31 de dezembro de 2010

Cantanhede insulta blogosfera

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E os colunistas do PIG continuam insultando a blogosfera. Eliane Cantanhede perguntou em sua coluna do último dia 30 de de dezembro quais 2.512 sites e blogs teriam sido "agraciados" com verba pública. Mais uma calúnia, respondida pela Blog do Planalto. Nenhum blog. Cantanhede confundiu a categoria "outros", que inclui todo tipo de veículo, com "sites e blogs". Erro imperdoável, porque atinge a honra de toda uma categoria de blogueiros. E tudo porque a imprensa ainda está mordida pelo governo ter decidido democratizar a publicidade oficial, em vez de dar tudo para meia dúzia de veículos, como era no passado. O que Cantanhede fez é de fato muito revoltante, porque busca deslegitimar o trabalho que fazemos, ao sugerir que o fazemos para obter financiamento do governo. Mais ainda porque a resposta para a pergunta dela, sobre quais sites recebiam publicidade oficial, é que 88% da verba foram destinadas aos portais, como o UOL, para onde ela mesmo escreve. A resposta, portanto, é que o dinheiro do governo vai para o bolso da Cantanhede. Ela vai dizer isso em sua coluna?

Do Blog do Planalto:
Quinta-feira, 30 de dezembro de 2010 às 18:09
Colunista da Folha infla números e levanta suspeitas descabidas. É no que dá a falta de rigor…

Na sua coluna de hoje na Folha de S.Paulo, a jornalista Eliane Cantanhede diz que 2.512 sites e blogs teriam sido “agraciados” com investimentos publicitários do governo federal no ano de 2010. A jornalista errou. Na verdade, esse número refere-se à rubrica “outros” – ou seja, outros veículos além das TVs, rádios, jornais e revistas –, que compreende uma variada gama de mídias, como outdoors, busdoors, painéis eletrônicos, cinemas, painéis em metrôs, terminais rodoviários e ferroviários, aeroportos, carros de som, além de portais, sites e blogs.

No caso da Secom, os investimentos em publicidade na internet em 2010 foram de R$ 3.948.284,98 e alcançaram apenas 71 veículos – menos de 3% do total equivocadamente citado pela colunista, portanto. Registre-se ainda que 88% desses recursos foram aplicados em dez dos maiores portais do país, a saber: MSN, Uol, Globo.com, Terra, iG, Yahoo, Abril, Estadão, Valor Online e Folha.com.br. Nenhum deles pode ser incluído na categoria dos chamados “blogs sujos”. Estão mais próximos daquilo que alguns batizaram de “massa cheirosa”.

Segue abaixo o quadro de investimentos da Secom até 20 de dezembro de 2010. Para evitar novos erros e avaliações apressadas, tomamos o cuidado de separar o segmento “internet” da rubrica “outros”:

Imprensa tucana tenta azedar o Reveillon

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A grande imprensa tucana encerra o ano fazendo das suas. E agora já lembrei dos argumentos para responder aos amigos que me criticam por dar atenção ao que se publica na big mídia: eles (os lacaios do PIG) são a direita, os adversários, então precisamos acompanhar o que pensam, o que dizem, quem atacam e para quem eles se dirigem.

Os jornais tem a liberdade de criticar o governo, a esquerda, os sindicatos, e darem as manchetes que lhes convém, mas nós também temos a nossa liberdade de criticá-los e, sobretudo, desnudar as suas práticas, visto que a maioria vêm escondida sob o enganoso manto da "imparcialidade".

O problema desses jornais, no entanto, não é uma questão de liberdade, e sim de desinformação. O Globo hoje, por exemplo, aproveita-se da decisão de Lula de fixar o mínimo em R$ 540 para tascar uma manchete negativa no último dia do ano. A notícia é relevante, e merece constar na capa, mas não ser a manchete principal. Hoje teremos no Rio a maior festa do planeta. Eu imaginava que o jornal poderia aproveitar a oportunidade para publicar alguma notícia positiva para a cidade e para o país.

A manchete, além disso, força a barra, pois não é tecnicamente correto dizer que o salário de R$ 540 ficará abaixo da inflação. O Dieese calcula que a inflação do ano "deverá" fechar em 6,47%, o que deveria levar o mínimo para R$ 543. Ou seja, se a inflação fechar em alguns decimais abaixo do "calculado" pelo Dieese, teremos um mínimo acima da inflação e mais uma manchete do Globo furada. Não deixa de ser irônico que o Globo, inimigo figadal do sindicalismo, agora use o Dieese como fonte "única" em análise de inflação.



Tática Goebbels, repetir, repetir a mentira

Outra matéria que me chamou a atenção no Globo de hoje nos leva à uma das mentiras mais repetidas do jornal. Por conta da decisão de Lula de manter Cesare Battisti no Brasil, o Globo reitera a lenda de que o governo brasileiro recusou a dar asilo político aos dois boxeadores cubanos que fugiram do Pan. Representantes da OAB, do Ministério Público, delegados da Polícia Federal e próprio ministro da Justiça, afirmaram categoricamente que os atletas pediram para voltar a Cuba. Outros atletas cubanos receberam asilo político do governo brasileiro. Por que mentir tanto?



O Globo ainda se vale dessa mentira para fazer uma crítica leviana à diplomacia brasileira. Enquanto nosso chanceler, Celso Amorim, é qualificado como o "melhor do mundo" pela mais importante revista especializada em política externa dos EUA e o presidente Lula é homenageado como "Estadista do Ano" no Fórum Econômico de Davos, o Globo adjetiva nossa diplomacia de "companheira", "militante" e "ideológica", o que revela não apenas o critério colonizado com que o jornal julga nossa política externa, como também seus preconceitos políticos contra o vocabulário da esquerda. O Globo quer uma diplomacia "não-ideológica"? Mentira, ele quer uma diplomacia afinada com a ideologia da direita. O Globo não gosta de "militantes"? Mentira. Ele não gosta é dos militantes da esquerda; quando identifica qualquer esboço de militância anti-esquerda ou anti-governo Lula, ele dá espaço generoso e laudatório em suas páginas.

Lulinha, a bola da vez

Por fim, temos as matérias (no Globo e na Folha) tentando denegrir Lula através de seu filho, Fabio Luíz. É fácil identificar o veneno presente nas matérias, sobretudo em títulos, manchetes e adjetivações. O "empresário" que paga o aluguel do apartamento do filho de Lula é sócio dele. Mais ainda: dividia o apartamento com ele. Fábio mora sozinho apenas há alguns meses, depois que teve seu filho. É um acerto privado e ninguém tem nada a ver com isso. Se são sócios numa empresa, o dinheiro pode ser descontado de outra maneira.

O Globo pagou as despesas do filho de FHC por anos a fio, e ninguém jamais comentou nada...

O jornal, como sempre, consegue arrancar de uma autoridade uma pré-condenação. Leia a declaração de Janice Ascari, procuradora da República:
Esse caso é, no mínimo, imoral. Mas acredito que possa caracterizar alguma ilegalidade. Não é normal uma pessoa ou empresa pagar R$12 mil de aluguel para outra. Assim como não é normal uma empresa do porte da Oi injetar um capital absurdo em uma empresa de fundo de quintal como a Gamecorp - afirmou a procuradora do MP ao GLOBO.

Bem, não creio que Ascari (que é minha colega no Twitter, mas não posso me abster de criticá-la por ter entrado no jogo da mídia) deva fazer julgamentos "morais". Se for assim, deveria fazê-lo contra a matéria do Globo, que atenta contra a honra e a privacidade de um indíviduo, devassando-lhe os detalhes de sua vida financeira. Jamais fizeram isso com parentes de tucanos. A troco de quê o Globo descreve assim uma empresa de Fábio: "Fica em um prédio pomposo de escritórios também nos Jardins". Para que adjetivar de pomposo se não for para gerar intriga?

Repare que Ascari afirma que "acredita que possa caracterizar alguma ilegalidade".

Meditem bem sobre essa expressão: acreditar que possa caracterizar alguma ilegalidade. O que ela significa? Nada! Ou antes, que não há crime nenhum, ilegalidade nenhuma! O que não falta no Brasil é ladrão, corrupto, bandido, assassino, grande parte deles livre, leve e solto. A troco de quê, uma procuradora da República faz uma declaração agressiva dessas contra um cidadão brasileiro? Não é ele inocente até prova em contrário! Janice Ascari, atiçada pela mídia, violou a honra de Fábio.

Vou repetir pela milésima vez: não boto a mão no fogo por ninguém. Mas também não a boto no gelo. O filho de Lula poderia ser o maior salafrário do mundo, mas isso não dá direito a uma procuradora ou a um jornal de atacar a sua honra e a sua privacidade com base em julgamentos subjetivos de ordem moral, ou por "acreditar que [um aluguel pago pelo próprio sócio, que dividia o apartamento com ele] possa caraterizar alguma ilegalidade". Se Fábio cometeu algum tipo de crime, o Ministério Público deve investigar com discrição, e apenas se manifestar quando tiver provas. O que Ascari fez, repito, foi um crime. O criminoso aqui não é Fábio Luiz, são Janice Ascari e o jornal. A procuradora deveria reler Zadig, do Voltaire, e lembrar da lição do sábio: "mais vale arriscar-se a deixar livre um culpado a condenar um inocente", e "as leis são feitas para trazer segurança ao cidadão, não para intimidá-lo". Algumas autoridades, caindo na pilha da mídia partidária, tem adotado a postura contrária: não hesitam em condenar verbal e moralmente um cidadão, mesmo antes de ter provas sobre seus crimes".

Ainda mais se tratando de um filho de político, num caso onde naturalmente há motivação partidária, a procuradora deveria ter prudência redobrada. Mais uma vez, observamos o ódio de classe contra Lula, porque nunca veríamos uma reação irada e descontrolada contra um filho de Fernando Henrique Cardoso ou José Serra.

A matéria devassa a vida dos filhos de Lula, ao falar que eles abriram seis companhias "com capital irrisório", de R$  1 mil cada. Qual o problema? É ilegal? Não. Qual o interesse em divulgar detalhes e endereços de cada empresa deles, a não ser prejudicá-los?

Eu já li na Folha, em informação escondida no meio da matéria, que o tal empresário que pagou o aluguel do apartamento, tem contratos irrisórios com o governo federal. A maioria dos contratos de sua empresa, a Gol, é com governos estaduais e municípios. Mesmo assim, a matéria, acentuando seu caráter partidário, diz apenas, maliciosamente, que ele "tem negócios com o governo". Ora, toda editora de médio porte para cima tem contratos com governos.

Outra frase que me irritou, da Ascari, é essa:
- Não estou desfazendo de seus méritos pessoais, mas será que ele teria tudo se não fosse o filho de Lula?

Ora, isso é um julgamento mais do que subjetivo: é preconceituoso e hipócrita! Por que não faz a mesma pergunta para a filha de Serra, milionária dona do Mercado Livre? Ou para qualquer outro filho de político! Fábio é filho de Lula, sim, e isso evidentemente lhe traz grandes vantagens! É muita hipocrisia achar que não! Qual o problema! E se ele fosse filho de um psicopata estuprador de criancinhas, isso não lhe seria prejudicial? Meu pai foi um grande jornalista especializado em café, e isso me trouxe vantagens para trabalhar no setor de café. Se meu pai fosse o governador Geraldo Alckmin, claro que eu teria mais facilidade para encontrar sócios do que se fosse filho de um viciado em crack preso em algum penitenciária vagabunda...

