Esclarecimentos

O post anterior levantou algumas polêmicas. Sinto necessidade de esclarecer pontos que geraram interpretações equivocadas:

1. Sobre o pessimismo, é um sentimento pessoalíssimo, claro. Talvez influenciado por meus problemas sim (segundo uma leitora me disse por email). Mas não só por isso, visto que sou um blogueiro miseravelmente duro há pelo menos dois anos e já estive otimista em momentos mais difíceis do que vivo hoje. Nestes últimos dois anos minha vida tem sido bem louca, cheia de altos e baixos repentinos. Apesar de ser meio resmungão e desesperado, no fundo estou me arranjando bem. Ou seja, meu pessimismo é fundamentado principalmente numa análise da realidade. Estou realmente preocupado e não acho que seja saudável a gente varrer as preocupações para debaixo do tapete. A correlação de forças sofreu uma mudança neste segundo turno e entendo que a isto deveria corresponder uma recauchutagem na campanha de Dilma. Posso até estar errado, mas eu senti uma necessidade imperiosa de desabafar.
2. Meu blog não é um site de campanha. É um espaço de crítica. Nem sou tão importante assim a ponto de poder me dar ao luxo de fazer críticas "internas". Não tenho o número do celular de João Santana.
3. Sobre a militância, não quis ofender nenhum militante. Eu também sou um militante, mas me sinto desconfortável com esse rótulo. Acho que ele tira o potencial político do próprio... militante, que não é visto mais como um cidadão livre que tem uma opinião independente e sim como alguém cujas orientações ideológicas vem do alto. Resultado: o militante tem seu poder de influência reduzido. Por isso eu sou crítico ao excesso de logotipos da Dilma no perfis e nos blogs. Isso afasta muita gente. Neste segundo turno, este é um fator ainda mais importante, visto que a luta é para conquistar os vinte milhões de eleitores de Marina, que votaram na verde justamente por não se identificarem com qualquer "militância". Não falo em deixar suas idéias de lado, mas acho que os apoiadores de Dilma deveriam se apresentar mais como eles mesmo são, cidadãos donos de suas próprias vidas, rostos e personalidade, do que avatares da Dilma. Um eleitor da Marina necessariamente tem alguma implicância com Dilma, senão teria votado nela no primeiro turno, e portanto não ouvirá sugestão de alguém que se apresente como um "militante" anônimo ou semianônimo com a fotinha da Dilma no lugar de sua verdadeira face. Quer dizer, você pode até continuar anônimo e não usar seu próprio rosto como o avatar. O que não vale é usar a foto da Dilma. Eu tiro isso por mim. Eu não leio nada que venha de alguém que tenha o rosto de Serra no perfil. A militância também tem que usar um mínimo de marketing para fugir de seu próprio círculo e falar a um universo maior de pessoas.
4. Sobre o debate, eu realmente me afastei muito da opinião da "militância". Assisti o debate só hoje, depois de ler algumas opiniões segundo as quais a petista teria "nocauteado" o adversário. Eu acho que ela foi boa, mas talvez só um pouco melhor que Serra. E o tucano conseguiu pespegar o aborto na testa dela sem que ela tivesse tempo de responder. Dilma também se complica um pouco. Ela repete demais a expressão "no que se refere", e deixa algumas alusões no ar, sem explicar didaticamente ao espectador sobre o que está falando, à diferença de Serra, que chega a irritar com sua redundância de paulistano metido a sabe-tudo.
5. Sobre o medo de lavar a roupa suja em público, não creio que seja o caso. Críticas são bem vindas até o dia da eleição, porque só através delas se pode aprimorar as estratégias de campanha. Nem que seja para ignorá-las. Não sou filiado ao PT. Não sou da campanha. Sou apenas um blogueiro tentando botar o oba-oba de lado e ser franco. Muita gente conversou comigo por email, vocalizando preocupações e angústias, por isso decidi expor essas críticas a luz do sol, para que as pessoas possam vê-las e usá-las (ou ignorá-las) de maneira construtiva.
6. Não há mais espaço para frescuras ou melindres. Ainda há tempo para mudanças, mas muito pouco tempo, talvez menos de uma semana. Os primeiros dias foram de perplexidade e confusão. Agora é hora de realizar um debate duro, intenso e rápido, que aliás já deve estar sendo feito diariamente pelos coordenadores das campanhas de Dilma Rousseff e José Serra.
7. É importante termos uma militância animada, mas francamente essa campanha não pode ser uma festa de autoajuda para alguns milhares de dilmistas. O desafio é muito maior que esse. Até porque não adianta nada termos uma militância animada agora e perder a eleição. Hay que endurecer. A verdade nua e crua é que Dilma ganhou "perdendo" o primeiro turno, justamente por esse sentimento de obaoba da militância. Campanha não é entretenimento. É luta política e como tal é dolorosa, difícil e angustiante. Claro que sempre dá para se divertir, como de fato a galera se diverte, deve procurar se divertir, mas sem a leviandade de querer obstruir o debate em nome de um tolo "bem estar" e "animação" da militância.

Dito isto, continuo dando meus pitacos:

• Onde esteve a agressividade da campanha de Dilma? Não foi planejada nenhuma estratégia para mostrar viadutos caindo, buraco de metrô, não-limpeza da calha do Tietê, espancamento de estudantes e professores, greve de policia civil, briga entre policiais civis e policiais militares, manifestos de delegados contra Serra, manifesto das centrais contra Serra, manifesto dos blogueiros contra Serra.
• Talvez os coordenadores não queiram usar isso na TV, mas bem que podiam montar uma estratégia na internet. Não estamos chamando Serra de "terrorista" ou "assassino", mas apenas mostrando democraticamente fatos amplamente noticiados (ou não) pela mídia.
• Onde está o mensalão do DEM? A campanha do Serra enfiou Dirceu e mensalão na campanha e o PT não respondeu nada? Serra deita e rola sobre Erenice, e por que não deveria responder sobre máfia das ambulâncias e demissão de 5.600 mata-mosquitos?
• Reitero a falta de uma resposta às palhaçadas eleitoreiras de Serra sobre salário mínimo. O PT devia ter exibido projeções indicando aumento do mesmo para patamar bem acima de R$ 600 em poucos anos. A mesma coisa vale para a aposentadoria. A propaganda política tem que ser dinâmica e dialética, conversando com o anúncio adversário, ainda mais agora no segundo turno.
• Repito pela enésima vez: porque o PT não responde à questão do salário mínimo? Isso engana o eleitor. Dilma podia usar o fato para desmascarar Serra, para mostrar como o salário mínimo era medíocre no governo do PSDB, e podia projetar um salário mínimo acima de R$ 1.000 em poucos anos. Cadê as promessas? Não se trata de iludir o eleitor com falsas promessas e sim apontar-lhe perspectivas reais. Cadê o sonho! Cadê a grandeza!
• Chega de falar de passado, chega de desse jargão petista de "coisa de rico" e "coisa de pobre". O Brasil é hoje um país de classe média, que não gosta de se identificar nem como rica nem como pobre. E é justamente esse eleitorado que Dilma perdeu. Não ouviram o recado das urnas do dia 3 de outubro?