Quem acompanha este blog sabe que seu autor foi tomado por uma espécie de "ira santa" contra os aloprados petistas que, por conta de seu envolvimento com o famigerado DOSSIÊ, acabaram servindo os interesses adversários e colaborando decisivamente para haver um segundo turno nas eleições presidenciais.
Antes do DOSSIÊ, as pesquisas apontavam uma vitória tranquila de Lula no primeiro turno. Mais que isso, a popularidade de Lula havia alcançado níveis recordes. A avaliação positiva do governo subira para 62%, patamar jamais atingido por outro presidente, em qualquer época. Algumas semanas antes, aqui no Rio, o Jornal do Brasil, cujo proprietário é histericamente anti-lulista (apesar de abrigar, entre os quadros do jornal, alguns notáveis combatentes do jornalismo político democrático, como Mauro Santayanna), estampara o manchetão: Rio faz as pazes com Lula. A reportagem dizia que a zona sul carioca, região que concentra a elite econômica, cultural e política da cidade, havia, segundo as pesquisas, voltado a confiar em Lula.
Entrementes, o DOSSIÊ caiu como um bomba, ou melhor, como ácido sobre feridas ainda não cicatrizadas. E afugentou novamente a classe média de Lula. Dentro do caldeirão de bruxa da manipulação midiática, a história foi transformada numa verdadeira hecatombe eleitoral.
Por isso a minha raiva, seguida de um pessimismo enorme, principalmente em virtude da reação tíbia de algumas lideranças do PT a um episódio tão prejudicial aos seus próprios objetivos eleitorais. Essa característica auto-destrutiva do PT, herança do mais barato trotskismo de centro-acadêmico, tem causado muito mal à esquerda nacional.
Bem, parece que nossa voz foi ouvida. Os cinco petistas envolvidos foram expulsos sumariamente do partido e Berzoini, responsável por ser presidente do partido e da campanha, foi afastado. O susto parece ter servido de lição ao PT. Política não é para aventureiros, palhaços, aloprados ou sectários. Política é o espaço, por excelência, da negociação inteligente e do cuidado consciente com a imagem dos representantes e instituições, visto que esta imagem, junto com estatísticas e outros indicadores, é que irão transmitir idéias e valores que permitem ao eleitor tomar uma decisão.
Hoje estou otimista em relação a vitória de Lula. As pesquisas dos últimos dias o mostram com mais de 7 pontos percentuais à frente de Alckmin, o que significa mais de 8 milhões de votos de vantagem. Acredito que há condição para crescer, e que essas últimas medidas tomadas devem contribuir para uma recomposição da imagem do partido e de Lula junto a uma parte dos eleitores, sobretudo entre os que votaram em Heloísa Helena e Cristóvão Buarque e que, agora, deverão optar por Lula por uma questão de afinidade ideológica. Tenho ouvido, entre pessoas próximas que não votaram em Lula, afirmações categóricas de que agora o farão, por rechaçarem a perspectiva sombria de sermos governados, nos próximos quatro anos, pelo OPUS DEI GERALDO ALCKMIN.
Na realidade, dou toda a razão para meu blogueiro preferido, Eduardo Guimarães, de que existe sim um complô muito bem articulado entre as corporações midiáticas para elegerem o candidato do PSDB. O nome complô talvez nem seja adequado, pois que é um objetivo quase que transparente, embora elas, as corporações, o neguem.
Fico cada vez mais impressionado como a senhora Miriam Leitão consegue produzir raciocínios cada vez mais tortos e tendenciosos para projetar simpáticas luzes sobre a gestão FHC e ominosas sombras sobre o período Lula.
Por exemplo, porque Leitão não fala que a redução de pobreza do início do período FHC, que ela lembra sempre que é obrigada a admitir a redução da pobreza no governo Lula, foi conquistada com políticas não auto-sustentáveis, entre elas um violento aumento dos impostos e o brutal crescimento da dívida pública, externa e interna?
Outro caso escabroso foi a venda da Vale do Rio Doce. Sobre isso, peço mais um pouco da atenção de vocês para uma grave denúncia.