Lulinha é filho de uma grande liderança política e é normal que isso lhe seja vantajoso. Querem o quê, que ele mude de nome e renegue a sua paternidade? Desde que não constitua tráfico de influência, e nada até agora relacionado a Lulinha apontou o mínimo indício disso, não há problema. O que Ascari fez foi criminalizar o simples fato do rapaz ser filho de Lula!

29 de dezembro de 2010

Feliz 2011!

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Quero simplesmente desejar um ótimo ano para todos vocês, amigos, leitores, simpatizantes ou adversários do meu trabalho. O ano de 2010, para mim, foi cheio de altos e baixos, mas acho que o saldo final resultou bastante positivo. Estou saudável e otimista, isso é o que importa.

A luta continuará intensa nos próximos anos. A batalha da comunicação prosseguirá politizando-se, com a mídia assumindo de forma cada vez mais descarada a defesa do lado conservador. É um movimento necessário para despertar a consciência da sociedade de quanto é nocivo que uma das dimensões mais importantes da realidade contemporânea, a produção de cultura de massa, fique nas mãos de meia dúzia de poderosos descomprometidos com o bem estar da maioria. Se a democracia é o valor maior, ela deve se espraiar para todo o corpo social. É muito ridícula essa campanha contra a ideia de democratizar a mídia. Temos que aprofundar esse debate e acredito que somente a blogosfera terá força e coragem para peitar as famiglias.

Quanto à chamada "blogosfera progressista", ou seja, os blogueiros que participaram do Encontro Nacional realizado em São Paulo, e agora organizam eventos regionais, trata-se de uma tentativa de potencializar a nossa força através de união, organização e, sobretudo, fraternidade. Não somos perfeitos, seguramente reunimos enorme quantidade de preconceitos, vaidades, ignorância e confusão, mas também somos simples peões da História, com H maiúsculo, e quando nos reunimos em São Paulo, ou quando trabalhamos para desmascarar a manipulação midiática, estamos fazendo algo maior do que nós mesmos. Afinal, lembrando Hegel: "Perseguindo seus interesses pessoais, os homens fazem história e são, ao mesmo tempo, as ferramentas e os meios de qualquer coisa de mais elevada, de mais vasta, que eles ignoram, e que eles realizam de maneira inconsciente".

Tentamos fazer alguma coisa de concreto, pelo Brasil, pela blogosfera, por nós mesmos. A união faz a força, mas é interessante notar, por outro lado, como também nos tornamos um alvo. A partir do momento em que um setor da blogosfera ensaia uma forma tímida de organização, surgem forças contrárias, externas e internas, porque toda espécie de força, quando nasce, quando cresce, provoca mudanças gerais no universo em que atua.

Eu não sei se vai dar certo. Isso não me interessa neste momento. Também não me interessa se seremos muitos ou poucos a lutar, porque tenho na memória a inscrição heróica da batalha das Termópilas, evento popularizado em tantos filmes. A frase, segundo Heródoto, era: "Quatro mil gregos combateram aqui contra três milhões de persas".

Então, mais uma vez, desejo um Feliz Ano Novo, cheio de conquistas para todos nós!

Presidente do Itaú: Lula foi o melhor

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Lula foi o maior presidente da história do Brasil, diz Roberto Setubal



Roberto Setubal (Fotos: Greg Salibian/iG)

Em setembro de 2002, durante a tradicional reunião anual do FMI, o banqueiro Roberto Setubal, presidente do Itaú, surpreendeu a toda a plateia, formada pelos maiores financistas do mundo, quando disse que Lula não só iria ganhar a eleição, como não seria nenhum problema para o Brasil.

Essas foram as palavras de Setubal: “Não tenho dúvida que o Lula será o próximo presidente do Brasil. Esta não é uma eleição populista. Ele está sendo eleito porque está fazendo uma boa campanha. Ele é honesto e fala ao coração do povo.”

Hoje, oito anos depois, ao encerrar o segundo mandato, Setubal diz ao iG que Lula superou as próprias expectativas, que já eram bastante otimistas em relação ao seu governo.

O banqueiro lembra que, quando declarou que não havia razão para se temer o governo Lula, fez-se um absoluto silêncio na plateia, como se ninguém acreditasse que um banqueiro poderia fazer tal tipo de afirmação.

Havia uma enorme desconfiança no mercado em relação ao Lula, o medo era generalizado e não se poderia imaginar jamais que um banqueiro, que sempre teve seu nome ideologicamente associado aos tucanos, pudesse declarar apoio (não foi o voto) a Lula.

Setubal diz que ele tinha preparado uma apresentação cheia de gráficos e números para aquela tarde, em Washington, mas decidiu falar de improviso.

“O mercado estava exagerando nas incertezas. O que eu disse é que o Lula era um cara centrado, pragmático e não ideológico, como as pessoas diziam. Depois, o Lula já tinha escrito a Carta aos Brasileiros e tudo o que ele queria era o bem do país.”

Setubal diz que Lula foi muito além do que ele imaginava.

“Lula foi o maior presidente da história do País”, diz Setubal.

Segundo o banqueiro, a grande diferença entre Lula e Getúlio Vargas, tido até então como o maior presidente da história, é a de que Lula foi eleito democraticamente, o que, para Setubal, faz uma enorme diferença.

Setubal faz questão de dizer que o Brasil também teve outros grandes presidentes, como Juscelino Kubitschek e Fernando Henrique Cardoso, que sempre terão, certamente, um lugar diferenciado na história.

Entre as grandes qualidades de Lula, Setubal ressalta a sua capacidade de entender todos os ângulos dos problemas brasileiros e de encaminhar as soluções mais realistas para eles.

“A sensibilidade de Lula para entender os problemas do Brasil é impressionante. Ele entende o Brasil como ninguém.”

A grande conquista de Lula, na opinião de Setubal, foi a melhor distribuição de renda do país.

“Depois de muitos anos de piora da situação da distribuição de renda no país, veio o Plano Real e começou a melhorar a situação, mas foi no governo Lula que houve mesmo um avanço.”

Setubal diz que “Lula, que veio de onde veio, dos níveis sociais mais simples da sociedade, assumiu a presidência sem manifestar nenhum rancor em nenhum momento e, com seu pragmatismo, contribuiu para a sociedade e para o sucesso do País.”

Setubal se diz otimista com o governo Dilma Rousseff.

“As perspectivas são muito positivas, há claramente na política econômica um sinal de continuidade, e isso é muito bom”, afirma. “O Brasil terá anos muitos bons pela frente.”

Para Setubal, a palavra chave do próximo governo será infraestrutura. A seu ver, essa será a prioridade do novo governo. O país tem problemas nessa área e precisa de investir maciçamente em infraestrutura.

O inferno dos demos

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Para os demos, o inferno não são os outros, são eles mesmo! Reproduzo matéria do Miro, publicada em seu blog.

ACM Neto, Kassab e o inferno dos demos

Por Altamiro Borges

Crescem as especulações de que o deputado federal ACM Neto já se mexe nos bastidores para abandonar o DEM. Desanimado com a fragorosa derrota dos demos nas eleições de 2010 e temendo por seu futuro político na Bahia, ele estaria articulando a criação de um novo partido, que contaria com um empurrãozinho do ex-governador mineiro Aécio Neves, ou poderia até se filiar a outra legenda partidária.

O jornalista Carlos Brickmann relatou recentemente que “o deputado federal pedetista Marcos Medrado convidou ACM Neto, neto do cacique baiano Antônio Carlos Magalhães, que fundou o PFL, a entrar no PDT. Medrado diz falar em nome de Carlos Lupi, ministro do Trabalho e presidente nacional do partido. Garantiu a ACM Neto legenda para disputar a Prefeitura de Salvador ou o governo baiano”. Aonde há fumaça, há fogo!

Debandada paulista e brigas fratricidas

Na mesma batida, Gilberto Kassab não esconde mais que também deve sair do DEM. As portas do PMDB, o partido ônibus do centro do espectro político, já foram abertas. Caso as articulações se confirmem, o prefeito da capital paulista, um dos demos de maior expressão nacional, poderá carregar com ele os seis deputados federais eleitos pela legenda em São Paulo, o que deixaria o partido sem mandato parlamentar na principal unidade da federação.

Toda esta pendenga deve ser concluída até março próximo, quando o partido realizará seu congresso nacional. Este foi antecipado exatamente devido às crescentes brigas internas entre os chefões da legenda de extrema-direita. De um lado, estão Jorge Bornhausen e Agripino Maia, que conseguiram eleger os dois únicos governadores da sigla (Santa Catarina e Rio Grande do Norte); do outro está o bloco comandado por Rodrigo Maia, filho do ex-prefeito da capital carioca, que sofreu uma humilhante derrota na disputa por uma vaga no Senado no Rio de Janeiro.

Encolhimento do partido da extrema-direita

Vários analistas políticos, inclusive da mídia demotucana, avaliam que está é a pior crise da agremiação desde que mudou de nome e deixou de ser o Partido da Frente Liberal (PFL). Nos últimos oito anos, o DEM encolheu pela metade suas bancadas na Câmara dos Deputados e no Senado Federal. Em 2002, o partido elegeu 84 deputados e 14 senadores. Já em 2010, foram eleitos 43 deputados e dois senadores.

Em 2007, depois de sair derrotado nas urnas no ano anterior, quando conseguiu eleger apenas um governador, José Roberto Arruda (DF) - que depois virou presidiário -, o partido fez uma tentativa de renovação. Trocou a sigla PFL, fundada em 1985 a partir da antiga Arena, ligada à ditadura militar, por Democratas, numa jogada marqueteira e diversionista. No mesmo dia em que rebatizaram o partido, os pefelistas elegeram o jovem Rodrigo Maia para substituir o veterano Jorge Bornhausen.

As reações no inferno

A promessa de renovação, porém, não vingou. Partido fisiológico e patrimonialista, que depende exclusivamente das benesses do Estado, ele não agüentou as mudanças no bloco de poder no governo federal, a partir da eleição de Lula. Os velhos coronéis foram sendo enterrados aos poucos – a derrota neste ano de Marco Maciel, “senador desde o império” e duas vezes vice de FHC, foi bastante emblemática – e as novas lideranças estaduais não se consolidaram.

A ameaça de saída de ACM Neto e Kassab comprova a gravidade da crise. Muitos demos, inclusive, já encontraram as causas e o causador desta falência. O declínio seria devido à perda de identidade do partido, que virou um mero apêndice do PSDB. O bode expiatório seria José Serra, que afundou o DEM nas últimas eleições. A morte parece inevitável. A dúvida é se o diabo vai aceitar os demos no inferno. Dizem que ele já ficou bastante irritado com o apelido do partido.

