23 de janeiro de 2009

Estudando os números do Caged

Meu objetivo não é subestimar a gravidade dos 654 mil empregos perdidos em dezembro de 2008. E sim estudá-los em profundidade e contextualizá-los. Não oculto, todavia, minha intenção de mostrá-los sob uma ótica mais racional e positiva.

Então, recapitulando. Há poucas semanas, o Ministério do Trabalho divulgou a sua atualização de dezembro do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados, o famoso Caged. Os números são disponibilizados gratuitamente na internet.

Eu peguei as tabelas dos últimos 3 anos, incluí o ano de 2002, para termos uma noção de histórico, e reuni num só arquivo, que disponibilizei neste endereço.

Mas também estou repetindo a tabela abaixo, em forma de imagem (clique nela para ampliar).



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A minha teoria, que procurarei demonstrar, é que o segundo semestre de 2008 registrou uma geração recorde de empregos, de forma que, os empresários, pequenos e grandes, diante do alarmismo gerado pela mídia, preferiram cancelar parte destes postos gerados. Para um empresário, é fácil demitir um empregado recém-contratado, porque isso implica em poucos custos trabalhistas. Se o empregado tiver menos de 3 meses de contrato, os custos são quase nulos. Por isso, diante da falta de informação sobre o tamanho da crise, e do já citado alarmismo midiático (que não levou em conta as condições excepcionais da economia brasileira), os empresários optaram por demitir.

Observem a tabela abaixo. Clique nela para ampliar.



Reparem que, no segundo semestre de 2008, foram admitidos 8.155.563 postos de trabalho, um volume 15% maior do que o registrado em 2007, que foi um ano excelente neste sentido. Na comparação com outros anos, o desempenho do segundo semestre de 2008 é ainda mais substancial: aumento de 30% sobre 2006 e de 71% sobre 2002. Conforme a coluna de admissão envolve volumes maiores, os números da coluna de demissão também crescem. Numa economia aquecida, a oscilação de empregos e desempregos dispara.

Em setembro deste ano, foram admitidos 1,55 milhão de postos formais de trabalho, um aumento de 27% sobre 2007, de 42% sobre 2006, e de 78% sobre 2002. Ora, isso é muito bom, mas ao mesmo tempo um pouco bom demais... são aumentos um tanto bruscos, o que provavelmente refletiu um otimismo (quiçá exagerado) dos empresários. Aumentos tão bruscos costumam ser, na maior parte, fruto de empregos temporários, provavelmente estimulados pela expectativa de um Natal de vendas fenomenais. E também porque muitas indústrias dão férias de dezembro a fevereiro, período que coincide com as férias escolares e com um verão extremamente chuvoso e quente na maior parte do país, e portanto o momento ideal para limpar as fábricas e fazer a manutenção do maquinário. Por isso, historicamente, há um número grande de demissões em dezembro. As empresas formam estoques de julho a novembro, e, em dezembro dispensam os empregados temporários.

Sim, tivemos um dezembro atípico este ano. Não podemos esquecer que o mundo vive a sua pior crise financeira desde a II Guerra. Governos dos EUA, Europa e Japão já torraram trilhões de dólares para minimizar os efeitos da crise sobre suas economias. É natural que o Brasil, enquanto partícipe de uma economia globalizada, ressinta-se dessa conjuntura adversa. Mas os números que temos à nossa frente não deixam dúvidas que, com crise internacional e tudo, o país continua vivendo um momento de grande vigor econômico. Diante do aumento brusco de empregos registrado nos últimos meses, o aumento do saldo negativo em dezembro não foi absurdo. Mesmo nos melhores anos, dezembro costuma registrar saldos negativos de 200 a 300 mil empregos. Em dezembro deste ano, o saldo negativo ficou em 654 mil empregados. Mas não esqueçamos que, diante de variações positivas tão bruscas nos últimos meses, seria normal que também tivéssemos, mesmo sem crise internacional, oscilações maiores em dezembro deste ano.

1 comentário

Lingua de Trapo disse...

Gosto de gente que sabe debulhar um planilha, coisa difícil no jornalismo ou, talvez, não seja conveniente. Mas o eu queria complementar para corroborar sua tese é que quando se lança despesa de pessoal a custo num projeto, os encargos sociais e as provisões para pagamentos futuros como 13o., férias, multa rescisória, etc são apropriadas mensalmente só não é feito o desembolso ou seja, esta provisões permanecem no caixa da empresa mas são lançadas com custo. Isto é feito justamente para quando for necessário demitir você não ter nenhuma dificuldade financeira para fazê-lo. As empresas que demitem sem pagar as rescisões, coisa não é incomum, o fazem de má fé.

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