4 de janeiro de 2009
Da série: Estudando Latim, parte 1
Há séculos que os professores (cada vez mais escassos hoje) da bela e falecida língua dos romanos iniciam suas aulas com traduções do livro De Bello Gallico, ou Comentários sobre a Guerra da Gália, escrito por Julio César, o general que se tornou imperador. César lutou contra helvécios e germanos e consolidou e expandiu seus domínios na Gália, atual França, a qual passou a ser inteiramente dominada por Roma, abrindo espaço para a conquista da Grã-Bretanha, ao norte, e da Alemanha, no centro da Europa.
Para despertar o interesse de todos, é preciso não pensar em aprender uma língua morta, mas apenas sentir a beleza desse texto escrito num latim extremamente limpo, simples e objetivo. É uma aula de redação e literatura. Um primeiro passo antes de passar para a poesia insuperável de Virgílio.
O que impressiona no latim de César, um dos primeiros textos do latim clássico moderno, é a sua economia. Não há artigos. Quase não se usam pronomes; adjetivos, raramente. O verbo, em geral, já traz implícito o pronome. Deuses não são citados. Somente estratégias de guerra, intrigas, acordos secretos, batalhas. Julio César usa toda a sua astúcia e gênio militar para vencer os adversários. Procura dividi-los, enganá-los, antever seus passos, e por fim escravizá-los, consolidar sua liderança militar e cultural sobre as nações.
Qualquer tradução do latim para uma língua moderna tem que lidar com uma primeira dificuldade. Nossa língua imediatamente impõe um uso muito maior de palavras do que no original. Uma tentativa de usar o mesmo ou quase o mesmo número de palavras implicaria um projeto ousado, mas provavelmente cansativo para os leitores.
Inicio uma tradução particular da obra. Os royalties expiraram há mais de dois mil anos. Vou completando esse post com o tempo. O melhor site para aprender sobre esta obra é este, que traz o texto no original e numa boa tradução para o inglês. Em português, encontra-se aqui.
1. A Gália é dividida em três partes, numa das quais residem os belgas, noutra os aquitânios; uma terceira é conhecida por Céltica entre seus habitantes e Gália entre nós. Nelas idioma, instituições e leis diferem entre si. (a ser atualizado...)
Original:
1. Gallia est omnis divisa in partes tres, quarum unam incolunt Belgae, aliam Aquitani, tertiam qui ipsorum lingua Celtae, nostra Galli appellantur. [2] Hi omnes lingua, institutis, legibus inter se differunt. Gallos ab Aquitanis Garumna flumen, a Belgis Matrona et Sequana dividit. [3] Horum omnium fortissimi sunt Belgae, propterea quod a cultu atque humanitate provinciae longissime absunt, minimeque ad eos mercatores saepe commeant atque ea quae ad effeminandos animos pertinent important, [4] proximique sunt Germanis, qui trans Rhenum incolunt, quibuscum continenter bellum gerunt. Qua de causa Helvetii quoque reliquos Gallos virtute praecedunt, quod fere cotidianis proeliis cum Germanis contendunt, cum aut suis finibus eos prohibent aut ipsi in eorum finibus bellum gerunt. [5] [Eorum una, pars, quam Gallos obtinere dictum est, initium capit a flumine Rhodano, continetur Garumna flumine, Oceano, finibus Belgarum, attingit etiam ab Sequanis et Helvetiis flumen Rhenum, vergit ad septentriones. [6] Belgae ab extremis Galliae finibus oriuntur, pertinent ad inferiorem partem fluminis Rheni, spectant in septentrionem et orientem solem. [7] Aquitania a Garumna flumine ad Pyrenaeos montes et eam partem Oceani quae est ad Hispaniam pertinet; spectat inter occasum solis et septentriones.]
Inglês:
1. All Gaul is divided into three parts, one of which the Belgae inhabit, the Aquitani another, those who in their own language are called Celts, in our Gauls, the third. All these differ from each other in language, customs and laws. The river Garonne separates the Gauls from the Aquitani; the Marne and the Seine separate them from the Belgae. Of all these, the Belgae are the bravest, because they are furthest from the civilization and refinement of [our] Province, and merchants least frequently resort to them, and import those things which tend to effeminate the mind; and they are the nearest to the Germans, who dwell beyond the Rhine , with whom they are continually waging war; for which reason the Helvetii also surpass the rest of the Gauls in valor, as they contend with the Germans in almost daily battles, when they either repel them from their own territories, or themselves wage war on their frontiers. One part of these, which it has been said that the Gauls occupy, takes its beginning at the river Rhone ; it is bounded by the river Garonne, the ocean, and the territories of the Belgae; it borders, too, on the side of the Sequani and the Helvetii, upon the river Rhine , and stretches toward the north. The Belgae rises from the extreme frontier of Gaul, extend to the lower part of the river Rhine ; and look toward the north and the rising sun. Aquitania extends from the river Garonne to the Pyrenaean mountains and to that part of the ocean which is near Spain: it looks between the setting of the sun, and the north star.
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Vou acabar tendo que estudar latim.
Boa tarde,
ótimo, gostei esudo latim com uso da internet. qualquer coisa pra somar é sempre bem vinda, qualquer material extra me enviar por favor. meu endereço é: joaof2@yahoo.com.br
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