Lula alfineta imprensa de novo

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Neste final de mandato, ancorado numa popularidade que constitui recorde mundial, Lula tem soltado o verbo sobre o tratamento desequilibrado que seu governo recebeu da grande imprensa nos últimos oito anos.



Aproveito para reproduzir um comentário pertinente do jornalista Paulo Henrique Amorim:



Lula poderia ter usado argumento fulminante.

Com Fernando Henrique, com 50% da audiência, a Globo ficava com 90% da verba publicitária oficial para televisão.

Com Lula, com menos de 50% da audiência, a participação da Globo caiu para 45% da verba publicitária.

É por isso que as Organizações (?) Globo não escondem a sua alegria com o Governo Lula.


Paulo Henrique Amorim

28 de dezembro de 2010

A entrevista de Franklin Martins à Rede TV

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Parte 1:



Parte 2:



Parte 3:

Analisando insetos

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Peço licença ao amigo Castor Filho, que não aprova a atenção que dispenso aos cupinchas da mídia, porque desta vez me enterrarei ainda mais fundo. É um hobby que virou quase um vício, semelhante ao de observar a vida íntima dos insetos. Note ainda que eu os respeito, a todos, mesmo os que são considerados "retardados" pela maioria dos meus colegas de blogosfera. Tem gente do nosso campo que os chama também de "analfabetos", o que considero um erro grave de avaliação: eles sabem ler muito bem. Até escrevem livros de vez em quando. Rodrigo Constantino, cuja coluna irei analisar nesse post, informa-nos, por exemplo, que seu coleguinha do Millenium, Luiz Felipe Pondé, lançou novo livro infantil, chamado "Contra um mundo melhor"...

Constantino, novo colunista do jornal O Globo, já era caricatura na internet há tempos. Agora seu conservadorismo previsível ganhou projeção nacional. Sua coluna de hoje, num acesso de fúria criativa, intitula-se "A ditadura do politicamente correto". Esse é o novo grande inimigo da geração danoninho. Eu ando pelas ruas, vejo o povo exercendo sua plena liberdade: xingando, brincando, vociferando, termos como "veado, negão, bicha" e demais epítetos nada politicamente corretos, mas os apóstolos do danoninho permanecem fiéis à sua crença, segundo a qual vivemos uma ditadura do "politicamente correto". Reinaldo de Moraes acaba de lançar a sua obra-prima, Pornopeia, romance de 475 páginas contendo as atrocidades mais politicamente incorretas jamais escritas no idioma de Camões, mas para os colunistas do PIG a ditadura ainda persiste. O que eles querem? Direito de chamar o zelador nordestino de paraíba macaco?

Constantino incorre naquele erro tão comum aos polemistas meiaboca de hoje: inventam um adversário. Criam um bonequinho de fantasia, incapaz de reagir, e atribuem-lhe as ideias mais idiotas, daí lhe respondem com altivez, como se dessem lição de moral e política a Jean Paul Sartre. Assim é fácil!

Pincemos apenas o primeiro parágrafo:
A ditadura do politicamente correto

Rodrigo Constantino, O Globo

“A unanimidade é burra.” (Nelson Rodrigues)

Ninguém insiste tanto na conformidade como aqueles que advogam “diversidade”. Sob o manto de um discurso progressista jaz muitas vezes um autoritarismo típico de pessoas que gostariam, no fundo, de um mundo uniforme, onde todos rezam o mesmo credo. A Utopia de More, a Cidade do Sol de Campanella, a República platônica, enfim, “um mundo melhor é possível”. Se ao menos todos abandonassem o egoísmo, a ganância, e se tornassem almas conscientes e engajadas...

Não há uma frase que se sustente por conta própria. Até a citação que abre o texto: "A unanimidade é burra", de Nelson Rodrigues, vem mal colocada. Uma unanimidade pode ser burra ou pode não ser. Se todo mundo repetir que a unanimidade é burra, isso vira outra espécie de unanimidade, e das mais burras. A frase valia para uma crônica de Nelson. Ao repeti-la acriticamente e torná-la uma máxima de sabedoria em 10 minutos, a frase perde seu valor estético e sua densidade filosófica, torna-se um clichê barato.

O texto de Constantino é, de cabo a rabo, um conjunto de sofismos mal-ajambrados, como ele mesmo deixa bem claro logo nas primeiras frases. Ele enfia agulhas no bonequinho de vudu que fez de seus adversários, e acha que todos nós urraremos de dor. O problema desse tipo de crítica é sempre achar que conhece o que pensamos, "no fundo". É o novo tipo de polemista, o leitor de pensamentos alheios. Como não tem capacidade para destrinchar as contradições ou erros no discurso do adversário, o polemista da geração danoninho alega conhecer seus pensamentos secretos.

Constantino não disfarça seu ódio contra as pessoas que se mobilizam por alguma bandeira social, revelando, como era de se esperar, uma visão de mundo absolutamente tosca, quase animalesca, como se devêssemos todos nos limitar a satisfazer nossas necessidades fisiológicas mais primárias, e só. É uma visão infantil e contraditória também, porque ao mesmo tempo em que abomina a ideia do Estado intervindo na vida dos cidadãos, igualmente escarnece da sociedade civil organizada. Ora, a única maneira de reduzirmos a presença do Estado, seria aumentando as responsabilidades sobre os cidadãos, que deveriam portanto se tornar mais "conscientes" e "engajados". Constantino, assim como seus coleguinhas do Millenium, vêem o mundo como se todos vivêssemos na casa da vovó, a comer biscoitinhos e a beber café com leite, rodeados de carinho e compreensão.

A visão flerta ainda com uma visão irracionalmente irresponsável sobre questões de saúde. Nossa água e nossos alimentos são cheios de impurezas, bactérias e substâncias tóxicas. O ar que respiramos é poluído. Nossos rios e praias são imundos. Nossas crianças e adolescentes estão cada vez mais obesos. Para Constantino, porém, vivemos uma "obsessão pela saúde", o que seria um dos "sintomas da modernidade". Não consigo entender isso. O que pessoas como Constantino e Pondé (autor de "Contra um mundo melhor") defendem? O suicídio coletivo da humanidade? Que deixemos para lá qualquer cuidado com a qualidade da água e alimentos que ingerimos?

Não quero me estender em demasia sobre toda frase grotesca de Constantino. Vamos nos ater a esse trecho:
O paraíso idealizado pelos “progressistas” seria um mundo com tudo reciclado, pessoas vestindo roupas iguais, comendo apenas alimentos orgânicos, e andando de bicicleta para cima e para baixo. Paradoxalmente, os “progressistas” odeiam o progresso!

Perdoem-me perder a compostura, mas o cara é um imbecil. Quem está se vestindo igual? Sobre alimentos orgânicos, creio que seria a melhor maneira de evitarmos a incidência de câncer, e desejo acreditar que esse idiota não acha que ter câncer é um direito do indivíduo... Em relação às bicicletas, essa foi a parte que me fez perder a estribeiras e xingá-lo. As cidades mais modernas do planeta tem investido pesadamente no uso de bicicletas, além de transportes públicos de qualidade, como estratégia para reduzir os terríveis congestionamentos que assolam os grandes centros urbanos, e patetas como Constantino enxergam a defesa de ciclovias como atitude excêntrica de hippies naturebas...

Perto do final, ele cita a primeira frase do novo livro de Pondé: "Detesto a vida perfeita". Quanta profundidade. Crianças, joguem os danoninhos ao lixo! Quando suas mães vierem lhes dar beijinhos, xinguem-nas e digam que agora são leitores de Constantino e Pondé e não querem mais vida perfeita nem felicidade! Sob nosso magnífico céu tropical deste Brasil lindo e miserável, tornar-nos-emos todos angustiados leitores de Kiekergaard. Ao entardecer, depois de examinar atentamente os jornais, suicidar-nos-emos ao pôr-de-sol, deixando um bilhete à posteridade com a frase: "abaixo a bicicleta!"

27 de dezembro de 2010

Jorge Hage detona Veja

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Do Blog do Planalto.

Veja: má vontade e preconceito conduzem à cegueiraResposta do ministro Jorge Hage a editorial de balanço da revista Veja:
Brasília, 27 de dezembro de 2010.

Sr. Editor,

Apesar de não surpreender a ninguém que haja acompanhado as edições da sua revista nos últimos anos, o número 52 do ano de 2010, dito de “Balanço dos 8 anos de Lula”, conseguiu superar-se como confirmação final da cegueira a que a má vontade e o preconceito acabam por conduzir.

Qualquer leitor que não tenha desembarcado diretamente de Marte na noite anterior haverá de perguntar-se “de que país a Veja está falando?”. E, se o leitor for um brasileiro e não integrar aquela ínfima minoria de 4% que avalia o Governo Lula como ruim ou péssimo, haverá de enxergar-se um completo idiota, pois pensava que o Governo Lula fora ótimo, bom ou regular. Se isso se aplica a todas as “matérias” e artigos da dita retrospectiva, quero deter-me especialmente às páginas não-numeradas e não-assinadas, sob o título “Fecham-se as cortinas, termina o espetáculo”. Ali, dentre outras raivosas adjetivações (e sem apontar quaisquer fatos, registre-se), o Governo Lula é apontado como “o mais corrupto da República”.

Será ele o mais corrupto porque foi o primeiro Governo da República que colocou a Polícia Federal no encalço dos corruptos, a ponto de ter suas operações criticadas por expor aquelas pessoas à execração pública? Ou por ser o primeiro que levou até governadores à cadeia, um deles, aliás, objeto de matéria nesta mesma edição de Veja, à página 81? Ou será por ser este o primeiro Governo que fortaleceu a Controladoria-Geral da União e deu-lhe liberdade para investigar as fraudes que ocorriam desde sempre, desbaratando esquemas mafiosos que operavam desde os anos 90, (como as Sanguessugas, os Vampiros, os Gafanhotos, os Gabirus e tantos mais), e, em parceria com a PF e o Ministério Público, propiciar os inquéritos e as ações judiciais que hoje já se contam pelos milhares? Ou por ter indicado para dirigir o Ministério Público Federal o nome escolhido em primeiro lugar pelos membros da categoria, de modo a dispor da mais ampla autonomia de atuação, inclusive contra o próprio Governo, quando fosse o caso? Ou já foram esquecidos os tempos do “Engavetador-Geral da República”?

Ou talvez tenha sido por haver criado um Sistema de Corregedorias que já expulsou do serviço público mais de 2.800 agentes públicos de todos os níveis, incluindo altos funcionários como procuradores federais e auditores fiscais, além de diretores e superintendentes de estatais (como os Correios e a Infraero). Ou talvez este seja o governo mais corrupto por haver aberto as contas públicas a toda a população, no Portal da Transparência, que exibe hoje as despesas realizadas até a noite de ontem, em tal nível de abertura que se tornou referência mundial reconhecida pela ONU, OCDE e demais organismos internacionais.

Poderia estender-me aqui indefinidamente, enumerando os avanços concretos verificados no enfrentamento da corrupção, que é tão antiga no Brasil quanto no resto do mundo, sendo que a diferença que marcou este governo foi o haver passado a investigá-la e revelá-la, ao invés de varrê-la para debaixo do tapete, como sempre se fez por aqui.