Não sei se vocês sabem mas eu sou jornalista especializado em café, um dos mais conhecidos aqui e lá fora. Trabalho neste setor há mais de 10 anos. Durante algum tempo, tive o costume de publicar a balança comercial brasileira, com a lista dos principais produtos exportados pelo Brasil, com suas respectivas receitas, volumes embarcados e preços por tonelada.
Pois bem, a cotação do minério de ferro, antes da venda da Vale, estava num de seus piores momentos, em torno de 15 dólares por tonelada. É isso mesmo. O Brasil vendia seu minério de ferro por 15 dólares uma tonelada! O preço de tabela era mais alto, mas o Brasil era obrigado a vender mais barato por causa dos contratos de longo prazo assinados no passado. Contratos esses, como o que tinha com o Japão, de 60 anos, que estavam prestes a expirar, o que abria um novo horizonte para negociação de novos preços para a companhia.
Qualquer analista de commodities isento e íntegro poderia prever que aquela situação, de preços irrisórios para o ferro, não iria durar muito tempo. Minério de ferro é um recurso não-renovável, e sua importância estratégica para a economia mundial é similar à do petróleo. Não se fazem edifícios, máquinas, armas ou fábricas sem usar muito minério de ferro. Ou seja, os preços estavam na iminência de uma explosão.
A criação e a consolidação da Vale do Rio Doce havia sido uma grande conquista do povo brasileiro. Conquistada com muito sangue, com muita luta e muito sacrifício. Tudo começou com a CSN, criada a partir do inteligente acordo concebido por Getúlio Vargas, que condicionou a entrada do Brasil na II Guerra à transferência, por parte do governo dos EUA, de capital e tecnologia para a industrialização do minério de ferro.
Resumindo a história, a Vale foi vendida por 3 bilhões de dólares, sendo que grande parte deste dinheiro era constituída pelo que se chamava "moedas podres", a saber, títulos públicos já vencidos ou sem valor, mas que, por brechas jurídicas, eram usados para quitar dívidas com a União. Pouco tempo depois, e não por uma coicindência, a cotação do minério de ferro ingressava numa fase ascendente. Hoje o minério de ferro está no apogeu, valendo mais de 70 dólares, valor muito acima de antes da privatização (ver essa tabela), razão pela qual a Vale do Rio Doce se tornou uma das empresas mais lucrativas do país e do mundo. Isso a Miriam Leitão não diz. Até porque, na época da privatização, ela era uma das lobbistas mais atuantes na venda. Pior, na venda por preço baixo, pois não esqueçamos de que, pela primeira vez na história do comércio mundial, o próprio vendedor depreciou seu produto. O negócio foi mais tenebroso ainda: o governo contratou a Merril Lynch para avaliar o preço da Vale do Rio Doce, e descobriu-se depois (quer dizer, foi uma notícia que todos sabiam mas que não interessava ser destacada pela mídia nacional) que a consultora norte-americana estava associada aos grupos compradores da Vale. Em suma, a Lynch tinha interesse em sub-avaliar a Vale porque participava da compra.
E assim vendemos a maior empresa do mundo de minério de ferro, detentora de segredos industriais e geológicos, patentes industriais, terras, mapas, contratos com países do mundo inteiro, por uma bagatela que nem ao menos serviu para FHC reduzir a dívida pública. Pelo contrário, FHC entregou ao sucessor um governo atolado em dívidas, amarrado ao FMI, um país à beira da bancarrota. Esta foi a famosa HERANÇA MALDITA, que tanto embaraço trouxe ao primeiro ano do governo Lula, e ainda traz.
Hoje, quando vejo que praticamente todo o cinema autoral do país, todos os projetos culturais e sociais significativos são apoiados financeiramente pela Petrobrás, pelo Banco do Brasil ou pelo BNDES, sempre penso que, se ainda tivéssemos a Vale, poderíamos usufruir de uma situação muito mais confortável. Os lucros extraordinários da Vale permitiriam ao governo federal reduzir impostos e elevar investimentos. Com a Vale já poderíamos ter construído a Ferrovia Norte-Sul, por exemplo, entre outras possibilidades.
Entretanto, já ouvi, na boca de tucanos, frases feitas como: "imaginem a Vale nas mãos de um Delúbio?". Para mim, isso é estupidez completa ou má fé. Caso a Vale parasse em mãos erradas de algum político desonesto, seria caso de desmascarar o delinquente, julgá-lo, puni-lo. A Vale continuaria em poder do povo brasileiro.
