6 de outubro de 2006

Pessimismo

Na crônica anterior, expressei pessimismo e, mesmo negando-o, um certo derrotismo. Estava puto, meio triste e sentindo-me um tanto deprimido pelo fato de ser obrigado a esperar quase um mês para saber o resultado do pleito eleitoral. Tenho fugido de jornais, tv, conversas políticas, porque minha sensibilidade política não suporta mais tanto clichê, tantos chavões, tanta manipulação.

Vocês certamente estão lembrados de que, no domingo de eleição, Lula chegou a ficar 0,4% da vitória no primeiro turno, antes que os votos de São Paulo fossem inteiramente computados e a distância se ampliasse para 1%. Ora, isso é de fazer qualquer um - que esteja visceralmente interessado no resultado - arrancar os cabelos. Ainda mais quando sabemos como esse resultado foi atingido, com manipulações odientas.

Por exemplo, quando estourou o escândalo do dossiê, um dos petistas envolvidos soltou o nome de Freud. Aliás, estranhíssimo ele ter feito isso. Bem, o fato é que o jornal Globo, na capa, estampou gráficos com setinhas, explicando onde ficava a sala do sujeito e qual a distância exata, em metros, do escritório do presidente da república. "Nem Freud explica", foi o manchetão da página 3, o espaço mais importante do miolo do jornal.

Toda a grande imprensa, de forma geral, teve o mesmo comportamento. O uso de trocadilhos e piadinhas com o nome Freud foi avassalador.

Agora que a PF não encontrou provas de envolvimento do sujeito com o episódio, os jornais dão notinhas de pé de página.

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O que realmente me deprimiu foi a conversa com um vizinho, um maranhense branquela que vota em Alckmin porque ele é "mais elegante". Ele lembrou o veto de Lula ao aumento de 13% ou 15% para os aposentados, aquele negócio demagógico que o PFL inventou justamente para desgastar Lula junto aos idosos. Eu tentei explicar que Lula negociou com todos os sindicatos e associações de aposentados e idosos e conseguiram um aumento de 5% acima da inflação para os que ganham acima de 1 salário mínimo. Teve ainda o aumento de 15% para os que ganham salário mínimo. Houve um acordo entre governo e aposentados, pelo qual o governo se comprometia a continuar, ano a ano, aumentando o poder de compra dos salários. Aí vem a oposição oportunista, sem ter feito a devida discussão por ocasiões dos debates e aprovação do Orçamento, a mesma oposição que não deu nenhum aumento para aposentados em 8 anos de governo FHC, e usa o espaço do Parlamento brasileiro para fazer o mais baixo jogo eleitoral. Eu disse ao vizinho que a aprovação de tal medida, sem ter sido incluída anteriormente no Orçamento, significaria um rombo superior a 50 bilhões de reais, engessando a capacidade, já diminuta, de investimentos do Estado.

O vizinho mandou: "ah, tem dinheiro para comprar dossiê e não tem dinheiro para os aposentados?". Aquele negócio me machucou. Me fez ver como a esperteza política ainda rende votos no Brasil. Pior, como pode inclusive ganhar a eleição.

Outra idéia que meu vizinho alckimista falou foi que tanto Serra quanto Aécio, agora que venceram no primeiro turno, poderão se dedicar, de corpo e alma, à reeleição de Lula. Os dois estão à frente dos principais colégios eleitorais do país. É verdade, por isso o ponto nevrálgico da campanha de Lula serão os estados de São Paulo e Minas.

Já que eu falei no meu vizinho alckmista, também falarei nos lulistas. Moro num prédio de classe média baixa no centro do Rio, com apartamentos pequenos cujos banheiros possuem basculante que dão para uma coluna de ventilação. É um negócio muito mal planejado porque o vazamento de som de um apartamento para outro é total. Tenho um vizinho que fanático por Lula, já colocou aquela musiquinha da campanha do Lula no máximo volume várias vezes. Ontem ouvi outro papo lulista. Uma vizinha, de voz jovem, começou a conversar com outra:

- Por falar nisso, você votou em quem? No Lula?

Repare que ela perguntou e sugeriu a resposta, num sinal de ansiedade. Sua interlocutora respondeu baixinho, mas deve ter dito sim. A outra prosseguiu:

- Lula é o cara! Lulalá.

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O Psol, numa atitude mesquinha, decidiu não apoiar ninguém. O PDT, numa atitude suicida e traidora com suas raízes na esquerda, optou pelo Alckmin. O negócio não tá fácil para o Lula. Há tempos que venho estranhando o comportamento udenista do PDT. É ridículo o que eles estão fazendo, tentando surfar na onda lacerdista. Coisa de alienados. O Carlos Lupi não teve nem 1% dos votos no Rio, bem feito.

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Não pensem que estou derrotista não. Estou apenas construindo defesas internas para me preparar para voltar ao ataque. Quem me conhece sabe que não sou nem um pouco imparcial. Sou absolutamente tendencioso. Mas acho fundamental a auto-crítica, e o momento pede isso. Ainda temos aí 20 dias de campanha aguerrida e considero saudável usar essa primeira semana para resolver alguns conflitos íntimos, liberar algumas frustrações e demônios.

