Pitacos antibaixaria

Uma colega de Twitter resumiu bem a atmosfera política atual: "a coisa está ficando insuportável". Ela respondia a uma mensagem minha, na mesma rede, comentando um post que li no blog Cidadania, do Eduardo Guimarães, que discorre sobre a sanha do jornal Folha de São Paulo para obter os arquivos da ditadura sobre a prisão da candidata Dilma Rousseff. Sabendo que os porões do regime militar inventavam todo o tipo de mentira para justificar a prisão e tortura de uma menina de 19 anos, os documentos podem conter calúnias sinistras contra a petista. O jornal quer os documentos para difundi-los na rede de spam já montada pela campanha de José Serra, e que foi usada com eficiência invejável (o guru, ao cabo, revelou-se competente) para disseminar rumores escabrosos que ajudaram a tirar milhões de votos de Dilma.

Eu até agora não engulo bem a inércia da equipe de internet de Dilma em detectar a onda de boatos que invadiu a web e montar um contra-ataque. Não haviam contratado os americanos que trabalharam para Obama? Por que dispensaram a experiência deles nesse tipo de guerra suja?

Bem, agora não adianta chorar o leite caído. Se houve erro, não foi intencional, claro, e agora a campanha parece ter acordado. No entanto, o alerta de Eduardo Guimarães, de que a Folha já teria em suas mãos a papelada manchada de sangue dos porões militares, e que uma nova grande baixaria vem aí, deve ser analisado com a urgência necessária pelo PT.

E isso sem falar na campanha imunda que se espalhou na internet, e que os grandes jornais apóiam sem muito disfarce. A Veja, por exemplo, deu capa esta semana à questão do aborto, tentando botar fogo no fundamentalismo cristão que tanto prejudicou Dilma no primeiro turno. O blogueiro da Veja, nos últimos dias, tem se esforçado para divulgar ao máximo os vídeos-baixaria que mostram fetos mortos e divulgam a mensagem que a petista seria a favor da interrupção da gravidez.

Espanta-me, sobretudo, que nenhum colunista dos grandes jornais tenha feito qualquer comentário sobre o fato de Mônica Serra, mulher do tucano, ter declarado num corpo-a-corpo no Rio, que Dilma era a favor de "matar criancinhas". Quer dizer, não me espanta nada. Mas quero deixar registrado.

Hoje seu separei três notícias de jornal que me chamaram a atenção. Uma é que o desmatamento na Amazônia caiu 47% este ano. A matéria não mereceu destaque na capa do jornal O Globo, mas está lá. Quero acreditar que os eleitores do PV, aqueles que votaram em Marina por serem preocupados com o meio-ambiente, levarão em conta esses números, ainda mais se comparados ao que aconteceu durante o governo FHC, quando se registrou grande aumento no desmatamento da Amazônia e praticamente não se fez política ambiental.

A segunda matéria é ainda mais interessante. Segundo uma pesquisa feita pela Universidade Vanderbilt com apoio da USAID, agência federal norte-americana (o que dá crédito à pesquisa) em todo o continente americano, o Brasil é o segundo país MENOS corrupto no quesito pagar propina a servidores públicos. Menos corrupto, inclusive, que os EUA. A notícia foi publicada em alguns jornais, mas em pé-de-página.

A terceira notícia não é bem notícia e sim uma nota de Ancelmo Goes, que achei de um udenismo babaca, tendencioso e partidário, porque evidentemente visa prejudicar Dilma Rousseff. Na seção Ponto Final, com que o jornalista sempre termina sua coluna, ele estampa foto da cúpula do PMDB e tasca a seguinte legenda:

De algum destes belos tipos faceiros o eleitor compraria um carro usado? Com todo o respeito.

Ora, é uma observação de boteco, baixo nível, despolitizada, que poderia enfim ser aplicada para a cúpula de qualquer outro partido, e que omite o fato de todos os políticos ali presentes terem sido eleitos pelo voto popular e, portanto, independente da (má) fama que tem na mídia, contaram com a confiança de seus respectivos eleitores. Ancelmo nunca diria o mesmo de caciques do DEM, por exemplo...