Pois chegou a campanha eleitoral e a oposição resolveu enfrentar Lula. Pagou para ver se é perigoso mesmo dar o troco na mesma moeda: dizer umas meias-verdades por aí, carimbar umas perfídias na testa do adversário, manipular emoções do eleitorado, manejar ideias preconcebidas, despertar instintos adormecidos, jogar duro e, quando necessário, baixo.
Dora Kramer, em sua coluna de sexta-feira, no Estadão.
Eu sabia que não iria demorar muito para que os eunucos da grande imprensa desistissem de se lamuriar contra as burrices tucanas e passassem a fazer aquilo para o qual são pagos: defender o patrão.
A Cantanhede toca o bumbo da guerra como tábua de salvação. E Dora Kramer nos vem com essa, de que a oposição, "quando necessário", tem que jogar "baixo".
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O mais engraçado mesmo é ler os analistas de pesquisa da Folha, cujo universo estudado se restringe aos números do Datafolha. O PHA referiu-se a eles como curandeiros que se embriagam com a própria beberagem alucinógena.
A tucanada reagiu com extrema truculência aos números do Vox Populi. Aquela pose que os tucanos tinham, de moderninhos, limpos e educados, resolveram trocar pela de caminhoneiro psicopata, sujo e bêbado, que espanca a mulher e se mete em briga sempre que vai a um bar.
Nos bastidores, os tucanos subiram o tom, afirmando que a pesquisa é uma fraude e que estaria adubada. A expectativa dos tucanos é que a pesquisa Datafolha, que será divulgada hoje, tenha resultado diferente. (Globo, 24/07)
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Serra é um homem violento. Isso ele já demonstrou várias vezes. A declaração que fez há pouco, referindo-se ao jornalista Luis Nassif, de que tal informação havia circulado em blogs do "Nassif" para baixo, consagra o tucano como um político descontrolado, com instintos agressivos explodindo por todos seus poros. Serra mostra que é filiado à escola de políticos que vem aplicando tapas e socos no rosto de eleitores e jornalistas.
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Tia Carmela explica que a UDN, partido do Zezinho, não tem ligação com a CIA.
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Serra perdeu qualquer espontaneidade que talvez tenha possuído um dia. Ele tem repetido, sem qualquer esforço em parecer diferente, os clichês midiáticos. Por exemplo, essa história das Farc. Os gurus da ultradireita psicodélica e seu exército de débeis mentais engoliram as frases de Indio sobre Farc, narcotráfico, Cuba, como se jorrasse néctar dos céus diretamente para seus maus-hálitos.
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Se este empate meia boca foi o máximo que Serra conseguiu do Datafolha, então ele está mau mesmo. Uma análise rápida da pesquisa mostra que, olhando o conjunto dos números, o tucano tem uma posição muito inferior. Pesquisa eleitoral é como a economia do país. Não se avalia apenas o crescimento do PIB, mas também a inflação, o desemprego, as obras em andamento, etc. O Datafolha mostra Serra perdendo feio na espontânea (16%, contra 21% de Dilma). A maioria (41%) dos entrevistados acreditam na vitória da petista, contra 30% que apostam em Serra. A rejeição ao tucano é muito maior, 26% contra 19% de Dilma. O voto em Dilma é mais convicto: 78% dos que a apoiam afirmaram estar "totalmente decididos"; somente 67% falaram a mesma coisa de Serra.
Afora isso, a consagração cada vez mais evidente de Lula como um dos maiores estadistas da história brasileira, conforme se depreende dos números impressionantes de sua popularidade (altíssima em todas as classes e regiões do país) lhe dá um poder cada vez maior para transferir votos para sua candidata. Só não vê quem não quer. E aí Serra está lascado, porque iniciou sua estratégia tentando captar a simpatia do eleitor lulista com elogios ao presidente. O tucano, ele e seus 270 assessores de comunicação, estão num mato sem cachorro.
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O PSDB não entende que vitórias políticas raramente nascem de estratégias mirabolantes de propaganda. Os tucanos não demonstram compreender a necessidade de construção lenta e paciente de uma base política e ideológica, nas universidades, no chão das fábricas, nas ruas. Eles ofendem os sindicatos por serem filiados a partidos, agredindo com isso a dignidade e a liberdade política dos trabalhadores de escolherem o partido de sua preferência.
A única maneira pela qual um brasileiro pobre ou mesmo de classe média, sem sobrenome famoso, pode conquistar um cargo de representação política é através de algum sindicato. O ataque midiático aos sindicatos, e ao aumento do número de sindicalistas no top do poder político, é uma facada no coração do espírito democrático. É um gesto plutocrático, de quem sabe que, desmoralizando o sindicato, enfraquece a participação das classes mais baixas e favorece os ricos e os grandes empresários.
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Trecho de Angústia (1936), do Graciliano Ramos:
(...)Medo da opinião pública? Não existe opinião pública. O leitor de jornais admite uma chusma de opiniões desencontradas, assevera isso, assevera aquilo, atrapalha-se e não sabe para que banda vai. Ouvindo-o, penso no tempo em que os homens não liam jornais. Penso em Filipe Benigno, que tinha um certo número de idéias bastante seguras, no velho Trajano, que tinha idéias muito reduzidas, em mestre Domingos, que era privado de idéias e vivia feliz. E lamento esta balbúrdia, esta torre de Babel em que se atarantam os frequentadores do café. Quero bradar:
- Eles escrevem assim porque receberam ordem para escrever assim. Depois escreverão de outra forma. É tapeação, é safadeza.(...)
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O Sardenberg achou "estranha" a decisão do BC de elevar os juros em "só" 0,5%. Queria mais. Para ele, BC está começando a se engraçar para o lado de Dilma, ora vejam. De certa forma, ele tem razão. O BC não pode trair o Serra agora. Ele tem que decidir por aumentos gigantes dos juros, para ajudar o tucano a se eleger.
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Sai do armário, Folha. A nova ombudsman dos Frias descobriu que seu jornal torce pelo PSDB:
A reação não foi animadora: das 25 mensagens recebidas pela ombudsman, 24 acusavam o jornal de ser tucano e 1 de ser petista.