Peço a publicação.

Jorge Hage Sobrinho
Ministro-Chefe da Controladoria-Geral da União

Oito anos de PIG

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Confira o post aqui.

WikiLeaks sobre o Itamarati: traduzido

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Reproduzo abaixo uma tradução de documento da embaixada americana acerca da diplomacia brasileira, feita por um leitor do Nassif. É algo que os interessados em política externa devem estudar com atenção, porque desnuda a visão dos Estados Unidos sobre o Brasil e sobre o papel que eles acham que o Brasil deveria desempenhar no mundo.

Enviado por luisnassif, seg, 27/12/2010 - 08:22

Por Gustavo Adolfo de Medeiros

Nassif,

Virei a noite traduzindo o texto. Espero que o sono não tenha tornado a tradução ruim. Fiz o melhor que eu pude. Além disso, tradução é sempre um processo subjetivo, não existe tradução perfeita. Estou longe de ser um tradutor, mas espero que seja pelo menos uma tradução razoável.

C) Resumo. À medida que o Brasil cresce de importância no cenário internacional, seu Ministério das Relações Exteriores, popularmente conhecido como Itamaraty por conta do seu edifício-sede, está sob a influência de quatro personalidades poderosas cujas ideologias moldam as prioridades da política externa e interação com os Estados Unidos. Ao longo dos últimos seis anos, um esforço relativamente pragmático do presidente Lula para projetar o Brasil para um número cada vez maior de países, incluindo os EUA, tem sido implementado de maneiras diferentes pelos três principais atores da política externa do GOB: O nacionalista chanceler Celso Amorim, o antiamericano Secretário Geral (vice-ministro dos Negócios Estrangeiros), Samuel Pinheiro Guimarães, e o acadêmico esquerdista assessor da presidência para política externa, Marco Aurélio Garcia. Junto com o presidente Lula, os três têm direcionado o Ministério das Relações Exteriores de maneira pouco usual, sendo que, às vezes, em diferentes direções.
2.(C) A saída do vice-ministro Guimarães, em Novembro de 2009 e uma nova administração em janeiro de 2011 provavelmente modificará novamente a política externa, bem como as prioridades do governo brasileiro. À medida que procuramos ampliar e aprofundar nossa relação com o Itamaraty, a dinâmica ideológica do Itamaraty se tornará um parceiro, por vezes, frustrante. Mesmo assim, existe a oportunidade agora de avançar ao trabalhar com outras instituições brasileiras, e de influenciar as opiniões de um grande grupo de diplomatas jovens, mais pragmáticos, e mais globalmente orientados em acessão. O item 16 contém duas propostas do posto que estão sendo ativamente exploradas. (Nota: Este é o primeiro de três fios condutores a examinar as influências no Ministério das Relações Exteriores no Brasil. Um segundo relata sobre as tensões institucionais que afetam o Itamaraty. Um terceiro irá analisar a luta entre as agências que estão lentamente desgastando a primazia do Itamaraty na política externa; ver também os itens 13-14 nota final abaixo..) final do resumo.

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Presidente Lula: O esquerdista pragmático

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3. (C) O presidente Lula chegou ao poder em 2003, com pouca experiência em relações exteriores e com uma abordagem fortemente de esquerda para assuntos internacionais em que os países mais desenvolvidos se colocaram contra os países menos desenvolvidos no cenário mundial. Na prática, entretanto, Lula tem demonstrado um dom para personalizar a política externa através de contatos com líderes estrangeiros e uma propensão para assumir uma abordagem pragmática em vez de uma abordagem ideológica para trabalhar com os diversos países. Como resultado, Lula vem mudando significativamente a política externa do Brasil, o bom relacionamento com líderes de todo o espectro político ajudou a aumentar a influência e reputação brasileira, ao pavimentar o caminho para uma cooperação mais estreita entre o Brasil e um número crescente de atores globais, incluindo os Estados Unidos. Mas continua a haver uma dissociação considerável entre as ações de Lula e sua retórica, que muitas vezes transforma a relação Norte-Sul em "nós contra eles". Esta dissociação mantém o Itamaraty em situação crítica, e abriu as portas para que Amorim, Guimarães e Garcia de formulassem e implementassem a política externa do Brasil de diferentes maneiras.

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Os três Ministros de Relações Exteriores fazem diplomatas infelizes.

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4. (C) A maioria dos analistas concorda que Lula não é o principal arquiteto da visão de sua administração da política externa, nem o superintendente principal da sua aplicação. Neste sentido, os contatos quase que universalmente citar FM* Amorim, SG Guimarães, e assessor da presidência Garcia como tendo todos quase a mesma relevância no que se refere à influência deles na determinação de linhas gerais e dos objetivos da política externa do Brasil. Todos os três têm base ideológica na esquerda, mas cada um tem assumido um papel de liderança específica, abordando seus trabalhos com inclinações diferentes, relacionando-se de maneiras diferentes com o presidente Lula, e cada um recebendo apoio em bases diferentes também. Cada um tem seu nicho próprio de política externa: o comércio, relações com países desenvolvidos, questões multilaterais, África e Oriente Médio foram entregues a Amorim, as questões político-militares, relações com alguns países em desenvolvimento e o funcionamento interno do Ministério das Relações Exterior foram entregues a Guimarães, e a América do Sul e os países de esquerda na América Latina e em outros lugares foram entregues a Garcia. O efeito é uma visão bastante dispersa e a execução da política externa do Brasil pode levar à frustração em parte dos diplomatas brasileiros.

5. (C) Sempre que os interesses destes três assessores coincidem em seus pontos de vista, a direção do Brasil foi inequívoca: a integração regional prioridade política, o aprofundamento das relações com as economias emergentes (por exemplo, através dos fóruns dos BRICs e do IBAS - Índia, Brasil, África do Sul ), ampliando as relações sul-sul (por exemplo, através de Estados Árabes-América do Sul, América do Sul-África, América Latina e fóruns de largura), e maior diálogo com outras potências regionais (Irã, Venezuela, China, Coréia do Norte) enfatizando a sua posição como um amigo de ambos nos Estados Unidos e seus adversários. Nenhum dos três admite que haja qualquer interesse ou esforço para colocar as relações com a Europa e os Estados Unidos em um segundo plano, e pessoas em missões estrangeiras no Brasil parecem corroborar esta informação (ver septel). No entanto, há um debate crescente entre a elite da política externa não governamental no Brasil (refs A e B), e a substancial oposição do sector privado, quanto à sabedoria do que é amplamente reconhecido como um foco pesado sul-sul. Este debate expressa publicamente o desconforto que muitos diplomatas manifestam privadamente com relação ao direcionamento da política externa do Brasil sob comando do presidente Lula. Diplomatas nos contam que a inclinação esquerdista do governo resultou no "exílio", quer no exterior ou para alguma localidade nacional fora do Itamaraty (em universidades, por exemplo), o auto-exílio no exterior, ou a aposentadoria antecipada para os colegas mais antigos.

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FM Amorim: o nacionalista de esquerda

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6. (C) Na opinião dos ex-diplomatas sobre a política externa do governo Lula - e essa opinião é constante, pública e generalizada - o Ministro Celso Amorim é um diplomata de carreira respeitada mergulhada no nacionalismo tradicional do Itamaraty. Historicamente, este se manifestou em oposição aos Estados Unidos, e ainda é uma verdade inquestionável que, na América do Sul, o Itamaraty resiste quase sem exceção a iniciativas regionais envolvendo os Estados Unidos. Quando os Estados Unidos estão na mesa, do ponto de vista do Itamaraty, o Brasil não comanda. Isso explica por que o Itamaraty continua apático a respeito da Cúpula das Américas, rejeitou a cooperação conosco na América do Sul no que diz respeito aos biocombustíveis, e lançou uma série de iniciativas na América do Sul que não incluíam os Estados Unidos. Mais recentemente, em dezembro 2008 na cúpula da Bahia (refs C, D, E), incluindo a primeira reunião da América Latina e do Caribe de chefes de Estado e de Governo, representou um esforço do Brasil para ampliar o alcance de sua liderança (BRASÍLIA 00000177 003 de 005) na região, sem ter que exercer um papel secundário com relação aos EUA.

7. (C) No mais recente mandato de Amorim como chanceler, o nacionalismo do Itamaraty tem sofrido sutis mudanças. (Nota: Amorim também serviu de FM durante 18 meses no governo do presidente Itamar Franco, 1993-1994 e serviu como FM no governo Lula desde 2003 nota final...). Nos últimos anos, de maneira geral, a tendência, quase instintiva de antiamericanismo deu lugar a um crescente desejo de ter um assento entre os players globais em questões importantes no mundo para estar e ser percebido como sendo um igual em relação à Europa, China, Índia, Japão e Estados Unidos no cenário mundial (F ref). As manifestações mais notáveis dessa tendência foram o esforço renovado do Itamaraty para garantir um assento permanente no Conselho de Segurança, um papel construtivo e engajado nas negociações da OMC (sob pressão do setor privado no Brasil), o interesse em jogar papel importante no processo de paz no Médio Oriente e, mais recentemente engajamento ativo nas discussões sobre a crise financeira global. Comparado com o Guimarães e Garcia, as opiniões esquerdistas de Amorim tendem a manter o tradicional cuidado do Itamaraty para delicadezas diplomáticas e um respeito quase reverencial por reciprocidade e do multilateralismo. A recente decisão do Brasil de conceder status de refugiado a um terrorista italiano (ref G), por exemplo, foi claramente feito pelo ministro da Justiça, por razões ideológicas, e quase certamente sem o apoio de Amorim.

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Guimarães Secretário-Geral: o Anti-americanas de esquerda

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8. (C) Um ex-diplomata disse que PolCouns SG Guimarães, um diplomata de carreira que foi posto de lado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, deve a sua influência e independência ao Partido dos Trabalhadores (PT) por ter sido escolhido por esse em primeiro lugar para FM* depois que Lula foi eleito. Guimarães acreditou ele próprio não ser ratificável e sugeriu então Amorim, com ele próprio como Secretário-Geral - um movimento que o PT fez, mas que exigia o Congresso aprovar uma renúncia, pois Guimarães não tinha servido como embaixador, uma exigência legal para exercer o cargo. Junto com ligações familiares (filha de Guimarães é casada com o filho de Amorim), essa história pode explicar a sua autoridade descomunal e uma autonomia substancial.

9. (C) Guimarães é visceralmente antiamericano e “antiprimeiro mundo" em geral. Ele tem defendido posições extremas - por exemplo, que, para ser levada a sério no cenário mundial o Brasil precisa desenvolver armas nucleares - e, como o alto funcionário encarregado dos recursos humanos, ele elaborou uma lista de leitura obrigatória de livros antiamericanos que só recentemente foi atenuada. Ele foi acusado por ex-diplomatas de usar requisitos ideológicos para distribuir promoções. E ele é conhecido por ter saído de suas funções para provocar e parar as iniciativas dos EUA e países europeus em assuntos político-militares, que são geridas em grande parte fora de seu escritório, e as questões contra o crime / contra drogas (geridos por ele até o início deste ano, e ainda sujeitos à sua influência) permanecem duas das nossas áreas mais difíceis para a cooperação bilateral em A nível político, com iniciativas regularmente paralisadas ou frustrada pelo Itamaraty. Segundo diplomatas europeus e canadenses, nossos problemas com o Guimarães não são únicos, e eles estão aguardando ansiosamente o que estamos a sua aposentadoria compulsória em novembro de 2009, quando ele completa 70 anos.