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Escrever num blog, ou pelo menos num blog sem conexões corporativas, tem a vantagem de estar livre de pressões patronais ou comerciais. Por outro lado, sofro influência de meus leitores, o que é muito saudável. É um novo tipo de literatura política, mais viva, mais interativa e, consequentemente, mais oxigenada. Permito-me, portanto, revelar estados de espírito negativos, justamente para ouvir palavras de força e apoio por parte de meus leitores. Palavras que me tocam profundamente, me fazem erguer a cabeça e olhar este céu azul sobre as montanhas de Santa Teresa e pensar e sonhar e querer que o povo brasileiro não se deixará iludir pelo discurso hipócrita dos neo-golpistas, dos lacerdistas tardios, da UDN global pós-moderna.

Grande abraço em todos e obrigado pelas palavras de força.

7 comentarios

Anônimo disse...

Miguel,
ajude-me a dar uma resposta ao tipo de colocação do seu vizinho maranhense sobre não tem dinheiro para aposentado, mas tem para comprar dossiê.
Agradeço a ajuda

Anônimo disse...

Miguel

Você não está não com espírito derrotista, você está literalmente derrotado. Aliás, acho que você não ta bem, tanto é que diz- concordando com um seu vizinho- que Serra e Aécio poderão garantir a reeleição de Lula, no entanto, acha que Minas Gerais e Sampa são os pontos nelvrágicos do PT.

Quanto os exemplos dados por você, eu já disse aqui e vou repetir, tem um amigo meu, funcionário do Banco Central, que me disse que conhece mais de 10 amigos dele, que trabalha no referido banco, que, agora, votarão em Lula, e mais passarão a fazer campanha, tudo por conta do medo da sanha privatista de Geraldo Alckmin.


Força, cara, vá por mim, essa eleição é nossa, ninguém tira.

Gilvan

Anônimo disse...

Miguel
Devemos sugerir ao Lula fazer a seguinte pergunta para O Alckmin,no dbate da BAND:
-Se êle for eleito,nomdia 1 de janeiro le assinaria um decreto dando 16,5% de aumento para os aposentados?

Anônimo disse...

Miguel

Olhe ai, deixe de ser pessimista, cara. Agora, esperamos que não surjam outros loucos pra prejudicar lula.

Gilvan

06/10/2006 - 20h35
Lula está sete pontos à frente de Alckmin, diz Datafolha
Da Redação
Em São Paulo
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), candidato à reeleição, ostenta uma vantagem de sete pontos sobre o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB), de acordo com pesquisa do Datafolha divulgada nesta sexta-feira pelo "Jornal Nacional", da TV Globo.

Lula soma 50% das intenções de voto, contra 43% de Geraldo Alckmin, considerando-se o total de votos. Se a eleição fosse realizada entre quinta e sexta-feira desta semana, datas em que o instituto foi a campo, 3% dos eleitores votariam branco ou nulo. Os indecisos somam 4% do eleitorado. O Datafolha ouviu 5.811 pessoas de 368 municípios, e a margem de erro do levantamento é de dois pontos percentuais.

É a primeira pesquisa do instituto desde a definição de segundo turno entre o petista e o tucano. E o levantamento do Datafolha é, também, o primeiro de um instituto especializado nesta semana.

Considerando-se apenas os votos válidos, ou seja, excluindo-se os indecisos e os que pretendem votar branco ou nulo, Lula lidera por 54% a 46%.

Na pesquisa anterior do Datafolha, realizada entre sexta-feira e sábado da semana passada -antes do primeiro turno, portanto-, em uma projeção de segundo turno, Lula tinha 49% contra 44% de Alckmin.

Miguel do Rosário disse...

pégasus, uma resposta óbvia é que o dinheiro para aposentado são 50 bilhóes de reais, saídos de cofres publicos, bem diferente que 1.7 milhão de reais, saidos de doações privadas.

guivan, pega leve comigo mérmão.lê o texto legal, não vê que eu escrevi tentando levantar o astral.

Anônimo disse...

Miguel, sabes que os comentários dos seus leitores dizendo "levanta,homem!" serviu prá mim também. Não temos motivos para entregar a rapadura para os bandidos. Achei legal o seu trabalho de corpo-a-corpo com a branquela. Por favor, diga para ela que, mesmo não gostando de Lula, que ela faça uso do voto útil e vote no barbudo contra a repetição de erros como por exemplo a venda da Companhia Vale do Rio Doce com deságio de mais de 80 bilhões de reais.

Mesmo ela não gostando do PROUNI, do Bolsa-Família ( tem gente que só pensa nela, jamais no outro), no Luz para Todos,

mesmo ela não gostando nada disso,
favor diga para ela fazer uso do voto útil e vote em Lula contra o retorno de ACM com seus de dentes de ouro roubado no Ministério da Justiça, o FHC no Minstério das Relações Exteriores.

Aplica uma vacina na branquela. Diz prá ela que a próxima quadrilha a ser usada contra o favoristismo de Lula no DataFolha será o PCC. Diz prá ela que os psdbfelentos são expertes em tirar o deles da reta, atribuem ao PT os próprios crimes, como a máfia dos sanguessugas e outras máfias da Era Tucana. Já que querem discutir a corrupção, ótimo. Vamos discutir.

Vai ver que a branquela também é expert em tirar o dela da reta.

Ou não...rrssssss

Anônimo disse...

Ô Miguel,

Dê uma olhadela no site http://psdbcorrupto.vilabol.uol.com.br

Esse site (que descobri na NOOSFERA) tem um resumo histórico dos último anos do des-governo tucano. É uma boa para o tal representante da elite branquela (se o descolorido souber ler, é claro).

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