6 de dezembro de 2010
Goebbels, Gois e o mensalão
Essa nota, publicada hoje na coluna de Ancelmo Gois, revela que a tese do mensalão se tornou uma espécie de dogma para a midiazona. Não pode ser contestada. Repare bem que ninguém, muito menos Lula, negou os malfeitos. O que Lula e muitas outras pessoas extremamente sérias, como o jornalista Mino Carta, questionam, é se houve de fato ou não pagamento de propina a parlamentares para que votassem a favor do governo. Isso é o mensalão. Se o caso se limitou a caixa 2, então não houve mensalão. É claro que os acordos eleitorais entre partidos, que implicam em ajuda mútua nos gastos de campanha, resultam em maior convergência nas votações, mas isso faz parte do processo político.
A lembrança de Goebbels, feita por Gois, é pertinente, mas para a mídia, que continuamente usa a tática de repetir ad nauseam uma tese para que ela se consolide como verdade absoluta. Até hoje, não houve um deputado, e olhe que a mídia o transformaria em herói nacional, que tenha admitido que recebeu suborno ou proposta de suborno, para votar de tal ou qual forma. Bem diferente do que vimos na gestão FHC, em que mais de um parlamentar afirmou (há gravações disso) ter recebido grana para votar em favor da reeleição. Se uns confessaram, quantos outros não teriam também recebido? E eles confessaram não por serem "bonzinhos", mas porque não sabiam que a conversa estava sendo gravada...
Voltando ao "mensalão" do PT, houve a acusação do Procurador Geral da República, num documento em que se nota a influência da atmosfera pesadíssima que se criou naquele momento: não fosse isso, talvez ele não usasse a expressão "quadrilha criminosa", até hoje repetida quase que diariamente pela mídia de oposição para desgastar o governo. Durante o processo no Supremo Tribunal Federal (STF), um dos ministros afirmou (sem saber que o ouviam) que eles haviam julgado com a "corda no pescoço".
Os defensores da tese mensaleira recusam o debate. Lembro que alguns blogueiros que mais martelavam o caso, e que, não por coincidência, foram contratados para trabalhar na campanha de Serra, exercitaram todo o tipo de sofismas para constranger quem ousasse pôr em dúvida o mensalão.
Caixa 2 é crime, mas de longe tem a gravidade de comprar a consciência dos parlamentares. A tese do mensalão tem sido cada vez mais contestada, e já antevemos a tremenda guerra de mídia no ano que vem, quando o caso for a julgamento. Os jornais botarão novamente a faca no pescoço dos juízes. Há um clima inclusive de ameaça, que exigirá coragem e independência dos ministros do STF.
A tese do mensalão nunca foi provada. O Congresso Nacional tem 513 deputados federais. Como o governo esperaria ganhar uma votação subornando meia dúzia de parlamentares? Não tem sentido. Faz menos sentido ainda subornar parlamentares da própria legenda, que já são fiéis. O absurdo da tese se torna completo quando pensamos propriamente nas votações realizadas nos primeiros dois anos de governo, ou seja, no período em que, em tese, teriam ocorrido os crimes. Pela lógica, um grupo no poder só apelaria ao recurso desesperado de subornar deputados se estivesse extremamente fragilizado e a ponto de ser derrubado. Não era o caso. O governo Lula era forte e muito bem avaliado. Outra situação seria o desejo de ampliar o poder, ou seja, aprovar alguma mudança constitucional para ampliar o mandato do governante ou possibilitar outra reeleição. Também não era o caso. As grandes votações naqueles dois primeiros anos tiveram cunho conservador, como a reforma da previdência, pivô de dolorosas dissidências na própria esquerda. Não teria sentido gastar mensalão com isso.
Além disso, sequer houve pagamentos mensais a ninguém. Os envolvidos receberam boladas em dinheiro de uma vez só, de maneira que até o vocábulo "mensalão", que deveria corresponder a uma "mesada", também carece de sentido.
Reitero: quem é o Goebbels?
Durante o processo do mensalão, houve um ataque midiático de proporções colossais. O Globo produzia toda espécie de infográficos, quadrinhos, humor negro, editoriais, reportagens ultradetalhistas. O blog do Noblat, na época hospedado no portal do Estadão, reproduzia editoriais e matérias antigoverno madrugada adentro, esquecendo por um momento qualquer escrúpulo quanto a direitos autorais.
Por fim, a estratégia principal: associar qualquer irregularidade ou corrupção, mesmo que no escalão mais baixo do PT, mesmo que não tivesse nada a ver com o caso mensalão em si, como integrando um grande complô do mal para roubar a nação, produzindo uma atmosfera de conspiração, ódio e desconfiança somente comparável aos meses que antecederam o golpe de 1964.
E hoje, quando o governo recuperou seu prestígio, cicatrizadas as feridas, o presidente Lula declara que, após o fim de seu mandato, irá pesquisar ele mesmo o que de fato aconteceu, a mídia reage com temor e novas agressões, comparando Lula ao mestre da propaganda nazista.
Na verdade já temos várias pistas, mas a mídia teme que a sociedade descubra que foi deliberadamente enganada. Por exemplo, sabe-se que o banqueiro Daniel Dantas forneceu boa parte dos recursos que irrigaram as contas de Marcos Valério. Isso sim é estranho. Em vez de citar Goebbels - e já ficou famosa a tese de que falar em nazismo se tornou recurso desesperado de quem perde um debate -, o coleguinha Ancelmo poderia discorrer mais sobre isso, não?
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