Permitam-me ir contra a corrente. Acho que a satanização da blogueira cubana Yoani Sanchez por grupos de esquerda é ingênua e contraproducente. É natural que a mídia anticubana, ou seja, quase toda a mídia ocidental, a própria Casa Branca, além dos serviços de inteligência mais ideológicos (como a CIA), prestem algum tipo de apoio à blogueira, em virtude de sua posição crítica em relação ao governo de seu país.
O que não acho legal é a esquerda democrática entrar nessa guerrinha atacando a blogueira, uma moça de grande coragem e talento inegável na arte de se comunicar pela internet.
A entrevista divulgada pelo Vermelho há poucos dias, vem intitulada "Repórter desmascara blogueira cubana Yoani Sánchez em entrevista". E, no entanto, não vi o repórter desmascar ninguém. Pareceu-me mais um policial do que um repórter. A insistência para que ela mostrasse as "fotos" onde aparece agredida não me pareceu ética. Trata-se de um ser humano com direito à privacidade, e além disso uma mulher, com seu direito à vaidade, e não tem obrigação nenhuma de exibir ao mundo fotos suas.
Mesmo que ela tivesse exagerado em seu relato sobre as agressões que sofreu do governo cubano, isso não é motivo para demonizá-la. É fato que ela foi detida por 25 minutos. O terror que a moça passou nesse período, porém, só ela pode saber, e se ela se sentiu agredida, tem todo o direito a expressar esse medo. Tem direito inclusive a exagerar. Cabe a Justiça cubana, ou, em última instância, a uma corte internacional determinar se ela difamou deliberadamente as autoridades. Assim como cabe a cada um de nós refletir se é saudável intimidar blogueiros, nem que seja com retenções relâmpagos.
A blogueira deu uma resposta curta e elegante à entrevista, na qual acusa o repórter de ter editado suas próprias perguntas, para parecer mais informado do que realmente era no momento em que a questionava. Não posso saber se é verdade, mas suspeito que sim, porque a entrevista tem perguntas demasiado longas, cheias de citações e referências que seria estranho alguém fazer durante uma conversa informal no hall de um hotel. É muito fácil "desmascarar" alguém numa entrevista editando posteriormente suas perguntas. Nesse caso, o repórter teria que dar direito à entrevistada de também editar suas respostas. Não seria uma entrevista, e sim um debate, um confronto de idéias, mas seria justo.
Eu entendo o contexto histórico que produziu a ditadura cubana. Tenho sempre defendido o país em meu blog. Mas tenho também consciência que a ilha encontra-se numa encruzilhada. Ela terá que se abrir, democratizar-se, e ao mesmo tempo defender ideais de justiça social que nunca foram realidade nos "democráticos" regimes latino-americanos.
Por outro lado, a demonização da blogueira por forças da esquerda, a meu ver, é contraproducente, porque a torna uma pessoa ainda mais importante, mais conhecida, mais influente.
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Imagino Yoani como uma dessas pessoas com que eu poderia manter uma conversação divertida e agradável sobre diversos assuntos, com exceção de política. Isso tem sido muito comum ultimamente. C'est la vie. Há pessoas com quem eu evito abordar temas políticos, e a conversa flui tranquilamente. Uma das minhas esperanças é não perder muitos amigos nesse período eleitoral.
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Há segmentos da esquerda que resvalam para um maniqueísmo tosco. Acham a blogueira Yoani má, e daí vale tudo para "desmascará-la". Essa entrevista, a meu ver, foi covarde. A garota vive uma situação difícil, sendo crítica do governo em Cuba. Ela pode exagerar, pode até mentir às vezes, mas fazer uma entrevista com esse teor ajuda a envenenar o ambiente em torno dela e pode convencer alguém a agredi-la, inclusive fisicamente.
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Ideologia política não é prova de caráter. É muito comum encontrarmos pessoas cheias de belos ideais políticos mas que, na vida prática, agem com arrogância, mesquinharia, egoísmo e maucaratismo. Vemos pessoas reacionárias agindo com benevolência, gentileza. E vice-versa. Vemos de tudo nessa vida.
*
A repercussão que essa entrevista boba, rancorosa, teve em toda parte, pareceu-me de uma ingenuidade monstruosa. E não desculpo a ingenuidade. Deram ainda mais mídia à moça. Ao atacá-la, elevaram-na ainda mais no pedestal dos mártires do capitalismo ocidental. Agora sim ela recebe o prêmio Nobel.
26 de abril de 2010
Em defesa de Yoani Sanchez
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Acho que falta senso critico na repercução a esta blogeira, e é bom que seja levantada as suas contradições. Assim como deve ser com todo mundo.
Ela é tratada como a fonte da verdade sobre a realidade cubana. Por isso acho util reportagens como a realizada pelo reporter frances. O problema não é, de forma alguma ela ser oposicionista ao regime cubano, mas ela usar mentiras para ataca-lo.
É, mas eu achei o cara agressivo na insistência para ela mostrar fotos. Ele ficou repetindo a pergunta. E depois também.
