Esse sim. Assisti há pouco "Nós que nos amávamos tanto", de Ettore Scola. Um dos melhores filmes que já vi. Diversas linguagens, preto & branco, tecnicolor, trilha sonora impecável. Mescla fantasia e romance com história e política, num equilíbrio poucas vezes alcançado. Geralmente, vê-se a história à reboque de um drama piegas, ou um romance delicado destruído por uma narrativa histórica didática e maçante. O equilíbrio entre a ficção e a realidade, que torna alguns filmes tão emocionantes, é atingido apenas por clássicos do cinema.
Outro dia li uma coluna do Jabor dizendo que estava terminando seu filme. Fez questão de repetir que seu filme não tinha nenhuma lição social ou conotação política e criticou mais uma vez o espírito ideológico que animava os cineastas da década de 60. Em entrevista a Nelson Motta, no Jornal da Globo, Jabor repetiu essa crítica leviana e desrespeitosa. Pegou alguns exemplos caricatos de patrulhamento para denegrir a imagem de toda uma geração.
Jabor trabalha contra o cinema brasileiro, e contra o Cinema em geral, com maiúscula, porque pretende tirar dele uma de suas funções mais nobres, a função política. Não se trata, naturalmente, de fazer filme panfletário, mas de fazer filmes que reflitam a nossa realidade, e a politica é uma dimensão fundamental. Vittorio de Sica, Ettore Scola, Bertolucci, Pasolini, Orson Welles, Glauber Rocha, Saraceni, o grande cinema sempre flertou com a política, mas de forma divertida, irônica, trágica e genial.
Permitam-me, todavia, criticar mais uma vez o Guerra ao Terror. O filme não tem dimensão ficcional. Não tem amor. Não tem fantasia. É filme apenas para meia dúzia de homens acostumados a filmes de guerra. Tem valor para aficcionados em guerra, decerto, mas não tem valor artístico. Não há trilha sonora. Não há fotografia. Não há diálogos criativos.
Qualquer obra cinematográfica tem valor, na medida em que há trabalho de muita gente acumulado ali. Um filme como Guerra ao Terror, tem valor histórico, ao registrar o cotidiano de soldados no Iraque, mas não possui nenhum valor estético. E o que me interessa, no cinema, é o valor estético. Quer dizer, até me interesso, inclusive muito, pelo valor histórico e político dos filmes, mas sem o valor estético, a obra não tem vigor para se sustentar.
5 de abril de 2010
Depois do filme bom
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O cinema argentino faz isso brilhantemente!
Lugares comunes é um belo exemplo!
Ótimo texto, Miguel. Como já escrevi por aqui, em 2008, o cinema -- e as artes, de modo geral -- não podem deixar de espelhar o período histórico a que pertencem.
De outra forma, ficam como os filmes panfletários: não dizem nada.
Abração
Oi João, tudo bem? E olha que nem contei a sinopse do filme. O roteiro é do próprio Scola, que foi roteirista por mais de 10 anos, e um dos maiores da Itália, e do Scarpelli, outro gênio.
Tem outro filme do Ettore Scola que é uma obra-prima muito emocionante, com Marcelo Mastroianni e Monica Vitti.
A histórias de Scola sempre tem muito de política. Nesse último que citei, por exemplo, a história começa num comício do partido comunista, e o personagem é um comunista ingênuo apaixonado pela maravilhosa Monica Vitti, que aqui aparece em toda a sua sensualidade.
Falei outro filme e não disse o título: é Ciúme à Italiana, ou Dramma de la Gelosia.
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