13 de dezembro de 2010

Publicidade, esquerdismo e outras firulas



(Luis Felipe Noé, pintor argentino, em exposição no MAM-RJ)


Vocês viram que eu enchi o blog de anúncio. Há uns anos eu já tinha feito isso. Depois vi que não dava nada e tirei tudo. Bem, afirmo a vocês que a receita auferida ainda é ridícula. O adsense do Google dá alguns alguns centavos por dia, e com sorte, alguns dólares. Eu deixo porque estou para receber um cheque de 100 dólares, quantia mínima. Depois disso, vou repensar se continuo dando dinheiro para um bilionário americano.

As comissões do Google pagas nos EUA são duas ou três vezes mais altas do que no Brasil...

Introduzi então dois sites de afiliados, o Submarino e o Afilia.com, esse último descobri no Conversa Afiada. No Submarino, ganha-se uma merreca tão colossalmente insignificante que também estou repensando a parceria. Vou esperar passar o Natal.

O Afilia é novo, estou testando. Ele parece ser mais interessante porque agrega várias empresas, inclusive uma estatal, a Caixa.

Por falar em Caixa, já mandei email para a Secom pedindo informações sobre publicidade oficial.

Esses anúncios aí do lado não pagam nem miojo com salsicha. Vou testar a situação por um tempo e depois talvez eu os tire. Não fossem os free-lances e a Carta Diária...

Sou um blogueiro profissional, com um perfil político-filosófico-literário, de visitação mediana (em comparação aos grandes). Meus picos aconteceram durante a eleição, quando tive em média mais de cinco mil visitantes únicos por dia. Agora, com a mudança de endereço e os tempos mornos, caiu um pouco.

Mas acredito muito na blogosfera e conheço bem como funciona. Tudo cresce, depende do seu trabalho. Não tem escapatória. Fazer um blog médio requer dedicação mínima de cinco ou seis horas por dia. Um blog grande precisa de equipe. O Tijolaço, por exemplo, excelente blog, tinha seis ou sete pessoas trabalhando nele, incluindo o cara que escrevia pro Brizola, um jornalista brilhante, que sempre se manteve no anonimato, um verdadeiro e talentoso ghost writer.

Também sou vacinado (ou tento ser, ao menos) contra as vaidades mais constantes entre blogueiros, que é a obsessão por aumentar a visitação e ter muitos comentários. Meu foco é exclusivamente a qualidade do texto e a produção própria. Já escrevi posts que eu considerei fabulosos (na minha opinião), que tiveram apenas 2, ou 1 ou zero comentários, e escrevi besteiras que provocaram furor.

Um dos poucos orgulhos que eu tenho, como blogueiro, e que compensa um pouco o meu fracasso em tudo o mais na vida, é a visão da importância de se abrir um campo de trabalho para a blogagem política profissional. Se for criada, haverá oportunidade para blogagem profissional no campo das artes e das ciências, e aí mudaremos definitivamente o panorama da comunicação social no mundo!

Muita gente torce o nariz para isso, pois a maioria dos blogueiros, sobretudo os mais talentosos, tem excelentes empregos, ou bolsas de estudo, ou ganham polpudas aposentadorias. Não me orgulho de ser pobre e irrito-me profundamente com quem se orgulha de ser pobre. Até porque sinto-me um milionário de espírito e aprecio imensamente os prazeres e os luxos da vida e tenho tudo o que preciso para ganhar quanto dinheiro eu quiser: saúde e disposição para trabalhar. Espero somente meu golpe de sorte; mas se não vier, bastar-me-ão meus livros, o amor e a cerveja.

Entendo que a liberdade política precisa de liberdade econômica, por isso eu me esforço para convencer os camaradas da blogosfera da necessidade de criarmos formas de viabilizar financeiramente o segmento. A impressão que eu tenho, porém, é que a maioria dos blogueiros encaram esse debate com um ar blasé. Se eu estivesse na situação deles, talvez agisse da mesma forma. Não estou. A vida me colocou numa posição tal em que eu preciso lutar para dar um mínimo de dignidade profissional à blogosfera progressista.

Durante o Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas, eu, o Azenha, o Vianna, tentamos incluir no texto algo sobre a sustentabilidade da blogosfera. Deu uma briga danada. O radicalismo de boa parte dos blogueiros presentes obrigou-nos a apagar qualquer menção ao assunto. Ou seja, o assunto principal ficou de fora. De que adianta os blogueiros se reunirem para vociferar contra a mídia corporativa se não sabem se organizar para ganhar dinheiro com o que fazem?

