28 de junho de 2007

Vão enganar outro

3 comentarios

Desculpe, cara Tereza Cruvinel, mas dar a presidência do Conselho de Ética para Arthur Virgílio (PSDB), seria como terceirizar a vigilância do Bangu I para o Comando Vermelho. Você fala que ele vem se mostrando bonzinho e tal, mas esse babaquinha não nos engana. Não foi ele que disse, na tribuna do Senado, que iria “dar uma surra no presidente?” Que espécie de decoro é esse? Ninguém lembra dos podres da turminha tucana, naturalmente. Entregar a presidência do Conselho de Ética para ele? Fazer o joguinho dos golpistas? O que acho incrível é como a imprensa dá corda para esse medíocre do Virgílio, senador pelo amazonas, que nas últimas eleições para governador, teve menos de 4% dos votos. Ou seja, o cara não tem voto, não tem história, é um oligarcazinho fulero, sem-vergonha, e a mídia agora quer nos impor como grande nome para o Conselho de Ética?

Olha só, essa história do Renan passa a milhares de quilômetros de qualquer preocupação ética da oposição ou da mídia. A intenção é gerar crise e aproveitá-la da melhor forma possível, gerando o máximo possível de noticiário negativo. Em cada artigo ou coluna sobre a crise no senado, tasca-se uma associação qualquer com Lula e o governo, inclusive as mais disparatadas. E assim a imprensa vai adotando uma linha cada vez mais oposicionista, partindo para o vale-tudo, esquecendo qualquer prurido de isenção que, por outro lado, gosta tanto de arrotar.

Tem mais: é risível a coluna do Merval Pereira de hoje no Globo, citando o Jarbas Vasconcelos dando lição de moral. Pelo amor de Deus, Merval. Se vocês fizeram qualquer reportagem, irão encontrar tanto podre no passado do Vasconcelos que a biografia do Renan parecerá, em comparação, a de São Francisco de Assis.

27 de junho de 2007

Noblat, novo senador da Republica?

2 comentarios

O Globo agora passa a citar o Noblat como fonte primaria de suas noticias e analises. Agora é assim, nao precisa mais de fonte. O jornal passa a se alimentar de si mesmo. E a gente sabe muito bem que o Noblat simplesmente fala o que lhe vem na telha, segundo a sua genial intuiçao sobre o golpismo da hora. Usar o Noblar como fonte final é charlatanismo pesado. Que moral tem o Noblat para dar a palavra final sobre os interesses do Senado? Ele é senador? Foi eleito democraticamente pelo povo brasileiro? Tudo bem o Noblat dar a sua opiniao. Mas o caso aqui, o Globo cita a opiniao de Noblat como se fosse uma noticia. Essa mescla de noticia com uma opiniao absolutamente tendenciosa é nociva para o jornalismo.

Na verdade, a culpa nem é do Noblat. Ele é um vendido qualquer. Quer ganhar dinheiro e conseguiu. Criou um blog, surfou na crise politica do mensalao. Teve a opiniao certa na hora certa e foi logo contratado pelo Estadao. Agora se mudou para o Globo e virou xodo dos golpistas, pois sabe fazer muito bem o dever de casa. A culpa maior, no entanto, é do chefe de redaçao do Globo, que orienta as matérias.

Ainda é sobre a novela Calheiros. O chato é que a gente sabe que o cara nao é flor que se cheire. Mas o que vem pegando nao é isso. O que nos incomoda é que a imprensa continua fazendo julgamentos sumarios. Por mais que eu nao goste do Renan, me incomoda muito mais ver a imprensa condenar previamente, sem provas cabais. Qual é o crime em questao do Renan? Ele deu dinheiro a sua amante. Deu dinheiro para um fundo de educaçao de seu filho bastardo. Até ai, muito justo, muito nobre da parte dele. O negocio é que, segundo seus detratores, ele nao teria dinheiro para tal, e os depositos foram feitos com a participaçao de um sujeito que trabalhava numa empreiteira. Dai existem suspeitas de que Renan tenha recebido dinheiro desta empreiteira. Ora, suspeitas devem ser investigadas. Mas ninguem deve ser condenado a priori, como a imprensa vem fazendo com o Renan. Pior, se as imprensas democraticas começarem a escavucaram a vida de todo senador, e acusarem sem provas, nao havera democracia que resista. Nem na Dinamarca. Nenhuma democracia resiste. Senadores tem que ser investigados de forma sigilosa pelos orgaos competentes, e nao através de histerias midiaticas. A estabilidade politica de um pais é mais importante que pegar um senador sonegando imposto na venda de um boi ou pagando pensao para ex-amante. Segundo a estabilidade politica, um grupo financeiro resolve investir 50 bilhoes de euros num pais ou no outro.

Abaixo o trecho do artigo do Globo (integra aqui), que cita Noblat como fonte:

Em seu blog, Ricardo Noblat diz que a confusão sobre a escolha de um novo relator não passa de jogo de cena. Segundo o blogueiro, o que está em curso é uma nova etapa da manobra para salvar Renan.

26 de junho de 2007

Nem assim aprendem (e viva o Gonzagao)

4 comentarios




Saquem só esse post do Noblat:

Jornalista desrecomenda o jornalismo

"Apagão aéreo, Vavá, Marta Relaxada e Gozadora, PAC em câmera lenta, Mangabeira arrependido.....Nada cola no Lula, o Super-Teflon. O que prova a absoluta irrelevância da imprensa, dos jornalistas, dos colunistas, dos blogs. Vou abrir uma pizzaria."

(Confissão de um veterano e desalentado jornalista, que, inspirado no grande Sibá, desrecomenda a profissão. Para não perder o emprego, ele prefere se manter no anonimato.)


Rapidamente, dezenas de comentaristas protestaram, perplexos. Para o jornalista em questão e para o Noblat (que achou pertinente publicar isso), a função da imprensa é fazer colar fatos negativos no Lula?

Boa essa. A PUC de São Paulo deve abrir uma nova cadeira na faculdade de jornalismo, intitulada: Derrubando Lula. Os alunos aprenderiam técnicas especiais para fazer colar fatos negativos no presidente. Como professores visitantes, seriam chamados repórteres de Globo, Estadão, Veja… O professor discutiria com os aluno as razões do fracasso das tentativas de colar notícias negativas no Lula.

De repente a economia virou um assunto secundário para os jornalões brasileiros. 64% dos brasileiros dizem aprovar Lula. A economia seria a razão principal, dizem os analistas. Por que então, diabos, não fazem análises mais extensivas, mais profundas, sobre a conjuntura econômica? Não vale falar em Bolsa Família. Tem que ir atrás do aumento do salário mínimo, da inflação controlada, dos juros mais baixos da história, o aumento dos recursos destinados à agricultura familiar, do crescimento espetacular da venda de computadores, etc…

O Estadão, desesperado com a pesquisa do Census, não desistiu do golpismo. Deu destaque absoluto ao fato da maioria dos brasileiros estarem cientes do “suposto” envolvimento do irmão do presidente, Vavá, num “suposto” tráfico de influência, e que para a maioria, Lula sabia do caso. Bem, o caso é que o jornal simplesmente esqueceu de destacar que nada foi provado contra Vavá. Se os brasileiros sabiam do caso ou culpabilizam Vavá, é porque a imprensa enganou milhões de pessoas. Imprensa safada.

O negócio é escutar Luiz Gonzaga.




Leiam ainda esse trecho de uma nota do Estadão:

Orgulho brasileiro - A pesquisa perguntou aos entrevistados se eles têm orgulho de ser brasileiros: 91,1% afirmaram positivamente e apenas 8% disseram que não. Entre os motivos apresentados pelos entrevistados para justificar o orgulho de ser brasileiro, os mais apontados foram riquezas naturais, a solidariedade do brasileiro, a ausência de guerra e as praias e belezas naturais.

Vejam só. Se você ler as cartinhas de leitores que o Estadão publica, terá a visão oposta do Brasil. Claro. Os jornalões vem adotando uma pauta exclusivamente negativa, inclusive no sentido moral. No entanto, o brasileiro continua com orgulho de si mesmo e de seu país. Quanto aos motivos apontados, foram apenas os “mais apontados”, e os primeiros que lhes vieram à cabeça. Criatividade, alegria, vivacidade, amor pela vida, etc, também poderiam estar entre os fatores que nos levam a ter orgulho do Brasil. Mesmo assim é muito bonito terem apontado a “solidariedade” como uma característica do caráter nacional.



Também poderiam ter dito que uma das razoes do orgulho de ser brasileiro é Luiz Gonzaga.

Viva o Brasil!

25 de junho de 2007

Comentários sobre a necessidade dialética da disputa ideológica

9 comentarios


(Basquiat untitled, 1981)

A verdade não está no centro. Não está na direita. Nem na esquerda. A verdade está na luta. Como dizia Heráclito: “Tudo se faz por contraste; da luta dos contrários nasce a mais bela harmonia”. Quando a esquerda é deixada sem adversários, aprofunda-se num espiral de terror e autoritarismo sem fim. A experiência da direita não é melhor: produziu os mais tétricos regimes políticos, como o nazismo e o fascismo.

Estudando história antiga, observamos que a disputa ideológica entre grupos identificados com os interesses populares contra segmentos ligados aos grandes proprietários remonta aos primórdios da civilização. Nas terríveis disputas que conduziram à grandeza da Roma Republicana, tínhamos as classes plebéias, compostas de artesãos, imigrantes, pequenos comerciantes e pequenos proprietários, contra os patrícios, uma poderosa aristocracia fundiária. Foram as classes plebéias que pressionaram pela criação das primeiras leis escritas, as leis das 12 Pedras, que ficaram fixadas no Fórum romano durante séculos, até o fim da República. As leis escritas constituíam uma importante proteção contra o poder discricionário da aristocracia, que dispunha de armas e dinheiro.

No entanto, na mesma história, vemos situações ambíguas, como aristocratas defendendo interesses populares e líderes populares com propostas reacionárias. De maneira geral, as grandes lideranças da história, como Júlio César, Napoleão, Getúlio Vargas, mesclavam a defesa da melhora da vida das classes mais baixas, com o apoio de uma camada importante das elites financeiras.

As classes médias, geralmente, inclinam-se à direita, mas sobre isso existem leis políticas especiais. Em sociedades mais desenvolvidas, as classes médias estratificam-se em muitos tipos diferentes. Para evitar uma generalização exagerada, usemos o caso do Brasil. As classes médias que descendem de nossa “aristocracia rural”, ou seja, famílias saudosas da riqueza antiga de seus antepassados, e que, num país tão monstruosamente imenso como o nosso, constituem um significativo contingente populacional, essas são decididamente “de direita”. Raivosamente de direita. A consciência do conforto financeiro de seus avós gera uma amarga visão do mundo, uma irritação constante contra qualquer posição ideológica que associe a riqueza à injustiça social ou fatores negativos de forma geral.

Já famílias de classe média com antiga descendência urbana, em geral são de esquerda. Na maioria dos casos, existe uma origem humilde, longínqua ou recente. Não confundir com os “novos ricos”, compostos geralmente de comerciantes bem sucedidos, que possuem uma visão muito capitalista do mundo, mas também bastante populista, com uma visão política sempre original e independente, muito difícil de captar (ou intuir, como é o caso aqui) estatisticamente.

