(fác-símile do sempre incisivo jornal Hora do Povo, via Azenha)
(Aviso aos navegantes. Assim que eu publico um post, ele vem cheio de erros. Eu publico e em seguida começo a corrigir furiosamente, impulsionado pelo receio de que a "opinião pública" se horrorize com minha indigência gramatical. Talvez não seja o melhor método, mas é o mais eficaz pra mim. Quando encontrar erros, pense que eles podem desaparecer em alguns segundos. Ás vezes, basta um reload na página e pronto, eles já sumiram! Por isso eu prefiro que indiquem o link para a página permanente do post ao invés de reproduzir o texto.)
Os tucanos afundam a maior plataforma de petróleo do mundo, dando um prejuízo incalculável à Petrobrás e ao país, inclusive com perdas de vidas humanas, e jornais e leitores teleguiados acusam o PT de má gestão da empresa? É ridículo.
Está sendo criada uma abominável confusão sobre a tal "indicação política". Toda indicação é política. Nessa acusação, está-se acusando, na realidade, o caráter de empresa pública da Petrobrás, gerida por aqueles que venceram as eleições. O que é errado não é a indicação política. O que é errado é a incompetência. Se a Petrobrás está sendo gerida de forma exemplar, conquistando grandes vitórias aqui e no mundo, então ótimo. A sociedade brasileira sabe ser crítica, mas esta crítica deveria também saber apreciar o que é bem feito. A Petrobrás quintuplicou seu valor no mercado e optou por uma política de preços estável, dando uma contribuição fundamental para a verdadeira revolução social vivida pelo Brasil. Passou da vigésima para a quarta posição no ranking mundial das maiores empresas e vem acumulando prêmios e prestígio.
Na gestão tucana, a volatilidade das cotações internacionais do petróleo era repassada ao varejo, gerando enorme desconforto e prejuízo às empresas e cidadãos. O PSDB, definitivamente, não é bom gestor. É um péssimo gestor, o pior de todos. Gostaria de saber como uma gestão responsável pelo afundamento da maior plataforma de petróleo do mundo pode ser elogiada como "boa" ou "competente"? E porque não houve investigação mais aprofundada, inclusive na imprensa? Não. Quando houve o afundamento da P-36, Arnaldo Jabor escreveu um violento artigo atacando... os brasileiros, que seriam pessimistas e ranhetas, entre vários epítetos desabonadores, por criticarem o responsável pelo acidente, o governo de Fernando Henrique Cardoso e José Serra, por serem críticos a uma gestão vagabunda e criminosa, que vinha sucateando e sabotando a Petrobrás!
Fiquei sabendo uma coisa que me espantou, e me fez entender outras: a Petrobrás é responsável por 40% dos recursos para o PAC, o programa econômico do governo que visa acelerar a economia e gerar empregos. Parte da sociedade não quer que o PAC dê certo, porque não quer que o Brasil dê certo. Eles não aceitam a derrota nas urnas - frase esta que ouvi repetidas vezes durante a manifestação pela Petrobrás aqui no Rio. Eles não aceitam a derrota nas urnas e colocam os interesses partidários acima dos interesses nacionais.
Eu falava que não existe indicação técnica pura. É isso mesmo. Universidades públicas e privadas, empresas públicas e privadas, sempre indicam politicamente seus dirigentes, porque a dimensão política abrange a técnica. A imprensa tem martelado distorções ideológicas nos corações e mentes dos brasileiros. A política é uma dimensão nobre e fundamental da civilização. O problema da Petrobrás não é indicação política. Se a empresa é pública, quem indica seus dirigentes é o partido que vence as eleições, o partido que representa, portanto, o povo brasileiro. O PT ganhou as eleições presidenciais, então a imprensa tem que se acostumar com o fato do PT ser o partido que governa o Brasil; e a julgar por inúmeros analistas internacionais, revistas especializadas, estatísticas, e até pelo presidente mais bem informado do mundo, o genial Obama, o PT está fazendo um belíssimo governo, talvez um dos mais equilibrados da história, servindo ao povo sem prejudicar os empresários. Enfim, o PT faz política com P maiúsculo.