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Assessor Garcia: o Académico de esquerda

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10. (C) Muitos contatos, incluindo mais recentemente o ministro da Defesa, Nelson Jobim (ref H), dizem-nos que Marco Aurélio Garcia é um dos mais próximos assessores do Presidente, desfrutando de uma (BRASÍLIA 00000177 004 de 005) longa relação pessoal com ele e exercendo uma influência desproporcional. Um membro do PT acadêmicos de esquerda e de longa data, Garcia defendeu relações mais estreitas com os governos de esquerda na região e fora dela, bem como a priorização das relações sul-sul. Quando conversa com americanos, ele tende a expressar uma visão negativa dos Estados Unidos com piadas bem-humoradas do passado ("Quando eu era jovem, nós costumávamos chamar a OEA Ministério das Colônias dos EUA", "Quando eu era jovem, a piada foi: 'Por que os Estados Unidos nunca tiveram um golpe de Estado? Porque eles não tem uma embaixada nos EUA!'"). No presente, ele assumiu a abordagem pragmática do presidente Lula para política externa, lidando com os Estados Unidos e outros países não-esquerdista, a fim de alcançar os objetivos de Lula. Com a chegada da nova Administração dos EUA, ele tem sido enfático em repassar profundo desejo de Lula de se reunir em breve com o presidente Obama.

11. (C) A influência de Garcia como assessor mais confiável de Lula para política externa permanece intacta, apesar das críticas duras da elite brasileira à política externa por ser demasiadamente "suave" com seus vizinhos, para o qual deu temporariamente poderes do Itamaraty para resolver a enxurrada de problemas entre Brasil e Bolívia, Equador, Paraguai e Argentina no final de 2008. Garcia mantém a liderança em contatos com os governos esquerdistas da América do Sul, e onde ele não é o autor destes contatos tais como Cuba, África do Sul, Irã e Rússia, ele é totalmente favorável e ativo na promoção dessas relações.

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Comentário: Prepare-se para o desafio ... e a Mudança

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12. (C) As forças ideológicas atualmente dominando Itamaraty demonstram que, no curto prazo, o Itamaraty continuará a representar um desafio para o envolvimento dos EUA em muitas questões. Pelo menos até o final do governo Lula, a tendência ideológica é de restrição pelos formuladores da política na cooperação em algumas áreas. Realização de iniciativas com o Brasil - e particularmente os desafetos dos principais formuladores de política estrangeira - continuará a exigir um investimento significativo de tempo, preparação estratégica, e o esforço para superar adversidades ideológicas, a inércia burocrática, e mais urgentes prioridades (ver também septels) .

13. (C) Em particular, embora o Itamaraty continuará a ser um jogador importante em quase todas as iniciativas e interesses dos EUA no Brasil, o caminho a seguir com o governo brasileiro vai ser, em grande medida, envolver o trabalho com outros jogadores importantes também. Em primeira instância, isto significa que a Presidência, como Lula fez seu claro interesse em desenvolver uma relação mais estreita com os Estados Unidos e Garcia, seu assessor mais próximo, é o mais confiável no sentido de refletir este ponto de vista. Em segundo lugar, isso significa trabalhar com outros ministérios e agências GOB que irão atuar como defensores de uma cooperação mais estreita. Finalmente, significa desenho no Congresso, o Judiciário, governadores, e os jogadores não-governamentais e do setor privado, em especial, que geralmente trabalham com o apoio dos Estados Unidos e têm a capacidade de influenciar decisões em favor de nossas iniciativas.

14. (C) construção de coalizões de apoio com outros jogadores brasileiros como uma forma de superar a oposição da MRE é uma estratégia testada: sobre a Conservação das Florestas Tropicais de troca de dívida Lei de termos visto reforçada, o nosso NAS LOA, aviação civil, a cooperação na defesa, cooperação em biocombustíveis, a partilha de informação, alterações climáticas, e uma série de outras questões, o desenvolvimento de iniciativas e trabalhar com outros jogadores através do Itamaraty foram elementos críticos para o nosso sucesso. Mais recentemente, excelentes relações com o Ministério da Justiça, (00000177 BRASILIA 005 de 005) com Polícia Federal, e com Presidência foram cruciais para a superação de última hora da recusa da MRE em emitir vistos para os agentes da DEA que se preparavam para se transferirem da Bolívia para o Brasil (ver septel). Esperamos obter a cooperação brasileira sobre as mudanças climáticas e a segurança energética do hemisfério também dependem fortemente no trabalho estreito de cooperação com outros “players” fora do Itamaraty.

15. (C) A longo prazo, à luz dos atuais esforços do governo brasileiro para regular a participação mais ampla no cenário mundial, esperamos que os principais responsáveis pela formulação política do Itamaraty continuem a expandir o leque de questões sobre as quais se sentem confortáveis trabalhando em conjunto com os países industrializados. Durante a próxima década, a geração mais velha de diplomatas, que definiram os seus interesses, muitas vezes, para a conquista do país como potência regional em oposição aos Estados Unidos, seja substituída por um grande grupo de jovens, mais pragmático, e com visão mais globalmente orientada. O reconhecimento de, pelo menos, alguns altos funcionários do Itamaraty é de que não foram preparados "americanistas", que pudessem compreender os Estados Unidos. Eles sugerem que poderá haver maior abertura a novas iniciativas neste domínio, especialmente após a saída de Samuel Guimarães em 2009. Abertura pode aumentar ainda mais em 2011 se o governo Lula for substituído por um com um conjunto menos ideológico de políticos.

16. (C) O Posto mostra que é fundamental influenciar a nova geração de diplomatas no Brasil, que geralmente encontram-se mais acessíveis e, mesmo que ainda fortemente nacionalistas, estejam mais dispostos a considerar uma cooperação em que os interesses norte-Brasil coincidem. Entre as novas possibilidades a curto prazo estamos explorando a possibilidade de estabelecer um programa mais regular dos oradores e conferências de vídeo digital com o Rio Branco para promover a colaboração entre os diplomatas em treinamento e os diplomatas dos EUA e outros interlocutores. Dependendo da forma como esta é recebida, podemos considerar a criação de um grupo “jovem de diplomatas” para permitir contato adicional e exposição com diplomatas dos EUA. O Posto também observou que os franceses instituíram um programa de intercâmbio diplomático com o Itamaraty, em 2008, semelhante ao nosso Clube Transatlântico diplomática, e agora tem um diplomata que trabalha em um departamento europeu do Itamaraty. Acreditamos que uma proposta semelhante seria uma maneira valiosa, não só para testar as águas para a cooperação e, se implementadas, tanto para obter mais conhecimentos sobre o funcionamento deste ministério-chave e dar a diplomatas brasileiros uma maior compreensão de como a USG executa a política externa. SOBEL

* FM significa Foreign Minister, ou ministro das relações exteriores.

Nota1: Traduzi “Post” como “posto” entendendo que seria um “posto diplomático”. Mas no texto, não ficou claro para mim o verdadeiro se o sentido da palavra é realmente este.

Nota2: Caso seja aceita a tradução. Ficarei feliz com contribuição para melhoria do texto traduzido.

Abraços,

Gustavo Adolfo de Medeiros

A Era Lula e o "Já Era" Lula

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Hesitei algumas semanas em publicar isso, porque tenho andado meio de saco cheio do papel que a mídia nos forçou a desempenhar por oito anos: essa eterna defesa do governo Lula. Mas hoje pensei melhor e acho que são documentos interessantes para a posteridade. Falo da Retrospectiva da Era Lula montada pelo jornal O Globo, onde se tenta desconstruir toda conquista, com textos de toda a trupe que frequenta cemitérios e festinhas mórbidas, como Miriam Leitão, Sardenberg, Marco Antônio Villa, e da resposta do Blog do Planalto. Acho que os dois documentos permitem uma visão bem elucidativa da relação mídia X governo dos últimos 8 anos.

Aqui, o documento do Globo.

Abaixo, as respostas do Blog do Planalto.

- Introdução: Resolvendo problemas seculares

- O eixo da mudança: a inclusão social é o motor do crescimento

- Entrando no trilho do conhecimento: da creche ao doutorado

- O paciente precisa melhorar, mas já respira sem aparelhos

- A liberação de recursos destravou e o Brasil voltou a ter obras de saneamento

- Mais crédito e mais famílias assentadas do que todos os outros governos juntos

- Porta de saída da miséria e de entrada na cidadania

- O caminho da paz, com justiça e cidadania

- Destravando as engrenagens do crescimento

- Reduzindo o custo Brasil

- Ninguém respeita quem não se respeita

- Recuperando a capacidade de orientar o desenvolvimento e servir a toda população

- Transportando gente e tecnologia na velocidade do futuro

26 de dezembro de 2010

A oposição e o quarto mandato

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Por Paulo Moreira Leite, na Época (via @stanleyburburinho).

A oposição começou mal a enfrentar o governo Dilma Rousseff — que sequer
tomou posse, aliás.

A atual idéia fixa da oposição é o retorno de Lula em 2014. O presidente admitiu essa hipótese de forma bastante vaga numa entrevista mas foi o suficiente para que comentaristas e porta-vozes da oposição acendessem uma luz vermelha, assumindo o tom de quem faz uma denúncia grave.

Essa postura é preocupante — do ponto de vista dos brasileiros que não gostam do PT, não votaram em Dilma nem querem a volta de Lula ao Planalto. É mais reveladora das fraquezas da oposição do que de excessivos apetites da situação.

Considerando que a lei autoriza que um presidente só dispute uma reeleição, mas nada diz sobre uma nova tentativa quatro anos mais tarde, não se compreende tamanho alvoroço em torno dessa possibilidade. Estamos falando de uma hipótese legal, que não pode ser encarada como uma espécie de ameaça a democracia.

O simples fato de Lula cogitar um eventual retorno à presidencia — coisa que nenhum outro presidente vivo poderia sequer sonhar em fazer — já é uma advertência para as dificuldades futuras dos oposicionistas. Ao lembrar essa hipótese de forma tão veemente, eles já demonstram o pouco apreço por seus possíveis candidatos, concorda?

A questão é política, porém.

Todos consideram a alternancia de partidos no poder como uma prática saudável das democracias mas ela não pode, obviamente, sobrepor-se a vontade popular. Quando o eleitorado manifesta, com toda clareza, sua vontade de manter um determinado partido no governo — ou enxotá-lo para casa na primeira oportunidade — a única atitute aceitável é respeitar essa decisão. Quem não foi vitorioso, tem a chance de preparar-se melhor para uma nova oportunidade no pleito seguinte.