FHC privatizou grande parte do patrimônio nacional sem ao menos lograr reduzir a dívida pública nacional! Pelo contrário, durante sua gestão, a dívida pública interna saiu de US$ 60 bilhões, em 1994, para US$ 600 bilhões, em 2003. A dívida externa também cresceu.
Isso é choque de gestão? Isso é eficiência administrativa? O apagão é prova de eficiência administrativa? E o câmbio mantido artificialmente em 1998, obrigando o Banco Central a gastar dezenas de bilhões de dólares por dia, com o objetivo criminoso de beneficiar eleitoralmente a reeleição de Fernando Henrique Cardoso? Isso foi legal, dona Miriam Leitão? Aprovar a reeleição para si mesmo, isso foi legal? Foi ético?
Acho engraçado o PSDB, e mesmo os grande agricultores, reclamarem da política cambial do governo Lula, protestando contra o câmbio baixo. Ora, FHC manteve o Real paritário a 1 Dólar durante os primeiros anos de seu governo, de forma compulsória, prova de seu autoritarismo. Alguém já pensou como isso prejudicou as exportações brasileiras, gerando uma ilusória estabilidade econonômica, insustentável, que resultou em recessão e crise nos anos seguintes? Já pensou nisso, dona Miriam Leitão?
É por ter esses pensamentos, transformados numa revolta absolutamente racional correndo-me pelas artérias, que eu torço com todas as minhas forças e esperanças para a vitória de Lula no dia 29 de outubro. Lula tem que vencer. Lula vai vencer.
8 de outubro de 2006
Reflexões de um ex-pessimista
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Lula tem que vencer. Lula vai vencer. Com a sua lucidez e o seu brilhantismo do nosso lado, Miguel, vai sim! Belo artigo, vou divulgar muito. Obrigada,
Alyda
Boa! A questão da Vale é absolutamente fundamental e sua reestatização passa obrigatoriamente pela reeleição de Lula, mesmo que ele não consiga politicamente levar tal projeto a frente num eventual segundo mandato. É muito importante lembrar que esses (tomara!) oito anos de governo Lula são o início para uma arrancada de desenvolvimento econômico distributivo no país, a criação de uma infra-estrutura para a consolidação de um governo proletário, a longo prazo.
Mas a direita opera e, deduzo, quase nunca sob a forma de um complô, que pressupõe um planejamento de objetivos feito de forma totalmente consciente e com articulações burocráticas. Se fosse assim, seria fácil, bastaria denunciar. As articulações de classe se costuram no nível micropolítico, microfísico. O poder não se detém, se exerce. Uma analogia que faço é com a peça Beijo no Asfalto, do Nelson Rodrigues: o pai da esposa e o delegado fazem um trabalho de execração do protagonista de forma muito entrosada e conjugada, sem que nunca tenham se encontrado ou mesmo se falado! E até se estranham quando se encontram. Uma aliança absolutamente não burocrática, com objetivos muitíssimo semelhantes, apesar de certas distinções!
Talvez seja nesse espaço que possamos atuar com maior capacidade de subversão.
Vislumbre de um universitário desempregado
Um tempo em que se seja realmente feliz.
Crianças brincando, amigos do peito, verdades, reciprocidades.
Um tempo em que homens respeitassem e procurassem ajudar uns aos outros, para, assim, terem por quem ser ajudados e respeitados.
Em que sentimentos gerados e ligados à má formação social imposta por falhas estruturais governamentais, se escafedessem.
Onde professores, formadores e orientadores tivessem o devido e assistido cuidado com os seus alunos, seus homens, procurando conhecer a cor dos olhos de cada um – formar não é castrar, dar bronca, expulsar de sala, excluir. Formar é, sim, interagir, comunicar-se, conversar, expressar-se, ouvir e ser ouvido, ser, mudar-se, transformar-se. Formar é, antes de tudo, ensinar e aprender. É, sobretudo, ensinar a aprender.
Diálogos há de existir a essa época, é a que almejo.
Época em que chefes tratassem com dignidade os seus empregados, obtendo, assim, mais ritmo, confiança e empenho por parte deles.
