(agora vou publicar os meus contos)
Chegou no fim da tarde, o sol era um mijo vermelho de Apólo. Pendurou-se no balcão, jornais nas axilas, os olhos fuzilando o barman. Estava em dúvida. Cerveja ou destilado? Cerveja, para começar. O barman, um homem frio, calejado no trato com os boêmios. Bebeu num só trago, encheu de novo o copo. Um brinde aos filósofos e aos imbecis! Que uns não vivem sem os outros. Ao amor e aos cornos! Bebeu mais cinco garrafas. Pediu a sexta. E uma cachacinha, daquela boa. A noite tinha descido, soturna e trágica. Irônica. O bar enchia-se de jeans e jornalistas. Quem disse que a poesia tinha que nascer do sofrimento? Também podia ser fecundada com uma dose de Magnífica. A poesia, sim, a poesia, evoluía-se em espirais, como fumaça de charuto, enquanto ele aliviava-se no toalete. Soltou um peido e riu. Ao lado, dois caras esticavam uma carreira de pó. Humanidade vencida. Um brinde ao fracasso do homem! O barman o encarava com um olhar feio. "Que foi?", gritou. "Fiz cocô nas calças?". Escutou a risada de uma moça de longos cabelos cacheados, ao seu lado. Fosse cobra... Mais algumas dezenas de garrafas e perdeu o rumo. Acordou num quarto desconhecido, a cabeça doendo. A seu lado, a moça ressonava, suave. O sol ardia lá fora, fulgurante e cruel no meio da porra azul. O dia recendia a alegria e solidão. Foi o momento mais feliz. Um pouco antes da moça despertar e ele mergulhar nos abismos da ressaca. Nada que um anti-ácido e um baseado não resolvessem. Um sorriso de mistério, e tantas histórias a serem contadas...
8 de julho de 2007
O porre do escritor
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