A democracia americana é bastante rica neste aspecto. Entre 1933 e 1969, isto é, durante 36 anos, o Partido Democrática emplacou todos os presidentes dos Estados Unidos, com uma única excessão, Dwight Eisenhower, que governou o país por dois mandatos, entre 1953 e 1961. A conta é simples: entre 9 mandatos possíveis, os democratas ficaram com sete.

Como isso foi possível? A partir do New Deal de Franklin Roosevelt, que tirou o país da depressão e lançou as bases do Estado do bem-estar social nos Estados Unidos, formou-se uma maioria que unia trabalhadores e a classe média que os adversários republicanos tinham uma imensa dificuldade para combater. Os conservadores fizeram burradas memoráveis — como denunciar o New Deal como uma ponta-de-lança do comunismo — mas enfrentavam uma situação dificil, de qualquer modo, pois a população não parava de dar sinais de que estava satisfeita com os governantes. Os democratas ficaram com a Casa Branca por cinco eleições consecutivas.

Mesmo quando perdiam eleições presidenciais, venciam a disputa pelo Congresso, conservando boa parte de seu poder de influir nas decisões do país.

Ninguém deve nem precisa comparar o Brasil de Dilma Rousseff com os Estados Unidos daquele tempo. É outro país e outra conjuntura e muitas outras coisas.

Mas a oposição deveria acautelar-se. O simples gesto de levantar o fantasma do retorno de Lula lembra uma nova versão da estratégia adotada em 2007, quando o presidente iniciou o segundo mandato e a oposição começou o coro de que ele pretendia disputar um terceiro.

Pelo bem do país, e dela própria, a oposição faria um serviço melhor se procurasse encontrar razões para convencer o eleitorado a mudar de voto na próxima eleição. Concorda?

Um balanço dos melhores autores da década de 1980

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O teste do tempo – posteridade deve ser isto – é algo absolutamente fora do nosso controle. By the way: aguardemos em 2020 o inventário da geração de 90

Por Márcia Denser*, no Congresso em Foco.

O ano de 2010 marca o fim da década, logo balanços e listas se tornam inevitáveis. Pensando nisso, caiu a ficha: usando o critério crítico geracional (as gerações de autores se sucedem a cada 30 anos), em 2010 já se pode fazer uma avaliação da geração de escritores da década de 1980.

E na geração 70/80 (a minha) surgiram cerca duns 400 novos autores! Para se ter uma idéia, em 1976, só a Editora Ática (na época, investindo massivamente em ficção nacional; lembram as famosas capas do Elifas Andreatto?), na coleção Nosso Tempo, publicou cerca de 75 títulos de autores inéditos. E onde estão esses caras hoje?

Dos quatrocentos escritores emergentes daquela época, trezentos e setenta e cinco desapareceram por completo, porque hoje, trinta anos depois, só restam aí uns vinte e cinco, sem contar os poetas, os mortos ou ambos, tipo Leminski, Ana Cristina César...

Porque não se trata de fazer sucesso ou vender ou ganhar prêmios ou concursos ou bolsas ou petrobrases, não se trata nem de publicar muito, trata-se de escrever uma obra – pode ser apenas uma – realmente significativa, que faça diferença, que penetre o imaginário e se instale na memória profunda das gerações subsequentes. E esse critério inclui o equivalente inverso: o conjunto da obra é que se torna representativo. É o caso do escritor que publica constantemente e, pelo conjunto produzido, define um estilo, uma marca inconfundível.

Aliás, nessa categoria, de imediato posso citar três e todos gaúchos: Luís Fernando Veríssimo, Moacyr Scliar e João Gilberto Nöll – este menos prolífico, todavia, mais complexo, dum nível técnico-estilístico refinadíssimo.

Tal critério – a obra exemplar ou o conjunto de obras – consagrou nossos grandes escritores, claro, incluindo os gênios – o autor de várias obras fundamentais – a exemplo de Guimarães Rosa, Carlos Drummond de Andrade, Machado de Assis, Graciliano Ramos, Osman Lins, Lygia Fagundes Telles, Clarice Lispector, João Cabral de Melo Neto, Érico Veríssimo, Mário de Andrade, etc. Mas a propósito, e citando o próprio Mário de Andrade: Uma grande literatura nacional não é feita de gênios porque o gênio aparece em qualquer lugar, até no deserto de Gobi, uma grande literatura nacional é feita por muitos escritores médios.

Agora, voltando à geração de 70/ 80, pinçando só os prosadores, lá vão (por ordem alfabética): Antonio Torres, Caio Fernando Abreu, Deonísio da Silva, Domingos Pellegrini Jr., Hilda Hilst, Ignácio de Loyola Brandão, Ivan Ângelo, João Antonio, João Ubaldo Ribeiro, João Gilberto Nöll, João Silvério Trevisan, a primeira Lya Luft, Luiz Vilela, Luís Fernando Veríssimo, Márcia Denser, Marcio Souza, Moacyr Scliar, a primeira Marina Colasanti, Nélida Pinõn, Roberto Drummond, Rubem Fonseca, Raduan Nassar, Reinaldo Moraes, Roniwalter Jatobá, Sonia Coutinho, Silvio Fiorani, Sérgio Sant’Anna, Silviano Santiago, Tânia Faillace, Wander Piroli.

Taí, 30 escritores, digo, 25, porque cinco já estão mortos: Caio F., Hilda Hilst, João Antonio, Roberto Drummond e Wander Piroli.

Quero assinalar que esse critério não diz respeito à idade dos escritores, mas à época em que foram consagrados graças às suas obras, ou seja, as décadas de 1970 e 1980. Razão pela qual não incluí, por exemplo, Milton Hatoun ou Cristovão Tezza, uma vez que suas obras mais relevantes foram publicadas a partir de 1990.

O teste do tempo – posteridade deve ser isto – é algo absolutamente fora do nosso controle. By the way: aguardemos em 2020 o inventário da geração de 90.

Faz tempo, mas lembro de ter lido um artigo do José Castello onde este faz aquela defesa envergonhada de Lya Luft (se é que eu ainda sei ler no subtexto) "que só porque a coitadinha agora vende, dá-lhe inveja de quem não vende" e etc., nessa linha. Cruzes, Zé, não é que ela botou o título de "Ônus" num dos tais poemas que você defende com tanta galhardia?

A propósito, tudo isso me lembra DEMAIS o grande problema que Marcos Rey criou (e o amargurou nos últimos anos de vida, sei disso porque éramos amigos) ao vender milhões de livros infanto-juvenis e - duma forma que ele não previa - comprometendo seriamente a recepção da sua verdadeira literatura adulta, que havia dado títulos como O Enterro da cafetina, Traje a rigor, O pêndulo da noite, O bar dos cento e tantos dias, Mustang cor-de-sangue, Eu e meu fusca, etc. A verdadeira obra incorporada à tradição literária (mas que pouco vendia).

E hoje? Quem se lembra dos seus livros infanto-juvenis? (que pena, tão vendidos!) Um deles, se me lembro, chegou a cinco milhões de exemplares.

Pois é, Castello, é natural que você defenda “a letra morta” (deve ser esse o Ônus da Lya) posto precisar de defesa, é compreensível, porque “a palavra viva” tem valor e substância por si mesma, logo não há porque defendê-la, não é mesmo?

A palavra viva vence o tempo.


* A escritora paulistana Márcia Denser publicou, entre outros, Tango fantasma (1977), O animal dos motéis (1981), Exercícios para o pecado (1984), Diana caçadora (1986), A ponte das estrelas (1990), Toda prosa (2002 - Esgotado), Caim (Record, 2006), Toda prosa II - obra escolhida (Record, 2008). É traduzida na Holanda, Bulgária, Hungria, Estados Unidos, Alemanha, Suíça, Argentina e Espanha (catalão e galaico-português).

Mirisola e o politicamente incorreto

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(Mirisola é o primeiro à direita. No meio, temos o Bactéria, sebista-intelectual da Praça Roosevelt)

Essa história do politicamente correto ou incorreto ficou bem confusa. Parece que virou politicamente correto criticar o politicamente correto, mas de uma maneira polida, ou seja, politicamente correta. Os colunistas da Folha estão sempre a criticar o politicamente correto, por exemplo. Fazem-no, porém, como que segurando a xícara de café com o dedo mindinho pra fora. Não os culpo em demasia, eles cantam o que se lhes ordena cantar, em troca de um salário razoável e do afeto dos executivos do departamento de cultura do banco Itaú.

Eu também me irrito com o politicamente correto. Entendo, todavia, que há uma coisa chamada "respeito". Esse é o valor que eu prezo. Por outro lado, há uma outra coisa chamada literatura, que flerta com que há de pior, de mais bisonho e também mais engraçado, no ser humano. Há, por exemplo, a literatura semânticamente escandalosa e herética, mas sintaticamente sofisticada e agradável, de Marcelo Mirisola, romancista que escreve crônicas para o Congresso em Foco.

Segue abaixo a sua última crônica:

A parada gay e a marcha evangélica

“Sempre estive do lado das minorias, até que elas viravam maioria, e me acusavam de estar do outro lado. Sempre assim. Logo eu, o defensor das empregadinhas e das mulatas, fui acusado de racista”

Marcelo Mirisola*

Algumas crônicas publicadas aqui no Congresso em Foco me deram subsídios para escrever Charque, meu novo romance que será publicado pela editora Barcarolla em 2011.

Os mais ardorosos castos e os depravados mais ululantes decerto devem ter na lembrança a aproximação que fiz entre a parada gay e a marcha evangélica. Nem precisaria dizer, mas o que segue é o que eu penso, só que agora em forma de ficção. Virou ficção, virou Charque:

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Um trecho, capítulo 18:

(...) porque perdi a aventura e aquilo que Ednardo, Amelinha & Belchior chamariam de sal da vida. Fui me esvaziando, e isso aos poucos se refletiu na frequência da minha quitinete de marfim, na vida das pessoas que trocaram os paralelepípedos pela purpurina e o sangue derramado por k-suco light sabor uva.

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Uma massa colorida descia a Rua da Consolação, mais de 4 milhões de pessoas, incluindo donas de casa, padres pedófilos e escoteiros, negros e albinos, índios e canibais, mulheres & poodles & focas amestradas e – pasme! – bichas!

Todos eles escorrendo feito uma geléia colorida desde a Brigadeiro Luis Antonio até chegar na Igreja da Consolação, bem na frente da minha quitinete. Segundo estimativas da PM, eram 4 milhões de pessoas devidamente vigiadas por 2 mil homens, sendo que – segundo estimativas do organizadores da parada gay – 10% desse efetivo era composto de enrustidos que trocariam a farda por micro-tubinhos e alargariam as estimativas da PM e os seus respectivos esfíncteres na parada do próximo ano. Eis o quadro.

Porque tinha de tudo, para todos os gostos e modulações, inclusive uma espécie em extinção, a bicha louca de tempos idos. Nisso, uma melindrosa irrompeu no terraço da quitinete de um passado distante e improvável, metade desse ectoplasma era igualzinho ao Luis Fernando, meu primo, vindo diretamente de 1980, e a outra metade Salomé.

