Acredito que estão todos ainda um pouco estupefatos com a decisão do Serra de se jogar de vez no colo da ultradireita. Entretanto, nada mais natural. O tucano, com todos os seus defeitos, é um autêntico ser político, um veterano, dotado de sensibilidade suficiente para saber onde pode encontrar um suporte mais firme, um apoio mais autêntico.
Reparem, todavia, na profunda diferença entre um candidato apenas conservador, com laivos de esquerdismo desenvolvimentista, como era o Serra até há pouco, e o furibundo neocon, o ultradireitista pró-América, no qual o tucano se transformou de umas semanas para cá.
Uma das diferenças é a questão geopolítica. Serra pendurou-se com as duas mãos no discurso machartista das grandes mídias latino-americanas. Ao fazê-lo, porém, atrelou-se a um poder em decadência e coloriu o seu partido, o PSDB, de cores que não são as da bandeira brasileira.
Serra parou de fazer intervenções propositivas, como vinha fazendo até então, do tipo: "Lula fez muito, agora é hora de fazer mais, e só eu posso fazer mais". E passou a efetivamente a fazer oposição. Mas escolheu o caminho mais triste, que é alinhar-se a interesses que, definitivamente, não são os nossos.
Ontem, em reunião com empresários, Serra virou-se de costas e mostrou a suástica que tatuou no traseiro.
Seu discurso foi recheado de tantos desatinos que custa a acreditar. A ficha demora a cair porque foram dezenas de fichas depositadas quase simultâneamente.
Dizer que "todo mundo sabe que Chávez abriga as Farc", é de uma leviandade estarrecedora. Chávez rompeu relações diplomáticas com a Colômbia, justamente como forma de negar veementemente qualquer ligação com as Farc e mostrar que a acusação da Colômbia é ofensiva.
Logo depois, o próprio Chávez fez pronunciamento contra a guerrilha, conclamando os movimentos de luta armada da Colômbia a desistirem de seus intentos e a resignarem-se à política democrática convencional, única maneira legítima de conquistar o poder.
A Venezuela é um de nossos principais parceiros comerciais. Nos últimos anos, importou bilhões de dólares em produtos brasileiros de alto valor agregado. Em 2009, a Venezuela ficou em nono lugar no ranking dos principais compradores de produtos brasileiros, com a importação de 3,61 bilhões de dólares. No quesito preço, a Venezuela ficou em primeiro lugar, comprando produtos brasileiros no valor médio de 2.027 dólares a tonelada. Para efeito de comparação, a China pagou 113 dólares por tonelada pelos produtos que importou do Brasil em 2009. Os EUA pagaram 808 dólares a tonelada.
Só existe um culpado pela existência das Farc, ou melhor dois culpados: ela mesma e o governo colombiano. O governo Uribe foi ineficaz porque apelou exclusivamente para o discurso troglodita e militar.
O discurso histérico de Serra em relação às Farc é particularmente odioso porque ele é um homem experiente. Ele sabe que nem sempre as Farc foram consideradas "terroristas". Tanto é que o próprio governo colombiano, na gestão de Andres Pastrana, iniciou negociações com as Farc. O presidente, antes de ser eleito, chegou a ser fotografado ao lado do líder guerrilheiro Manuel Marulanda, em que este portava um relógio símbolo da campanha de Pastrana. Depois de eleito, Pastrana entregou às Farc uma área inteira do país, por quase os quatro anos de seu mandato.
(O presidente da Colômbia e o líder guerrilheiro Manuel Marulanda. Link da foto).
O termo "terrorista" passou a ser definitivamente associado às Farc após o atentado de 11 de setembro de 2001, quando os EUA promovem uma radicalização de sua visão de mundo. Pode-se dizer, aliás, que o governo colombiano, já desde César Gaviria, vinham conseguindo, paulatinamente, desmantelar a guerrilha. É aí que os EUA entram em cena com seu Plano Colômbia, acertado com Pastrana nos últimos meses de seu mandato, em 2002. As negociações com a guerrilha são canceladas e o governo colombiano, abastecido com 2 bilhões de dólares dos contribuintes norte-americanos, volta a perseguir as Farc.
Serra sabe de tudo isso. Sabe também que foi Fernando Henrique Cardoso, então presidente, que deu início ao diálogo com representantes das Farc. O atual senador Arthur Virgílio, do PSDB, encontrou-se por diversas vezes com líderes guerrilheiros quando estes vinham ao Brasil. Segundo reportagem do JB de 1998, Virgílio teria tentado, inclusive, interceder em favor das Farc junto ao Itamaraty, para que lhes fossem concedido o status de "força beligerante", que é uma terminologia bem mais suave e mais política; o Itamaraty se recusou.
Mas as Farc nunca tiveram "ligação" com nenhum dos grandes partidos brasileiros. Apenas esses encontros esporádicos com alguns políticos, e durante o período em que até o presidente da República da Colômbia dialogava com elas.
O candidato tucano não ficou por aí. Ele acusou o governo Lula de "patrimonialismo bolchevique". Um amigo do Twitter comentou que essa expressão faria um sucesso danado em Crato. Mas discutamos isso outro dia.
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Tem que inserir isso aonde?
O chavez é um pulha. A politica do chavez "fodeu" a Venezuela, o cara é um "diz merdas". Como pode alguem como vc (MIGUEL) defender um excremento como o porcaria do chavez ?
Anonimo, eu não concordo com o que voce diz de Chávez, mas eu não o estou defendendo. Estou falando aqui de Serra e da influência das questões geopolíticas nas campanhas brasileiras, e da irresponsabilidade que é atacar um presidente de outro país e acusá-lo sem provas. Um país que é um dos principais parceiros comerciais do Brasil. Serra é um louco da direita burra, mais preocupado com os interesses econômicos dos EUA do que com os do Brasil.
O Serra só pode estar sendo assessorado pelo Professor Hariovaldo Almeida Prado.
http://hariprado.wordpress.com/
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