Um caso é muito importante de ser estudado. Como o radicalismo ideológico de esquerda se concentra, tanto no Brasil como na França, para citar dois países com democracias similares, no funcionalismo público. Este é um ponto importante, pois representa tanto uma força fundamental da esquerda, como seu principal ponto-fraco. Trata-se de uma força porque o trabalhador público possui, nos países citados (e em muitos outros), uma grande estabilidade e uma série de direitos trabalhistas que lhe confere auto-confiança, recursos e tempo para articular-se politicamente e contribuir para a luta ideologica. Em quase 100% dos casos, o setor público é de esquerda. O problema é que tem sido justamente neste setor público que vem se criando um corporativismo muito egoísta, revestido de esquerda radical, que, ao invés de contribuir para as lutas ideológicas nacionais, vem atrapalhando o processo democrático, alinhando-se apenas consigo mesmo, de forma muito arrogante e auto-suficiente. Prejudica, sobretudo, a esquerda, visto que esses grupos procuram monopolizar, de forma muito autoritária, às vezes até violenta, o próprio conceito de esquerda. “Esquerda somos nós!”, berram os representantes desta esquerda radical, esquecendo a necessidade da legitimação popular, pelo voto e por setores sociais heterogêneos. Vão mais fundo em sua esquizofrenia ideológica. Como não recebem votos nem de seus familiares, acusam as próprias instituições democráticas.
Lembro de reuniões políticas em que grupos que se auto-intitulavam “anarquistas” pregavam o voto nulo e denunciavam o voto. Defendiam o “poder popular”, sem conseguir, naturalmente, especificar como diabos esse poder popular poderia se concretizar que não através do voto. Pensavam talvez no velho “quantos levantaram a mão?”. Trata-se, neste caso, de absoluta ingenuidade, visto que não refletiam que qualquer tipo de instituição que imaginassem criar para gerir ou regular o interesse público teria que apelar para o sufrágio caso não quisesse se rebaixar a alguma forma mesquinha ou primitiva de tirania.

Esta luta entre esquerda e direita assume aspectos variados ao longo da história. Na América Latina, como estamos vendo, a esquerda vem ganhando eleições e se fortalecendo. Ao mesmo tempo, a direita também vem se tornando mais feroz. Mas as razões da esquerda estar tão forte, no momento, na América Latina, residem justamente no fracasso da direita enquanto elite política. E, ao contrário do que a direita alega, um fracasso principalmente de gestão, de gestão econômica. No Brasil, por exemplo, a direita alega ser portadora da bandeira da “competência”, da “boa gestão” e, agora, da “ética”. Ora, uma coisa é falar. Outra é fazer. O que a direita fez no Brasil foi tudo ao contrário de uma gestão competente ou ética. Não é o momento aqui de relacionar todo o fracasso da direita no Brasil, visto que saimos há pouco de um processo eleitoral em que os fatos foram repetidos à exaustão.

A vitória de Sarkozy na França teve seus motivos. Em primeiro lugar, o sarkozismo significou uma importante derrota à extrema direita do Le Pen. É uma direita, digamos, esclarecida, e que talvez tenha soluções para problemas graves que afligem a França. O problema da imigração, por exemplo, deve ser visto com racionalidade. Ninguém no Brasil pode sequer imaginar a gravidade deste problema na França, e na Europa em geral. Não se trata de simplesmente dizer que “a culpa” da miséria africana e asiática é da Europa e, portanto, ela que pague o pato. Isso não é solução. A Europa, efetivamente, tem responsabilidade central na pobreza da Africa. Mas isso não significa que a Europa deva se tornar outra Africa. A imigração se tornou o principal problema europeu. É natural que se procurem soluções. Se é a direita que oferece essas soluções, então os europeus votam na direita. Simples assim. O caso é: por que a esquerda não pensou nisso?

No Brasil, existem muitos casos similares. Por exemplo, setores da esquerda acusam o governo Lula de não ter feito a reforma agrária. No centro das atenções, temos o MST. A esquerda urbana tem a mania de considerar apenas o MST enquanto representante da reforma agrária. Mas alguém já parou para pensar o que seja, efetivamente, a reforma agrária? A esta altura do campeonato, quem disser que se trata apenas de distribuir terras, está definitivamente atrasado. Uma reforma agrária hoje não tem nada a ver com a reforma agrária do México de 1910. O MST diz que existem 4 milhões de sem-terra no Brasil. É um número genérico, talvez inflado. O que sei com certeza é que, segundo a última pesquisa do IBGE, existem 4 milhões de propriedades de terra no Brasil. 90% são pequenas propriedades. Claro, se você fizer uma pirâmide, verá que a maioria das propriedades corresponde a um percentual de uns 40%, enquanto as grandes propriedades correspondem aos outros 60%. Mas o caso aqui é que uma reforma agrária precisa contemplar sobretudo essas propriedades familiares, contribuindo para os agricultores tenham renda e possam melhorar de vida. Ou seja, não se faz reforma agrária apenas para sem-terras, mas para os agricultores. Se você pegar o histórico do volume de recursos que o Banco do Brasil, através de Pronaf, e outros instrumentos, vem aplicando na agricultura familiar, você vai entender porque a aprovação popular do Lula é a maior que a de qualquer outro presidente da história brasileira. O Banco do Brasil tinha uma política absolutamente patrimonialista. Só emprestava a grandes proprietários, ou para quem era amigo do gerente, geralmente casado ou genro de alguma família rural. Era uma coisa totalmente anti-republicana. As instituições de assistência técnica rural também tem recebido mais recursos e vem ajudando decisivamente o pequeno agricultor.

É preciso, além disso, perder o preconceito com o grande agricultor. A agricultura é um negócio extremamente arriscado, e se um sujeito resolve aplicar milhões numa fazenda, esse cara é um herói. Mais importante: está gerando milhares de empregos. Não se engane quem acha que uma fazenda mecanizada não gere empregos. Se você pensar no emprego agrícola apenas como aquele barnabé colhendo cana-de-açúcar com a mão, tudo bem, fazenda mecanizada gera pouco emprego. Mas você deve pensar no operário na fábrica de fertilizante ou de máquinas, no empregado da lojinha de insumos, no técnico que faz a manutenção do maquinário, nos agrônomos que supervisionam a produção, nos gerentes comerciais, nos empregados das corretoras que fazem os negócios, enfim, uma série de empregos de alta qualidade que transformam a atividade agrícola numa atividade conectada com o mundo moderno, não num feudo medieval, perpetuador da pobreza humana. Venhamos e convenhamos. Trabalhar colhendo cana não dá futuro para ninguém. Como operário numa fábrica de máquinas, sim. Uma fazenda de soja gera impostos, e são esses impostos que vão pagar as escolas técnicas para que os jovens daquela região possam ser engenheiros da Vale do Rio Doce e não trabalhadores rurais ou mais um jeca-tatú plantador de batata. Com todo respeito ao jeca-tatú, se ganha muito mais, se tem uma vida muito mais plena, sendo engenheiro da Vale do Rio Doce do que um pequeno plantador de batata no interior de Goiás.

Esse tipo de pensamento é que diferencia uma esquerda desinformada, uma esquerda caricatural, uma esquerda, enfim, conveniente e fragil conceitualmente, de uma esquerda pronta para enfrentar os novos desafios tecnologicos, ideologicos e, por que nao, metafisicos do século XXI. Uma esquerda que realmente ameaça a direita. Uma esquerda, enfim, preparada para vencer a direita e administrar a sua vitoria por longos periodos.

Não se trata, portanto, somente de uma luta entre esquerda e direita, mas de lutas no interior de cada grupo por um melhor aperfeiçoamento conceitual. E, principalmente, por uma melhor interpretação das informações. Mark Twain dizia uma coisa engraçada, ironizando a suposta isenção do jornalista: "Primeiro obtenha os fatos; depois pode torcê-los tanto quanto quiser". Trata-se justamente disso. A direita, expulsa do poder político, refugiou-se no poder midiático. E vem usando esse poder sem nenhum escrúpulo para debilitar a esquerda e fortalecer a si própria. É um poder maior do que imaginamos e as manifestações de gente da esquerda, do tipo: não leia Veja, não leia Estadão, não leia isso ou aquilo, são ingênuas, embora tenham a sua razão de ser. Se você não ler, outros milhões vão ler, e vão acreditar naquilo. A melhor saída é continuar combatendo. Apontando inconsistências, incongruências e procurando organizar formas alternativas de transmitir informação.

O interessante é observar que, na ânsia de converter o jornal numa arma política, seus donos o estão enfraquecendo enquanto ferramenta de comunicação. Por exemplo, eu queria saber mais sobre o Brasil, mas os jornais gastam 5, 6 páginas por dia falando dos bois e da amante do Renan Calheiros. O Brasil é o principal produtor agrícola do mundo, e muito pouco se fala sobre isso nos jornais. Claro, as agências especializadas cuidam desses assuntos. Mesmo assim.

Os jornais têm um universo de informações sobre um país que vive um momento fervilhante de sua economia. O Brasil possui as maiores reservas de minério de ferro do mundo e, portanto, seria interessante que os jornais publicassem matérias sobre o setor, informando o preço pelo qual o Brasil vem exportando o ferro. De uns tempos para cá, a exportação de carnes assumiu o primeiro lugar na pauta de exportação do agronegócio. Gostaria de obter mais detalhes sobre essas coisas. Gostaria de reportagens mais abrangentes sobre a vida no interior, nas periferias das grandes cidades. Mas não. A mídia nos empurra Renan Calheiros, Renan Calheiros, Renan Calheiros, Vavá, Vévé, Vóvó e Vuvu. Do Brasil real sabemos muito pouco.

Penso na famosa fábulo de Esopo, da rã e do rato, na qual o rato pede a rã que a ajude a atravessar o rio. A rã decide ajudar, mas com o intuito puramente maldoso de, no meio do rio, mergulhar e afogar o rato. Quando atingem o meio do rio, uma águia se aproxima, agarra o rato que, por sua vez, segura rã, e os dois são levados pelo predador.

A nossa mídia vem fazendo o papel da rã malvada. No afã de afogar seus adversários políticos será também vítima de uma força maior. O julgamento da história. Ou fracasso comercial.

23 de junho de 2007

Saudades da Vale

2 comentarios

Muita coisa já se falou contra a privatização de nossa principal mineradora. O Santayanna escreveu um belíssimo artigo em 2006 sobre o asssunto. Enquanto a mídia e seu rebanho se preocupam com os bois sem nota do Renan Calheiros, eu volto meus pensamentos para o que, para mim, representou um dos maiores atos de traição ao interesse nacional. Num artigo abaixo, eu já tinha tocado no tema. Volto a ele. Os preços do minério de ferro e do aço vem explodindo nos últimos anos, devido ao vigoroso aumento da demanda asiática, sobretudo da China. Na época da privatização, um analista mais sagaz poderia prever que, dentro de alguns anos, o preço de uma matéria-prima não-renovável não poderia seguir outra tendência que não a de alta.

A Vale não dava lucro antes da privatização? Ah, primeiro que isso é mentira. Mas, mesmo que os lucros fossem pequenos, dentro de alguns anos, estes aumentariam vertiginosamente (como vem ocorrendo), em virtude da escalada das cotações internacionais do ferro e do aço. A Vale detinha um conhecimento acumulado de mais de 50 anos, estudos e pesquisas sobre o subsolo nacional.

Não sou contra, por princípio, à privatização. A privatização do sistema telefônico, por exemplo, tinha mesmo que ser feita, embora seguramente sem as falcatruas e favorecimentos como aconteceu. O governo poderia aproveitar a enorme sede de gigantes pelo mercado brasileiro e exigir contra-partidas de transferência de tecnologia e investimentos sociais que poderiam dar resultados muito interessantes no combate à pobreza e à falta de cultura. Mas a telefonia não detinha os tesouros do sub-solo nacional, não detinha conhecimentos estratégicos sobre as jazidas de ouro, ferro, bauxita, urânio, etc, que a Vale detinha.

Mas não adianta falar da Vale agora. A mídia inventa uma nova crise diariamente, com o fim de impor a sua agenda. Uma nova crise sempre caindo em cima do governo federal, naturalmente. E observo ainda que existe uma estratégia calculada de desmoralizar as instituições, deixando as pessoas confusas, sem saber onde agarrarem-se senão em seu mundinho privado, lendo o Estadão.

Leiam só um trecho do artigo que o Mauro Santayanna escreveu em 2006:

Talvez devêssemos dar razão a Galileu, que desconfiava do muito saber.

“Molta saggézza” – disse o grande físico do Renascimento – “molte volte vuol dire molta follia”. A inteligência pode enrolar-se em si mesma e se transformar em insânia. É assim que podemos entender que homens tão bem informados, conhecedores de História, excelentes calculistas, tenham causado tantos e irreparáveis danos ao povo brasileiro com a privatização dos bens nacionais. Ou acreditamos na aporia de Galileu, ou somos forçados a admitir que eles foram movidos por desprezíveis interesses pessoais, ou, pior ainda, com o ânimo da traição.

