16 de janeiro de 2009

Como organizar a blogosfera?

Os brasileiros que trabalham no setor de contra-informação, ou seja, que batalham para desmontar as teses interessadas da grande mídia, têm algumas características em comum. A maioria não é jornalista, pois esse, infelizmente, ainda está amarrado a seus grilhões profissionais. Um jornalista falar mal da mídia é como um petroleiro falar mal da Petrobrás, ou um aviador começar um blog contra as companhias aéreas. Os únicos jornalistas que operam na contra-informação midiática são os que desistiram de ser jornalistas, como eu, e agora labutam na internet como blogueiros, uma profissão que ainda engatinha, mas que, certamente, representa a lei áurea para o jornalista. Mais ainda: ela permite que todos possam ser jornalistas.

A internet produziu um fenômeno fascinante. Ela vem alimentando um movimento, crescente, que os especialistas chamam de intelectualidade de massa. O acesso às informações, nacionais e estrangeiras, permitiu ao cidadão comum, cuja inteligência é igual a do jornalista tradicional, na maioria das vezes até superior, posicionar-se com mais auto-confiança perante às grandes questões políticas, econômicas e culturais da atualidade. 

Entretanto, a tendência natural das coisas é que também a internet, e mais especificamente a área de contra-informação, se profissionalize. É natural que os mais determinados, interessados, talentosos, ou na linguagem do povo, os mais doidos, ganhem destaque. A blogosfera mundial se tornou tão grande, tão competitiva, que hoje em dia não adianta mais lançar um blog. É preciso atualizá-lo diariamente, sem pausas, por um longo período. E fazê-lo bem, com lucidez e originalidade.  Mesclar quantidade e qualidade.

Muitos leitores, e agora até o Azenha, discutem a possibilidade de se montar uma central de notícias de contra-informação e informação. Uma espécie de portal Terra dos blogueiros independentes. Hoje em dia, com a tecnologia RSS seria possível fazer um portal quase que automático. As dificuldades, naturalmente, são políticas, e por isso eu sou bastante cético a esta idéia. O grande trunfo dos blogueiros é sua liberdade e fragmentação. O blogueiro, por mais profissional que se considere, atualiza seu blog quando quer. Se quiser tirar férias de seis meses, pode fazê-lo. Se quiser parar de escrever política e publicar poemas, pode fazê-lo. Não creio que haja coerência suficiente entre os blogs para tal finalidade. E ainda temos a questão ideológica, que divide blogueiros em posições radicalmente distintas. 

No entanto, estamos num regime democrático, somos todos democráticos, e podemos, portanto, resolver as diferenças democraticamente. Como seria interessante se conseguíssemos nos organizar de alguma forma! Quando pensamos no poder da grande mídia de influenciar eleições, de pautar a agenda política, de ditar a moda, a cultura, e agora, de prejudicar a economia nacional, a sensação de impotência se torna quase insuportável, e sentimo-nos impelidos a tentar vencê-la através da única maneira possível de destronar os poderosos: organizando-se. O primeiro passo, portanto, que é ter necessidade de fazê-lo, já foi dado. O segundo passo é ter vontade de fazê-lo. O terceiro é fazer. O quarto é persistir. O quinto é aguentar o tranco e superar as crises. O sexto é gozar a vitória ou suportar, estoicamente, a derrota. E assim em diante.

9 comentarios

Anônimo disse...

Adorei este post, eu penso exatamente isto. Sinto a necessidade de organização. A lista de discussão CMI - midia independente se reune com frequência.
É um risco também, né. Eu pauto minhas opiniões com base em 4 ou 5 blogs em que confio. Acho que assim não tem como ser uma informação falsa.

RLocatelli Digital disse...

Acho que a solução para o dilema entre união dos blogs e liberdade dos blogueiros é a seguinte:

- Que haja, sim, um super-portal dos blogs;
- Mas que cada blog ou site continue funcionando normalmente, no ritmo que seu dono quiser.

O blogueiro é, via de regra, um ser muito independente e não ficaria feliz tendo sua página na net submetida a desígnios de um colegiado ou coisa assim.

No entanto, todos se fortaleceriam se seu site/blog fosse divulgado regularmente num portal de peso.

Por isso acho ideal essa solução que preserva a democracia mas faz uso da força combinada de todos.

João Villaverde disse...

Uma ótima discussão, Miguel. Não sei se você viu, mas o Pedro Dória colocou hoje no blog dele uma proposta muito interessante de organização. Aqui o link do post dele: http://pedrodoria.com.br/2009/01/15/as-ultimas/
E aqui a organização: http://asultimas.com.br/

Um abraço

Anônimo disse...

É só fazer um agregador de RSS bem ajambradinho e indicar para todo mundo.

Miguel do Rosário disse...

Tá vendo, joão, é tão fácil! O meu artigo ficou obsoleto em minutos.
A iniciativa do pedro doria mostra que, mesmo esse tipo de "super-portal" de blogs, tende a se fragmentar, em vários portais, de acordo com o gosto do freguês. É... O DNA da blogosfera é mesmo fragmentário e anárquico. Que assim seja. Ah, eu vou fazer o meu próprio portal. O Dória inseriu umas porcarias lá e também acho que ficou um pouco óbvio e generalizante. Quero um portal mais seleto. Vou começar o meu. Será o Portal Gonzum News!

Vinicius Santucci Rossini disse...

Interessante, andei pensando sobre isso esses dias , e creio que não seja tão difícil assim , a probabilidade de um blogueiro passar informação errada é a mesma que um grande jornal da TV , mas tem uma diferença , existem zilhões de blogs enquanto existem meia dúzia de canais de TV , não precisamos ter uma notícia imparcial sem alguma visão... se tivessemos várias noticias de todas os pontos de vistas possiveis seria mais fácil chegar numa conclusão... creio que apenas um sistema de busca de informação com algum filtro para impedir notícias n relevantes , seria o suficiente,estilo um "google" de noticias independentes , então apareceriamvárias notícias e uma falsa seria facilmente identificada em meio a tantas...

Cloaca News disse...

Pelo jeito, também teremos que organizar um portal. Chamar-se-á Universo Cloacal...Brincadeirinhas à parte, somos admiradores deste Óleo. Abraços!

Claudinha disse...

O pessoal do Fórum de Mídia Livre discute esse tema: http://fml.wikispaces.com/fazedores

Inclusive, estarão com atividades no FSM. Para quem estiver por lá, seria interessante participar de alguma atividade auto-gestionada do grupo.

Acho importante tentar se engajar em algum grupo que discuta esse portal contra-hegemônico, do que criar "mais um". Como bem aponta o Miguel, as diferenças, num espaço democrático, resolvem-se no diálogo.

Claudia Cardoso

Anônimo disse...

Já fui a favor de uma "central" de contra-informação, mas hoje tenho dúvidas e estou tendendo a defender a pulverização, com conexões apenas como hipertexto mesmo, um blog com links para outros, formando assim a rede.

Porque um portal único, ou "globalizante" implicaria uma hierarquia interna - se todos, indiscriminadamente, pudessem manipular esse portal, ele acabava "explodindo", teria, no mínimo de aumentar a capacidade do hospedeiro todos os dias - e o custo também.

Meu DNA anarquista rejeita essa hierarquia que a organização de uma "central" implicaria.

Acho que temos de fazer de tudo para facilitar a navegação, ter como principal bandeira a inclusão digital e defender a rede de qualquer interferência policial, de censura e/ou cerceamento.

Mas se resolverem fazer o tal portal mesmo, estou dentro e farei tudo que estiver ao meu alcance para ajudar.

Alyda

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