Minha opinião sobre o vice de Serra

Não quero esculachar o tal índio que Serra escolheu para vice. Até porque, na minha opinião, o vice da Dilma também não é flor que se cheire então ficam elas por elas. Acho lamentável apenas que a opção tucana produza inevitavelmente infinitas piadas e trocadilhos em torno do nome do deputado, sempre denegrindo os honrados e valentes habitantes originais de Vera Cruz. Nem eu, que sou meio índio, resistirei à tentação. Antes de tudo, somos brasileiros e podemos até perder a Copa do Mundo, as eleições, os amigos; a piada, porém, é sagrada.

Bem, minha opinião é que o tal Indio da Costa, sem considerar as mandiocas que ele roubou das crianças quando trabalhou na prefeitura do Rio, é uma boa escolha. Jovem, bonitão, relator da Ficha Limpa. Politicamente, o melhor vice para Serra o DEM seria, de longe, o deputado Carlos Melles, muito conhecido em Minas Gerais e que poderia arrebanhar o apoio entusiástico de setores do agronegócio. Mas Melles, um político das antigas, tem muito rabo preso por aí e a questão "ética" provavelmente o inviabilizou. Só mesmo um deputado virgem, acreditavam demos e tucanos, não apresentaria um indesejável telhado de vidro à abalada candidatura tucana. Pois bem, nem isso. O jovem morubixaba já tem um passado negro, e não foi devorando bispos portugueses...

Sugiro que leiam a entrevista abaixo da vereadora Andrea Gouvêa Vieira, que é tucana mas respeitada por todos os espectros partidários & ideológicos do Rio, ao jornal O Globo:

'Foi um golpe de mestre do Rodrigo Maia'

Entrevistada: ANDREA GOUVÊA VIEIRA

José Serra perderá uma aliada no Rio. A vereadora tucana Andrea Gouvêa Vieira disse que pedirá licença e viajará, inconformada com a indicação de Indio da Costa para vice. Andrea foi relatora da CPI que investigou fraudes na merenda escolar quando Indio era secretário municipal do Rio, em 2005.

Chico Otavio

A senhora poderia resumir a conclusão da CPI da Merenda?

ANDREA GOUVÊA VIEIRA: Houve um direcionamento claro. Na licitação para a compra de gêneros alimentícios para a merenda, a cidade foi dividida em nove áreas (2005). Ganhava cada área aquele que oferecesse mais desconto nos 49 produtos básicos. A Comercial Milano ficou com quase tudo. Acertou todas as suas apostas. Como ela poderia saber que descontos os outros concorrentes ofereceram?

A CPI desconfiou de algum tipo de informação privilegiada?

ANDREA: A empresa sabia até as áreas onde ninguém apresentou propostas. Isso só foi possível porque ela teve acesso prévio às ofertas dos concorrentes.

Existiu envolvimento de Indio da Costa, então secretário municipal de Administração?

ANDREA: Foi uma ação entre amigos.

Como vereadora, como a senhora avalia a gestão de Indio da Costa na secretaria?

ANDREA: Quando ele foi secretário de Administração, não havia pregão presencial e muito menos o eletrônico. Só depois da CPI, passaram a tomar esse cuidado.

E agora, irá apoiá-lo?

ANDREA: Se eu já tinha dificuldade com a candidatura do Cesar Maia, a situação agora ficou esdrúxula. Como o ex-prefeito é candidato ao Senado, não preciso pedir voto ou mesmo votar nele. Mas com o Indio como vice de Serra, é diferente. Não dá para separar o voto. Prefiro, então, pedir licença e viajar.

A indicação de Indio para vice foi uma surpresa entre os aliados do Rio?

ANDREA: O problema é o Serra não consultar. Márcio Fortes e Luiz Paulo Correa da Rocha estão pasmos. Foi um golpe de mestre do Rodrigo Maia. Como ele concorrerá a deputado disputando mais ou menos o mesmo voto do Indio, conseguiu tirá-lo do seu caminho ao empurrá-lo para Serra, que cedeu por estar exausto.

Serra escolheu mal?

ANDREA: Péssimo. A gente desconfia de quem põe uma faixa e sai por ai dizendo que é ficha limpa. Já pensou se, depois de eleito, o Serra sofre algum problema e o Indio vira presidente?

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Para quem se orgulha de cortar em 2/3 os gastos com leite em São Paulo, faz sentido escolher um vice acusado por um quadro importante do PSDB do Rio de roubar a merenda das crianças.