Quando o Sr. José Serra, então ministro de Planejamento do governo passado, bateu o martelo, confirmando a privatização da Cia. Vale do Rio Doce, a explicação foi surpreendente. Começavam com a Vale, a propósito, porque era o símbolo mais destacado da presença do Estado na economia nacional. Não faltaram advertências contra o ato, que revelava “molta follia”. O ex-presidente José Sarney enviou carta ao então chefe de Governo, advertindo-o das conseqüências econômicas e políticas daquele passo. Disse mesmo Sarney que a privatização da Vale seria muito mais grave do que a também pretendida privatização da Petrobras.

A Vale do Rio Doce foi construída com imensos sacrifícios do povo, depois de vigorosa resistência, dos mineiros e do presidente Vargas, contra a Itabira Iron, de Percival Farquhar. Obtivemos os empréstimos do Eximbank para a exploração das minas do Cauê e para indenizar os acionistas ingleses da Itabira Iron, mediante os Acordos de Washington, de 1942, que nos exigiram, de contrapartida, a cessão das bases do Nordeste para as operações das forças norte-americanas e o envio de tropas brasileiras para a guerra na Europa. Ali perdemos vidas valiosas, entre elas as dos bravos pilotos do Esquadrão de Caça, dizimados em centenas de missões quase suicidas. Não investimos na Vale somente os recursos do Erário; investimos em sangue, investimos em coragem, investimos na dignidade do patriotismo.

Para ler o artigo na íntegra, clique aqui.

Legal, mas vamos às causas

1 comentário

O Globo vem fazendo uma série de reportagens com o tema “O Brasil vive o crime sem castigo”. Acho interessante a iniciativa do Globo. De fato, temos um Judiciário extremamente leniente com crimes de corrupção. Entretanto, urge fazermos uma reflexão sobre as causas deste mal.

Em primeiro lugar, temos a ditadura militar, período no qual qualquer denúncia de corrupção mais grave era censurada. Aliás vale sempre lembrar que durante a ditadura, os jornais não noticiavam violência, corrupção, de maneira que as pessoas pensavam que o país estava bem. Durante os anos FHC, a mesma coisa. A PF não investigava e, portanto, a população não tinha idéia do grau de corrupção que grassava no país. De vez em quando, estourava um escândalo, sempre prejudicando os adversários do momento do PSDB e do PFL. Nunca estourou escândalo contra o ACM, por exemplo, no tempo em que ele foi presidente do Congresso Nacional.

Nunca estourou escândalo no tempo em que Renan Calheiros era Ministro da Justiça, e portanto comandante da Polícia Federal, do governo FHC. Alias, onde estao os historiadores para explicar as causas da corrupçao no Brasil? Este era um bom momento para entrevista-los, pois do contrario cria-se quase que um sentimento de panico e confusao na populaçao.

Sem contar que as reportagens do Globo induzem a erros de interpretaçao, como quando dizem que os casos aumentaram em 153% de 2003 a 2006, quando a verdade é que o que aumentou neste percentual foram as investigaçoes sobre os desvios. Afinal, enquanto nao se investiga, nao se sabe que ha desvio e a impressao, para a opiniao publica, é de que nao houve o desvio.

Preconceito anti-PT e o suicídio dos jornalões

2 comentarios

Duas pesquisas recentes confirmaram uma coisa que eu já vinha pensando. Eu costumava remoer com meus neurônios: ué, se o PT é o segundo maior partido do Congresso Nacional, com 83 deputados, atrás apenas do PMDB, como os jornalões comerciais, que vivem de assinaturas e publicidade, adotam essa linha ferozmente anti-petista? Se o Lula ganhou duas eleições, com as maiores votações da história da democracia nacional, qual o sentido de empresas agredirem, de forma tão direta, esta imensa maioria da população, com uma linha editorial tão agresssivamente anti-Lula?

As duas pesquisas são as seguintes. A primeira foi encomendada pelo DEM (ex-PFL) e foi publicada na edição de sábado passado no Correio Braziliense. Segundo a consulta, dos brasileiros que tem preferência partidária, 28,2% optam pelo PT. A lista segue com PMDB (8,2%), PSDB (7%), PFL (2,9%), PV (2,3%), PDT (1,5%), PSOL (1%), PTB (0,8%) e DEM (0,6%). A pesquisa revela ainda que o PT é um partido identificado com a defesa dos trabalhadores (para 63,1% dos entrevistados), dos pobres ( para 56,7%) e da classe média (para 29,2%). O PSDB é identificado como o maior defensor dos ricos e da elite para 21,9%.

A outra pesquisa foi encomendada pelo PV, e circunscreve-se ao Rio de Janeiro. Foi publicada na coluna da Tereza Cruvinel, na edição de hoje no Globo. Segundo a pesquisa, 27.6% dos cariocas preferem o PT; 11% ficam com PMDB; 5.9% escolhem o PV; 5.0% optam pelo PTB. O PSDB amargou o quinto lugar, com 4.3% e o DEM ficou em sexto, com 2.3% da preferência.

Essas são apenas as pesquisas mais recentes, mas lembro de muitas outras que apontam resultados similares.

Sabem, eu já cansei de falar que NÃO SOU PETISTA. Mas voto no PT, defendo sua existência, defendo-o dos ataques da direita e da extrema-esquerda. É o suficiente para ser taxado como petista. Não me ofenderei mais. Podem me taxar como quiserem. Meu pensamento é livre. Defendo quem eu quiser, quando eu quiser. O que me surpreende é que veículos comerciais, com função pública, destilem um preconceito tão notório, tão baixo, tão mesquinho, contra um partido que, segundo diversas pesquisas, é o preferido da maioria dos brasileiros.

Lembro de quando alguns escândalos levantaram um forte clamor na mídia de que o PT iria acabar. Lembro de uma pessoa muito próxima, que repete tudo que o Globo diz, ou melhor, que acolhe diretamente em seu inconsciente tudo o que o Globo diz e mesmo o que apenas sugere, declarando peremptoriamente: “o PT acabou”.

Mas como o PT pode acabar?

Diante da força política do PT e do fato de que constitui o partido preferido dos brasileiros, a linha anti-petista dos jornalões, portanto, revela-se anti-democrática e, do ponto-de-vista comercial, bastante estúpida.

22 de junho de 2007

Sobre o Baixio das Bestas

1 comentário

Falei merda, admito. Um tempo atrás, escrevi neste blog uma nota muito boba, intitulada “Não vi e gostei”, falando do filme do Assis. Pois fui vê-lo num festival de cinema, em Toulouse, França, e fiquei decepcionado. Conversando com a Priscila, a gente foi descobrindo uma série de problemas, e se aprofundando cada vez mais. Desde então, não consegui escrever nada sobre o filme. Agora, saiu uma crítica na Contracampo de tirar o chapéu sobre este segundo longa-metragem do Claudio Assis. Eventualmente, conversamos mais sobre o assunto.

Gostaria apenas de acrescentar que, apesar dos problemas do filme, a atuação da Dira Paes é magnífica.

21 de junho de 2007

Enquanto escuto Noel

22 comentarios

O professor Wanderley Guilherme dos Santos, como sempre, já havia matado a charada. O poder da imprensa é de provocar crises. Mas o poder vai mais longe. A imprensa pode ajudar governos a venderem guerras, como aconteceu no caso da guerra no Iraque, cujos motivos eram falsos, mas foram aceitos e difundidos pela imprensa. O resultado foi uma conta que esta chegando a 1 trilhao de dolares (o Bush havia prometido gastar so 3 bilhoes) e mais de 1 milhao de mortos.

Aliás, é impressionante. No setor internacional, o ódio da imprensa continua direcionado ao Chávez. O presidente venezuelano gasta dinheiro com pobres. Bush gasta fazendo guerra. Chávez não renova a concessão de uma tv de seu próprio país, com apoio do Congresso Nacional e da Justiça. Bush fechou tvs e jornais de um outro país, sem consultar Congresso nem Justiça. Assim por diante.

No Brasil, a mídia decidiu queimar Renan Calheiros. Curioso é que ninguém levanta nada contra ele no período anterior a 2003, quando ele foi ministro da Justiça de Fernando Henrique Cardoso. E tentam confundir a opiniao publica, como se as derrapadas pessoais de Calheiros tivessem qualquer relaçao com o governo Lula.

A mídia continua querendo desestabilizar politicamente o Brasil, na ânsia de enfraquecer o governo. Mas há um outro objetivo muito específico: enfraquecer o PMDB, desestimulando algumas forças políticas importantes, sobretudo o governador Aécio Neves, a abandonar o PSDB e ingressar no PMDB, numa aliança grande com PT. Existe, por tras dessa crise em torno de Calheiros, a disputa presidencial de 2010.

O mais irônico de toda essa situação é a insistência dos colunistas políticos ou econômicos, como a Miriam Leitão, de tentarem ofuscar de todas as formas o bom momento econômico do país. Leitão hoje, por exemplo, fala das perspectivas de grande aumento no transporte aéreo brasileiro, mas não faz nenhuma correlação entre este fato e o crescimento pujante do mercado interno.

Quem chega hoje ao Brasil e lê os seus jornais, nunca vai saber que, de fato, vivemos um de seus melhores momentos econômicos de toda sua história. Outro dia, Lula falou que vivemos o melhor momento em 150 anos. Alguns jornais correram a entrevistar economistas babões que não encontraram outra coisa que dizer senão citar alguns anos pingados da década de 60, em que o PIB cresceu mais. Santa estupidez. O PIB pode ter crescido mais em algum momento dos anos 60, mas não era um crescimento sustentável. Tanto que não se sustentou. Não era um crescimento democrático. Os pobres ficavam mais pobres e os ricos mais ricos. Não era um crescimento sob uma democracia: estávamos no pior momento político da ditadura militar.

Ainda existe muita coisa que fazer, mas esse clima apocalíptico que o tucanismo esquizofrênico tenta pespegar na sociedade brasileira, defintivamente, não corresponde a nossa realidade. Deus, o nordeste, a região mais pobre do país, vem registrando um crescimento “chinês”. A análise dos números do IBGE indicam que o crescimento econômico vem sendo muito mais intenso junto às camadas mais humildes da sociedade. Isso explica, por outro lado, o nervosismo neurastênico dos missivistas do Globo… setores egoístas do Brasil, as famosas forças do atraso de que falava Vargas.

As análises sobre crescimento do PIB estão sendo conduzidas de forma totalmente equivocada. Não se pode analisar o número absolutamente, e sim em face da inflação, dos juros, da distribuição de renda, dos setores que crescem.

Por exemplo, os juros agora chegaram ao mais nível mais baixo de que se tem notícia. Isso significa que a revolução do crédito, iniciada sob o governo Lula, ganhará uma nova profundidade.

Mas a preocupação das famílias ricas que lêem o Estadão, a Folha, a Veja e o Globo, agora se volta exclusivamente para a sorte de Renan Calheiros… Como se houvesse algum outro senador muito melhor que ele para assumir o lugar. Como se houvesse algum senador, nao somente aqui no Brasil, mas em qualquer parte do mundo, desde os tempos da Roma Antiga, que nao tivesse seus podres no passado, suas amantes, seus bois nao declarados... Se ele cair, va com Deus. Tambem nao vai fazer muita falta. A imprensa partira para outra crise qualquer, buscando sempre romper algum elo fraco da base governista. A guerra continua.

Enquanto isso, eu escuto Noel Rosa.

20 de junho de 2007

CBL anuncia finalistas do Prêmio Jabuti

3 comentarios

Fonte: Globo.

A Câmara Brasileira do Livro divulgou nesta terça-feira os dez primeiros colocados das 20 categorias do 49 Prêmio Jabuti, um dos mais importantes prêmios literários brasileiros.

Na categoria Romance, os finalistas são "Pelo fundo da agulha", de Antonio Torres, "Desengano", de Carlos Nascimento Silva, "Mãos de cavalo", de Daniel Galera, "Vista parcial da noite", de Luiz Ruffato, "Os vendilhões do templo", de Moacyr Scliar, "A décima segunda noite", de Luis Fernando Verissimo, "Música perdida", de Luiz Antonio de Assis Brasil, "O segundo tempo", de Michel Laub, "A confissão", de Flávio Carneiro, e "Bóris e Dóris", de Luiz Vilela.