Sei que há inúmeros blogueiros só postam uma vez por mês ou por semana, e não quero nem discriminá-los nem acho que todos devem ganhar dinheiro com blog. Entendo que o dinheiro deve ser pago de acordo com a produtividade, excelência e serventia do material. Como é a agricultura, por exemplo. Como é quase tudo.

Uma vez vi um depoimento do Roberto Marinho que me assustou pelo cinismo cruel, mas que, hoje, com a internet, tornou-se bastante verdadeiro: ele dizia que para se montar um canal de tv bastava usar um transmissor e uma antena.

Não sou apenas um blogueiro, sou também um observador atento da blogosfera. Observo, por exemplo, que sempre que um blog começa a fazer certo sucesso, é comum o blogueiro desistir, por causa do aumento do trabalho e também porque há uma espécie de satisfação do ego. Não critico a vaidade; é natural, mas percebo que ela implica um menosprezo pela blogosfera, como se ela não fosse nunca tão importante quanto elaborar outra tese de mestrado ou escrever um livro - mesmo que ninguém jamais leia essa tese ou esse livro.  As pessoas fingem não tirar as conclusões disso, ainda mais se tratando de pessoas politizadas, mas a razão é a ausência de remuneração.

Os esquerdistas gostam tanto de dinheiro quanto os direitistas, e quando há dinheiro envolvido, brigam por ele com a mesma agressividade (às vezes até mais) do que qualquer outra espécime do zôo ideológico em que vivemos.

A lição que eu tirei disso é que todos somos mais ou menos iguais.

E que os blogueiros, assim como os jornalistas, deveriam olhar para si mesmos mais como trabalhadores do que como intelectuais.

Aí entra a questão do talento, e do grau de genialidade com que cada um se acha investido. O sujeito escreve um post, recebe oitenta comentários e passa a ser achar o gênio absoluto da blogosfera, que nunca vai ficar no mesmo nível que outro bloguinho meia boca que nunca recebeu um comentário na vida. O deslumbre é terrivelmente comum na blogosfera. Ao cabo, todavia, todos acabam chorando miséria no botequim. Mesmo que em silêncio, mesmo que fingindo sorrir, assistindo na tv, irritados, o novo blogueiro da Veja dar entrevista ao Jô Soares.

O grande força da blogosfera, a sua fragmentação extraordinária, que nos torna um exército liliputiano invencível, torna-se também sua principal fraqueza. Todo mundo fala maravilhas da blogosfera progressista, mas quando observamos de perto, vemos uma realidade instável, mambembe.

Os afagos que as forças políticas da esquerda tem feito à blogosfera, como é o caso da recente entrevista de Lula aos blogueiros progressistas, não se devem apenas à força do segmento, mas também à situação encurralada em que ela (a esquerda) se encontra. Tanto é assim que, na primeira oportunidade, os setores institucionais da esquerda correm para os braços da imprensa corporativa.

O Nassif publicou por esses dias um post sobre feminismo, usando o termo feminazi, e o caso virou um escândalo terrível na blogosfera, com ataques pesadíssimos ao caráter de uns e outros. Tem muito blogueiro que se arvora proprietário dos valores da esquerda. Nessa hora, me dá um irritação incrível em relação ao termo esquerda. Vontade de mandar todos os esquerdistas à merda e apregoar a liberdade do pensamento! Não existe esquerdismo ou esquerdistas! Existe livre pensamento! Filosofia! Poesia! Razão! Liberdade! Política!

Entendam minha tese: existem algumas posições de esquerda, mas estas são, por sua própria natureza, sempre subjetivas e instáveis. A esquerda européia, por exemplo, tem posições que, no contexto da divisão internacional do trabalho, perfazem uma postura extremamente conservadora! Nem precisamos ir tão longe, a ultraesquerda brasileira, nos últimos anos, tem se aliado frequentemente à direita contra a esquerda. Diverti-me muito quando, estudando a história da antiga república romana, descobri que esse tipo de aliança ocorre há mais dois mil e quinhentos anos!

Desculpem mais uma vez por meus desabafos. Devo ter escrito muita bobagem.

Hoje viajo para uma cidadezinha feiosa (e sem nenhuma poesia) do interior do Rio, fazer uma matéria para uma revista. Volto à noite.

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