Luis Fernando, mais conhecido como Cu de Veludo, provavelmente havia se transformado numa bicha louca e velha. Porém somente 1/4 dessa metade Salomé e o outro quarto incorporaram na quitinete em forma de cu de veludo (versão anos oitenta). Os outros 2/4 do fantasma escorriam lá embaixo, junto à realidade do aqui e agora da massa colorida.

O viadinho sofreu muito no colégio, depois de todo esse tempo, ele, já um tiozinho chegado nos 40, devia – pensei – estar lá na parada junto às serpentes albinas e transgênicas, decerto engatado na trolha de algum crioulo, e se dando bem – para os parâmetros dele, sim, mesmo fantasma, muitíssimo bem.

Impressionante a roda viva, e a força dos trocadilhos. Vejam só. Apesar de tudo, e depois de todos esses anos, Luis Fernando finalmente poderia dar o cu que – segundo minhas estimativas – já não era mais aquele veludo dos anos oitenta, sossegado.

Quando o 1/4 Salomé interrompe meus pensamentos e assopra na minha nuca: “quem é enrabado por último é enrabado melhor”.

Ora, o que a melindrosa queria dizer com isso? A geléia colorida se aproximava da Igreja da Consolação; que papo era aquele? Pensei em chamar o gen. Custer ou até o coronel Erasmo Dias, tanto fazia, “alguém tem que tomar uma providência” – ouvia o velho Pascoal, meu avô que há dez anos sucumbira a um câncer de próstata pedir “providências!, providências!”. Enquanto isso, os sioux avançavam... Tínhamos que proteger o Forte Apache! A retaguarda! Cadê o Vigilante Rodoviário? A resposta veio em forma de Ronald Reagan dançando mambo com uma penca de bananas sobre a cabeça. Até você, Reagan? Maldito íncubo traidor!; onde estava o Rin Tin Tin? Amaral Neto, aonde? Só me restava pedir o auxilio da Sétima Cavalaria: os sioux do Village People invadiriam nosso forte apache, cadê você John Wayne?

E a família, a tradição e a propriedade?
– Olha o John Wayne lá, querido.
– Onde?
– Ali – apontou Salomé: – beijando o Batman na boca.

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Fernandinho Cu de Veludo, lindinho, lindinho perdido nos 80s. Também conhecido como Boy George de Pirituba. No intervalo das aulas, lembro, eu era o único cara que conversava com ele na lanchonete. Os animais que estudavam comigo até me tiravam de fanchona. Só porque eu ia conversar com o cara. Pela memória de Jece Valadão, ela era meu primo! Ou prima, sei lá. Sempre estive do lado das minorias, até que elas viravam maioria, e me acusavam de estar do outro lado. Sempre assim. Logo eu, o defensor das empregadinhas e das mulatas, fui acusado de racista. Logo eu, que sempre respeitei o rabo de veludo do Luis Fernando, me acusaram de homofóbico; pensava nisso tudo vendo aquela multidão de 4 milhões de pessoas em ação (quer dizer: mais ou menos 2 milhões em ação, na ativa, e a outra metade na passiva, incluindo, não necessariamente nessa ordem, os padres e os poodles); pra frente Brasil, salve a seleção e salvem os cercadinhos: tudo sob controle e organizado; e eu lá, do alto da quitinete de marfim, me sentindo ultrapassado porque não era viado nem era o negro que enrabava o ex-cu de veludo do Luis Fernando, indagava de mim para mim mesmo: de que merda me serviu o livre arbítrio? E se eu não quiser ser viado?
– Quem tem livre arbítrio é urubu que nasce branco – diria o Furio Lonza (mas essa é outra história...).
Enfim, não sei como, mas praticamente esmagado pelas lembranças e assombrações dos anos oitenta, e quase surdo com o barulho do bate-estaca dos carros de som e da multidão de viados que iria se dispersar na frente da Igreja da Consolação, eu ainda consegui associar o livre arbítrio do urubu do Furio com as palavras de Bakunin la desordre c’est l’ordre moins le pouvoir *; e, a partir daí, fiz umas contas modestas e cheguei à seguinte conclusão:

Um por cento dessa viadada que “enlouquecia” na frente da Igreja da Consolação seria mais do que o suficiente para fazer uma tempestade em Brasília. Imaginei 30 mil drag queens realizando a última etapa da arquitetura de Niemeyer, varrendo aquela merda do mapa.

* A desordem é a ordem, menos o poder

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Um dia antes, no Campo de Marte, outros 3 ou 4 milhões – segundo estimativas da PM – de neo-evangélicos (e enrustidos) em transe se reuniriam na Marcha para Jesus. Ou seja, outra multidão, igualmente organizada e pacífica, atrás de uma mentira brega contada aos guinchos e latidos. O diabo, nos 00, não era mais aquele que trazia o épico e o deserto consigo, conhecem essa história?

Numa sessão de exorcismo, no momento em que o Rituale Romanum previa a interrogação do demônio à pergunta sobre qual era seu nome, o até então “indigitado” afirmou chamar-se Sahaar e provir do deserto. O exorcista o mandou de volta para o lugar de onde veio. Ao que o demônio retrucou prontamente: “Eu carrego o deserto”. Além da retórica, sentiram a responsabilidade e a contundência poética dessa resposta: “Eu carrego o deserto”?

Voltando. Do alto da minha quitinete de marfim, cheguei a outra conclusão, um tanto óbvia. O nome do demônio – cazzo! – sempre foi legião. São exércitos. Não só de pastores. Uma legião de sertanejos, de Ivetes para jogar as mãozinhas para o alto e rebater água benta com axé e Faustão em domingos enfadonhos e eternos. Num dia, o pé quebrado está lá na parada dos viados, no outro na parada dos neo-evangélicos. Se antes ele carregava o deserto, hoje carrega o equipamento de som da banda Calypso. Brega, chapeludo, sertanejo ou disfarçado de drag queen.

E o pior de tudo, disciplinado. Eu pensava: 4 milhões de viados + 4 milhões de neo-evangélicos (segundo estimativas da PM...) = Nenhum cadáver. Nenhuma agência de banco depredada. Como é que pode?
O que me incomodava – nada mudou, as coisas somente iriam piorar – era a retórica infantil. De um lado, o tatibitate teológico. Do outro, o politicamente correto. Uma simplicidade e uma truculência que – para dizer o mínimo – metiam/metem medo e prometiam/prometem um futuro sombrio ou colorido, dependendo do ponto de vista.

No Campo de Marte, um espetáculo de puro horror e cafonice. Muito triste ver aquela gente travada e sofrida oferecendo-se à “glorificação do Senhor Jesus”. As tias de cabelos compridos e ensebados, vestidas com as burcas que compraram na C&A, ofereciam suas almas ensebadas para um acuado “Senhor Jesus”, ele mesmo, há dois mil e dez anos crucificado para salvar os homens e agora refém da histeria horripilante do povo de Deus. Ao contrário de uma celebração no candomblé – fiz meus cálculos –, onde o humano e o sobrenatural se entrelaçam numa mistura de lubricidade e alegria, faltava – principalmente – beleza pra’queles jagunços entregarem suas alminhas, tanto fazia se iriam entregá-las pro senhor capeta ou pro “senhor Jesus”.

Além da feiúra, faltava tesão, faltava calcinha vermelha. Exatamente aquilo que sobraria ou seria desperdiçado pela bicharada um dia depois, na Av. Paulista. Ambos, o bem e o mal (?) nos seus respectivos escaninhos, e sob controle.

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Tenham todos um feliz Natal e um ótimo 2011. Tô cansado, e entro de férias. Pretendo torrar o adiantamento milionário que recebi da editora Barcarolla em Las Vegas. Volto somente no final de janeiro.
Abraços,
MM

* Mirisola é autor de Proibidão (Editora Demônio Negro), O herói devolvido, Bangalô e O azul do filho morto (os três pela Editora 34) e Joana a contragosto (Record), entre outros.

25 de dezembro de 2010

Alê Porto: PT em demasia no ministério

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Reproduzo abaixo uma excelente análise feita pelo blogueiro Alexandre Porto sobre a montagem do ministério da Dilma. Eu concordo com ele em parte. O excesso que ele atribui ao peso do PT no ministério, para mim, contudo, foi estratégia calculada, para poder ir cedendo aos poucos ao longo da gestão. É a maneira encontrada para ter "crédito" junto aos partidos, de maneira a articular de maneira mais eficaz, gradualmente, com o Congresso já renovado de 2011. Cedendo tudo agora, o governo não teria mais com que negociar lá na frente.

Quinta-feira, 23 de Dezembro de 2010 - 14:19
A equipe de Dilma, finalmente montada

Por Alexandre Porto, no blog do Alê

Enfim, a equipe que Dilma levará para seu governo já está formada, a novela acabou. Como era de se esperar está sendo alvo de críticas da imprensa e até na própria base aliada. Por sinal hoje li no editorial da Folha de S. Paulo que o ministério atende ao fisiologismo dos e ao mesmo tempo desagrada os partidos. Afirmações que carregam certo ar de contradição. Se as escolhas desagradaram alguns partidos, significa que Dilma soube resistir pelo menos em parte aos interesses meramente partidários.

Eu mesmo tenho algumas críticas. Considero politicamente desequilibrado, com peso demasiado ao PT e pouco atendimento aos pleitos do PSB, partido que desde 1989 se coloca ao lado do PT no plano nacional. Gostaria de ver Ciro Gomes no primeiro escalão, numa pasta de peso. Acredito que se Dilma dessa mais poder ao chamado Bloquinho (formado informalmente desde 2007 por PSB, PCdoB, PDT e PR), poderia contrapor a influência do PMDB no governo. No varejo lamento algumas indicações justamente do PMDB, que escolheu nomes de pouca expressão política, além de outros incluídos apenas para satisfazer a partilha entre tendências internas do PT. Comemorei especialmente a escolha de Maria Lúcia Falcon para o ministério do Desenvolvimento Agrário, mas acabou sendo trocada por um deputado da Democracia Socialista (DS)



O ministério está longe de ser unanimidade e é bom que não seja. Nomes aqui ou ali desagradaram diferentes setores da sociedade, inclusive na relação regional. Amigos cariocas reclamam de Moreira Franco, nordestinos de Pedro Novais, nortistas de Alfredo Nascimento. Todos temos nossas preferências pessoais, mas devemos entender o ministério como um todo, levando em conta os compromissos políticos-eleitorais assumidos em campanha.

Mas algumas críticas são injustas.

Ministério indicado por Lula? Ora, eu prefiro questionar se o ministério de Lula não era uma indicação de Dilma, já que ela era a verdadeira gerente do trabalho dos ministros. É um governo de continuidade e ninguém melhor que Dilma para avaliar quem está comprometido com a sua agenda administrativa. E esse talvez seja a maior qualidade dessa equipe, principalmente nos postos chaves, do chamado Núcleo Duro e das áreas econômica e social, nos quais ela teve total autonomia de escolha. Trata-se de uma equipe afinada, com experiência administrativa e respaldo nos setores da sociedade.