Na categoria Poesia, foram incluídos, entre outros, "Imitação do amanhecer", de Bruno Tolentino, "Memórias inventadas", de Manoel de Barros, "Meridiano celeste", de Marco Lucchesi, e "Raro mar", de Armando Freitas Filho.

19 de junho de 2007

Eles voltaram

5 comentarios

O golpismo voltou com força total. Jabor e Leitão voltaram a discorrer sobre moral. Jabor daquela forma histérica, como sempre. De um dia para outro, descobriu a podridão. Antes, o Brasil era limpinho. Agora o Brasil é sujo. E Jabor fala de um jeito como se a podridão fosse um problema especificamente brasileiro. Nos outros países, o problema não existe ou tem um aspecto mais agradável. Ai, que inveja, deve pensar Jabor, de uma boa corrupção a la americana, de uma Halliburton, lobbista de uma guerra que matou meio milhão de pessoas, e que pegou fatia importante dos 700 bilhões de dólares que o governo Bush já torrou nos arredores de Bagdá.

E a Miriam Leitão nos brinda hoje com um textinho choroso, lacerdista, com o refrão: tenho medo que o brasileiro se acostume com isso, se acostume com aquilo. E todo mundo batendo o tambor que os patrões mandaram bater. O tambor de derrubar o Renan Calheiros. Nunca se soube tanto de boi e negócios pecuários. Os repórteres foram pesquisar o preço de cada boi vendido por Renan. Ai, Miriam Leitão, vai cagar no mato! Eu tenho medo do Brasil se acostumar de termos uma colunista econômica que tira onda de moralista. Ah ah ah. Moralista de merda. Não foi você que afirmou, no início de 1999, que o dólar nao iria se desvalorizar? Não foi você que defendeu aquela vergonha que foi a privatização da Vale do Rio Doce. Na sua matéria de hoje, você abre acusando o Renan Calheiros de ter pago a pensão da sua mulher com dinheiro de lobby. Como típica golpista, você acusou sem provas. Você é investigadora de polícia? Ora, pode até ser que ele o tenha feito. Mas primeiro tem que provar. Muito pior do que termos um senador que pegou dinheiro de lobbista, é termos uma democracia ameaçada por linchamentos morais arbitrários patrocinados pela imprensa.

Você ainda finaliza a matéria esnobando os bons índices econômicos. Claro, a felicidade dos pobres que agora estão comendo melhor, e tendo um pouco mais de dignidade, isso não lhe afeta em nada, não é mesmo? Você está muito mais preocupada com os bois do Renan.

A mesma coisa vale para o Arnaldo Jabor, que agora vive numa espécie de inferno moral. Sempre em depressão, está quase enlouquecendo. Seus textos estão se tornando peças históricas do tucanismo esquizofrênico. O grande defeito de Jabor é o seu pedantismo insuportável, contemplando a política brasileira do alto de sua montanha de ética e moral. Nesse seu último texto, usando ironia, Jabor adota um estilo de profeta santo, que lhe caiu perfeitamente. Nada mais adequado para este tardio príncipe do lacerdismo tupi.

Outra bomba do Mauro Carrara

2 comentarios

Clique aqui para ler esse artigo do Carrara sobre o novo round do golpe da midia. Fiz esse outro blog apenas para publicar textos de terceiros, de maior extensao.

Viva Lamarca!

4 comentarios

Falso, injusto e abominavel chamar Lamarca de desertor ou terrorista. Ele lutava contra a ditadura militar. Uma ditadura terrivel, que matou milhares de pessoas, que torturou, que dissolveu o Congresso Nacional, que desmantelou o sistema nacional de educaçao, que provocou uma imensa desigualdade de renda, que impediu o processo de desenvolvimento do mercado interno, que bloqueou projetos populares de reforma agraria (que todos os paises desenvolvidos,capitalistas, fizeram), de educaçao, universitarios, politicos. Enfim, que provocou feridas politicas, economicas e sociais profundas na sociedade brasileira.

Lamarca entrou no exército quando este fazia parte de um Estado democratico. Quando ele "desertou", o exército havia "liderado" (ou sido fantoche) um golpe militar contra a democracia. Ou seja, quem "desertou", Lamarca ou o exército brasileiro?

Nos julgamentos de Nuremberg, os oficiais nazistas sempre se desculpavam dos crimes que cometeram alegando que estavam apenas cumprindo ordens. Nao foram perdoados. O Tribunal de Nuremberg chegou a conclusao que, mesmo numa organizaçao onde prevalece a disciplina e uma dura hierarquia, um homem nao pode deixar de respeitar, acima de tudo, os direitos humanos. Ninguem pode matar, torturar, dar golpes de estado, alegando estar cumprindo ordens.

Lamarca nao cumpriu a ordem de torturar, matar e participar de um Estado terrorista, totalitario, moralista, hipocrita e corrupto.

Lamarca insurgiu-se. Assim como os partisans italianos insurgiram-se contra o fascismo. Assim como alguns cidadaos lutaram contra o nazismo.

Toda este ataque de nossa midia contra as decisoes da Justiça em beneficio de Lamarca demonstra a sua falta de compreensao do processo historico brasileiro. Demonstra ainda a sua posiçao absolutamente anti-democratica, visto que nunca valorizaram, na pratica, a luta dos que combateram aqueles que nos usurparam 20 anos de democracia. Muito facil defender a democracia do conforto de suas salas ar-refrigeradas, depois de ter obtido lucros extraodinarios durante o periodo militar. A verdade é que, nao fosse o golpe militar, nao haveriam grupos de guerrilha. Nao haveria Lamarca.

So é possivel entender Lamarca, Marighella, e tantos outros, no contexto do golpe militar de 1 de abril de 1964, que rasgou a Constituiçao Brasileira e derrubou um governo legitimo, republicano e popular.

E todos sabemos a contribuiçao decisiva que a nossa midia deu ao golpe militar. Eh uma vergonha que ela carregara por toda a vida. Mais que isso. Os jornais que nao colaboraram de forma mais proxima faliram. Ou seja, a ditadura sufocou os concorrentes, jornais como Ultima Hora, Correio da Manha, etc, que foram obrigados a cerrar as portas durante o periodo totalitario.

Lamarca e Marighella foram homens de grande coragem, que lutaram contra uma ditadura abjeta, que promovia a tortura e o assassinato sistematico da oposiçao politica. Mesclar ideologia ai, dizendo que eles eram comunistas, é jogar fumaça na verdade, no fato que os militares fizeram um grande mal à historia nacional. E, sempre é bom lembrar, com a ajuda de jornais como Estado de Sao Paulo, Folha de Sao Paulo e O Globo.

Leiam o texto do Celso Lungaretti, sobre a polemica recente do caso Lamarca.

18 de junho de 2007

Golpismos tropicais

8 comentarios

O Renan Calheiros nunca foi flor que se cheire. Todo mundo sabia. O Fernando Henrique Cardoso sabia. Tanto que o convidou para ser Ministro da Justiça. Outro podre de Calheiros foi ter feito parte da famosa tropa de choque do ex-presidente Fernando Collor de Mello. O mesmo Collor que foi alçado aos céus do poder pela mídia. Quem nao se lembra da capa da Veja: O Caçador de Marajas. Lembrando disso hoje, da vontade de rir. De nervoso. Ha tempos que a Veja vem elegendo e depondo poderosos, de maneira totalmente arbitraria e interesseira.

Calheiros era adversário de Lula no primeiro mandato. No segundo, depois da goleada que Lula deu na oposição, aí incluindo a mídia, Calheiros se rendeu à força política do presidente. Desta vez, Lula sabia que precisava do PMDB para haver um mínimo de equilíbrio entre o Executivo e o Legislativo. Não tinha outro jeito. Quem não entende essa necessidade do governo federal sofre de hipocrisia ou desconhecimento do poder desestabilizador do Legislativo.

Aliás, a hipocrisia é o conceito chave para se pensar a política nacional. FHC patrocinou uma lei para mudar a Constituição e aprovar a reeleição em PLENO MANDATO. E nunca vi um colunista denunciar isso, ainda mais considerando todas as denúncias de compras de votos de deputados para aprovar a tal lei. FHC prorrogou, deliberadamente, uma situação cambial artificial, para ganhar as eleições em 1998, produzindo uma crise cambial profunda no início de 1999, que fez o Brasil perder bilhões em reservas. Ninguém reclamou. Ninguém disse que aquilo não era ético.

O Luiz Nassif publicou, há poucas semanas, um livro intitulado Cabeça de Planilha, em que acusa, com provas, que a turma do Fernando Henrique se beneficiou da crise cambial. Acredito. Estão todos bilionários.

A privatização foi feita com espirito colonial. Vendemos a Vale do Rio Doce pela bagatela subavaliada de 3 bilhões de dólares, a maior parte paga em moedas podres! E ainda vem alguns débeis mentais dizendo que foi melhor assim, porque em caso contrário a Vale poderia estar sendo administrada por um Delúbio Soares. Ora, vão plantar couve no Chapadão do Raio que o Parta. A Vale poderia ter sido vendida em parte, por valores muito mais altos. O Brasil possui as maiores reservas de minério de ferro do mundo. A Vale passou 50 anos pesquisando o subsolo brasileiro e entregamos de mão beijada todo o know-how para outrém. A Miriam Leitão é a maior cara de pau da história da humanidade quando fala que a Vale não dava lucro antes da privatização e agora dá lucro. O preço do minério de ferro, antes da privatização, era de cerca de 15 a 20 dólares a tonelada. Agora, está em mais de US$ 100 e crescendo. Claro que agora dá lucro. Sabem porque FHC vendeu com tanta pressa? Por que os analistas do setor sabiam que, com o crescimento acelerado da China e outros países asiáticos, o mercado de ferro iria explodir a qualquer momento. Os preços chegariam as alturas. Se o fato acontecesse antes da privatização, a Vale começaria a dar lucros extraordinários (como dá hoje) e o governo não teria como justificar um abominável entreguismo. Ou antes, o preço de avaliação da Vale teria que ser multiplicado por 10,20, 500.

O minério de ferro é uma riqueza não renovável. FHC, se fosse honesto e bem intencionado, poderia ter iniciado um saudável processo de abertura de capital da Vale, permitindo o aumento de capital estrangeiro, mas mantendo o controle nas mãos do governo.

Voltando ao assunto Renan. A imprensa golpista quer derruba-lo a todo custo. Veja, Estadão e Globo decidiram revirar a vida do senador. Os cães investigativos foram atrás de amantes, dívidas, declarações de imposto de renda, em busca de fatos e notícias que prejudiquem a imagem de Calheiros. A estratégia foi iniciada pela Veja, mas logo comprada por todos os que jogam no mesmo time. A perseguiçao contra Renan raia o ridiculo total. Globo, Folha e Veja estao rastreando cada conta do senador. Verificando o preço de cada boi. Vasculhando cada amante que ele teve no periodo. O ironico é que todas as investigaçoes se restringem ao periodo posterior a 2003. Claro, nao querem encontrar nenhum podre do senador na epoca em que ele foi ministro da Justiça... do FHC.

Tem que ser muito inocente para não ver nesse novo bombardeio midiático contra o senador as seguintes intenções:

1 – Criar uma atmosfera de crise política, o que sempre reflete negativamente no governo.
2 – Abafar as grandes operações da Polícia Federal.
3 – Derrubar Renan Calheiros e colocar alguém do PSDB ou do DEM na presidência do Senado, passo necessário para paralisar de vez o país e, eventualmente, derrubar Lula.

Alguns comentarios sobre o novo filme do Tarantino

Seja o primeiro a comentar!



(acima, um video-clip da musica Down on Mexico, com cenas de Deathproof)

Com Deathproof, o cinema de Quentin Tarantino ganha uma nova dimensão. Trata-se de seu filme mais elaborado, mais artístico. Ironicamente, também é também seu filme mais simples. O filme incita um novo olhar sobre toda sua obra.

No cinema de Tarantino, as perseguições não são apenas perseguições. Representam arquétipos modernos, os quais o cineasta manipula para provocar o efeito estético que deseja.

