27 de fevereiro de 2007
Os dilemas do eleitor francês
José é dono de um bar em Clermont-Ferrand, interior da França. Português, chegou por aqui ainda criança e hoje sente-se muito mais ligado ao país de adoção que ao de nascença. Tem inclusive um pouco de dificuldade de falar o português, mas entende bem e, junto com meu francês mais ou menos, podemos conversar bastante sobre a política francesa.
Conversador, José troca idéias sobre as eleições com muitos de seus clientes. Ele diz que ainda está indeciso e encontra defeitos e qualidades nos dois principais candidatos, Segolene (foto), à esquerda, e Sarkozy, à direita. É muito interessante conversar com José por causa disso, por sua mente aberta e sua disposição para aceitar argumentos de todo tipo. Ele também tem seus argumentos e creio eu que, no fundo, a sua indecisão é uma estratégia de relações públicas com seus clientes, o que é, aliás, comum aos barmans do mundo inteiro. Em geral, não tem time de futebol, nem ideologia, nem partido, nem candidatos, e assim ficam em paz com todos seus clientes.
De qualquer forma, José gosta de falar de política e o seu bar, que tem wifi, é o lugar onde tenho passado muitas horas por dia, todos os dias, e onde acompanho, involuntariamente mas com prazer, discussões e piadas intermináveis sobre política.
Vamos às novidades. A Segolene, que estava dez pontos percentuais atrás de Sarkozy, cresceu nas últimas pesquisas e está agora empatada com seu rival. Contou muito, ao que parece, o debate com o público do qual participou na semana passada, e também a apresentação preliminar de seu programa de governo. E, segundo me informou José (os jornais aqui não são muito obcecados pela questão eleitoral), ela ainda vai lançar oficialmente o seu programa. A esperar.
Outro dia, José veio com um discurso absolutamente negativo sobre a esquerda francesa, explicando que a nação está sobrecarregada de assistencialismos e a esquerda aqui não enxerga o problema que eles vem provocando na moral da juventude, cada vez mais desanimada e parasitária das ajudas estatais.
Na semana seguinte, José explicou que Sarkozy é temido na França porque suas promessas de campanha, se implementadas, podem provocar o caos no país. Os sindicatos franceses são poderosíssimos, e as tentativas de desmontar a educação pública francesa e, de forma geral, o peso do Estado na economia, vão encontrar pesada resistência, na forma de greves terríveis e manifestações que infernizarão a pacata vida do país. Outro grande temor é que Sarcozy, com sua política pró-americana e um tanto virulenta em relação ao imigrantes e seus descendentes, pode catalizar o surgimento de grupos terroristas dentro do território francês, tendo como alvo o Estado e a população civil. Existem milhões de imigrantes e descendentes de imigrantes na França, e a direita, que está no poder há oito anos, não tem encontrado soluções inteligentes ou, ao menos, eficazes, no sentido de reduzir a sensação de isolamento, discriminação e, portanto, revolta, que vivem esses segmentos da sociedade francesa.
Por outro lado, Sarkozy tem sabido tocar na questão da moral do trabalho, dizendo-se o candidato da França "que trabalha", e a direita, de forma geral, tem conseguido lançar nos ombros da esquerda toda a culpa por este relativo desalento e parasitismo estatal de importantes segmentos sociais.
Estes são os dilemas principais do eleitor francês: uma direita dura, atrelada a uma política policialesca e pró-americana e uma esquerda associada ao desalento do jovem e ao estatismo.
Se eu fosse francês, preferiria o risco de manter o desalento e evitar o terrorismo, votando na Segolene. Vamos ver no que vai dar.
Tweet Enviar por e-mailPostar no blog!Compartilhar no XCompartilhar no FacebookCompartilhar com o Pinterest
Gostou deste artigo? Então assine nosso Feed.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Notícias do Brasil
O mar está revolto, vi isso durante a dormência, num sonho
O que fazer para que o mar retome a calmaria?
Veja só este bárbaro crime contra três voluntários franceses que prestavam sua solidariedade a brasileiros
A princípio entendi que havia sido morto um casal, cujo crime foi premetitado por uma rapagão que eles tinham como filho adotivo
As vítimas totalizam três franceses
Os criminosos, usando máscaras de carnaval ( como os bandidos brasileiros são criativos!!!! ) esperaram as vítimas no interior do apartamento (leia mais no meu blog )
Postar um comentário