Alerta vermelho: Serra encosta em Dilma no Sensus

Não quero assustar ninguém, mas não dá para ficar otimista vendo esses números. Segundo pesquisa divulgada pelo Sensus nesta quinta-feira, a diferença entre a petista e seu adversário caiu ainda mais, para pouco mais de 4 pontos percentuais. Pode-se dizer que Serra conseguiu empatar com Dilma. A campanha sórdida contra a ministra explodiu e deu resultado. Há uma esperança (ainda um tanto vaga), no entanto, de que a "onda antiDilma" tenha chegado a seu ápice e reflua nos próximos dias.

Os números do Sensus indicam que as oscilações estão perdendo a volatilidade, pois a duas semanas do pleito a grande maioria dos eleitores já formou sua opinião - o que não é exatamente bom para a petista, já que provavelmente grande parte dessas pessoas estão "decididas" a não votar nela. Por outro lado, também não indicam nenhuma virada repentina de Serra.

Apesar do forte crescimento da rejeição à Dilma, o tucano ainda lidera este índice, com 37,5% dos entrevistados afirmando que não votariam no tucano (contra 35,4% que afirmaram a mesma coisa de Dilma). Os números estão se fechando e dificilmente sofrerão alterações bruscas nos próximos dias.

Por outro lado, diante do receio de uma inesperada vitória da direita, muita gente parece ter despertado de uma espécie de letargia. Artistas importantes como Chico Buarque, Gilberto Gil, o escritor Eric Nepomuceno, entre outros, só agora gravaram mensagens de apoio à petista. Em toda a parte, intensificou-se a mobilização voluntária.

Ontem, os coordenadores da campanha na internet de Dilma encontraram-se com blogueiros próDilma dispostos a colaborar. Foi apenas uma conversa, um debate.  Eu dei minha opinião, de que a campanha deveria dizer o que Dilma fará pela banda larga. O tema, que afeta profundamente todos os brasileiros, e em especial os jovens e a classe média urbana, não está sendo sequer tocado na propaganda televisiva, e o que é mais absurdo ainda, nem na internet. Ou então é abordado de maneira confusa, misturando-se com o papo do direito autoral.

Falou-se no aumento vertiginoso do número de pessoas que acessam internet no país, que já possui uma das maiores comunidades mundiais do orkut, twitter, facebook, etc. Não se pensa, todavia, que se houve todo esse aumento, e se a renda dos brasileiros não cresceu na mesma proporção, o problema do custo e do acesso da internet banda larga tem importância essencial na vida de um grande número de eleitores.

Outro ponto levantado na reunião foi a ausência de temas ambientais na campanha, sobretudo agora no segundo turno, quando o desafio é conquistar o voto marinista. O governo Lula tem grandes avanços nessa área que podem ser mostrados. E Serra continua arrastando a bola de chumbo chamada FHC, cuja política ambiental foi um desastre. O desmatamento da Amazônia explodiu na era tucana e caiu pesadamente nos anos Lula. Onde estão os gráficos, os desenhos? A mídia tucana já está soltando factóides sugerindo que haverá deterioração da pauta ambiental: hoje a Folha publicou matéria dizendo que o governo Lula planeja "desmontar" os projetos de Marina Silva.

Falta ainda colocar a classe média na televisão, aquela cuja way of life é a meta dos segmentos sociais que vem emergindo nos últimos anos. O pobre não quer apenas ver pobre, quer ver a opinião dos mais ricos e mais cultos.

Uma crítica que vem crescendo é sobre a eficácia relativa das críticas às privatizações, que atingem sobretudo um público já politizado e já antitucano. O eleitorado que falta à Dilma, ou seja, o voto marinista, dos evangélicos e da classe média, não compreende a crítica, ou pela complexidade do assunto (caso dos menos instruidos) ou pela falta de experiência e cultura política (caso da juventude). As privatizações surtiram efeito até 2006, mas hoje esse discurso se desgastou. As críticas à Serra deveriam focar sobretudo nos fatos com forte repercussão midiática recente, como as enchentes de São Paulo, que foram agravadas pela falta de limpeza do rio Tietê. Serra não tem culpa pelo mau tempo, mas a negligência na limpeza da calha do Tietê foi criminosa. A queda de um viaduto e o buraco de Metrô também deveriam ser usados pela campanha. A blogosfera sempre usou isso, sempre foi ofensiva. Se tivesse havido integração da campanha de Dilma, seja da TV, seja da internet, com a vibração ardentemente antiserrista da blogosfera, estaríamos bem adiantados no quesito "ataque". Mas agora não adianta reclamar. A melhor profissão neste momento no Brasil é a de cardiologista...