A última edição de Cahier du Cinema traz uma longa entrevista com Tarantino, em que ele se auto-declara um escritor, especializado em diálogos, e admite que, com as cenas de violência e perseguição, visa atingir os arquétipos profundos do espectador.

Por exemplo, as cenas de perseguição constituem, desde os anos 60, um clichê do cinema americano. Tarantino, porém, longe de considerá-las apenas um recurso comercial para conferir movimento à narrativa, considera-a enquanto um símbolo enraizado no inconsciente das novas gerações, cuja formação cultural hoje é indissociada do audivisual, sobretudo da vertente moderna, popular, do cinema de ação.

Ou seja, mal ou bem, todos nós, ocidentais, passamos nossa infância e adolescência assistindo - na sessão da tarde, no supercine, na tela quente, ou em vídeos vhs - a perseguições, brigas, tiroteios, artes marciais, guerras, psicopatas trucidando jovens sexys e alegres…

Usando elementos culturais próximos de todos nós, Tarantino consegue reciclar todo aquele “lixo” cultural, que aliás deixa mesmo de ser visto como lixo. Não eram lixo, então? Aquelas tardes perdidas vendo porcaria na tv, comendo pipoca e bebendo coca-cola, enfim, elas valeram alguma coisa? Após Tarantino, pode-se estar certo que sim. O cinema, mesmo o cinema ruim, os chamados filmes B, fornecem imagens, símbolos, arquétipos, que enriquecem nossa imaginação e que, mais tarde, podem ser convertidos em arte ao serem revalorizados e reassimilados pela perspectiva original de um cineasta de gênio.

Tarantino não perde de vista as fórmulas que fizeram o sucesso da indústria cinematográfica americana: movimento, sangue, violência, sexo e uma trilha sonora envolvente. Sem medo dos clichês, o cineasta os usa com originalidade, extraindo deles uma grande energia estética.

O filme possui uma excelente fotografia, com tomadas sempre inventivas, e os diálogos e a interpretação dos atores mesclam humor e futilidade, com doses equilibradas e insuspeitas de surrealismo, marcando claramente a personalidade e o espaço de cada personagem.

Na entrevista para o Cahier du Cinema, o cineasta revela que suas maiores influências literárias são Elmore Leonard e Bob Dylan. Do último, sem comentários; de fato, Dylan tornou-se uma referência artística para todas as artes que usam a palavra, devido à genialidade de sua poesia. Elmore Leonard é um escritor do tipo bandido-sensível, com um longo histórico de marginalidade, drogas e prisões antes de se tornar um autor famoso. Já dei uma folheada em alguns livros seus, numa livraria, e me pareceu muito bom. Está na fila.

17 de junho de 2007

Reforma no blog

3 comentarios

Decidi fazer uma grande reforma neste blog. Por isto, não estranhe as mudanças, os defeitos, os problemas que eventualmente encontrar nos próximos dias.

16 de junho de 2007

Outra matéria no Portal Literal

Seja o primeiro a comentar!



E saiu mais uma matéria minha no Portal Literal. Desta vez, sobre a relaçao do cinema com a literatura e sobre o filme Cao sem Dono, com entrevistas com Daniel Galera (foto) e Marcia Denser.

14 de junho de 2007

Mais pinturas de Juliano Guilherme

Seja o primeiro a comentar!






Clique nas pinturas para amplia-las. Sobre o Juliano, tomo a liberdade de publicar um trecho da mensagem que ele me enviou ontem, para mostrar um pouco do artista. Saudades da Lapa... Detalhe, o Gabeira ai nao eh o deputado. O bar do Paulo é o meu preferido na lapa, na esquina da Riachuelo com a Lavradio (estamos falando do Rio), um legitimo e singelo botequim carioca com preços populares e uma atmosfera de convivencia democratica.


Miguel, rapaz, a Lapa está tipo "Paris é uma festa". Ontem, depois de uma expo no Correios, fomos p/o bar do Paulo e encontramos o Gabeira, o Godofredo, uma francesinha c/franjinhas(por quem me apaixonei a primeira vista) e muito mais. Se melhorar estraga, alias esta estragando um pouco, com esse negócio de boteco de grife, mas enfim......

Pinturas do Juliano Guilherme

2 comentarios


Clique na figura para ampliar. Depois escrevo mais sobre o Juliano. Nao esqueca da exposicao - ver post anterior.

12 de junho de 2007

Exposiçao de Juliano Guilherme

Seja o primeiro a comentar!


Esta ai um evento que aconselho veementemente. Cliquem no convite para amplia-lo e enxergar melhor a data e horario. Eh a exposiçao de Juliano Guilherme, artista plastico cuja carreira venho acompanhando ha alguns anos. Sua pintura mescla um humanismo desesperado a um combate sereno contra a mediocridade. Bem, nao sei se o combate é sereno. Talvez seja desesperado também. Seguramente, é um combate feito com extrema eficacia e dominio das novas tecnologias de meta-controle da loucura, do surrealismo, da metafisica obscura dos romanticos. Ja pedi a ele para me enviar algumas pinturas, para publicar aqui neste blog. Mas se voce estiver no Rio, nao perca a exposiçao.

Cortinas de fumaça

6 comentarios

Continuam as operações para jogar fumaça sobre as grandes operações da Polícia Federal. A nossa mídia, em vez de aprofundar investigações sobre a complexa rede entre políticos, advogados e mega-empreiteiros, em negociatas envolvendo bilhões de reais, e que remontam há décadas, prossegue tentando desviar a atenção da opinião pública.

Primeiro, para o caso de Renan Calheiros, que nada tem a ver com as investigações. Agora com o caso Vavá, pobre-diabo que, aparentemente, embriagou-se com a tentativa de engambelar empresários, vendendo a influência que não tinha. Caso menor, inflado pela mídia para atingir a imagem de Lula e, sobretudo, desgastá-lo emocionalmente e à sua família.

E nunca se viu a expressão “compadre” de Lula tão repetida. Se pudessem nem diziam o nome do sujeito.

Enquanto isso, Abel Pereira, envolvido na máfia das ambulâncias, morre misteriosamente.

Enquanto isso, o último livro de Nassif, sobre a corrupção envolvendo manipulação do câmbio brasileiro no início de 1999, continua sendo abafado.

As nuvens do golpismo voltaram a sobrevoar as redações.

11 de junho de 2007

Amorim avisa

9 comentarios

"Ninguém é imparcial, mas tem a obrigação de tentar ser", explica Paulo Henrique Amorim, sobre uma das obrigaçoes do jornalista.

Esta inserida nesta excelente analise: O Brasil pode se tornar uma Venezuela.

Desobstruindo a goela

2 comentarios

Impedidos pela linha editorial de seus jornais de fazerem qualquer elogio ao governo Lula, os colunistas politicos e econômicos da mídia corporativa insistem sobre a tese de que Lula apenas deu continuidade à politica econômica do governo anterior. Isso é verdade? Então políticas como: o pagamento da dívida externa, a interrupção da escalada do aumento da dívida interna, a manutenção do câmbio livre, a estabilidade ou mesmo redução do preço das tarifas publicas, a não continuidade do processo de privatização, o aumento dos gastos em políticas sociais, o aumento dos recursos destinados à agricultura familiar, as medidas para popularizar o acesso ao crédito; essas políticas não constituíram mudanças? Não valem nada? Ou apenas são negadas para fazer valer a tese da "continuidade"?

Pior, agora alguns colunistas, como Noblat, começam a esnobar o bom momento econômico como uma estratégia do governo para evitar crises.

Perguntei a minha mãe o que ela achava das operações da PF, ela respondeu: "acho muito bom, Miguel, mas não vai dar em nada". Minha mãe é um bom modelo do pensamento médio. Não tem outra fonte de informação que não o jornal O Globo.

Ela admitiu, porém, que nunca, em sua vida, viu gente poderosa ser investigada e presa como agora: juízes, governadores e ex-governadores, desembargadores, deputados, grandes advogados e mega-empresarios. Mas disse: eles são presos e depois são soltos.

Bem, é importante distinguir as coisas. Os acusados são presos para facilitar as investigações. Presos, eles ficam isolados, permitindo à PF recolher provas. Trata-se de prisão provisória. Eles são soltos com Habeas Corpus, mas as denúncias continuam correndo pelos trâmites da Justiça. Em alguns casos, eles podem ser inocentados. E, dentre os que são inocentados, há os que são realmente inocentes, e os que são culpados. No caso dos inocentes, obviamente é bom que sejam inocentados, porque se cumpre a Justiça. No caso dos culpados, é um mal que sejam inocentados, mas pelo menos criou-se um desgaste enorme à sua imagem, rompeu-se o mecanismo que lhe permitia roubar, pregou-lhe um grande susto, nele e em seus comparsas, enfim produziu-se um exemplo público que inibirá outros ilícitos.

As pessoas precisam parar de avaliar somente a prisão como meio de reparar a criminalidade. O primeiro grande justiçador é a nossa consciência: quando um é pego pela Policia, mesmo que depois seja (equivocadamente) inocentado, o seu crime é exposto à sociedade, à sua familia e, sobretudo, à si mesmo. E se o sujeito for pego novamente, será bem mais difícil se safar pela segunda vez.

Enfim, é besteira falar que não deu em nada, visto que as investigações da PF desbaratam as quadrilhas, desmontando-lhes as artimanhas que usavam para roubar os cofres publicos, gerando, portanto, economia. Além disso, as ações constituem em si um belo exemplo moral. E permitem um importante acúmulo de inteligência para a Polícia Federal e para a sociedade civil, que, ciente das maneiras como é usurpada, pode ficar mais atenta para que tais crimes não aconteçam novamente, votando melhor e monitorando políticos e autoridades através da imprensa e instituições civis.

Na sua coluna da semana passada, Arnaldo Jabor pendura as chuteiras. Elogia Lula. Mas de uma forma tão rocambolesca que não vale muita coisa. Chama Lula de grande líder. Diz que nenhuma liderança teve tanta popularidade (70% de aprovação, admite Jabor) e chance de fazer um grande governo como Lula, nem JFK, nem Vargas, nem FHC. Mas não indica que a causa deste sucesso estaria em acertos do governo Lula.

Por fim, Jabor pede que a sociedade apóie Lula, para que ele possa dar jeito no Brasil. Mas o que Jabor chama de sociedade é nada mais nada menos que Fernando Henrique Cardoso e o PSDB. Aí Jabor dá uma surtada básica e pede a Lula que privatize as estatais corruptas. Queria saber que estatal ele quer que Lula privatize: a Petrobras? O Banco do Brasil? A Caixa Economica Federal? Humm. Sem comentários sobre isso. Ridícolo Jabor louvar o acúmulo de prestígio e popularidade de Lula e querer que ele o use para executar o programa do candidato derrotado. Sem contar que Jabor diz que Lula, para se livrar do PMDB "podre", devia se ligar ao PSDB, que seria exemplo de santidade e ética na política. Ah ah ah! Jabor, por favor, vá ler o ultimo livro do Luis Nassif, sobre a roubalheira que foi a maxi-desvalorizaçao cambial de 1999. Ou então, vá se tratar numa ambulância super-faturada no tempo do Serra, ou viajar numa estrada esburacada feita pela Gautama, nos áureos tempos tucanos.

Ah, por falar em ambulância, interessante esta morte súbita do Abel Pereira, um dos responsáveis para máfia das ambulâncias. Alguns diriam que se trata de queima de arquivo… Evidentemente, nao fosse um escandalo ligado à tchurminha de penas, a imprensa teria se esbaldado em maliciosas suposiçoes....

8 de junho de 2007

Reportagem muito lucida

6 comentarios

Esta reportagem da Carta Capital é muito lucida sobre o caso da nao-concessao

Link para um bom CD de Noel.

5 de junho de 2007

Seja o primeiro a comentar!



E para quem gosta de musica latina, um classico. Guantanamera, na maravilhosa voz de Celia Cruz (foto):



Guantanamera é inspirada num lindissimo poema de Jose Marti, o poeta-revolucionario cubano, que disse: "Quem pode ser tao ignorante de crer que a poesia nao seja indispensavel ao povo? A poesia, que alimenta a esperança, que une e desagrega, é ainda mais necessaria que a industria, porque, se a esta devemos a base da sobrevivencia, é da poesia que vem o desejo e a força da vida".

