23 de janeiro de 2009

A preocupação dos leitores do Globo

Nesta sexta-feira, Lula enviou carta ao presidente da Itália, Giorgio Napolitano, em que reafirma a disposição do governo brasileiro de dar asilo político a Cesare Battisti. Um leitor do Globo expôs a sua opinião, que para mim resume o pensamento daqueles que ainda se acham elite, mas que representam, hoje, um segmento moralmente decadente, que sobrevive de seus preconceitos e rancores. Não sabem quão profunda é sua ignorância.

O leitor diz o seguinte:

reispaulo
23/01/2009 - 19h 15m

Afinal: ele escreveu ou ditou ?????


Pode parecer uma puerilidade minha ater-me a comentário tão bobinho, mas é que ele remete ao que venho estudando há tempos, e que é a essência do preconceito de elite contra o povo brasileiro, um preconceito contra a cultura popular, contra seus modos de falar e agir. Trata-se de um preconceito contra a cultura oral, contra possibilidades de conhecimento e vivência que a classe média não conhece e, por isso, não respeita. Ora, Melville não aprendeu a escrever numa faculdade, e sim trabalhando como marujo num baleeiro. A maior parte dos escritores americanos mais prestigiados vieram das classes baixas ou viveram experiências marcantes de pobreza. Henry Miller, pouco antes de ser salvo com uma passagem de navio para Paris, vivia num abrigo de mendigos, Jack London começou a trabalhar com nove anos de idade em fábricas. Bukóswki, Faulkner, Fante experimentaram os empregos braçais mais simplórios e pesados antes de se tornarem grandes nomes da literatura. Essas experiências, seguramente, ajudaram-lhes a solidificar uma filosofia democrática que só ajudou a sofisticar sua arte.

A democracia nos EUA, enraizada como valor profundo na consciência dos cidadãos, significa respeitar, reverencialmente, cada ser humano, desde o mais pobre ao mais rico, como igualmente capaz de infinitas complexidades psíquicas e metafísicas e capaz de construir uma visão de mundo original e profunda e adquirir uma inteligência aguda e competente, sem necessariamente passar pelos mesmos estudos formais que a classe média tão artificiosamente se obriga. Estudos que ela usa como plataforma para arrumar emprego ao invés de escada para nobreza de espírito. A inteligência nasce, sobretudo, da intuição, que é não aprendida em faculdade, e da criatividade, que, ao contrário, é adversária de qualquer academicismo...

6 comentarios

Anônimo disse...

concordo com você em parte.Esses escritores possuiam um grande apelo nos EUA na década de 60 e 70.Aquela geração de escritores floresceu devido a vários fatores,entre elas as consequencias advindas da 2ªguerra mundial e de um novo modo de pensar o mundo e do "existencialismo".O fato é que nos anos 80, com os "yuppies e a política neocon, que trouxe uma nova geração de jovens que privilegiavam "o vencer", o ter, enfim, mediam o valor de alguém em cifras, essa escrita e o modo de viver "livre" desses escritores,foi colocado como motivo de piada e escárnio por esses jovens yuppies, muitos deles ligados ao mercado financeiro.Curiosamente, essa filosofia "yuppie", foi exportada para os países da América Latina e esse modo de vida, foi adotado por países como o nosso.Acho que você poderia fazer um artigo a respeito desse momento e dessa mudança de paradigmas e de comportamento dessa geração de jovens "yuppies" ligados ao mercado financeiro, surgidos no final dos anos 70 e início dos 80.Acho que explicaria muita coisa do que ocorre hoje, inclusive sobre o comportamento da mídia.Grande abraço.

Juliano Guilherme disse...

Pior ainda que o comentário do leitor, foi O Globo tê-lo publicado. Ao fazer isso endossou o preconceito rastaquera do sujeito. Essa porra de jornal tem que respeitar, senão a pessoa do Lula, pelo menos a instituição Presidência da República!

Miguel do Rosário disse...

ah, esse comentário foi no site, é mais difícil de controlar - mas deviam. de qualquer forma, no jornal impresso, vemos opiniões ainda mais estapafúrdias, e aí eles só publicam o que lhes interessam.

Anônimo disse...

Onde pode ter começado o preconceito?
http://veja.abril.com.br/blogs/reinaldo/2009/01/leitores-sugerem-cartas-ao-presidente.html

José Carlos Lima disse...

No Portal Terra/ blog do Walter Maierovitch

"(...). É própria de quem não tem o mínimo respeito aos direitos humanos, casos de Genro e Lula. " – Wálter Fanganiello Maierovitch–

Esta sua frase me fez mudar meu conceito em relação à sua pessoa.
Menos, menos, ne meu amigo.

Quem conhece a história do presidente sabe que ele não é um desrespeitador dos direitos humanos, como você dá a entender. No mínimo você comete uma grande injustiça aí.

Outra barbaridade:

"Ou seja, o governo Lula continua igual ao do tempo da ditadura militar, que dava asilos a fascínoras, a incluir os da Operação Côndor. " Wálter Fanganiello Maierovitch

Até parece que foi Lula que deu asilo a Stroessner. No governo FHC, do qual você foi secretário anti-drogas, houve uma campanha muito grande pela extadição de Stroesner. Onde você estava com sua língua bastante afiada? Walter, se és um forte defensor dos direitos humanos, porque ficastes em silêncio naquela época?

Sobre o pedido do Tortura Nunca Mais a FHC, leia:

http://www.torturanuncamais-rj.org.br/noticias.asp?Codnoticia=12&ecg=

Segue entrevista com Tarso Genro sobre o caso Battisti:

http://www.segurancacidada.org.br/index.php?option=com_content&task=view&id=817

José Carlos Lima disse...

Vocês acham que fui injusto, desrespeitoso ou mentiroso no comentário acima?

É que Walter Maierovitch deletou meu comentário, mais uma prova de que ele é um grande democrata, bom dar uma olhada no nível dos comentários ali postados, uma turba de linguas de víboras.

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