Parecia um policial. Se as pessoas acham que ela é fonte da verdade sobre Cuba, o problema não é dela, é das pessoas. Acho um equívoco agremiações políticas ou coletivos atacarem uma blogueira. Podem criticá-la, fazer o contraponto, mas com muito cuidado para não parecerem estar praticando uma violência.
Ela é uma blogueira, não um partido político, não uma líder dos terroristas anticubanos de Miami. Deve ser tratada como indivíduo, exposta às suas idiossincracias individuais, contradições, ambições, desesperos.
Discordo completamente, Miguel. Entendo a repercussão da entrevista como uma reação catártica natural da esquerda ao endeusamento da Yoani por anos e anos a fio nas mídias tradicionais.
Ora, você mesmo perdeu a paciência com o Marco Antônio Villa aparecendo em tudo quanto é canto...
Além do mais, não acredito que isso poderia, de alguma forma, elevar ainda mais a imagem dela - para cada crítico de Yoani sempre houve pelo menos 10 apologistas. Fora dos círculos entrincheirados de esquerda, esta entrevista não terá repercussão nenhuma.
Não, esta blogueira não tão inocente. Em Cuba ela pode utilizar tecnologias americanas cujo acesso está impossibilitado pelo bloqueio americano (cabos submarinos de fibras óticas). O servidor está alojado na Alemanha e atendido pelos servidores da empresa Cronos AR Regensburg, sucursal da Strato, com exclusividade. O registro de domínio do blog é da empresa Godaddy, empresa utilizada pelo Pentágono na cyberguerra de propaganda. Como, se há o bloqueio e as sanções econômicas proibem formalmente este tipo de vínculo? O síto de Yoani é sofisticado, com entradas para Facebook e Twitter. Recebe 14 milhões de visitas ao mês, está disponível em 18 idiomas. Nenhum sítio do mundo, nem as Nações Unidas, Banco Mundial ou FMI possui tal variedade. Ainda: quem administra estas páginas? Quem paga? Quanto? E os tradutores, quem paga? Não, ela não é uma simples blogueira oposicionista. Está perfeitamente enquadrada na guerra midiática que os Estados Unidos levam contra Cuba, e lucra muito com isso. Vivendo tranquilamente em Cuba. Sua tática é descontextualizar os problemas cubanos, ignorar o entorno geopolítico que está Cuba, e as implacáveis sanções econômicas americanas e mentir, como no caso da agressão e sequestro, quando se recusou a mostrar as marcas da agressão à imprensa estrangeira. Uma impostura. Antonio.
Eu acho que ela quer que a América Latina faça o que o povo dela tem que fazer.Como ela tem banda larga e um apartamento bem decorado?
Deveria ter ficado na Suécia.Por que não ficou?
O filme premiadíssimo Morangos e Chocolate é uma crítica ao regime cubano,foi filmado na ilha e o diretor cubano não foi sequestrado nem por 5 min.
O pior é que não se sabe se ela mente ou não,pois sempre responde com evasivas.
Abraço no blog
Antônio, eu admiti logo no início do post que ela pode receber ajuda de serviços de inteligência que combatem Cuba. Mas não há provas disso e, portanto, não se pode acusar levianamente. As informações que você levantou são impressionantes, mas não são conclusivas. Falar que o blog é sofisticado porque tem entradas para Twitter e Facebook? QQ bloguinho meiaboca pode ter isso hoje em dia.
Não acho que ela seja inocente, nem acho a inocência uma virtude aconselhável nos dias de hoje. Há estruturas monstruosas e canibais nos cercando por todos os lados, e os indivíduos procuram sobreviver da melhor forma.
Sueli,
A decoração do apartamento dela definitivamente não me interessa. Tampouco as razões pelas quais voltou da Suíça. Que eu saiba, o fato dela ser cubana e sua família se encontrar em Cuba são razões suficientes.
Esse tipo de patrulhamento me incomoda profundamente e, para mim, desmoraliza a esquerda.
Telmo,
é natural que haja reação, que haja o contraponto, mas com cuidado. O inimigo de Cuba não é Yoani Sanchez. É a direita americana, estruturada em grandes grupos econômicos e lobbies políticos. Se compraram essa garota, ainda sim ela é uma vítima.
O ideal é um dos dois ter gravado a entrevista. Alguém tá mentindo e por isso é um criminoso. Queria saber quem que tá jogando a reputação na lata de lixo...
Olha Miguel, a decoração nem sempre tem à ver com sinais de riqueza!Se tu não liga esteticamente prá decoração,tudo bem,eu e um monte de gente tb não liga...Mas me ligo,quando a maioria tem uma decoração que custa mais barato e outros a decoração que custa mais grana!
Abraço do sul
Caro Miguel, concordo com sua posição. Se por um lado é importante que o jornalismo independente informe o público sobre o verdadeiro papel de Yoani Sanchez em uma questão política maior, acho que o entrevistador passou dos limites ao insistir em uma acusação leviana (a de que ela mentiu sobre a agressão) e agredir a individualidade da blogueira.
"Mas não há provas disso e, portanto, não se pode acusar levianamente. As informações que você levantou são impressionantes, mas não são conclusivas..."
