Errei. Merval Pereira não é burro. É safado. Quando quer, sabe escrever coisas menos absurdas. Sobretudo quando o assunto não é política nacional. Mas há tempos ele vem se notabilizando como um dos mais notórios golpistas da imprensa tupi. Hoje (O Globo, 14/07, pag.4, Fato Novo, clicar no link) por exemplo, ele nos brinda com um belíssimo exemplo.
Pra início de conserva, ele volta ao mensalão. Agora que já se passaram dois anos, os colunistas do golpe aproveitam-se para omitir alguns detalhes. Entre eles, que o mensalão nunca foi provado. Recebiam dinheiro para votar com o governo? Ora, então deputados do PT, e das correntes mais fiéis, recebiam para votar com o mesmo PT? O que ficou provado e confessado foi o Caixa 2. Pereira não se importa com a inconsistência. Seu texto deve ser estudado em universidades, porque é um excelente modelo. Na falta de argumentos substantivos, o texto é rico em adjetivos. Como todo texto golpista. Começa lembrando a “estranha entrevista” de Lula em Paris, quando disse que o Caixa 2 do PT era feito por todos os partidos. Ora, a fala de Lula calou fundo. Doeu. Mas era a pura verdade. Doeu porque mostrou que a imprensa havia sido leniente por décadas. A Justiça idem. Os políticos eram coniventes. Eduardo Azeredo, na época presidente do PSDB, declarou publicamente que praticou caixa 2 em Minas Gerais, usando dinheiro do Valerioduto, o qual era, portanto, uma autêntica criação tucana. O PT errou? Errou. O PT perdeu a virgindade? Perdeu. O PT perdeu a aura santa? Perdeu. Mas pagou por isso. Pesadamente. Um preço político enorme e uma série de processos que ainda estão sendo investigados. Mas Pereira não deveria entrar nesse proselitismo partidário tendencioso. Deveria ser mais imparcial.
Aí afirma que Lula vem emprestando seu prestígio popular para passar a mão na cabeça de mensaleiros, sanguessugas, aloprados… Opa! Que samba doido é esse? Misturando mensaleiros (que não existiram) com sanguessugas com aloprados, Pereira presta a capciosa função de confundir e desinformar o público. Informar-se é, sobretudo, saber separar, hierarquizar, comparar. Mesclando tudo, Pereira apenas desinforma. Os sanguessugas foram presos pela PF de Lula. Não teve nenhuma “mão na cabeça”. Os aloprados foram chamados com esse nome pelo próprio Lula. E foram presos pela PF de Lula. Isso é passar a mão? Passar a mão é o que fazia FHC com os banqueiros, para os quais emprestava, a fundo perdido, bilhões e bilhões. É o que fazia FHC com grupos internacionais, aos quais emprestava dinheiro a juro zero para comprar o nosso próprio patrimônio, como foram as privatarias. O governo FHC foi o primeiro caso da história em que um proprietário desvaloriza o seu produto (para baixar o preço inicial de venda), contrata um avaliante ligado ao comprador, empresta dinheiro para o comprador e, quando o povo e a sociedade protesta, não permite nenhuma discussão pública. Isso é democracia tucana! Engolir a pílula que eles nos davam! Senão, porrada! Com o apoio da mídia, é claro! E dá-lhe Miriam Leitão a assegurar, citando poderosas fontes em Brasília, que o dólar não iria se desvalorizar no início de 1999! E dá-lhe quebrar as empresas não ligadas aos amigos do rei!
Por fim, como não podia deixar de ser, Merval nos vem com essa última pesquisa do Banco Mundial, que fala sobre o aumento da corrupção no Brasil. Ora, agora sabemos mais sobre essa pesquisa. Não tem nenhuma metodologia. Usa apenas os fatos que vem à tona. Afinal, se os casos de corrupção que são investigados hoje eram desconhecidos antes, como avaliar se a corrupção cresceu?