Naturalmente que há problemas. Nada é perfeito. Acho extremamente enfadonho, e um tanto arrogante, repetir lugares comuns como: "tenho muitas críticas a fazer a este governo, ao governo Lula", "O PT tem muitos problemas", "há muita coisa a fazer". Ora, é evidente que há problemas e que muitos demorarão a ser resolvidos. Mas só quem está lá, com a mão na massa, sabe das dificuldades. Nossa discussão sobre o governo deve ser feita a partir dos resultados concretos, dos fatos concretos, e não sobre o que o governo poderia ter feito, deveria estar fazendo. Onde há problemas? O que precisa ser feito para resolver esses problemas específicos? O que você, pessoalmente, pode fazer para ajudar a resolver esse problema? A sociedade precisa ser parceira dos governos, parceira política e partidária inclusive, e não apenas cobrar, passivamente, soluções que talvez nem sejam as melhores. John Kennedy cunhou uma frase que, perante as diatribes diárias da imprensa, até soa ridícula, mas explica um pouco essa necessidade de participação cidadã: não pergunte o que os EUA podem fazer por você, e sim o que você pode fazer pelos Estados Unidos. A democracia grega era defendida por seus cidadãos com o próprio sangue. Sócrates não colaborou apenas com seus discursos, ele arriscou a vida nas guerras de Atenas.
Os quadros dirigentes de uma empresa privada também são escolhidos por sua habilidade política, capacidade de liderança, articulação, conhecimentos gerais, etc. Um dirigente da Vale não é escolhido apenas por saber a fórmula química do manganês ou por ter descoberto o código molecular do estanho, e sim por ser uma pessoa que fala línguas estrangeiras, conhece políticos graúdos, tem conexões com figurões da mídia, possui bom diálogo com sindicatos, etc.
A Vale é uma empresa privada e onde está sua "gestão maravilhosa"? Estou estupefato com o mau caratismo da direção da Vale, que comete um erro histórico gravíssimo, denunciado por Lula. Enquanto a Miriam Leitão dá chiliques por conta de insignificâncias diplomáticas (o fato do Itamaraty ter esquecido o véu da D.Marisa na viagem para Arábia Saudita), o presidente da república acusa a Vale de não investir em unidades de industrialização dos minérios explorados no Brasil. A Vale está fazendo crateras gigantescas no Pará e em Minas Gerais, e só. Os estados não estão vendo a cor do dinheiro, porque o minério é exportado a preços irrisórios. O Brasil está bancando o crescimento chinês. Sem necessidade. A China não precisa e não quer esse favor. À China interessa que o Brasil se desenvolva industrialmente, para que sejamos grandes consumidores de seus produtos de alto valor agregado.
Mais que isso. Além de não investir em unidades de processamento, a Vale aplicou uma facada nas costas do Brasil, ao realizar uma demissão em massa no auge da crise, sem preocupação alguma com a tremenda repercussão negativa da notícia sobre a economia brasileira!
É importante lembrar que esse quadro de crise constante tem um aspecto positivo para as elites, que conseguem, através da ameaça de desemprego, freiar as demandas sindicais por aumento salarial e melhores condições de trabalho.
A história mostra que a ambição pelo poder faz os homens esquecerem completamente o interesse nacional. Roma foi destruída inúmeras vezes por suas próprias lideranças. A história da civilização ocidental é apaixonante, sobretudo porque vemos os fatos se repetirem. Também na Roma Antiga, quando ainda era uma república relativamente democrática, ocorriam disputas entre setores políticos ligados aos interesses populares e aqueles ligados às elites. Na Grécia Antiga, idem. Sempre que as elites perpetravam abusos sobre o povo, o povo reagia dando amplos poderes a suas lideranças. Júlio César é o grande exemplo. Ele era ligado aos partidários de Mário, aos populares, e sempre procurou ser carismático junto ao povo. César sabia que o povo não quer promessas, quer ações. Quer comida, vida digna, lazeres. Dar essas coisas ao povo não é populismo. Dar essas coisas ao povo é justamente o sentido de um Estado. Isso que a direita brasileira, ou melhor, a direita latino-americana não entende. O povo não é bobo porque vota naquele que lhe dá uma vida melhor. Bobo seria se votasse em quem lhe ferra.
A manipulação ideológica da imprensa é agressiva, constante, diária. Ao chamar qualquer ação do Estado de eleitoreira, ela denigre o Estado, as eleições e a ação política. Qual o problema em ser eleitoreira? O voto é o capital mais nobre de um político. E o povo só vota - ou deveria votar - em governos dinâmicos, que agem em seu favor. Qual o critério que a imprensa sugere para definir se um político é bom ou ruim? Sua carinha boa? Seu discurso ético? Ora, esse discurso ético não passa de um amontoado de clichês hipócritas, e o povo sabe muito bem disso. A massa é ignara, mas, em muitos aspectos, é mais astuta e prudente do que setores teleguiados da classe média. Os grandes filósofos sempre identificaram na sabedoria popular uma fonte inesgotável de bom senso e criatividade. Se o povo é capaz de produzir grandes gênios da música, das artes plásticas, da literatura, também é capaz de eleger, vez ou outra, um bom governante.
