tem porque, como querem alguns radicais, tirarmos a única fonte de renda de artistas e de suas famílias. 

Quanto ao Ecad, é outra história. Para mim, deveria ser extinto. O direito autoral no Brasil deve ser gerido pelo Estado, de preferência na forma de autarquia independente, para ninguém reclamar de aparelhamento; com um regime de transparência total e sob vigilância do Tribunal de Contas. 

20 comentarios

JOSÉ MARCIO TAVARES disse...

Falam da liberação para a Regina Duarte mas nunca vi ninguém criticar os milhões de reais a fundo perdido que o BNDES doa pra Igreja Católica.
Ou seja, uma das instituições mais ricas do planeta usufrui do dinheiro do trabalhador (FAT) pra ter seus templos restaurados. De graça.
http://portal.iphan.gov.br/portal/montarDetalheConteudo.do;jsessionid=17CD760875BBF351CF27F66DB35910A2?id=15903&sigla=Noticia&retorno=detalheNoticia

http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/bndes/bndes_pt/Areas_de_Atuacao/Cultura/Patrimonio_Cultural_Brasileiro/

Vania disse...

Prezado Miguel do Rosário
Adorei o seu texto. Acho que você conseguiu resumir perfeitamente todas as questões envolvidas no atual debate sobre a atuação do MinC. Também acredito na decência da ministra. E vejo muita apelação do lado daqueles que dizem defender a cultura popular. Soa falso pra caramba! Parece mais chororô de perdedores...
Um abraço.

jozahfa disse...

Miguel, gostaria de pedir que você se estendesse mais (em outro post, quem sabe) sobre a afirmação

"O fato é que o Brasil ainda não construiu uma indústria cultural à altura de sua grandeza."

É que, sinceramente, não consigo enxergar nenhuma grandeza cultural no Brasil. Não produzimos nem arte nem ciência relevantes no planeta, excetuando-se alguma arte popular e alguns outros artistas eruditos, tanto em música quanto nas demais artes.
O grosso de nosso povo é imensamente ignorante do patrimônio cultural da humanidade, Miguel, e suas maiores qualidades ainda estão em estado de potencial. Pode parecer que puxo a sardinha para a minha praia, mas a urgência mesmo é de uma revolução educacional. É o que vai afetar para melhor esse estado de coisas das artes e da indústria cultural no país. Bom, assim me parecem as coisas.
Um abraço.

Anônimo disse...

Tá tudo muito bom, tá tudo muito bem, também não concordo com a abertura da temporada de caça à ministra. Mas me diz uma coisa, Miguel: onde é que vc compra CD a 5 reais???

Adriano Alves disse...

Va conhecer os pontos de cultura antes de falar uma besteira tão grande quanto essa. A burocracia e a prestação de contas é algo básico e simples de aprender. E é fundamental para a inclusão na cidadania. Sua visão é paternalista e preconceituosa.

Anônimo disse...

Lendo: "...o fulano paga 50 reais para assistir a um show no Circo Voador..." eu me lembrei da hipocrisia que foi o show com nome de "PARA TODOS" do Chico Buarque e que custava em valores atualizados algo em torno de R$ 300,00. Naquela época esqueceram de informar que era 'para todos' com muita grana.

Anônimo disse...

Miguelito dizem que roubar o poder publico é cultural. Que vc acha da arte do Barros Munhoz em Itapira...

Miguel do Rosário disse...

Joel, se houvesse uma campanha para moralizar a distribuição e tirar a tributação dos CDs, os mesmos poderiam custar 5 reais e produzir uma pujante indústrial cultural de música doméstica. Mas acho que estou ficando demagogo.

Miguel do Rosário disse...

Josaphat, há sim grandeza cultural no Brasil porque somos herdeiros (lá estou eu ficando demagogo de novo) de uma cultura milenar. E para finalizar com mais demagogia de botequim: O Espírito da História também vive em nós.

Miguel do Rosário disse...

Márcio, pior, a Igreja ainda usa esse dinheiro para imprimir folhetos que violam as leis do país e fica tudo por isso mesmo. Religioões deveriam ser proibidas de se meter em política. Se quiserem disputar eleições, como fazem os protestantes, tudo bem. Quer brigar, entra na arena. Imprimir panfleto apócrifo é ficar na arquibancada jogando lixo.