O ministro da Controladoria-Geral da União, Jorge Hage, nos informou melhor sobre a “qualidade” desse estudo. O titular da CGU observou que o Bird não mede a corrupção, mas “as percepções sobre os fatos” revelados a respeito. “E isso tem realmente aumentado a partir do momento em que se passou a investigar e revelar a corrupção que sempre existiu.” Hage foi além. Disse que os índices do Banco Mundial são tão inconfiáveis que nem mesmo este os utiliza. A rigor, como o próprio ministro explicou, o Bird ressalva que os dados do relatório anual “não refletem a visão oficial [da instituição], nem dos seus diretores, nem são usados para alocação de recursos ou para qualquer outra finalidade”. Para mim, isso significa que o estudo é falacioso e desastrado. Mas um caso em que as virtudes são transformadas em defeitos. Clássico exemplo dos valores invertidos. O governo determina investigações corajosas e profundas sobre a própria administração pública. Descobre centenas de casos de corrupção. E as forças políticas de oposição (das quais a mídia é a força principal) procuram transformar isso em “aumento de corrupção”. Lógica miserável, essa. As investigações estão acontecendo, mega-empresários, altos funcionários públicos, juízes, advogados famosos, ex-governadores, estão sendo presos, pela primeira vez na história da república brasileria e a imprensa conclui que a corrupção aumentou! Ora, o mais importante aqui não é nem saber exatamente o quanto a corrupção aumentou e sim que ela está sendo combatida. Os figurões são liberados depois pela Justiça? Ora, ao menos foram presos por um tempo. Já é um tremendo avanço. E as quadrilhas foram desbaratadas. Que a PF vem fazendo um belo trabalho, ninguém pode negar. A maioria dos casos ainda não foi julgado pela Justiça. O que sabemos é que, como envolvem muitas figuras poderosas, com poder financeiro, os réus contratam os melhores advogados do país e conseguem prorrogar os processos. O que importa é que estão com a Lei lhes mordendo os calcanhares. Qualquer peido em falso e podem dançar feio. Roubar só é bom sem esse tipo de confusão. Sem aparecer nos jornais, sem passar algumas semanas no xadrez e sem sofrer noites de insônia pensando na possibilidade de uma condenação.
Em sua coluna, Merval nos dá uma informação importante para compreender o que está acontecendo hoje. Lembra que o governo tem maioria muito frágil dentro do Senado. Baseada principalmente no apoio do PMDB. Ora, está explicado agora porque o golpismo está atrás dos bois do Renan. As forças políticas de oposição detectaram o ponto fraco do governo. O Senado. Com alguma perspicácia, e zero de escrúpulo jornalístico, pode-se quebrar a maioria do governo. E ainda posar de paladino da ética! Como criticar a imprensa por estar expondo as mazelas éticas dos senadores? Se existe uma seletividade estratégica nos alvos dos inquéritos éticos da imprensa, que podemos fazer? A imprensa está interessada apenas nos desvios do lado de lá, mas pelo menos está interessada. Se puder juntar o útil (investigar falcatruas) ao agradável (derrubar um aliado de Lula da presidência do Senado), excelente! A lógica da disputa política vai além da imaginação. Realmente, é difícil entender. Política hoje é uma coisa para entendidos, de preferência proprietários de meios de comunicação. Nem os jornalistas, nem os colunistas, pensam a política hoje. Apenas fazem o trabalho braçal. Mete o pau ali! Mete o cacete lá! Ah, seria bom um Céline por essas plagas. Anti-comunista, seria bem aceito pelas elites. Mas seu cinismo devastador, imparcial, incorruptível, quase santo, nos faria muito bem!