Na qual existirá uma capaz mídia, que tratará a informação com mais cuidado, sem ficar abusando da falta de coerência com a realidade, em sensacionalistas e fétidas matérias cruas que estampam, hoje, capas e páginas dos principais veículos de comunicação impressa e virtual, pronunciando-se repetidamente, por semanais décadas, pelas carrancudas bocas dubladas de engravatados teleapresentadores, caixas pretas mundo vasto à fora. Vasto mundo alienado.
Há de chegar o momento em que a mínima assistência será prestada e discutir-se-á políticas públicas com seriedade, verdade e envolvimento pelos meios de comunicação, refletindo, a partir daí, repercussões em toda a sociedade à qual essa comunicação procurar incutir inteligência. A comunicação, numa sociedade, é fundamental, sua falha, abismal.
Tempos que voltarão a ser áureos se aproximam.
Hoje, ainda vê-se como poesia, delírio, ficção ou fantasia, todavia, sinto aproximar.
Sou, então, um poeta delirante, um fictício ser fantástico, um mero personagem querendo isso praticar.
Que não quer morrer sem ao menos tentar algo mudar.
Se a transformação e a inteligência são do ser humano, como se sabe, logo, o que falta é usarmos essa inteligência de forma correta a transformar a realidade, a colori-la.
Fazer isso virar manchete.
Primeira página, largas colunas, novelas, esquetes.
Façam o que quer que forem fazer, mas bem feito o façam.
Com cores, amores, verdadeiros traços. Não continuando preenchendo os mesmos espaços ocupados por preconceitos, ironias e deboches clichês. Originalizem-se. Criem. Plantem sua semente.
Vivam para o bem e o bem morará realmente em seus leitos,
natural e consequentemente.
Hoje estou desempregado, amanhã de repente...
Pra quem tá acompanhando o debate dos dois candidatos a presidente do Brasil na Band pode conferir a incapacidade de desinformação to candidato do PSDB Akimin. É incrível e claro como trata-se de um homem completamente voltado para fora do país e que desconhece desenvolvimentos básicos que o Brasil teve no governo Lula. Um dos momentos que mais me espantaram no debate foi quando o candidato do PSDB Alkimin começou a fazer um discurso racista e absolutista lembrando as falas de Bush. Lula rebateu o comparando com Bush e falando dos seus objetivos e dos feitos que ele fez no Brasil. Lula abriu mercado com diferentes países e enquanto o candidato do PSDB tem medo da invasão dos produtos chineses de R$ 1,99 ( seria um rival para DASPU onde sua filha trabalhou até o escândalo fiscal envolvendo a loja?) o Brasil do governo Lula fechou contrato com a China de exportação de avião. São um dos pontos que nos ajudam a esclarecer em qual deles votaremos. Lula
Atenção: quando disse acima Daspu queria dizer obviamente DASLU.
Não dá pra engolir esta história de que, na pesquisa de boca de urna, geralmente infalível, Lula teve 50% de votos e, na apuração, um pouco mais de 48%. Tem mutreta aí.
Tem outro problema que os petistas e simpatizantes ainda não prestaram a devida atenção: a dificuldade de se usar a urna eletrônica com seu teclado minúsculo. Urna embaçada, quase não enxergava o número 13 na tela do comptador. Será que é prá economizar o que o motivo pelo qual os numeros parecem tão pequenos? É claro que o TSE, sabendo de antemão que o eleitorado de Lula é em sua maioria de pobres que não são acostumados com computador, a maioria nunca nem viu, fez então de tudo para dificultar que o eleitor de Lula votasse no seu candidato. Resultado: mais de hum mil e 300 mil votos, seguundo matéria no Correio Brasiliência, de falsos-nulos, ou seja, cidadãos que não queriam anular seus votos mas que, devido a tais dificuldades anularam sem querer.
Não engulo também o fato a ausência de uma urna das antigas para coletar os votos dos eleitores para, se for o caso, se fazer recontagem. Não confio nesta Justiça Eleitoral partidarizada. No artigo "nem mé nem cabeça" o autor Jesus Soares da Fonseca demonstra como a fraude pode ocorrrer. Bom dar uma lida.
Ah, o artigo "nem mé nem cabaça" foi publicado no www.informante.net
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