Deixem-me contar para vocês como foi sem muito lero-lero. Ás sete e pouco da noite, desliguei o computador e dirigi-me ao Circo Voador, para ver o tal encontro de "artistas, poetas, músicos, etc" que apoiam Dilma. Achei que fosse encontrar meia dúzia de malucos reunidos no pátio e me surpreendi positivamente com um ato magnificamente organizado pela campanha, com exibição de vídeos, shows, venda de cerveja a preço acessível, e uma quantidade impressionante de garotas bonitas - e inteligentes, pois votam na Dilma.
A intenção de apenas dar uma olhada, portanto, desfez-se rapidamente e decidi gastar meus últimos trocados da semana comprando tickets de cerveja a três reais e conversando sobre política, dançando e recebendo beliscões de ciúmes de minha mulher que chegou de São Paulo a tempo de participar da festa.
O mais impressionante para mim, no entanto, veio depois. As pessoas saíram do evento dispostas a assistir ao debate e uma boa parte migrou para o Arco Iris, um dos bares tradicionais da Mem de Sá, que tem tvs posicionadas em todos os cantos. Nunca vi nada parecido. Uma cena original para mim. Embora caladas, você podia sentir a forte eletricidade no ar. As pessoas ouviam os candidatos com atenção extrema, mas se notavam, nas pausas, manifestações calorosíssimas em defesa da Dilma.
Aliás, agora entendi porque eu perdi o "timing", naquele primeiro debate do segundo turno, quando, após vê-lo pela internet apenas no dia seguinte, escrevi um texto pessimista. Dessa vez, eu vivencei o momento, num bar lotado da Lapa de gente ansiosa, tensa, alegre, sagaz, que pediam silêncio para compreender melhor o que era discutido. E batiam palmas, eufóricas, quando Dilma encaixava mais um argumento.
Serra nunca me pareceu tanto o Nosferatu, do filme de Murnau, com suas enormes mãos espalmadas sempre apontando a si mesmo, os dedos longilíneos abertos com força quase histérica, como se quisesse separá-los. Os olhos esbugalhados de medo, ódio e ambição. As pessoas pediam silêncio para poder ouvi-lo. Todos queriam ouvi-lo, mas ao mesmo tempo não era possível compreendê-lo. O que ele defende? Quem ele pensa enganar com suas pegadinhas tolas?
O assunto era o pré-sal, trazido para o centro do debate por Dilma Rousseff, que finalmente conseguiu atingir aquele delicado equilíbrio entre o erudito e o popular que apenas os grandes artistas e eventualmente algumas lideranças políticas logram alcançar. Ela falou em filet mignon. Explicou didaticamente, mas sem ar professoral, que o petróleo que tínhamos antes, antes do pré-sal, era um petróleo pesado, de baixa qualidade e em pouca quantidade. O pré-sal tem altíssima qualidade, é um petróleo fino, e existe em quantidades colossais. Não dá para comparar uma coisa com a outra. O tucano tentava, de maneira quase adolescente, e um tanto paradoxal, demonstrar que Dilma ajudou a trazer capital privado para as explorações petrolíferas brasileiras. A gente ouvia aquilo e não entendia. Ué, e daí? Não é justamente isso que o PSDB defende? O Serra virou socialista agora? Sem falar que essas leis que abrem a exploração para companhias estrangeiras foram aprovadas pelo governo tucano...
Dilma rebateu com galhardia. Sim, Serra, o governo Lula liberou parte da exploração do petróleo para o capital externo, porque as leis aprovadas no governo anterior assim permitiam, além de se tratar de um petróleo pesado, de baixa qualidade, e em pouca quantidade. Mas não compare isso ao pré-sal. O pré-sal é o filet mignon, o nosso passaporte para o futuro, e por isso mesmo a mídia até agora não esclarece a população, adequadamente, sobre o efeito que os seus recursos poderão proporcionar à economia brasileira. São trilhões de dólares, que poderão efetivamente mudar a educação e a saúde dos brasileiros. Nesse ponto, o bar explodiu, em palmas e gritos, e logo veio uma cantoria inflamada Olê Olê Olá, Dilmá, Dilmá.
Aí eu voltei para casa, com alma e carteira limpas, mas com a certeza de que ainda teremos muito trabalho pela frente, porque uma derrota de Dilma representaria um trauma político difícil de ser mensurado, vide o envolvimento emocional que pessoas, movimentos sociais, artistas, e associações populares estão pondo no processo. Ontem eu vi uma foto impressionante de um auditório gigante da USP, lotado de estudantes, professores, intelectuais, sindicalistas, num ato pró-Dilma. Não é apenas a eleição presidencial que está em jogo aqui. Alguma coisa está emergindo no país, uma coisa nova, profunda, nascendo das entranhas, um sonho cheio de fúria e esperança.
26 de outubro de 2010
Torcida pró-Dilma toma conta da Lapa
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olê olê olê olá, Dilmá, Dilmá!
Dilma é futuro, Serra retrocesso. Dilma é esperança, Serra terror. Dilma é verdade, Serra calúnia. Dilma é luz, Serra escuridão. Dilma é servidora, Serra soberba. Dilma é Brasil, Serra entreguismo. Dia 31 vou de Dilma, porque sou Brasil, tenho esperança, quero um país de todos, negros e brancos, homens e mulheres, idosos e crianças. Dia 31 vou de 13. Depois de Lula, agora é Dilma. Com muito orgulho. Com muito amor.