Muitos petistas não gostam de Antônio Palocci, principalmente por sua passagem supostamente 'neoliberal' na pasta da Fazenda. Eu discordo, mas ainda devemos considerar que ele não terá controle da economia. A Casa Civil com Dilma assume tarefas que se encaixam perfeitamente ao perfil de Palocci. Por outro lado, os nomes escolhidos para equipe econômica mostram uma unidade não vista com Lula. Na área Social, Alexandre Padilha na Saúde, Fernando Haddad na Educação e Tereza Campelo no Desenvolvimento Social, garantem a continuidade e os avanços que já estão na agenda.

Alguns jornais, por exemplo, lamentam a ausência das 'estrelas' que Lula se viu tentado a escolher em 2003. Mas lá, o presidente precisava dar sinais ao mercado de que comandaria o país com responsabilidade. Hoje, oito anos depois, essa garantia é desnecessária. O que Dilma precisa é ter ministros politicamente apoiados, que montem equipes tecnicamente competentes e comprometidas com a gestão progressista. Pra mim importa menos se o ministro de Minas e Energia é Edson Lobão e mais se nas estatais e autarquias serão mantidos os técnicos que estão lá desde que Dilma comandou a pasta. Podemos não gostar da figura política, mas não podemos negar que Lobão tem experiência administrativa e no caso dele, garante apoio que Dilma precisa.

Tenho especiais expectativas com Aloízio Mercadante na Ciência e Tecnologia, Tereza Campello no MDS, Fernando Pimentel na Indústria e Comércio, Paulo Bernardo nas Comunicações e Izabella Teixeira no Meio Ambiente. São áreas que recebem ministros com perfis diferentes dos que estavam no final do mandato de Lula. Sinceramente aprovo todas essas escolhas entendendo que darão um novo gás a pastas que já avançaram muito.

Ao contrário do que se tenta vender, Dilma montou, com algumas exceções, um ministério com a sua cara, com seus amigos, seus companheiros de governo e uma agenda pronta para avançar. Não é o ministério nem dos meus sonhos, nem da oposição e muito menos da imprensa. Ainda bem, nós não fomos eleitos.

24 de dezembro de 2010

Wikileaks: Casa Branca financia blogueiros de Cuba

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Reproduzo abaixo texto do blog Esquerdopata.

Blogueiros e tuiteiros "dissidentes" de Cuba são financiados pela Casa Branca
Se Yoani Sanchez e colegas fossem americanos e fizessem exatamente a mesma coisa para outro país nos EUA seriam presos e provavelmente fuzilados. Em Cuba continuam livres e posando de vítimas para a mídia internacional com os bolsos cheios de dólares. Não há um país no mundo onde esse comportamento não renda prisão perpétua ou execução.


Pobre vítima da opressão...

Documentos revelam encontro entre blogueiros cubanos dissidentes e a diplomacia norte-americana

OperaLeaks

Daniella Cambaúva – Redação

Mensagens secretas enviadas pelo chefe do Escritório de Interesses dos Estados Unidos em Havana, Jonathan Farrar, ao Departamento de Estado e divulgadas pelo Wikileaks descrevem o encontro entre a subsecretária de Estado adjunta para a América Latina, Bisa Williams, e dissidentes cubanos.

Durante uma visita feita a Havana, em setembro de 2009, cujo objetivo era dialogar sobre o restabelecimento de correspondência direta entre Cuba e os EUA, a norte-americana – a funcionária de mais alto nível que visitou Cuba em décadas – se reuniu com blogueiros oposicionistas do regime cubano, entre eles, a sensação internacional Yoani Sanchez.

O informe foi enviado em 25 de setembro de 2009 e divulgado no domingo (19/12). Ao referir-se ao encontro que a funcionária teve com os blogueiros, Farrar escreveu: “Os blogueiros que, em parte por sua própria preservação, não querem estar agrupados com a comunidade dissidente, estavam igualmente otimistas com o curso dos acontecimentos.”

De acordo com os vazamentos, o chefe do Escritório de Interesses em Havana assegurou que “é a nova geração de ‘dissidentes não tradicionais’, como [a blogueira] Yoani Sanchez, poderia ter impacto de longo prazo na Cuba pós-Fidel Castro”.

Na reunião, Yoani defendeu a aproximação com os EUA para mudar a política da ilha. “Uma melhora das relações dos EUA é absolutamente necessária para que surja a democracia aqui”, disse a blogueira dissidente.
No encontro, foi destacado um pedido feito por Yoani: o fim da restrição a compras feitas pela internet. “As restrições só nos prejudicam”, disse a cubana. “Sabe o quanto poderíamos fazer se pudéssemos usar o Pay Pal ou comprar produtos on-line com um cartão de crédito?”sugeriu ela à Bisa.

Segundo documentos públicos do Senado norte-americano, a maior parte dos fundos públicos destinados a promover a mudança de governo em Cuba é enviada aos blogueiros e tuiteiros. São mais de cinco milhões de dólares por ano, informou o site cubano Cuba Debate.

Em outro despacho, datado de 27 de novembro de 2006, o ex-chefe do Escritório de Interesses, Michel E. Parmly, descreve uma reunião de funcionários da sede diplomática com “jovens ativistas pela democracia”, realizada “no quintal da residência de um diplomata norte-americano em Havana”.

Parmly escreveu que esperava que as autoridades cubanas reagissem a esse encontro “carimbando os jovens líderes como agentes do governo dos EUA… [Nós] estaremos trabalhando da mesma maneira que o governo cubano para incentivar as ações em outra direção, mais concretamente, articulando um maior e melhor trabalho na rede com os estudantes universitários que se opõem ao regime.”

Em 1º de junho de 2010, um despacho enviado pelo representante máximo da diplomacia norte-americana na ilha, Johnatan Farrar, dedica um trecho de seu informe à Yoani Sanchez e à atenção dispensada pelo governo dos EUA:

“O pensamento convencional em Havana é que o governo de Cuba vê os blogueiros como seu mais sério desafio, que tem dificuldades para conter como fez com os grupos tradicionais de oposição. Os dissidentes da ‘velha guarda’ estão bastante isolados do resto da ilha. O governo de Cuba não presta muita atenção a seus artigos e manifestos, porque não têm ressonância nacional e possuem um peso muito limitado internacionalmente”.

Blog da Dilma vence o Top-Blog 2010

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(Via Blog do Miro)

O Blog da Dilma, que teve papel de destaque na batalha presidencial, foi o vencedor na categoria política pelo Júri Popular e segundo colocado pelo Juri Acadêmico do Top-Blog 2010. Na foto, Celso Jardim, um de seus editores, recebe o merecido prêmio. Reproduzo abaixo artigo de Jussara Seixas, editora do Blog da Dilma:

O blog da Dilma foi criado em novembro de 2008 pelo meu amigo Daniel, que me convidou para ser uma das editoras. Era para ser mais um blog a se contrapor ao PIG e aos blogs da oposição. Pelo fato de se chamar ”Blog da Dilma”, cujo nome estava sendo cogitado pelo presidente Lula para sucedê-lo, causou imenso furor na mídia escrita e televisiva do PIG.

Existiam vários blogs da oposição enaltecendo seu candidato, o eterno candidato Serra, e o nosso blog incomodou. O Blog da Dilma virou manchete, a imprensa queria entrevistar com os editores do blog da Dilma, queria saber se éramos filiados ao PT, se estávamos sendo pagos para publicar o blog… Fomos matéria até em jornais internacionais. De norte a sul do Brasil, o Blog da Dilma virou notícia.

Apesar do nome do blog, os editores escreviam sobre os mais diversos temas políticos da cena nacional e internacional. A oposição apelou até para o Judiciário, tentando bloquear o Blog da Dilma e processar seus editores. Mas o TSE entendeu que não estávamos fazendo propaganda antecipada e muito menos pedindo votos para a nossa candidata. Graças também a todo esse frisson do PIG, o blog teve acessos recordes, ficou conhecido em toda parte.

Nós, os editores do Blog da Dilma, devemos até agradecer ao PIG pela imensa divulgação. Graças à popularidade que alcançamos, em 2009 o Daniel inscreveu o Blog da Dilma no TopBlog para concorrer a alguma premiação. Fomos vencedores na categoria júri popular TOP1. Em 2010, o Daniel inscreveu o blog na categoria política. Fomos novamente vencedores na categoria Blog Político pelo júri popular e ficamos em segundo lugar pelo júri acadêmico.

O nosso amigo Celso Jardim, um dos editores do blog, representou o Blog da Dilma com galhardia e recebeu as premiações. Nós, os editores do Blog da Dilma, estamos muito contentes. Foi o reconhecimento de um trabalho feito com coração e razão, com sinceridade, honestidade e seriedade. Nunca fomos pautados pelo governo, pelo presidente Lula, pela presidente Dilma, pelo PT, pela campanha eleitoral oficial. Nunca fomos orientados por nenhum político.

Fizemos várias entrevistas com personalidades políticas, estudantes, jornalistas, blogueiros e pessoas comuns, gente como a gente. O blog sempre deu espaço para vários colaboradores e todos os leitores. Sempre fizemos questão de publicar textos de outros blogs dando sempre o devido crédito, criando espaço para outros blogueiros. Essa premiação é de todos que estiveram ao nosso lado, de todos que dedicaram horas de seu descanso, de seu lazer, para contribuir de alguma forma com textos, noticias, charges, banners. Parabéns a todos, a vitória é todos!

O Redentor esboça um sorriso

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Segue abaixo artigo meu publicado pela Revista Forum deste mês:

Facções do crime organizado que cresceram à sombra do cenário de exclusão social no Rio de Janeiro sofreram um duro golpe. Mas ainda há muito por fazer.

Por Miguel do Rosário

“Se houver tristeza, que seja bonita”, dizia Candeias, um sambista que – assim como tantos outros – conseguiu extrair do ambiente miserável das favelas cariocas uma poesia de alcance universal, capaz de atingir a massa, a intelectualidade, e se tornar um dos símbolos mais representativos da cultura brasileira. Mas foi-se o tempo em que a classe média subia os morros para conhecer o berço do samba. Nem os bailes funks, moda entre a juventude no final dos anos 90, atraem mais a burguesia cult da zona sul. Em tempos de globalização e interatividade, muitas favelas seguiram o caminho inverso e fecharam-se em si mesmas, tristes, abandonadas, violentas. Continuaram crescendo, no entanto, silenciosamente, rapidamente, aproveitando-se da generosidade verde das intermináveis encostas de uma cidade coalhada de montanhas.

A tristeza da favela deixou de ser bonita (se é que foi algum dia). Com a abertura política e a volta da liberdade de imprensa pode-se conhecer o que havia acontecido durante os anos negros da ditadura: o município havia deixado crescer, sob suas barbas, imensas comunidades totalmente desprovidas dos serviços mais básicos. Há favelas no Rio desde o final do século XIX, mas é a partir dos anos 1970 que elas ganham a dimensão monstruosa que têm hoje.

Nesse ambiente caótico e sem esperança, aterrissa na favela, como que de paraquedas, a economia da droga. O resto da história é conhecido. A quantidade enorme de dinheiro que passou a circular no coração das comunidades mais carentes do Rio, impactando profundamente o imaginário do jovem favelado. Uma geração inteira cresceu venerando as lideranças do crime.

Continue a ler no site da revista.