18 de janeiro de 2009

Mídia e elites é que não acreditavam na democracia

Os conservadores costumam atacar os jovens que pegaram em armas para lutar contra o regime militar, afirmando que eles também queriam implantar uma ditadura no Brasil. Com isso, procuram deslustrar não somente seu heroísmo e coragem, mas o próprio fundamento ético e ideológico de seus atos. Com a entrada em cena de uma candidata presidencial que já foi guerrilheira e comunista, esses mesmos argumentos deverão ser repetidos à exaustão, sem compromisso com a sua lógica. A política, infelizmente, não é um lugar de busca da verdade; ao contrário, a prática política no Brasil, notadamente no campo conservador, que monopoliza a mídia e, portanto, domina a ferramenta mais poderosa de persuasão coletiva, caracteriza-se pela flexibilidade de seu rigor na busca pela verdade. De onde vem o dinheiro?, gritavam os conservadores na mídia, na época da crise do mensalão. Quando se descobre que o grosso da bufunfa vinha de empresas guiadas pelo banqueiro-bandido Daniel Dantas, toda a curiosidade se esvai, por causa das implicações desagradáveis que isso pode acarretar para políticos de partidos conservadores. Onde está a energia investigativa da mídia agora? Onde estão os info-gráficos e suas setinhas e diagramas?

A mesma coisa acontece no caso da tentativa de desmerecer a coragem e o valor dos jovens que combateram os militares. Afirmam que eles não queriam uma volta à democracia. Que pretendiam implantar um regime igualmente autoritário. Certo. Estão absolutamente certos. Mas porque esses jovens não mais acreditavam na democracia? Porque jovens, na maior parte de classe média, com boa instrução e, portanto, com plena capacidade para exercer qualquer função intelectual e política, não acreditavam no poder transformador da democracia?

Ora, eles não acreditavam porque a democracia no Brasil fora humilhantemente derrotada pela força bruta dos militares, com apoio irrestrito da imprensa e de setores influentes das classe média e alta. Eles não acreditavam na democracia porque a democracia vinha sendo virtualmente humilhada e derrotada em toda a América Latina. A troco de que esses jovens lutariam pela democracia? De que adiantaria vencer o regime militar e implantar a democracia, e ver a democracia novamente derrotada?

A mesma coisa ocorreu em Cuba. Acusa-se os revolucionários cubanos de não acreditarem na democracia. Que Che Guevara e Fidel Castro não acreditavam na democracia. Mas quem derrubou o regime democrático em Cuba não foram os revolucionários de Sierra Maestra. Não foram Che ou Fidel. Quem derrubou a democracia em Cuba foi, como em toda a América Latina, a direita, as classes conservadoras, com apoio financeiro e político dos Estados Unidos. A revolução cubana realizou-se para derrotar a cruel e corrupta ditadura de Fulgêncio Batista, aliado do governo americano e patrocinado tanto por dinheiro do contribuinte americano quanto por mafiosos americanos interessados em lavar dinheiro na ilha.

Esse é o argumento que devemos usar quando a direita acusar os jovens que lutaram contra a ditadura de não serem "democratas". Quem não acreditava na democracia, no Brasil, não eram os jovens, e sim as elites que marcharam em São Paulo e Rio de Janeiro contra um governo democraticamente eleito, com vistas (hoje se sabe, pelo Gaspari, que as lideranças dessas marchas sabiam do golpe iminente) a dar apoio político à derrubada do regime democrático. Quem não acreditava na democracia era a mídia, incluindo Jornal O Globo, Estado de São Paulo e Folha de São Paulo, que ajudaram a enfraquecer o governo e defenderam o golpe militar.

Os jovens que lutaram contra a ditadura não acreditavam na democracia porque a democracia fora desacreditada, estuprada, humilhada, ridicularizada pelos militares, pela direita, pela elite e pela mídia. Não só no Brasil, mas em toda a América Latina.

5 comentarios

josaphat disse...

Muito bom o artigo, Miguel. Aqui em BH, uma das mais tradicionais rádios, a Inconfidência, também conhecida por Brasileiríssima, que sempre foi muito boa rádio, com uma programação exclusiva de música brasileira de qualidade (ainda é assim), agora, para cada música, traz uma propaganda do governo Aécio. Ou Aedis, como costumamos dizer. O mesmo se pode dizer da TV Cultura. Acredito no povo. Ele não se deixará levar pelas mentiras midiáticas. O pintor que me vai pintando a casa sabe, perfeitamente, quem é o Sr. Gilmar Mendes. Sabe que é um juiz que gosta de soltar quem tem dinheiro. Foi o que me disse.
Vamos ver.

P.S. Gostei dos schoolhouse.widgets e copiei-os para o meu blog.

Abraço.

Anônimo disse...

Já leu esse artigo do Sérgio Augusto que saiu no suplemento do Estadão de ontem? http://www.estadao.com.br/suplementos/not_sup308806,0.htm "E venceu a frugalidade", sobre arte e cultura.

Miguel do Rosário disse...

Não tinha lido não. Valeu Vera, sempre com sugestões de artigos interessantes. Abs.

Prof.Joaquim Pio disse...

Democracia, democracia. Na sociedade divivida em classes, democracia é uma ideologia. Democracia para a classe que acredita na Desigualdade como algo natural, e necessário é um meio para manutençao do poder da classe dominante. Ao perceber o crescimento do poder da outra classe impoe a Ditadura. Relembram como diziam que o Estado não deveria intervir na coisa pública. Nesta crise solicitaram intervenção do Estado.
Democracia, bela viola. Só há democracia com luta. Luta de classes.

Unknown disse...

Miguel Haddad foi eleito em Jundiaí com pouco mais de 50% dos votos válidos na cidade. Ganhou, portanto, em primeiro turno, assumindo o cargo no dia 1 de janeiro de 2009.
Após sua posse, atendendo às expectativas da população de Jundiaí em recebê-lo como novo Prefeito, em plenitude, iniciou-se um processo (ou processos) de perseguição política.
O Juiz Marco Aurélio Stradiotto, ao que tudo indica, é amigo pessoal do filho de um ex parceiro político de Miguel Haddad, Ary Fossen.
Dada a rivalidade política entre os dois, que ocorreu por Ary nao aceitar a preferencia dos jundienses por Miguel Haddad, iniciou-se um processo de desentendimento que acarretou na perseguição política por parte de Ary, dada as influências que ele possui.

Os processos estão sendo favoráveis a Miguel Haddad, que em nota afirma que "A democracia foi feita", e que é o Prefeito legitimado de Jundiaí, e completa: "Estão me impedindo de executar meus trabalhos pela minha Cidade".

Briga por poderes dá nisso, perseguição política começa quando alguns aparecem mais e outros menos.Influencia e interesse.

Vamos lá Jundiaí!

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