14 de julho de 2007

Conversando sobre literatura & poema de Dylan

Hoje eu quero falar de Hemingway. Ontem li uma biografia dele. E um conto, a Breve Vida Feliz de Francis Macomber… simplesmente magnífico. Durante algum tempo, tive um preconceito bobo com o Hemingway. Talvez porque não tivesse lido ainda bastante coisa dele. Acontece muito com as pessoas. Não gostarem daquilo sobre o qual conhecem pouco.

Nos ultimos tempos, todavia, corrigi essa lacuna. Li os romances Adeus às Armas e Por quem os sinos dobram, e agora o conto citado (numa coletanea de contos, que devo visitar novamente hoje).

Hemingway, de fato, está no cerne da literatura contemporânea. Agora entendo porque Bukóswski tinha implicância com Hemingway. Era impossivel nao ter inveja. Hemingway ficou muito rico, possuiu mulheres belíssimas, teve amigos na elite da elite (aristocratas sensíveis, divas de hooliwood, milionários que lhe pagavam viagens pelo mundo). Dentre seu círculo de amigos, encontramos nada mais nada menos que F.Scott Fitzgerald, Gertrude Stein (que lhe acolheu em Paris, quando tinha menos de 25 anos e não tinha lançado nenhum livro), o poeta Wallace Stevens (com que lutou boxe e perdeu), Ezra Pound (que, segundo ele, lhe ensinou a escrever), entre outros. Teve brigas históricas com Faulkner e Fitzgerald (por incompreensão de Hemingway, que havia se tornado excessivamente suscetível após certa idade).

Outro mito que a biografia que eu li ontem desfez foi a de que Hemingway teria sido espião da Cia contra o governo cubano. De fato, ele foi espião em Cuba. Mas contra os nazistas, na época da II Guerra, quando os submarinos alemães tentavam entrar nas águas do Caribe. Em relação à revolução cubana, Hemingway foi um apoiador, embora sem muito entusiasmo (na época, já no fim da vida, se interessava muito mais por caçadas na Africa do que por política).

Enfim, o suicídio de Hemingway. Assim como Jack London, eu tinha a imagem de um homem que se matava no auge de uma vida gloriosa. Nada disso. London se matou após uma longa doença, que lhe tornava a vida insuportável, e com sua resistência física esticada ao último limite. Hemingway estava ainda pior. Em sua vida, havia sofrido vários acidentes graves e, por inúmeras vezes, foi proibido de beber por conta do fígado arruinado. Sete anos antes de sua morte, Hemingway havia sofrido um grave acidente de avião na Africa, que lhe devastara de vez. Além disso, estava com problemas mentais, sofrendo lapsos de memória e mania de perseguição. Tentou se matar diversas vezes. Para agravar o quadro, a psiquiatria medieval da época decidiu aplicar-lhe dezenas de sessões de eletrochoque e prendê-lo em quartos fechados, sem companhias, sem livros, sem material para escrever, sem telefone. Não admira que, na primeira oportunidade, pegou em armas e deu fim a si mesmo. Tinha 62 anos.

Mudando de assunto. Uma palavrinha sobre James Joyce. Alguns posts atrás, escrevi algo que parece desmerecer o irlandês. Quero esclarecer apenas que gosto muito de Dublinenses (seu primeiro livro de contos) e um pouco menos (mas gosto) de Retrato de Artista quando Jovem. Quanto ao Ulisses, simplesmente não consigo ler a tradução do Houaiss. Me dá engulhos. Estou esperando alguma oportunidade de ler no original. Nao quis desmerece-lo, apenas constatar a verdade: Ulisses, ou pelo menos sua traduçao para o portugues, é muito chato.

Para finalizar o post, queria transcrever aqui um lindissimo poema de Dylan Thomas, composto para seu falecido pai. Trata-se de um desses poemas, na minha opinião, intraduzíveis, porque sua beleza está justamente na melodia da língua inglesa, que é um idioma belíssimo para a poesia, porque simples e musical.

Elegy

Too proud to die, broken and blind he died
The darkest way, and did not turn away
A cold, kind man brave in his burning pride

On that darkest day. Oh, forever may
He live lightly, at last, on the last, crossed
Hill, and there grow young, under the grass, in love,

Among the long flocks, and never lie lost
Or still all the days of his death, though above
All he longed all dark for his mother’s breast

Which was rest and dust, and in the king ground
The darkest justice of death, blind and unblessed.
Let him find no rest but be fathered and found,

I prayed in the crouching room, by his blind bed,
In the muted house, one minute before
Noon, and night, and light. The rivers of the dead

Moved in his poor hand I held, and I saw
Through his faded eyes to the roots of the sea.
Go calm to your crucified hill, I told

The air that drew away from him.

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