Guantanamera

Yo soy un hombre sincero
De donde crece la palma
Y antes de morirme quiero
Echar mis versos del alma.

Mi verso es de un verde claro
Y de un carmín encendido,
Mi verso es un ciervo herido,
Que busca del monte amparo.

Cultivo la rosa blanca
En julio como en enero
Para el amigo sincero
Que me da su mano franca.

Y para el cruel que me arranca
El corazón con que vivo
Cardo ni ortiga cultivo:
Cultivo la rosa blanca.

Yo sé de un pesar profundo
Entre las penas sin nombres:
La esclavitud de los hombres
Es la gran pena del mundo.

Con los pobres de la tierra
Quiero yo mi suerte echar,
El arroyo de la sierra
Me complace más que el mar.
*
A mesma cançao na voz de Compay Segundo:

Tim Maia e Jorge

Seja o primeiro a comentar!

Sempre Raul

Seja o primeiro a comentar!






é a segunda vez que coloco esse link. Gosto muito.

http://www.youtube.com/watch?v=rumpnIRMGAE

Bobeira

1 comentário

http://www.youtube.com/watch?v=95t26UJJdeg

Blues sempre

Seja o primeiro a comentar!

(Willie Dixon no baixo, à direita; Muddy Waters e Buddy Guy)




O blues veio do sul dos EUA, mas o blues elétrico ganhou força em Chicago, a partir do final dos anos 50, para onde emigraram os negros em procura de trabalho. Willie Dixon foi a grande figura. Era baixista e compositor, autor da maior parte dos classicos de blues que se tem noticia. Na cola de Dixon, vieram BB King, Muddy Waters, Buddy Guy, John Lee Hooker, Etta James...

E continuando minha série de indicaçoes de grandes gravaçoes de blues:

Willie Dixon e Muddy Waters
http://www.youtube.com/watch?v=3Y2Jg7-sCQg

Stones e Muddy Waters
http://www.youtube.com/watch?v=VoogFHoih_c
http://www.youtube.com/watch?v=Ivfk5OQFl5Y

Sonny Boy e Waters
http://www.youtube.com/watch?v=hjPezeHN9Hc

Sonny Boy
http://www.youtube.com/watch?v=IG3Z_R9wJ-w

Foi pouco

5 comentarios


(outra vez, desculpa a falta de acentos. As vezes, uso um h depois da vogal para indicar o acento)


Esse debate sobre a nao-renovaçao da concessao à RCTV, um dos principais canais de tv da Venezuelan, deu o que pensar. Criou-se uma polemica muito interessante, apaixonada, que vem nos proporcionando um espetaculo incrivel de manipulaçao da informaçao. A manifestaçao contra Chavez, por exemplo, tinha vinheta na tv venezuela chamando a populaçao para participar, informando hora e data, e depois teve uma enorme repercussao na midia corporativa brasileira. O indefectivel Alberto Dines nao perdeu tempo e logo publicou seus comentarios sobre a manifestaçao. No dia seguinte, porém, houve outra manifestaçao, muito maior, apoiando Chavez, e ninguem deu destaque. Dines ignorou.




Sem contar a incoerencia da Veja desta semana (conforme me contaram, nunca compro essa merda, soh leio quando chega gratis, geralmente artigos copiados pela net), que da vivas ao movimento estudantil da Venezuela, um punhadinhos de estudantes contra Chavez, mas nao da uma linha sobre o nosso movimento estudantil, contra o Serra.


E soubemos que os EUA nao renovaram a concessao para 135 canais de radio e tv. A Inglaterra fez a mesma coisa com outras dezenas. Todos os paises desenvolvidos tem historicos de nao -concessao.


So governos de paises ricos que tem esse direito, né? Governo de pais pobre nao tem direito a nada. Qualquer coisa que governo de pais pobre faz é "anti-democratico".


Agora vou dizer minha opiniao sobre o caso da RCTV.
Foi pouco.

Os donos da RCTV deviam ter sido presos e condenados à prisao perpetua. Por traiçao à patria. Se acontecesse nos EUA, seria assim, e provavelmente seriam justiçados clandestinamente pela CIA. Fosse na China, que hoje o mundo tanto reverencia, seriam fuzilados. E nao so da RCTV, mas de outros canais que apoiaram aquele golpe hediondo contra a democracia.


Nao importa quanto eles discordavam de Chavez. Chavez é um lider eleito democraticamente. Re-eleito. Ganhador de referendo. Ou seja, foi mais que exposto ao grande teste da democracia. E nao venham repetir a idiotice de Bush, dizendo que Hitler tambem foi eleito. A eleiçao de Hitler teve o apoio dos grandes monopolios alemaes, e foi resultado de um processo de total manipulaçao, a seu favor, das informaçoes. Um caso totalmente inverso do que ocorre na Venezuela, em que Chavez tem apoio popular e ganhou eleiçoes contra a manipulaçao midiatica.


Outra: o caso da RCTV foi votado pelo Congresso. Foi aprovado pela Justiça Federal da Venezuela. Ou seja, é totalmente legal. Eh um problema da Venezuela.



Eu tenho varias criticas à Chavez. Por exemplo, essa ultima dele de chamar o Senado brasileiro de papagaio dos EUA, foi uma estupidez sem tamanho, uma afirmaçao tola, contra-producente, primeiro porque nao atinge a direita brasileira mas toda instituiçao, produziu um enorme constrangimento na sociedade, e justamente no momento em que o Senado se prepara para votar a inclusao da Venezuela no Mercosul.


Resultado: Chavez, nao contente de criar problema internamente com sua lingua solta, acabou criando problema politico para o Lula no Brasil. A oposiçao ja prometeu que vai barrar a votaçao para incluir a Venezuela no Mercosul. Com apoio de nossa midia, é claro. Um problema que nao precisava acontecer. Bastava Chavez ficar de boca fechada.


Mas independente das criticas que faço à Chavez, me enoja a manipulaçao que se faz contra ele. Chama-lo de ditador, por exemplo, é a coisa mais imbecil do mundo. Ditador? Po, o cara foi eleito 6 vezes nos ultimos anos, entre eleiçoes e referendos, e nao é democrata? Se Chavez conseguiu eleger deputados que o apoiam, parabens para ele! Se a oposiçao venezuelana é incompetente e sem representatividade popular, soh lamento. Democracia é isso, nao eh? Ganha quem ganha eleiçoes. Que diabos de democracia é essa agora que a nossa midia esta inventando que chama de ditador quem ganha eleiçoes? Quer dizer que, se o pais tem uma oposiçao competente que nao deixa o presidente governar, ai temos um presidente fraco, incompetente politico. Se temos um presidente que tem grande apoio no Congresso, ai temos um ditador?


Eh a incoerencia total. Os fundamentos democraticos da midia e da direita estao completamente invertidos.


E mais: onde esta o principio da soberania? Quer dizer que a Venezuela nao pode fazer o que bem lhe der na telha? Digo, desde que respeitando os tramites democraticos? E me da vontade de rir de nervoso quando vejo a Condolezza Rize ou qualquer autoridade americana criticando a Venezuela. Os EUA causaram, direta ou indiretamente, a ruptura democratica em praticamente todos os paises latino-americanos. Mesmo a nossa midia, é notorio o apoio que deram ao golpe militar de 1964, cujas consequencias até hoje sofremos. Deviam ter um minimo de humildade quando tentam nos empurrar suas idéias capcciosas, oportunistas e incoerentes sobre democracia.

4 de junho de 2007

Blues na veia

1 comentário

Na casa onde estou hospedado, mora um italiano especialista em blues. Tenho passado algumas horas por dia escutando discos e vendo dvds de blues. Ontem, foi a vez de Otis Rush, que é um dos maiores nomes do blues.

Descobri que ele também canta uma das musicas que mais gosto: I Cant Quit You Baby. Conhecia so na gravaçao do Led Zeppelin (que é muito boa). O autor da musica é a lenda maxima dos compositores de blues: Willie Dixon.

A letra é demais, transcrevo abaixo:

Artist: Otis Rush
Song: I Can't Quit You Baby Lyrics

Well, I can't quit you baby, but I got to put you down for awhile
Well, you know, I can't quit you baby, but I got to put you down for awhile
Well, you know, you messed up my happy home baby,
made me mistreat my only child
Yes, you know I love you, baby, my love for you I'll never hide
Oh, you know I love you, baby, my love for you I'll never hide
Yes, you know I love you, baby, well you just my ordered size

Well, I'm so tired I could cry, I could just lay down and die
Oh, I'm so tired I could cry, I could just lay down and die
Yes, you know you my only darling, you know you my desire
When you hear me moaning and groaning,
you know it hurts me deep down inside
Oh, when you hear me moaning and groaning,
you know it hurts me deep down inside
When you hear me holler , baby, oh, you know your my desire

Agora veja Rush cantando ao vivo esta musica:
http://www.youtube.com/watch?v=BR3Hg3DII8k


Aproveito e divulgo também o link para a gravaçao do Led:
http://www.youtube.com/watch?v=6ReO6J9NyTo

3 de junho de 2007

Blues nao tem idade

1 comentário

Esclarecendo alguns pontos

8 comentarios



O meu post anterior gerou alguma confusão. Não faço defesa de corporação industrial americana. Digo que não sou contra o MacDonalds. Sei que a concentração dos grandes grupos industriais de alimentação pode ser um problema. Mas os grupos são transnacionais, ou são suíços, ingleses, sul-americanos, israelenses, não necessariamente americanos. Simplesmente não atribuo importância política ao McDonalds.

Outra, um aí me acusou de escrever para a direita. Eu não escrevo nem para esquerda nem para direita. Escrevo para quem tiver paciência de me ler. Procuro ser original na minha forma de pensar, conforme ensinava Sêneca ao Lucílio, e não ficar papagaiando lugares-comuns ideológicos. Se eventualmente um leitor de direita gosta do que escrevo, isso não é necessariamente ruim. Pode ser bom.

Acredito que a esquerda deve atualizar urgentemente o seu discurso e suas idéias, se quiser sobreviver nos próximos anos. A direita tem muito poder e dinheiro, e nunca economiza quando se trata de comprar cérebros que a defendam. O trunfo da esquerda é a criatividade, a originalidade. Para isso, precisa ter a mente aberta, escutar opiniões polêmicas. Refinar suas metas. Fortificar suas idéias com debates sinceros.

Sobre o Hugo Chávez, fiz minhas críticas aqui, mas não significa que eu apóie a direita venezuelana. Pelo contrário. Faça uma pesquisa Miguel do Rosário e Hugo Chávez e verá a quantidade de artigos que escrevi defendendo Chávez contra o golpe e contra as violências midiáticas. O golpe de estado que aconteceu na Venezuela, em 2002, foi uma vergonha para toda América Latina. A cobertura midiática brasileira sobre o fenômeno Chávez é uma vergonha. O Eduardo Guimarães está certíssimo na sua revolta contra isso. Concordo com ele em gênero, número e grau.

O que não podemos, no entanto, é endeusar ninguém. Incomoda-me essa mania agora de tratar Chávez como o modelo máximo de um líder de esquerda. Eu não acho e pronto. Entendo que ele se tornou o que é por causa das condições específicas da Venezuela. E, dentro da história da Venezuela e mesmo da América Latina, ele tem uma tremenda importância histórica. Mas estou aqui falando de resultados econômicos, de política externa, de relações geopolíticas, de risco militar.

A Venezuela é um país com graves problemas econômicos estruturais. Problemas econômicos estruturais não se resolvem com discursos políticos. O Brasil, por exemplo, resolveu parte de seus problemas estruturais com Getúlio Vargas, um líder hoje reverenciado pela esquerda. Mas Vargas foi um anti-comunista ferrenho, pelo menos no seu primeiro mandato, ditatorial, que durou de 1930 a 1945. No segundo mandato, de 1950 a 1954, recebeu apoio dos comunistas que admitiram a importância de Vargas para o processo de autonomia econômica e desenvolvimento industrial do país.