Miguel do Rosário disse...

Adriano, minha visão é o contrário de paternalista. Mas voce não pode transformar os grupos de cultura num bando de escritutários de prestações de conta. Talvez eu esteja errado, sei lá, estou tentando ser franco e botar as cartas na mesa, já que o Ministério da Cultura virou a Geni da vez.

Professor Eduardo Lima disse...

o blogueiro Eduardo guimarães foi ameaçado. Vamos protestar contra esses filhotes da ditadura

A extrema-direita ataca novamente

http://www.comunistas.spruz.com/pt/A-Extrema-direita-ataca-novamente/blog.htm

Anônimo disse...

Puxa, na minha opinião, um cara fez um comentário infeliz ao afirmar que: "não consigo enxergar nenhuma grandeza cultural no Brasil. Não produzimos nem arte nem ciência relevantes no planeta, excetuando-se alguma arte popular". Na minha humilde opinião, cultura é cultura, e sempre será relevante venha de onde vier. O que me cheirou foi um certo elitismo do escrevente, ou não?

alexandre a. moreira disse...

Nesta discussão toda vc colocou um contraditório interessante:
1-A burocratização da democracia cultural.
Você pode até ter razão sobre a ineficiência operacional dos pontos de cultura mas seu comentário atrelado é realmente reacionário quando diz que não os vê com bons olhos.Acha que as manifestações populares prescindem de apoio. Ora se o governo é a sociedade(ou pelo menos deveria) e a sociedade apoia e participa da manifestação popular não vejo como um não interfira no outro !!!
2-Também ninguém esta falando em acabar com direito autoral!!
A discussão que está posta na mesa e, me desculpe, a ministra está para lá de dissimulada nisto, é sobre quem fica com a parte do leão da "industria" cultural.
O problema não é a família do cartola e, me desculpe mas direito autoral não é aposentadoria.
A questão é quem e como vai ser administrado todo transito financeiro que o BEM cultural pode gerar no nosso sitema econômico
As novas formas de veiculação enfraqueceram dramaticamente a capacidade de gerar renda dos velhos meios.
É como se os carros pudessem voar e passassem sobre os pedágios sem pagar.
Aí está o paradoxo!
Se tirar a capacidade dos carros de voar vai causar um cogestionamento paralisante na boca do pedágio e muita gente morre na fila.´
É um caminho sem volta.
O Gil classificou a pirataria como desobediencia civil.
É a definição mais próxima da realidade e a Ana de Holanda não está nem próxima de conseguir mostrar que este é o centro de um debate inexorável.
Seu post é provocativo mas se esquece de mostrar que a ministra ou foge ou não sabe o que fazer com este paradoxo. E, lamento, se a ministra é titubeante vai ser este segundo escalão, não necessariamente demonizado, mas com certeza com curriculum para lá de carimbado, quem vai conduzir qual chalaça a festança na corte.
As idéias de copyleft e creative commons ainda são as únicas que se propoem a encontrar saidas para 'produtores' e 'consumidores' do BEM cultural nesta conjuntura de espanto tecnológico.
O problema é que esta atitude dela em relação a este tipo de iniciativa,a retirada do creative commons, sem colocar nada no lugar sinalizou negativamente a discussão.
Na contramão das evidências da revolução que a tecnologia esta fazendo nas relações de troca na área da cultura.
A difusão viral da cultura possibilidada pelas novas tecnologias colocou na mesa de novo o quanto "CILTURA" pode ser considerada um ativo econômico negociável num sistema que sobrevive da capacidade de 'coisificar' para negociar e gerar remuneração para o capital e só isto.
Tudo e nada haver com a aposentadoria da famila de cartolas!!!

Miguel do Rosário disse...

Alexandre, tem muita gente sim falando em acabar com o direito autoral. Essas pessoas contaminaram, e muito, o debate.

Anônimo disse...

Alexandre,

entendi o que disse e o que quer mas cê não explicou nada sobre o que são os pontos de cultura e tudo que não sabemos e que gostaríamos de saber. Vc tem blog? Onde posso ler e conhecer melhor seu ponto de vista?