Miguel do Rosário. Agradeço sua resposta, mas devo discordar um pouco e replicar.
Enviei no comentário vários fatos, bem concretos, sem leviandade. Se estes fatos não são prova de que ela faz parte de uma rede midiática de ataque a Cuba, eu estranho, mas apresento outros fatos que para mim tiram a inocência da "corajosa blogueira":
1. O Presidente Obama respondeu a sete perguntas da blogueira Yoani.Tente você entrevistar Obama, no meio da crise do Afganistão, Iraque, saúde, Irã, bases militares na AL. Nesta entrevista, ela não pede o fim das sanções econômicas contra Cuba, coisa que pedem 197 países nas Nações Unidas, em 2009, pelo caráter cruel e ineficaz. Ela qualifica como 'restrições econômicas" que são "usadas como justificativa tanto para o descalabro produtivo quanto para reprimir os que pensam diferente." Usado como "propaganda política", argumento este usado pelo representante americano nas Nações Unidas em 2009.
2.Seu sucesso como blogueira começou com uma propaganda da Reuters do seu sítio. Depois desta propaganda, The Wall Street Journal dedicou-lhe página inteira. Em janeiro de 2008, El País, que pertence ao grupo internacional Prisa, fez uma entrevista sua. Em abril de 2008, o mesmo diário outorgou ao blog o prêmio Ortega y Gasset, com prêmio de 15 mil euros. Basta ver quem antes ganhou este prêmio.A revista Time a a CNN espanhola a colocou como "as 100 pessoas mais influentes do mundo", categoria heróis e pioneiros. A revista Foreign Policy, editada pelo Carnegie Endowment for Internctional Peace, tink tank americano considerou-a "os 10 intenecutiais mais influentes da América Espanhola, à frente de Eduardo Galeano e Carlos Fuentes. A Deutsche Welle concedeu-lhe prêmio de melhor Weblog, patrocinado por Wewlett-Packard e HTC Corp, provedor mundial de tecnologia Windows/Mobile. A Universidade de Columbia deu-lhe o prêmio Maria Moors Cabot, com 15 mil dólares.
Todos estes prêmios vieram de grandes grupos de meios de comunicação americanos, alemães e espanhóis, patrocinados por grupos transnacionais.
Por fim, Salim Lamrani é professor na Universidade Paris-Sorbonne -Paris IV e na Universidad Paris-Est Marne-la-Vallée e jornalista francês, especialista de relações entre Cuba e Estados Unidos. Acaba de publicar Cuba: Ce que les médias ne vous diront jamais (Paris: Editions Estrella, 2009). Não é um mero reporter agressivo.
Perdão pelo erro grosseiro: os 10 intelectuais mais influentes...
Miguel, boa noite! Sou frequentador de seu blogue já há algum tempo. Carioca da gema, mas radicado no interior de S.Paulo (Pindamonhangaba) há 16 anos, além de gostar de seus comentários sobre política, etc., você faz-me "viajar" até o Rio com suas fotos e matérias sobre as adjacências do Bairro de Fátima. Siga em frente, rapaz! Sobre a Yoani, você saberia me dizer qual a idade dela? Quando se trata de Cuba (ou de outro país com processo revolucionário iniciado há "tempo suficiente para que novas gerações tenham nascido após o fato), isso tem certa relevância ... De todo modo ela parece apresentar o "defeito de origem" típico de certos "defensores da democracia": indignação seletiva! Um abraço.
Bom dia, desculpe mudar o assunto,mas achei importante
Recomendo a leitura de hoje em meu blog :
"O Globo joga baixo contra a população do Rio "
http://eagora-dil.blogspot.com/
Amigo, sigo teu blogue a algum tempo e com prazer. Lamentavelmente nunca volto onde deixo um comentário, sinto muito.
Voce não disse a quem ela deu entrevista.
Acho que se foi a Salim Lamrani, deve haver algum mal entendido.
Abraços
Yoani Sanchez defende descaradamente a prisao dos 5 herois antiterroristas cubanos. Ela recebe dinheiro da extrema-direita a mais violenta que se pode imaginar. Nao concebo como se pode defender uma criatura tao má e tao asquerosa
Tudo muito bem, entretanto, a moça é remunerada por país estrangeiro que impõe criminoso bloqueio a sua própria terra, que afirma defender com sua denúcias.
A moça que teve oportunidade de fixar residência no "primeiro mundo" livre, democrático e desenvolvido, resolveu voltar para viver na perversidade do governo comunista ditatorial.
Vale lembrar a esta inteligente moça que, caso se naturalizasse norte-americana,suissa ou mesmo francesa e, mantivesse as práticas que desenvolve em Cuba, certamente estaria vendo o sol nascer quadrado, se não pegasse uma condenação pesada por alta-traição.
Desculpe, mas, essa jovem e bonita moça, não me inspira confiança. Mesmo porque, não gosto de quinta-coluna.
Orlando
Não sei menejar bem esses equipamentos. Gostaria de ter meu nome identificando a autoria do comentário anterior. Se possível.
Orlando Varêda
Suiça foi grafado com dois ss, desculpem a burrice.
Orlando
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