Quando analisamos a questão mais a fundo, saimos um pouco dessa histeria ideológica de esquerda e direita e observamos, além da moral, os benefícios e prejuízos que tal líder político trouxe a seu país. Ás vezes, ou quase sempre, a herança é ambígua, com boas e más consequências.

Chávez é uma realidade política latino-americana. É resultado de séculos de opressão. Mas eu não acho que um estadista sério deva dizer bravatas militares contra o império americano. Quem ganha com isso? A oposição chavista é podre. Corrupta, reacionária, racista. Mas Chávez também não é fácil. Ele provoca. Junto com os ricos que fugiram da Venezuela, fugiram também empregos e tecnologia. É a mesma coisa que aconteceu em muitos países da África, e foi um desastre. Surgiram lideranças populares, socialistas, que expulsaram todos os brancos. Desapropriaram fazendas e ocuparam empresas. Poucos anos depois, a economia destes países estava completamente arruinada, devastada. O fator tecnologia acumulada foi esquecido. Os brancos estavam associados à colonização, mas eles detinham a tecnologia e um grau de conhecimento importante para a estabilidade e o progresso econômico. Não deveriam ter sido expulsos, mas integrados. Hoje, países que tinham boas economias, como Costa do Marfim, Zimbábue e Serra Leoa, afundam num lodaçal de miséria e violência. Pior: a miséria horrendo gerou uma espiral de auto-destruição inaudita, provocando guerras civis caracterizadas por crueldades desumanas.

Reiterando: não sou contra McDonalds. Seria hipócrita. Tem gente que é contra o McDonalds porque é americano, mas escuta jazz. Outros são contra porque se trata de uma “corporação”, mas escova os dentes com Colgate. Por aí vai. A esquerda tem que se cuidar para não se tornar uma caricatura de si mesma.

Não façamos confusão. Sou contra algumas corporações militares, a Halliburton, por exemplo, que, a meu ver, constituiu o principal lobby pró-guerra no Iraque. Tanto é que hoje a Halliburton fatura bilhões de dólares, dentre outros mil serviços, re-construindo edifícios e campos de petróleo, por sua vez regularmente destruídos por rebeldes.

Tem a questão do socialismo. Ele morreu? O capitalismo triunfante agora é a solução única para os problemas da humanidade? Acho que a maneira de formular a questão é capcciosa. Temos que voltar a ler os filósofos da linguagem. Tenho também uma visão original destes problemas. Para mim, o capitalismo se apropriou da história.

A maior deficiência do marxismo foi não abordar devidamente as questões culturais, linguísticas e psicológicas. Existem fatores psicológicos importantíssimos que se deve considerar quando analisamos antropologicamente a relação do homem e suas ideologias. Tem gente que é de direita porque tem uma personalidade egocêntrica, com um excesso (não necessariamente negativo) de auto-confiança. Confia na história e confia em si mesmo, portanto não vê o porquê deveríamos revirar o mundo de cabeça para baixo com uma revolução, e também não vê porque o Estado deveria ajudar o cidadão, visto que ele mesmo não sente necessidade de ajuda, justamente em virtude de sua auto-confiança. O problema deste homem de direita é que ele é cego para o coletivo, para o outro, que não tem a mesma auto-confiança que ele, ou que não teve a oportunidade de desenvolver esta auto-confiança. E esquece que este outro, o marginal, acaba se voltando contra a sociedade e atrapalhando os negócios…

O homem de esquerda, muitas vezes, é uma pessoa insegura, um tanto confusa ideologicamente, insatisfeito com o mundo e mais ainda consigo mesmo. Mas tem grandes qualidades no que se refere a sua preocupação com o país, com as outras pessoas, com o coletivo. Em países pobres, o pensamento de esquerda é importante, é progressista, porque o país precisa superar a pobreza antes de iniciar um processo virtuoso de desenvolvimento econômico.

Como ia dizendo,o capitalismo se apropriou da história e Marx comeu mosca nesse ponto. Marx começou a ver isso, mas não tirou as conclusões necessárias, ou não esclareceu bem a questão. Explico melhor. O capitalismo não é uma ideologia. O capitalismo é história. O Marx foi bem até aí, ao analisar o nascimento da economia social, da progressiva evolução das formas de comércio e das relações trabalhistas. Mas aí, Marx cometeu o erro crasso, a suprema arrogância, tipicamente germânica, de querer solapar 20 mil anos de economia social com um novo modelo economico. O novo tipo de organização, chamado socialismo científico, tinha muitos pontos interessantes, mas não possuia a coerência e o vigor que somente o tempo, a experiência e uma lenta evolução histórica podem conferir a qualquer tipo de organização social. O socialismo foi uma contribuição extraordinária, uma obra de gênio, mas para ser incorporado, como o foi nos países do norte da europa, gradualmente às economias dos países.

A questão da propriedade privada, por exemplo. Porque o socialismo foi contra a propriedade privada? Quando as sociedades inventaram as democracias e os sistemas republicanos, contra os sistemas monarquicos, imperiais ou ditatoriais, a propriedade surge como uma grande conquista do indivíduo. Claro, a grande propriedade, em muitos casos, constitui um mal, na medida em que obstrui o desenvolvimento econômico. Mas uma pequena ou média propriedade, representa uma conquista do indivíduo. Enquanto a esquerda for contra isso, ela sempre perderá eleições na proporção exata em que a população for se tornando pequena e média proprietária de seus imóveis. Por isso, a esquerda foi praticamente eliminada dos Estados Unidos. Por isso, a esquerda vem perdendo terreno na Europa e tem tanta dificuldade de se impor junto às classes agrárias brasileiras. É muito cômodo simplesmente dizer que os agricultores são reacionários. Não é bem assim. A esquerda precisa indagar fundo as origens da aversão dos agricultures.

Quais são os princípios da esquerda? O que, realmente, a diferencia da direita? Até que ponto, não temos fatores psicológicos ou apenas confusão ideológica por trás dessas diferenças? Até que ponto, essas diferenças não seriam específicas em cada país?

Mesmo as grandes propriedades, desde que produtivas, pagadoras de impostos e pagando o justo para seus empregados, não constituem um problema. Hoje, no Brasil, ainda temos quem pense que uma grande fazenda mecanizada seja um mal porque desemprega gente. Uma vez eu debati com um executivo inclinado à direita, que tentou menosprezar o programa de biodiesel do Lula dizendo que não geraria tanto emprego, porque a maior parte seria produzido em grandes fazendas mecanizadas de soja ou cana-de-açúcar. Eu respondi o seguinte: esse negócio de achar que a mecanização só tira empregos é um pensamento muitas vezes de gente que não sabe a merda de emprego que é colher cana. Enquanto isso, com a mecanização, se criam excelentes empregos nas indústrias que fabricam máquinas, nas lojas que vendem as máquinas, nos cursos que ensinam a conduzir e consertar as máquinas, sem contar o setor de fertilizantes, que também cresce muito nas fazendas mecanizadas. Não queremos ter um país mais industrializado? Então temos que mecanizar também nossas fazendas. A melhor solução nunca é nadar contra a corrente, mas sim aproveitar da melhor forma possível o que as circunstâncias históricas nos oferecem. Eis um típico pensamento de Celso Furtado. Vale incentivar a formação de cooperativas e criar programas, como a Petrobrás vem fazendo, para comprar matéria-primas de pequenos e médios produtores. Vale criar formas modernas de proteger os agricultores das volatilidades excessivas do mercado, como fazem os EUA, a Europa e o Japão. Talvez não seja interessante ou conveniente, fazer da mesma forma que eles, exagerada, mas as atividades primárias precisam, de fato, receber um tratamento diferenciado.

Não se trata, portanto, de impor o socialismo, mas de incorporar fórmulas socialistas, as que deram certo, às economias modernas. O capitalismo inglês do século XVIII era bárbaro e o resultado era a miséria da sociedade. Depois que inventaram o salário mínimo, o limite de horas de trabalho, a aposentadoria, depois que os sindicatos foram criados e conseguiram arrancar grandes concessões dos patrões, a Inglaterra ficou muito mais rica, mais feliz, mais estável.

A direita brasileira precisa entender que a melhora da situação dos pobres constitui a única forma de termos um crescimento econômico sustentável, firme, duradouro, e também de melhorarmos, no longo prazo, os problemas de segurança pública.

Continuamos depois esse papo.

1 de junho de 2007

Nao tenho nada contra o McDonalds

4 comentarios

Olu Oguibe



(desculpem a falta de acentos)

O Vinicius Jatoba, amigo meu das antigas, dos tempos em que vendiamos o Arte & Politica de bar em bar, ganhou um premio de melhor blog, e rendeu homenagens a blogueiros que, segundo ele, fazem sua cabeça. Entre outros citou este blog, e teceu alguns comentarios muito simpaticos sobre a minha pessoa. Agradeço imensamente, Vinicius. Em vez de uma, agora sao duas, ou tres, cervejas que lhe devo. Mas nao posso me furtar a fazer ressalvas, as quais, inclusive, me dao oportunidade de esclarecer uns pontos que comumente confundem a cabeça das pessoas que dedicam um ou outro pensamento a essa coisa meio estranha chamada politica.

La pelas tantas, Vinicius observa que esta sempre curtindo meus textos, mesmo quando "ele ataca no mesmo comentário do McDonalds à Casa Branca".

Valeu Vinicius, mas eu nunca ataquei o MacDonalds. A Casa Branca, tudo bem. Ataco porque acho que a politica americana ha tempos faz uma burrada em cima da outra. Se limitassem a fazer burrada no pais deles, ok, mas eles fazem burrada nos paises dos outros. Esta provado, segundo fontes oficiais americanas (leiam Elio Gaspari, entre outros) que os EUA, por exemplo, moveram um encouraçado para a costa brasileira, para apoiar a ditadura militar. A guerra no Iraque foi outra burrada historica. Todo mundo sabia disso; somente os americanos, manipulados pela midia americana, nao sabiam. Agora, que nao da para tampar o sol com a peneira, os proprios americanos sao contra a guerra, admitem que foi uma burrada sem limites. E custou (esta custando) muito caro. O Bush disse que a guerra iria custar uns 3 bilhoes de dolares. Ja torrou mais de 500 bilhoes de dolares. Ja matou, sei la, meio milhao de pessoas. Ja fez disparar o preço do petroleo, aumentando o custo de vida em todo planeta e beneficiando os proprios inimigos que os americanos queriam combater (os arabes), alem de fomentar o terrorismo em todo mundo, e produzir, às margens do Eufrates, a maior escola de terrorismo da historia moderna.

Agora, sobre o MacDonalds, é outra historia. Eu gosto do McDonalds. Quantas milhares de vezes um lanche do MacDonalds nao me matou a fome! Por que eu atacaria o McDonalds? Uma empresa que faz hamburgueres nao tem nada a ver com esta guerra. Tem ligaçoes economicas, porque é uma empresa americana. Eventualmente, pode até fornecer hamburgueres para o exercito. Mas é um acidente. Mas se eu for culpar o MacDonalds por ser americano, teria que culpar tambem o Elvis, o Bob Dylan, o John Lee Hooker, por serem americanos.

Por isso que acho uma burrice sem limites quando alguem quer fazer boicote de produtos americanos para protestar contra a politica externa americana. Lembro que o Brasil de Fato, aquele jornal esquerdista até a raiz dos ossos, logo apos a sua fundaçao, iniciou uma campanha de boicote a produtos americanos. Eu nao acreditei no que vi. Pensei logo: esses caras sao loucos. Foi o suicidio publicitario mais imbecil que testemunhei na vida. Dito e feito. Algum tempo depois, eles vieram dizer que o jornal estava em crise, pedindo ajuda financeira das pessoas, e culparam a midia corporativa, o governo, sei la mais quem. Ora, qual o sentido de iniciar uma campanha para boicotar a Coca Cola? Primeiro que a campanha é ridicula. E prepotente achar que uma campanha num jornal ainda com pouca influencia vai ter algum resultado. Segundo, queimaram mais uma chance de criarem uma imprensa alternativa, auto-sustentavel, no Brasil. De quebra, torraram grana do MST, da CUT e de outras organizaçoes de trabalhadores, que bancaram o projeto. O editor era o Jose Arbex Jr, representante de uma esquerda rancorosa, corporativista, reacionaria e feia.

