8 de dezembro de 2010

Perspectivas tucanas para 2014



Encontrei essa análise (refiro-me a de baixo, não à de cima, do Bessinha, que aborda outro aspecto...) no blog do Nassif, e achei-a muito inteligente e resolvi republicá-la aqui. Para adocicar a leitura, selecionei cuidadosamente as melhores charges (na minha opinião) que encontrei na internet, após rápida pesquisa, e intercalei-as entre os parágrafos.



Por André LB (no blog do Nassif)

Acredito ser muito "otimista" a visão da maioria dos comentaristas a respeito do papel do PSDB. Estão todos acreditando que o PT já errou o que tinha para errar e que o PSDB não vai mais dar uma dentro. Acredito ser importante lembrar do seguinte:


1) Cenário econômico externo. Apesar do importantíssimo e recente-antes-tarde-do-que-nunca desenvolvimento de um mercado interno mais forte no Brasil e da pequena inserção no mercado externo, estamos sujeitos a uma nova rodada de problemas econômicos mundo afora. Na Europa a crise ameaça se alastrar ainda mais, os EUA passarão alguns anos sem absorver mais do que estão fazendo agora e o FED já sinalizou que pretende insistir no aumento da base monetária do dólar e a China, nosso grande mercado de commodities, emite alguns sinais de bolhas internas. o biênio 2012-2013 pode trazer um crescimento econômico bem menor ao Brasil, com reflexos eleitorais em 2014.



2) Cenário econômico interno. Ampliando o dito acima, uma pequena diminuição do valor das commodities aliada ao esgotamento do modelo de ampliação do crédito - que em breve pode ser mais controlado, como o próximo presidente do Bc já sinalizou - podem não só diminuir o crescimento econômico como também criar entre a população a sensação de "esgotamento do modelo": em, digamos, 2013 já terão se passado cerca de 6-7 anos de melhora econômica quase contínua, e uma maior dificuldade em financiar um carro novo causa descontentamento.

3) Câmbio. O atual cenário aponta para um maior ferramental à disposição do BC, mas será interessante ver o efeito do Pré-sal sobre o câmbio e contas públicas. Não à toa já se fala em exploração gradual das reservas petrolíferas.

4) Ausência de maior debate político. À primeira vista pode parecer exagero para alguns, já que ainda estamos sob as impressões da guerra suja deste ano, mas mal se discutiram projetos, o que de resto não atrai muito o eleitor médio brasileiro, talvez (acredito ser o caso) ainda vítima da desarticulação sócio-político-institucional empreendida pelos militares, cenário que apenas décadas de vida democrática CONTÍNUA podem reverter. Enfim, a ausência desse debate tende a transformar os partidos em tábua rasa ideológica, saltando aos olhos em demasia o lado prático/midiático das administrações - "rouba mas faz" é uma síntese perfeita e ainda válida (mais recentemente, "é caro mas funciona", etc).



5) Apoio midiático. É muito difícil não enxergar o apoio da grande mídia ao PSDB ou, em outras palavras, que a mídia mostra muito mais escândalos ocorrendo no PT/base aliada que no PSDB/base aliada. Ao se passear pelos comentários de leitores dos veículos escritos, verifica-se ser consolidada a visão dos mesmos que o PT é muito mais corrupto. Verdade ou não (acredito que não) e independente do número de leitores/assinantes desses meios estarem diminuindo, a visão da mídia ainda é um fator, e assim se manterá ainda durante o período 2011-2014. Por exemplo, aposto 5 pra 1 que a grande mídia focará as mazelas brasileiras na Copa do Mundo de 2014.



5a) Mídia. Espera-se um enfraquecimento da mesma, mas isso não ocorrerá tão em breve. O Marco Regulatório não sairá como esperado: é importante lembrar que o fiel da balança no Congresso, o PMDB, conta entre seus quadros muitos controladores de rádio e televisão, que se encarregarão de diluir muito do teor modernizante do projeto. Claro, entrarão novos grupos no mercado de mídia, mas não terão força ou interesse de desempenhar um papel distinto do da "velha mídia" antes de 2014.

6) Escândalos políticos. É muita ingenuidade acreditar que durante a próxima legislatura não estourará algum escândalo político entre a base aliada. O atual sistema político não só permite, mas incentiva tais acontecimentos, seja qual for o presidente/primeiro-ministro/monarca. Óbvio, haverá exploração política do(s) episódio(s), na tentativa de diminuir o peso de Dilma e de Lula ("foi ele que botou ela lá").



7) Oposição. A oposição diminuiu de tamanho, mas sua estridência não demorará a se fazer sentir. Vitórias nas eleições municipais serão vistas como "derrota do governo" (federal), e provavelmente a disputa Alckmin-Aécio passará a esquentar nesse momento, depois de 1 ano e meio em banho-maria. Difícil especular o que vem depois, mas acredito que a eleição municipal de São Paulo será importante termômetro: ganhando o bloco PSDB/DEM, ponto para Alckmin; ganhando outro bloco (difícil pensar em alternativa ao bloco do PT), ponto muito maior para Aécio.

8 ) Aécio. Ele é ponto específico do tabuleiro oposicionista. Penso ser sintomático que a Folha passou a abrir espaço para críticas à gestão estadual paulista (e não diretamente a Serra, cuja gestão só é personificada em casos positivos), ao mesmo tempo em que Aécio é entrevistado no Roda Viva (Tv do governo paulista) e aparecendo com largo sorriso em fotos nos jornais. Não tenho visto o Jornal Nacional, mas não sei se ou como ele tem aparecido, o que seria interessante verificar.



Minha conclusão: será difícil, mas não impossível, para a presidente Dilma manter o clima de otimismo em relação ao futuro nos anos finais de seu mandato. A oposição começará a se mexer para valer em 2012, iniciando para já um tímido mas crescente apoio ao "renovador" Aécio. Acredito que seu sucesso vai depender dos fatores que descrevi, mas esperem sentados um fim do PSDB. Acredito que o partido já bateu no fundo do poço e inicia ano que vem um fortalecimento - em novas bases, mesmo que ilusórias. O descalabro dos governos FHC já está muito esquecido, tanto que vem lentamente ganhando força a versão de que o "Plano Real de FHC foi o que permitiu o avanço do Brasil de Lula". Se importa a alguém, considero o PSDB um partido nefasto, mas o que acho não importa.

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