31 de julho de 2007

Falou e disse Mauro!

Leiam esse artigo do grande Mauro Santayanna.

Em tempo, o Santayanna é um dos jornalistas mais brilhantes que conheci. Com uma orientaçao progressista, nacionalista, qualidades hoje completamente esquecidas pelas novas geraçoes de profissionais de comunicaçao, ele foi um dos que foram terrivelmente prejudicados pela ditadura militar.

Ele foi amigo do meu (falecido) pai e no ano passado ficou hospedado uns dias la na casa de minha mae. Nao aproveitei bem a ocasiao para conversar muito com ele. Sou timido e desastrado socialmente. Mas o pouco que conversei revelou-me uma inteligencia absolutamente brilhante, uma memoria poderosissima e um conhecimento profundo da historia brasileira recente e antiga, sobretudo da historia politica, sua especialidade.

Sua opiniao, para mim, vale muito mais que a de imbecis vendidos como Clovis Rossi, Noblat ou Merval Pereira. Ele escreve com elegancia e estilo literario, sem o pedantismo sensacionalista de um Reinaldo Azevedo. Seus textos sempre provocam reflexao e nao constituem nunca uma opiniao absoluta lançada na cabeça do leitor. Jamais brinca com emoçoes do momento, como o vulgar Noblat. Seu raciocionio é simples, correto, honesto. Nos ultimos meses, seus textos tem sido os melhores que tenho lido.

Aproveito para colar aqui o trecho de entrevista de Santayanna para a revista Principios (e pescada no Portal Vermelho):


Para o senhor não existem países sem crise, pois a história é uma crise permanente e encerra a luta de pobres contra os ricos. Desenvolva um pouco mais esse raciocínio, se possível fazendo analogia com a crise política atual que afeta o país.

Santayana — Os povos criaram os Estados primitivos como instrumento dos fracos contra os fortes. A primeira razão do Estado é a instituição da justiça, mediante as regras de convívio — a que chamamos lei. Lei é ligação, é amarra, é compromisso moral. Ao longo dos séculos, a vida política tem sido de tensão permanente entre ricos e pobres. A República Romana, até hoje inigualável exemplo de Estado, expressava essa tensão no conflito político entre os “populares”, ou democráticos, e os “optimates”, ou seja, aristocratas da ordem eqüestre. O poder estava ao alcance dos pobres, se eles se destacassem nas fileiras militares, a que todos os romanos estavam sujeitos. Foi assim que o plebeu Caio Mario chegou ao consulado, devidamente eleito, e o exerceu durante seis mandatos. Em nosso caso, o poder sempre esteve nas mãos não da aristocracia —porque nunca tivemos aristocracia, nem mesmo no Império —, mas na dos homens ricos. Os “aristocratas” do Império foram sempre, e o exemplo de Joaquim Nabuco é suficiente, embasbacados admiradores das culturas francesa e anglo-saxônica. Primeiro o poder foi exercido pelos proprietários de terras, associados à incipiente burguesia importadora e exportadora das praças do Rio de Janeiro e Recife (um pouco mais tarde, também a de Santos) e, depois, pelos banqueiros, mas todos eles submetidos ao interesse estrangeiro. Desde o início do século 18, com o Tratado de Methuen, já não eram mais os portugueses que nos exploravam. Eles eram meros capatazes do capital inglês. Do domínio inglês, passamos para o domínio norte-americano. A nossa história tem sido uma sucessão de crises, crises econômicas (quando passávamos de um ciclo a outro), crises sociais, crises políticas. De vez em quando, a crise fica mais aguda, mas ela é, no fundo, o conflito entre os que exploram o trabalho alheio e os que resistem contra essa exploração. Marx morreu, como se sabe, mas ainda não o conseguiram enterrar.

Integra da entrevista aqui.

1 comentário

Camilla Lopes disse...

Me agrada o progressismo e eu sou jornalista.
Quando vocês chegam?
um beijo.

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