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Parabéns, pela enésima vez, ao deputado federal Brizola Neto, pelo excelente trabalho que vem realizando em seu blog. Neto foi o primeiro a desmascarar, em vários posts, a suposta "ficha limpa" de Indio Costa e possivelmente, não fosse a enorme repercussão causada pelas informações trazidas à tôna pelo deputado, talvez a mídia sequer abordasse esta mancha no passado do jovem silvícola. Nem preciso recomendar o Tijolaço, do Brizola, porque sei que todo mundo já o acompanha. Mesmo assim, por uma questão de registro e organização, exponho os links de alguns posts recentes do Tijolaço sobre o aymoré:

CPI: vice do Serra ajudou cartel e prejudicou crianças
Tucana diz que Serra escolheu “ficha suja” para vice
A “comunicação virtual” do vice do Serra
O vice do Serra, segundo a vereadora do PSDB

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De fato, Serra é um cara surpreendente. Quando achamos que ele atingiu o fundo do poço em matéria de incompetência política, ele consegue se superar e marcar um novo recorde. O afastamento da vereadora Andrea Gouvea de sua campanha no Rio, por exemplo, sinaliza o grau de estupidez e confusão dos coordenadores tucanos. Gouvea é um dos quadros mais respeitados do PSDB carioca, inclusive pela esquerda. Ao escolher Indio da Costa, Serra mais uma vez primou pela falta de diálogo. Esqueceu, singelamente, de consultar as bases de seu próprio partido no Rio de Janeiro! Tudo bem, o tempo era curto. Isso não justifica, porém, porque o tucano teve muito tempo e foi ele que decidiu disperdiçá-lo. Deixou sempre tudo para a última hora, inclusive a admissão de sua própria candidatura.

Perdeu um tempo imenso tentando forçar, a golpes de mídia, o governador de Minas Gerais a ser o vice de sua chapa. Em vez de acreditar nas palavras do próprio Aécio, que repetia diariamente que seu interesse era o Senado, Serra preferiu transformar o episódio numa guerrinha de informação, na qual colunistas amigos faziam pressão crescente, flertando com uma chantagem explícita, para que o mineiro cedesse.

Perguntado por que não se definia logo como candidato, o tucano sempre respondia que tinha muuuuito tempo, lembram? Pois bem, a crise do vice é resultado direto daquele tempo perdido. Houvesse se definido desde cedo, os debates em torno dos melhores nomes para a vice-candidatura da chapa tucana teriam se adiantado.

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Quanto à força de Indio no Rio, eu, como carioca da gema, casado com outra carioca da gema, posso afirmar que não existe. Indio é um político totalmente obscuro em seu próprio ninho. Que dirá no Brasil. Nem os tucanos o conheciam. Políticos costumam representar segmentos sociais. Lula surgiu representando o sindicalismo do ABC. Dilma tem histórico de luta contra a ditadura (luta mesmo, arriscando a vida). Mesmo alguns jovens também possuem uma base conceitual em torno de seu nome. ACM Neto herdou o carlismo. Brizola Neto, o brizolismo. Há parlamentares que representam o agronegócio, outros que compõem o chamado lobby da saúde. Indio Costa, porém, não representa nada, ninguém, nothing. É um mauricinho que elegeu-se mediante uma campanha caríssima bancada sabe-se lá como. Talvez represente, portanto, um segmento plutocrático qualquer da zona sul carioca. Vejam esse trecho de uma matéria publicada hoje por esse pasquim petralha, O Globo:

Foi eleito deputado federal em 2006, com uma campanha que custou R$838 mil. Teve cerca de 91 mil votos. De acordo com o site Transparência Brasil, cada voto de Indio da Costa custou R$9,16. A média para quem se elegeu no Rio naquele ano foi de R$4.

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O pastelão tucano foi a gota d'água para muitos colunistas políticos simpáticos ao tucanato. Clóvis Rossi e Josias de Souza, por exemplo, já entregaram os pontos.

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Enquanto isso, Dilma continua fazendo incursões bem sucedidas na cidadela tucana. A reunião na casa da mulher do Abílio Diniz foi um golpe de mestre, rendendo-lhe muita mídia em colunas sociais, revistas e sites dedicados aos "ricos e famosos". Hoje, Monica Bergamo brinda a petista com mais notinhas favoráveis:

NATA
Dilma Rousseff (PT), que já se reuniu com empresárias na casa de Abilio Diniz, do Pão de Açúcar, volta a SP na segunda, 5, para almoço -desta vez organizado por João Doria Jr. Além dela, confirmaram presença Antonio Palocci (PT-SP), coordenador da campanha petista, Michel Temer, vice na chapa de Dilma, e Aloizio Mercadante.

AO VIVO
A dramaturga Maria Adelaide Amaral, que participou de jantar com Dilma na casa do dançarino Ivaldo Bertazzo, na segunda, não dá opinião política sobre a candidata, já que não vota no Brasil -ela nasceu em Portugal.

Mas, a exemplo das socialites e empresárias que conheceram a candidata na casa de Abilio, também se surpreendeu com o visual da petista. "Ela é muito mais jovem pessoalmente."

Essas notas repercutem de maneira extraordinária junto ao público feminino de todo Brasil e, sobretudo, em São Paulo. Lembrem-se que as leitoras dessas colunas e revistas pertencem a todas as classes e, portanto, Dilma conseguiu marcar muitos pontos com essa estratégia. Reunir-se com mulheres de empresários é um lance de gênio, porque, como disse Hitchcock, na famosa entrevista concedida a François Truffaut, "quem decide se o filme foi bom ou não é a mulher".