14 de janeiro de 2009

A história que escreveremos

Não podemos pensar o país, nem a nós mesmos, somente pelo aspecto economicista. Uso economicista no sentido mais pejorativo que se possa pensar. Na manhã de 8 de setembro de 1822, por exemplo, o Brasil vivia um dos piores momentos econômicos de sua história. A caixa do governo estava totalmente vazia. As jazidas de ouro e diamante estavam esgotadas. O preço da cana-de-açúcar despencara para níveis abaixo do custo brasileiro de produção, e a Europa já começara a substituir o produto pelo açúcar de beterraba, que podia plantar em seu próprio território.

Naquela manhã, todavia, o Brasil acordou mais leve, mais forte, mais feliz e, sobretudo, mais independente. O Brasil continuava um país pobretão e atrasado. Mas era livre! Dom Pedro I havia, na véspera, lançado o famoso grito às margens do Ipiranga. Nenhum português podia nos chamar de colônia ou decretar leis que fossem contrárias aos nossos interesses.

De posse da liberdade, os brasileiros logo iriam fazer o Brasil, um dos países mais miseráveis e atrasados, figurar entre as oito maiores potências econômicas do mundo. Um estudioso da história do café, que seria nosso primeiro produto de exportação do período pós-independência, contou-me que os primeiros produtores brasileiros de café eram, na maioria, homens desesperados, semi-falidos, muitos emigrados da região aurífera, que comprariam terras em áreas inóspitas, em plena mata-atlântica, em meio à cobras e animais selvagens, trabalhando com as próprias mãos, alguns poucos empregados e os filhos que saíam direto dos seios da mãe para a lide na roça.

Os nababos escravagistas que se instalaram no sul do Rio de Janeiro vieram depois. Em primeiro lugar vieram esses empreendedores ansiosos e esforçados, que não apenas produziam café, como também enchiam barcaças e enfrentavam o oceano Atlântico, para vender o produto, eles mesmos, em portos europeus.

Assim devemos pensar o Brasil hoje. Acabamos de descobrir as maiores reservas de petróleo do planeta. É hora de chorar? O terror que a mídia está fazendo não tem sentido. Na imprensa internacional, há consenso entre analistas de todas as correntes de que o Brasil é o país mais preparado para enfrentar a crise. Temos um mercado interno ainda subutilizado. O Brasil ainda tem um grave problema de subconsumo. Milhões de pessoas saíram da miséria nos últimos anos, mas ainda sobraram milhões de miseráveis, que não consomem, mas que irão consumir, em breve. E ainda existem milhões de brasileiros aguardando, nos umbrais da pobreza, a sua vez de avançar para a classe média.

E o Brasil continua crescendo. Com crise internacional, com mídia golpista, com elite sem nacionalismo, com tudo. Milhões de brasileiros remando, confiantes em sua força, contra a corrente do pessimismo interessado e do reacionarismo privatista. Esta crise financeira foi a pá de cal no neoliberalismo, e a midia ainda insiste em apontar alternativas neoliberais como solução para a crise.

*

Então, vamos ao trabalho. Este blog ficou muito paradão nas últimas semanas. Vamos ver se a gente consegue agitar um pouco esse negócio. As fontes oficiais já soltaram os dados relativos ao comércio exterior brasileiro até dezembro último, permitindo a edição de tabelas do ano-calendário 2008. Eu preparei algumas. Uma delas está abaixo, com a exportação brasileira para todos os blocos econômicos. Clique na imagem da tabela para ampliar. Seguem as observações principais:

1) O Brasil exportou quase 200 bilhões de dólares em 2008, mais especificamente 197,94 bilhões de dólares, o que representou aumento de 23% sobre o ano anterior. É um número fenomenal, por todos os ângulos.

2) O grupo Países em Desenvolvimento já superou o Países Desenvolvidos. Trata-se de uma excelente notícia porque mostra que o Brasil está cada vez melhor relacionado com os países que apresentam os melhores índices de crescimento e cujas economias deverão sofrer menos com a recente crise financeira global. Em 2008, as exportações brasileiras para os Países em Desenvolvimento totalizaram 100,48 bilhões de dólares, aumento de 27% sobre o ano anterior, e correspondendo a 50,8% da receita cambial brasileira. Os Países Desenvolvidos responderam por 46,9%.

3) As exportações brasileiras para a América Latina alcançaram 45,16 bilhões de dólares em 2008, ultrapassando, de longe, os EUA, para onde o Brasil exportou 27,64 bilhões de dólares no ano passado. E com uma outra diferença importante, em favor da América Latina. O preço médio dos produtos brasileiros exportados para a América Latina ficou em 1.431 dólares por tonelada, contra 982 dólares nas vendas para os EUA.

4) As exportações para os EUA ganharam qualidade em 2008, com o preço médio saltando de 801 dólares para 982 dólares, alta de 22,6%.

5) As exportações brasileiras para a China cresceram 50,7% em 2008.

6) O Caribe tem se revelado um mercado surpreendente, comprando enormes quantidades de produtos brasileiros. As exportações brasileiras para o Caribe cresceram 64% em 2008.


3 comentarios

carlos disse...

grande do rosário,
não esmoreça, não , cumpadi.
vamos agitar o blog como esse artigo com viéis economico que acabou de ser postado.
uma beleza.
abçs

Anônimo disse...

Caríssimo, e principalmente, brasileiríssimo Miguel do Rosário. Vou salvar esse artigo seu que será tema das minhas primeiras aulas para o Ensino Médio nesse ano. Prometo-lhe dar uma devolutiva após o início do ano letivo, pois esse texto representa um outro olhar sobre o Brasil independente, apesar dos neo-colonialistas incrustados na imprensa golpista. Parabéns mesmo!Meu nome é Moacir Teles Maracci, e sou professor de Geografia e História na rede pública paulista.

Miguel do Rosário disse...

Olá Moacir, muito me orgulham suas palavras. Obrigado e volte sempre.

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