O caso é extremamente grave. A Folha noticiou que Serra, com aval do PSDB, negociou secretamente com petroleiras americanas a volta do antigo sistema de concessão, pelo qual as empresas, após uma licitação, tornam-se "donas" da jazida de petróleo, pagando apenas os royalties para o Brasil.
Ora, isso seria absurdo para o pré-sal, porque as companhias americanas privilegiariam a entrega para consumidores estadunidenses, expondo o Brasil ao risco de, mesmo possuindo enormes jazidas, sofrer com a falta de abastecimento.
De qualquer forma, a informação, vazada pelo Wikileaks, comprova o que já sabíamos sobre Serra: ele representava interesses obscuros, estrangeiros, articulados sempre nos bastidores.
Há um outro fator curioso: apenas a Folha publicou. A notícia não apareceu em mais lugar nenhum. E no dia seguinte (hoje), a Folha silencia sobre o assunto. Ninguém obteve declaração do tucano sobre o caso. Não apereceu sequer nenhum líder do PSDB para explicar a posição de Serra.
O que está acontecendo?
Serra não deve explicações à sociedade brasileira?
Quer dizer que ele iria mudar, arbitraria e truculentamente, uma legislação costurada a duras penas no Congresso Nacional? Tudo para beneficiar petroleiras dos Estados Unidos?
Entende-se perfeitamente que as petroleiras queiram mudar as regras para o pré-sal. Pelas regras antigas, teriam lucros mais seguros e maiores.
Agora, para um homem que andou se gabando de "ser muito mais de esquerda do que Lula", afirmação essa também repetida por Roberto Freire, deputado federal (PPS-SP), os vazamentos do wikileaks caíram qual bombas de fragmentação!
Entretanto o mais curioso, a meu ver, é o silêncio sepulcral na grande mídia sobre o tema. Mesmo a Folha, que deu a notícia, não volta a mencioná-la no dia seguinte. Ativou-se solenemente uma mamutiana operação abafa. Ontem a Folha ainda fingiu ter procurado o ex-candidato para explicar as notas vazadas pelo Wikileaks sobre uma conversa secreta entre Serra e representantes de empresas americanas de petróleo; não o encontrou.
Nessa terça-feira, Serra apareceu somente na Folha Online, depois de (provavelmente) analisar o assunto junto a seus consultores politicos. E negou tudo:
Procurado pela Folha, José Serra negou ter feito as afirmações a ele atribuídas no telegrama. "Nunca recebi empresas individualmente, portanto, não recebi esta representante [Patricia Pradal, diretora da petroleira Chevron]", disse ele, por meio de sua assessoria. "Não falei isso porque não faz sentido, alguém vendeu 'mercadoria falsa'.
O modelo que vigorava naquela época era o modelo anterior. Isso [o teor do telegrama] não faz sentido. Além disso, o relato não corresponde ao meu modo de falar. É um estilo que não é o meu".
A não citação ao nome de Serra, no Globo, mostra também que o Wikileaks errou ao estabelecer relação de confiança com alguns grandes jornais. Eles não são confiáveis. O acordo era publicar a matéria sempre com a presença dos documentos originais, o que não foi feito.
O tucano vendeu informação privilegiada às empresas americanas do setor de petróleo. A informação era: se eu ganhar, entrego o petróleo a vocês. Segundo Patrícia Padral, chefe de relações com governos da Chevron, o candidato José Serra era contra a nova lei do pré-sal (a lei que dá ao povo brasileiro o controle absoluto do petróleo), mas "não demonstrava senso de urgência", porque entendia que seria possível revertê-la após a sua vitória nas eleições presidenciais.
“Deixa esses caras (do PT) fazerem o que eles quiserem. As rodadas de licitações não vão acontecer, e aí nós vamos mostrar a todos que o modelo antigo funcionava… E nós mudaremos de volta”, teria dito o pré-candidato, segundo matéria escrita por Natalia Viana, repórter do Wikileaks no Brasil. Serra fez a afirmação para executivos da Chevron, o que levanta a suspeita de que o PSDB pode ter obtido recursos para sua campanha em troca de promessas de mudar a lei do pré-sal.
A negação de Serra à existência da conversa mostra que ele sabe o estrago político que isso pode causar em sua carreira e ao PSDB. No entanto, ele vai ter que se esforçar mais do que negar. Existem documentos que provam, não creio que o embaixador americano ou uma alta executiva da Chevron inventariam uma coisa assim.
PS: O título do post é um paráfrase de uma peça do Bortolotto, Minha vida não cabe num Chevrolet.