Obrigada,
Luana

alexandre a.moreira disse...

Luana
não tenho blog e meu conhecimento sobre os pontos de cultura são bem superficiais. Sinceramente, só apoio a idéia de haver uma parte do ministério da cultura que se proponha a cuidar da cultura no varejo, em paralelo com apoios a artistas consagrados, museus, etc.

Miguel justamente gostei da provocação do seu post por que ele promove o esclarecimento de um assunto que esta misturando divulgação com direito autoral e sim há alguma confusão principalmente qdo se fala em remix e montagens.

Eládio Garcia Sá Teles disse...

Caro Sr. Miguel, sobre o programa cultura viva, que tem nos pontos de cultura uma de suas ações, recomendo que o sr. se esclareça, lindo um artigo recente de célio turino, em http://br.groups.yahoo.com/group/3setor/message/108843, sugiro também a leitura do artigo “de que ana de holanda tem medo” em http://www.culturaemercado.com.br/conversacao/pontos-de-vista/de-que-ana-de-hollanda-tem-medo/nos , uma visita nos sites iteia.org.br, culturadigital.org.br, entre outros o sr terá noção da revolução que o programa promoveu em todo o brasil, o protagonismo do brasil à margem do eixo rio/sp cresceu de forma inimaginavel. Sobre a discussão de direitos autorais, quem faz o terrorismo da extinção dos direitos são exatamente aqueles que detem a máquina e os meios para, inclusive, margtinalizar e proibir os novos meios de produzir e consumir cultura de forma colaborativa, dinâmica e livre. Este debate que inicia em 2003 está sendo jogado na lata do lixo. O creative common e o copuleft não extingue o copuright, além de outros modelos de licensa de uso contemporâneas do produto cultural. Não discutir e não atualizar as questões sobre o direito autoral é colocr na ilegalidade e na marginalidadde milhões de consumidores/divulgadores de cultura em todo o planeta. Quiçá os novos produtores que lidam com espantossa naturalidade com a liberação do uso de sua produção, coisa espantosa exatamente para estes que nao conseguem e não querem abrir mão do autoritarismo cultural de suas práticas, máquinas mentes e pensamentos.

Anônimo disse...

Você escreveu nos primeiros parágrafos desse post suas idéias a respeito de liberdade na rede, revolução cultural, etc... Vou sugerir a leitura diária do blog de Yoani Sánchez. Ela escreve sobre a vida cotidiana e política em seu país, apesar de todas as dificuldades e represálias. Lá (no blog) tem uma ferramenta que traduz para o português e outras línguas também.

http://desdecuba.com/generaciony_pt/

Abraços.

O Anão Corcunda disse...

O título do post é muito apelativo. Vamos exercitá-lo com uma troca: Cartola por Tom Jobim. Até que ponto é legítimo que os filhos do Tom vivam na fartura por conta das músicas do pai? Por que eles cobram tão caro para liberar gravação das músicas do Tom? Por que impedem tantos artistas sem grana de gravá-las e divulgá-las?

Os direitos autorais estão sendo defendidos com unhas e dentes pelos blockbusters e pelas antigas indústrias que perderam muitós filés com a internet e as novas tecnologias de reprodução de textos, filmes, livros, etc. Democratizar e universalizar acesso dá nisso. O ECAD, por exemplo, é uma instituição tão insana que cobra direitos autorais de compositores quando eles executam em público a própria música!!! Na boa, isso não tem nada a ver com direito de autor. Tem a ver com extorsão de mercado.

Não vejo nenhum grande problema em artistas precisarem trabalhar com outras coisas para ganhar algum. Em muitos casos, até ajuda. Se Guimarães Rosa não tivesse sido médico no interior de Minas, boa parte de sua obra não teria sido escrita. Esse negócio de "profissionalizar" quem faz arte me cheira a burocratização, ou seja, sufocamento da própria arte.

Também sou contra essa patrulhada ideológica em cima da nova ministra. É muito cedo para avaliar qualquer coisa. Os primeiros movimentos do ministério não foram nada promissores, mas o fato é que ficamos muito mal acostumados com as duas fantásticas figuras que foram Gil e Juca Ferreira. Não adianta forçar a barra para que ela faça algo parecido com o que eles fizeram.

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