A Caros Amigos poderia sempre ter se tornado uma revista com maior circulaçao, mas sua politica mesquinha, anti-publicitaria, anti-artistica, voltada apenas para um publico esquerdista, masculino, intelectual, nunca lhe permitiu ser mais influente e se projetar no mercado e disputar o grande publico nacional. Qualquer outra publicaçao que se pretender "progressista" ou "de esquerda", precisara ter isso em mente: nao basta ser de esquerda, tem que ser bonita.

Nao sou contra o MacDonalds. Sou de esquerda porque defendo politicas de justiça social. Vejo a Guarda Municipal metendo o cacete em camelo e acho errado, e uso a palavra como arma para combater o que acho errado. Agora, a esquerda tem que ser mais inteligente e atraente. Se os americanos se limitassem a exportar redes de lanchonetes, o mundo seria melhor.

Levando a coisa mais longe. Nem sou contra, por principio, a produçao de armas. Calma. Sou pacifista, mas nao anti-militarista radical. O mundo seria infinitamente melhor sem armas, claro. E sem exercitos, obvio. Mas isso nao é uma realidade e compreendo que os paises precisam se defender. Compreendo a necessidade de exercitos para assegurarem a soberania das naçoes. Defendo, vejam bem, a ONU e as politicas de desarmamento. Mas a culpa, se pensarmos bem, nao é da produçao de armas, embora os lobbies armamentistas influenciam sobejamente a decisao de se fazerem ou nao guerras. Mas apenas influenciam. A culpa maior é dos politicos que decidem. Por isso, volto minhas baterias para a Casa Branca e, as vezes, para vastos setores da sociedade que defendem as decisoes da Casa Branca. Por exemplo, nao fosse o apoio, e a subserviencia, da midia americana, os EUA nao teriam logrado reunir o apoio politico interno para levarem adiante uma guerra contra a ONU e contra as principais potencias militares do mundo, como França, China e Russia, que se posicionaram firmemente contra a guerra no Iraque.

Como veem, as coisas nao sao simples. Nao basta ser de direita, ser de esquerda, ser o raio que o parta. O mais importante é compreender a complexidade das relaçoes internacionais, saber enxergar os fundamentos economicos e politicos de determinadas situaçoes historicas, como a eleiçao de Sarkosy na França, de Lula no Brasil ou Chavez na Venezuela. E, sobretudo, nao se deixar levar por lugares-comuns como associar "ser de esquerda" com "ser contra o MacDonalds".

Vinicius, por favor, nao leve a mal. A gente conversa melhor depois numa mesa de bar. Estou com muita saudade disso. Obrigado pelos elogios e parabéns pelo premio!

Por que Chávez não daria certo no Brasil

6 comentarios



De vez em quando ouço alguém lamentar não termos um Hugo Chávez no Brasil. Não é de hoje que escuto essa melodia, algo melancólica, de termos uma esquerda, encarnada no Lula, tão light, tão reformista, tão dócil às violências de nossa mídia golpista e nossas elites reacionárias.

Não concordo. Para mim, o fenômeno Chávez é uma coisa lá dos venezuelanos. Aqui não teria nada a ver. Para exercer bem o meu ofício, estudei história e economia e, dentre outras coisas, aprendi que a realidade econômica de cada país determina, não totalmente, mas em grande parte a sua face cultural e política. Os Estados Unidos não inventariam o blues, o rock, o cinemão industrial, não geraria autores como Faulkner, Bukoswki ou Heminghay, não tivesse se tornado a potência econômica que se tornou a partir da I Guerra e, mais ainda, depois da II Guerra. Assim como a Toscana não geraria Dante Alighieri, Da Vinci, Michelangelo e Maquiavel não fosse um dos principais centros econômicos do mundo em meados do século XV.

Assim como hoje, São Paulo, não seria o poderoso centro de cultura, com tanta literatura, teatro e cinema, e suas boemias consequentes, não fosse o lugar mais rico do país.

Não falo de dinheiro no bolso dos artistas (coisa sempre rara, mesmo nos tempos das vacas gordas), mas de ambiente econômico vibrante, excitação no ar, uma atmosfera de frivolidade culta, que sempre caracteriza as épocas mais criativas.

Ou seja, para tudo na vida é preciso dinheiro. Até para ser Hugo Chávez.

Sempre que escuto essa ladainha, que volta e meia ecoa nas esquerdas, não somente brasileiras, mas de todo mundo, de que Lula não é Hugo Chávez, sinto-me um pouco agastado. Por diversas razões. Chávez pode ser bom lá para Venezuela. E mesmo assim, sou bastante crítico do Chávez. Acho seu estilo caudilho demais. Seus discursos violentos contra os EUA me parecem extremamente irresponsáveis, tipo cutucar onça com vara curta. Contra-producentes. Há aspectos militaristas, autoritários, na pessoa de Chávez que não me agradam, de forma alguma. Além disso, ele conseguiu expulsar ou conduzir à falência grande parte das companhias nacionais, prejudicando o processo de industrialização indispensável a uma verdadeira autonomia econômica.

Mas, voltando ao dinheiro, ele o tem. Cerca de 70% da receita do governo venezuelano vêm do petróleo. Essa é razão de existir um Hugo Chávez na Venezuela. E também a razão de não haver um Hugo Chávez no Brasil. O poder político de Chávez só é possível porque o Executivo venezuelano, ou seja, o governo federal, possui um poder econômico incomparável com qualquer outro setor nacional. A situação é totalmente diversa do que ocorre no Brasil.

Comparativamente, o Executivo brasileiro é pobre em relação ao poder dos grupos econômicos nacionais, sejam eles os setores agropecuários, industriais, financeiros ou varejistas. A Venezuela não tem uma indústria nacional, ou seja, não têm industriais. O Brasil tem. A Venezuela não tem grandes agropecuaristas nacionais (não tanto como o Brasil). O Brasil tem. A Venezuela não tem grandes banqueiros nacionais. O Brasil tem. Por fim, é infinitamente mais fácil, tendo o controle do Executivo e da receita do petróleo, ganhar votos de uma população de 25.7 milhões do que, num país com setores nacionais poderosíssimos, com interesses divergentes, eventualmente contrários aos interesses do governo, ganhar votos de uma população de 189 milhões.

De resto, se analisarmos, friamente, os resultados econômicos dos governos Chávez e Lula, o Brasil tem dado de 10 a zero. O PIB da Venezuela está crescendo mais que o Brasil? Tá bom, mas com uma absurda taxa de inflação, o que sabemos muito bem o que significa: aumento da desigualdade de renda. Além do mais, crescimento de PIB não significa muito coisa se não há, efetivamente, um processo de acúmulo de tecnologia e crescimento de produção industrial. No Brasil, segundo estudo da Fundaçao Getulio Vargas divulgado hoje (01/de junho de 2007), a indústria nacional alcançou os melhores resultados dos últimos 20 anos em vendas no mercado doméstico, enquanto a Venezuela continua apenas faturando em cima dos preços em alta do petróleo.

Um dos graves problemas da esquerda, brasileira e mundial, é se deixar levar, muitas vezes, mais por discursos do que por resultados. Lula não faz discursos anti-imperialistas contra os EUA? Lula recebe Bush e aperta sua mão? Acho excelente. Lula sabe que temos 189 milhões de bocas para alimentar e não é para agradar um punhado de esquerdistas de classe média que deveríamos desempregar os milhões de trabalhadores que dependem de vendas de produtos brasileiros para consumidores americanos.

Lula sabe que não poderia fazer como Chávez e provocar o desmantelamento do setor privado nacional, pregando um pseudo-socialismo, não tendo o Estado brasileiro condições de pagar salários para os milhões que o setor privado emprega. Até porque, repito, temos 189 milhões de bocas para alimentar. Lula já passou fome. Tem humildade. Já foi operário e grande sindicalista. Em suas negociações sindicais, aprendeu que os ricos aceitam ceder se lhes permitem manter a pose. Foi ele mesmo que disse que estamos no tempo do “ganha ganha. Um sai ganhando e outro pensando que ganhou”. Isso se chama inteligência: o ganhador sai um pouco cabisbaixo, o perdedor sai todo pimpão, crente que abafou. Mas a verdade é outra: em casa, quem ganhou bebe um vinho feliz e faz amor com sua esposa, enquanto o perdedor olha triste para o espelho, depois de sua filha viciada em crak lhe chamar de estúpido e dizer que o odeia. Por isso, Lula participa de encontro com poderosos da mídia, os quais, pelos motivos macro-econômicos já apontados, têm muito mais autonomia e poder aqui do que na Venezuela, onde o governo é esmagadoramente o principal patrocinador de todas as publicações.

Ao Brasil não interessam novas crises econômicas, turbulências políticas provocadas simplesmente por questão de comportamento do presidente. Tipo: o presidente brigou com o Globo. Tipo: o presidente brigou com Bush. Um estadista deve, sobretudo, evitar confusão, e procurar a paz, a estabilidade. Um país, quando está em paz, estável, bem consigo mesmo e com o resto do mundo, cresce naturalmente. Quando os trabalhadores (e estudantes) organizados não são reprimidos, conseguem conquistas. O governo cumpre a função de mediador social, vigilante da Constituição, indutor do crescimento e do bem estar social e, na medida do possível, agente protetor das camadas mais vulneráveis da população. Governo não é para criar confusão.

A mídia brasileira não é mole. Procura sempre manipular as consciências, algumas vezes com métodos torpes, que geram revolta nos setores sociais mais educados e conscientes. Mas é a vida. Estamos aí lutando contra isso. É um motivo para lutar e isso é bom. De qualquer forma, já está provado que ela não tem tanto poder assim. A internet e um relativo amadurecimento de leitores/espectadores tiraram o poder quase absoluto que a mídia possuía. Ela ainda tem poder, mas é menor e, para ser efetivo, vem usando técnicas cada mais sutis, as quais, por sua vez, vem sendo identificadas por alguns segmentos sociais (nós, blogueiros e leitores de blogs, por exemplo) cada vez mais atentos a estas técnicas e mobilizados para combatê-las.

Também não sejamos ingênuos de querer uma “mídia perfeita”. Lutemos para torná-la, a esta mídia, um pouco mais tímida, um pouco mais honesta. Mas não demonizemo-la. Há gente boa que escreve para o Globo e Estadão. Eu os critico, mas compreendo a sua importância. Os editores morrem, os jornais continuam. Os editores do Estadão estão morrendo, sendo presos como assassinos, etc, outros assumirão a função, talvez pior, talvez melhor que os anteriores, enfim o jornal continuará a existir. Talvez surjam outros jornais. Talvez os jornais acabem, ou percam importância para internet. Há muita injustiça no mundo, mas também existe uma irrefreável tendência ao equilíbrio que joga ao lado da luta pela justiça social. Existe ainda uma sabedoria natural, que leva os passarinhos a voarem milhares de quilômetros em busca de clima mais ameno. Que leva o globo ocular a processar bilhões de informações para nos proporcionar o prazer singelo de ver um pôr-do-sol ou uma pintura de Chagall.

Por fim, uma última palavra sobre o crescimento. O crescimento econômico do Brasil está muito bom, porque sustentável. Ou seja, está vindo sem inflação, com acúmulo de tecnologia, lastreado num vigoroso consumo interno e numa pauta de exportação variada. E, sobretudo, está havendo um processo muito saudável e equilibrado, com as regiões mais pobres crescendo mais e com as camadas sociais mais pobres registrando maior crescimento econômico.

A esquerda brasileira precisa parar de acreditar em milagres e mundo cor-de-rosa. As coisas não são fáceis em lugar nenhum do mundo. O Brasil ainda tem muitos problemas a resolver. Mas está num bom caminho, tranquilo, seguro e firme, e isso basta. O resto é cada um fazer o que melhor sabe fazer, conforme a concepção de justiça segundo Sócrates. Trabalhar, porque um país se faz com trabalho e deixar o discurso do trabalho para a direita é o erro mais crasso que a esquerda às vezes comete, como aconteceu na França. Por isso, trabalhemos duro, sem esquecer a cervejinha depois do batente, claro, porque não estamos na França.