Otto, de Curitiba
Admirável Brasil Novo, Miguel do Rosário.
O Óleo do Capiroto é um dos espaços "sujinhos" onde é impossível deixar de dar uma passadinha. É possível inclusive associar o perfil do blogueiro ao fictício fotógrafo Peter Parker, alter-ego do Escalador de Paredes:
blogueiro duro, mas com uma missão nobre
= fotógrafo duro, mas com uma missão nobre
blogueiro freela, contando os trocados
= fotógrafo freela,contando os trocados
blogueiro com problemas como todo mundo
= fotógrafo com problemas como todo mundo
Peter Parker e Miguel são nosso heróis preferidos!
Sua percepção é incrível, Miguel!
Cara, só imaginei o clima do Arco-Iris e me arrepiei!
Emocionante seu relato.
Concordo plenamente com o que vc disse: ainda há muito o que fazer para essa emoção toda de ontem no Arco-Iris explodir em felicidade no dia 31 a noite.
Falo pessoalmente, concordando mais uma vez contigo: para mim uma derrota de Dilma representaria um trauma político difícil de ser mensurado e superado.
Olê olê olê olá, Dilma!!! Dilma!!!!
DE UM PARLAMENTAR SEM COMPOSTURA
Aloysio Nunes ofende jornalista
Reproduzo matéria de Thiago Domenici, publicada no blog "notaderodape":
João Peres, nosso colaborador do NR e repórter da Rede Brasil Atual, profissional da mais alta competência teve ontem uma experiência desagradável e desrespeitosa. Ele estava na cobertura do debate entre os presidenciáveis da Record, na noite de ontem, e na entrada da emissora, como todo repórter faz e é da profissão, foi conversar com os políticos que chegavam para acompanhar o evento.
O senador eleito por São Paulo, do PSDB, Aloysio Nunes, amigão do Serra, foi abordado pelo repórter que fazia a cobertura para a Rede Brasil Atual, que pertence ao mesmo grupo da Revista do Brasil, censurada recentemente pelo partido do senador em questão. Era perto da hora do debate, que começou às 23h, quando o senador eleito com mais de 11 milhões de votos indagou ao repórter:
- É ligada a quem essa revista?
- Aos sindicatos
- Que sindicatos? - falou a assessora do lado dele
- Bancários, metalúrgicos, químicos...
- Pelego, você é pelego - falou o senador
- Não podemos conversar, senador?
- Pelego. sua revista é financiada pelo PT...
- E a Veja, quem financia, senador?
- Pelego
- Que educação, senador
- Pelego filha da puta. Pelego filha da puta!
João me escreveu: "Foi assim, gratuito. Fiquei passado, triste mesmo. Não que não devesse esperar isso, mas agora vai ser isso, vou ser rotulado logo de cara pelo veículo em que eu trabalho? Ninguém associa a tucano-demo logo de cara um sujeito que trabalha na Folha? Uma noite horrível".
Digo o seguinte: é preciso que os políticos respeitem o trabalho dos jornalistas. Essa clima de guerra entre PT e PSDB está doentio. João Peres é um trabalhador, um empregado de um veículo que, sim, tem ligações com os sindicatos. E daí? Isto é público e notório. Nada está escondido. Pergunto ao distinto senador: todos os metalúrgicos, químicos e afins são "filhos da puta", então? Eu sou "filho da puta" também, pois apesar de não ser petista, trabalhei na revista durante um ano. Eis mais um absurdo que se tornou estas eleições. Lastimável.
"A Editora Atitude, que publica os dois veículos (Rede Brasil Atual e Revista do Brasil), condena a postura do senador eleito e entende que liberdade de expressão não é agredir verbalmente quem está em seu direito constitucional de exercer a liberdade de imprensa, muito menos a função de um representante de um Estado no Senado Federal", diz o diretor da editora, Paulo Salvado
Amanhã Dilma estará em Manaus e nós com ela, nas ruas.
Você viu esse artigo da Carta Maior?
http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=17118
Assim eu choro, porra!
Falando em Dilma Lá, olha que beleza
http://www.youtube.com/watch?v=8cB-CpSv3fc
frank
Fiquei emocionada com o seu texto, e como se eu estivesse lá no Circo Voador e depois assistindo o debate, mais do que a certeza da vitoria de Dilma no dia 31/10 e a vitória dos movimentos sociais, da sociedade civil organizada estavamos satisfeitos com os avanços do governo Lula, mas deixando as coisas acontecerem, derrepente, com a política suja do Serrojas e do PIG, nos fez movimentar nesse segundo turno e vc tem razão, ao dizer que
"Alguma coisa está emergindo no país, uma coisa nova, profunda, nascendo das entranhas, um sonho cheio de fúria e esperança." Somos nós cidadãos cheios de orgulho desse Brasil, brasileiro. Dilma 13
Muito bom o post;encorajador!!
Eita que vc ate pra falar da liseira(falta de dinheiro) é poético:"com alma e carteira limpas",rrsrsrs
Não tenho nem palavras, apenas lagrimas no rosto.
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