Finalizando, Merval cita as vaias de Lula no Pan 2007. Ele admite que elas podem tem sido “armadas” (e se ele admite, eu tenho certeza. Típica coisa do César Maia e seu filho, agora presidente do DEM. Com uma ajudinha básica do envenenamento constante aplicado pelo Globo às massas. De qualquer forma, tradiçao do carioca é vaiar mesmo). O que não o impede de concluir o artigo dizendo que também pode “ser um sinal que as coisas estão chegando ao limite do aceitável”. Ah! Guerreiros, chegamos às praias de Tróia! A opinião pública inflamada diz BASTA! O astuto Merval Pereira esconde-se bem quietinho no interior do Cavalo de madeira, e manda dizer a seus prezados leitores que podem conduzi-lo para dentro de seus apartamentos bem fornidos, com empregadas de avental branco e enormes televisores de tela de plasma na sala. E eis que, já dentro das casas, ele sai do Cavalo e surge diante de seus leitores, vestido com roupas onde se lê “Basta! Abaixo o Mensalão!”, “Fora Lulla ladrão”! E pronto. Mais um pouco, com as defesas devastadas e os portoes arrombados, entram os gregos, todos com máscaras dos governadores José Serra e Aécio Neves, prontos para dominar a cidade. Como diziam os romanos: Si vis pacem, para bellum. Se queres paz, faça guerra. Em jargão popular: se queres o PSDB no poder (e manter seu emprego no jornal), seja golpista.
14 de julho de 2007
Merval e o Cavalo de Tróia
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Miguel. Também achei bastante estranha as vaias. Me pareceu uma coisa coordenada. Todos sabem que César Maia é capaz deste tido de atitude. Hoje na coluna de Anselmo Goes, ele diz que o Prefeito do Rio tinha em seu poder uma grande número de ingressos.
Ainda bem que até Merval Pereira, acha que houve uma armação.
O importante, não são vaias, mas sim o aumento na geração de empregos no primeiro semestre. Mas de 1.09 milhões foram gerados com carteiras assinadas.
Isto é que interessa, ao povo.
Vaias passam e os empregos ficam.
lyra, mas pode ser que tenham vaiado mesmo. E dai? Carioca gosta de vaiar. E presidentes sao vaiados. O proprio status de poder confere uma aura negativa aos politicos, associados a tudo de mal que existe.
Sei que a comparaçao nao tem nada a ver. Mas so para estabelecer algum parametro: quando Bush chega num pais, geralmente tem multidoes de 1 a 2 milhoes de pessoas querendo, nao so vaiar, mas quebrar tudo.
No caso do Brasil, no entanto, a situaçao piora, com o envenenamento diario que a imprensa prova na populaçao, procurando inflar o sentimento anti-politico.
Comparar o vexame do PAN com o enterro de Brizola?
Todo mundo sabe que os brizolistas roxos poderiam mesmo fazer aquilo no enterro dele.
Lula foi àquele ato ( enterro de Brizola ) sabendo do risco que poderia ser vaiado sim.
Afinal de contas, havia sim sentimento e ressentimento por parte de brizolistas fanáticos, o que é aceitável e até compreensível.
Não era este o caso do PAN. A não ser que se se tratase do enterro de César Maia.
Se o prefeito do RJ, com aquela palhaçada pretendeu enterrar Lula politicamente, dançou.
Até os que são contrários a Lula estão protestando contra aquele o bestialismo da sexta-feira 13 que manchou a imagem do Brasil mundo afora.
Ainda há quem diga que quem é sem classe é o povão e não os letrados.
Que o diga César Maia, uma figura traçoeira e DEM(oníaca).
Cadê nossos direitos de internautas de sermos lidos e lermos o que procuramos? Ao se pesquisar no Google com as palavras PAN, vaias, Lula, só se cai no G1 da Globo. Pelo jeito, todas as buscas são desviadas para a Globo. É o Partido Unico da Mídia em ação. Ainda assim eles tem a cara de pau de falar em falta de liberdade de expressão na Venezuela, China, Cuba... Pelo jeito, isso é muito relativo. Liberdade pode sim, desde que só se publique o que interessa à politicagem deles ( Globais, tucanos-DEM(entes). Fiquei pasmo ao saber do desvio das buscas para cair sempre no G1 da Globo. Os internautas temos que colocar a boca no trombone, assim como fizemos por ocasião do bloquei do You Tube pela Daniella Cicarelli. Não dá pra engolir esta. Tantas informações boas como estas contidas no seu e noutros blogs serem ignorados pelo sistema de busca do Google tudo por conta do poderio econômico das Organizações Globo que, pelo jeito, tem que ser nosso único meio de informação. Inclusive na net!Fora dinossauros da mídia!
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