Nesta segunda-feira, por conta de uma obrigação profissional, assisti a uma palestra de Otávio Barros, o economista mais graduado do Bradesco. Ele afirmou que o Brasil é "o cara" e terminou a conferência exibindo uma foto de Lula ao lado da rainha da Inglaterra, com Obama atrás. E não vale repetir a ladainha psolista de que "os bancos nunca ganharam tanto dinheiro". Com essa crise econômica recente, ficou mais uma vez provado que é muito melhor que os bancos privados ganhem bastante dinheiro do que eles quebrarem e os contribuintes serem obrigados a pagar a conta. A quebra do sistema bancário é a coisa mais trágica que pode acontecer a um país. Vejam o exemplo da Argentina. Por isso, eu acredito que o sistema bancário, assim como é o regime monetário, deveria ser monopólio do Estado. Se o Estado monopoliza a emissão de moeda, também deveria controlar o crédito. E a imprensa deveria ser fortemente regulada por leis modernas, que protegessem cidadãos, empresas, artistas, políticos, dessa situação de chantagem diária de que somos vítimas. Não há liberdade de expressão porque somos todos vítimas em potencial do ódio midiático.
A imprensa, definitivamente, tem um poder do qual ela não é digna. Eu, como escritor, que precisa de apoio do público e da opinião pública para me sustentar financeiramente, sinto-me chantageado pela mídia, porque tem sido ela, nos últimos cem anos, quem define quais os autores serão eternamente miseráveis, ainda que geniais, e quais serão agraciados com uma vida confortável de coquetéis, mesmo sendo completamente medíocres. O genial Jack Kerouac só conseguiu a independência econômica depois dos quarenta anos, após a publicação de uma resenha positiva sobre On the Road no New York Times. O velho Buk só ganhou dinheiro com quase sessenta anos, tendo que atravessar uma penosa existência de sub-empregos e semi-indigência. Van Gogh, o maior pintor do século XIX, morreu na mais completa miséria! A arte moderna surgiu do embate entre uma vanguarda artística orgulhosa e independente e uma arte velha amparada e apoiada pela mídia conservadora. O tranquilo e pacato Cézanne foi chamado de louco e acusado de pintar sob delirium tremens! Já a arte pós-moderna surgiu no próprio berço midiático, e por isso sempre foi rica - e medíocre.
Claro que todos os grandes artistas transformam seus problemas em arte. Fomos expulsos do Paraíso há muito tempo e não queremos voltar. Enfrentamos nossa pobreza com dignidade e até, de vez quando, com bom humor. Há momentos ainda, de loucura extremada, em que enfrentamos a pobreza inclusive com entusiasmo!
Manuel Castells, em "A galáxia da internet", diz que a internet é criação de agências estatais norte-americanas. Havia verba abundante para pesquisa sem exigência de nenhuma contra-partida. As universidades e agências que inventaram a internet não tiveram que se associar a nenhuma empresa privada nem se preocupavam em formar executivos para o setor privado. As pesquisas floresceram à sombra, sob a atmosfera libertária e artística da Califórnia. Minha tese, portanto, é que a internet se desenvolveu tão rápido por conta da necessidade social de se criar uma ferramenta de liberdade para os cidadãos pensarem com suas próprias cabeças, se informarem num universo infinitamente mais variado de fontes, e divulgarem suas opiniões, implicâncias, taras e idéias de uma forma fácil, gratuita e democrática. A internet nos libertará da ditadura midiática vivida pela humanidade desde que a criação do Estado moderno, democrático, obrigou o Leviatã a fugir de seu castelo medieval e refugiar-se nas salas de redação.
Mas voltando à palestra do Otávio Barros, ele ficou quase constrangido ao mostrar os dados econômicos dos últimos 10 anos. As melhoras são tão evidentes, tão... brutais, em todos os campos econômicos e sociais (dívida pública, desemprego, salários, PIB, balança comercial, comércio, tudo), que ele sentiu-se obrigado a passar muito rapidamente por alguns gráficos, além de afirmar orgulhosamente sua admiração pelo governo colombiano. Depois da palestra, composta na maior parte por empresários conservadores, eu escutei frases meio esquizóides no hall do hotel onde a convenção ocorria: "de fato, o Brasil está bem, MAS NÃO É POR CAUSA DO LULA NÃO". Um ou outro, porém, observava, discretamente, que Lula estava fazendo sim um bom governo. Enfim, a muralha partidária e ideológica erguida pela imprensa para manter, ao menos o empresariado e a classe média, distantes do charme lulista, começa a apresentar fissuras. Não é a tôa que as pesquisas mostram a popularidade de Lula crescendo em TODAS AS CLASSES SOCIAIS. Entre o povo, Lula é rei; a novidade é o crescimento, rápido, da popularidade de Lula junto aos mais ricos e mais escolarizados - para desespero da imprensa conectada ao PSDB.
Bem, é isso, ou como diz um comentarista famoso na blogosfera: Inté!