8 de fevereiro de 2009

Voltemos aos clássicos




Não vou falar mais de terrorismo midiático, nem de PIG. Tentarei ser um pouco mais elegante e original que isso. A crise econômica mundial e seus desdobramentos no debate político brasileiro exerceram pelo menos um efeito positivo na minha pessoa. Há anos que namoro o Adam Smith na minha estante e não me empolgo com a perspectiva de perder algumas semanas da minha vida debruçado sobre ele. Esses clássicos, para serem bem assimilados, devem ser lidos diversas vezes e com muita calma. A crise, todavia, deflagrou uma curiosidade brutal por entender melhor a economia, e como sou um classicista, vou aos clássicos! Hoje, lá na biblioteca que frequento, li mais um pouco do Keynes e também alguns textos de John Stuart Mill, economista britânico que não aprendeu nada em escola ou universidade, mas através de um programa de estudos planejado por seu pai. Aprendeu grego com três anos de idade! É até engraçado. Mas isso não vem ao caso. Nos comentários preliminares de sua obra principal, Princípios de Economia Política, Mill aborda a questão de saber o que forma a riqueza das nações e da humanidade. De logo descarta a quantidade de dinheiro possuída por aquela nação, ou mesmo o valor em dinheiro da produção do país. A resposta a esta questão será desenvolvida melhor no livro, mas posso adiantar que se trata de elementos mais consistentes, como a terra, os conhecimentos, as instituições políticas, os recursos naturais.

Pensando nisto, não pude deixar de pensar na realidade brasileira, até porque estou lendo esses livros justamente com o objetivo de estimular minha imaginação para melhor entender o Brasil e, com isso, construir, se for o caso, uma visão menos sombria do futuro. Se não for o caso, tudo bem. Não tenho nada contra o pessimismo em si. Ao contrário, compreendo a elegância do pessimismo, desde que expresso por pessoas elegantes e de forma elegante. Esse terrorismo midiático (ih, falei dele!) não tem nada de elegante. Enfim, considerando a extensão territorial do país, os recursos naturais, as instituições políticas (que apesar da campanha da mídia e dos problemas inegáveis de corrupção e incompetência, estão evoluindo bem rapidamente) e o conhecimento, eu vejo o Brasil como um dos países mais ricos do mundo. Explico ponto a ponto:

1 - Extensão territorial - 8 milhões de km quadrados. Seria maior que os Estados Unidos se estes não possuíssem o Alaska.

2 - Recursos naturais - possui tudo que precisa para se desenvolver: ferro, petróleo, soja, carne, madeira, água, para só ficar nas matérias-primas. O parque industrial também faz inveja a maioria dos países em desenvolvimento. Tínhamos alguns déficits na área de geração de energia, refino de petróleo, aço, mas já foram ou serão superados em pouco tempo.

3 - As instituições políticas estão estáveis, firmes e vem sofrendo um saudável processo de renovação de seus quadros. Novos promotores, juízes e agentes federais vêm realizando uma verdadeira limpeza ética no país.

4 - O conhecimento também vai bem, com expansão forte do ensino univeristário e aumento da verba para pesquisa. O Brasil é destaque em várias áreas de vanguarda das ciências, embora a mídia continue pregando contra nossa autoestima. Agronomia, etanol, energia nuclear, antivirais, ou seja, somos destaques nas áreas mais nobres da ciência aplicada, que são alimentos, energia e combate à doenças. Não somos muito bons em filosofia ou estudos linguísticos, tudo bem, coisas importantes, mas não sei se isso adiantaria muito em época de crise.

Agrego ainda outros elementos. Baixo endividamento internacional. Aliás, o Brasil hoje é credor lá fora, e o endividamento público interno está caindo. Engraçado, né. O governo Lula, chamado de gastador, é que paga dívidas externas e reduz endividamento público. O FHC estourou as contas públicas, aumentou o endividamento externo em três ou quatro vezes, o interno idem e o PSDB é que é chamado pela mídia de partido da "contenção de despesas". Conseguiu essa proeza sem dar nenhum reajuste ao funcionalismo público, que ficou praticamente os oito anos da gestão tucana sofrendo perda salarial, e concedendo aumentos irrisórios ao salário mínimo, no limite da inflação.

Enfim, o problema mais grave do Brasil continua sendo a imprensa, já que a autoestima e o otimismo são fatores psicológicos indispensáveis para o bom desenvolvimento do país, conforme ensinava Keynes (ler post anterior). O povo é otimista, mas as classes mais altas não, vítimas que são de campanhas patrocinadas pela mídia contra o próprio país. São nestas classes que se encontram os homens de negócios que podem levar adiante os empreendimentos necessários ao crescimento econômico. Se, por um passe de mágica, trocássemos de mídia, creio que removeríamos o principal obstáculo atual para o progresso nacional. Será que a mídia é a "pedra no caminho" de que falava Drummond?

Antes, porém, que me acusem de terrorismo, eu afirmo que sou contra a qualquer tipo de violência, mesmo verbal, aos profissionais de imprensa. Quer dizer, poderia abrir uma exceção para um colunista ou outro, mas, regra geral, sou contra a qualquer tipo de violência. Sou um pacifista e um democrata radical. Acho que a mídia brasileira só deixará de ser um problema quando ela apanhar tanto, mas tanto - digo apanhar politica e financeiramente - que venha beijar os pés do povo brasileiro, pedindo perdão por ter sido tão egoísta, lesapátria, vendida, golpista e imbecil.


Link da ilustração.

21 comentarios

Digo Letras disse...

Infelizmente, mesmo em face das melhorias, a concentração de renda ainda é alarmante. É certamente a mazela mais importante a ser enfrentada. Se 10% da população detèm 75% da riqueza, não se pode, não ainda, comemorar.
É certo que não se muda um sistema da noite para o dia. Rogo o direito, porém, já que sempre apoiei um governo de cunho social, de exigir mais.
Sei que está melhor, mas pode, deve melhorar mais, porque ainda está longe de ser o ideal.

Anônimo disse...

Nosso problema é ansiedade,medo receio de retrocesso.
Isto explica algumas explosões de desespero e descrença.
Afinal 502 anos não se apaga em oito.
O pouco conseguido, olhando para traz, é muito e preocupante para o PSDB/DEM e assemelhados
A luta continua companheiro, vamos em frente.
Repito seu Blog e muito bom parabens.

Anônimo disse...

" Enfim, o problema mais grave do Brasil continua sendo a imprensa, já que a autoestima e o otimismo são fatores psicológicos indispensáveis para o bom desenvolvimento do país, conforme ensinava Keynes (ler post anterior). O povo é otimista, mas as classes mais altas não, vítimas que são de campanhas patrocinadas pela mídia contra o próprio país. São nestas classes que se encontram os homens de negócios que podem levar adiante os empreendimentos necessários ao crescimento econômico".

Prezado Miguel,

Se todo problema do Brasil fosse a imprensa, estariamos muito bem...
É claro que não....
E vc, como conhecedor de economia, sabe muito bem disso. Mas, é fácil escolher um "inimigo" e jogar sobre ele todas as mazelas, raivas, frustações, etc...
E quanto ao problema do pessimismo das classe mais altas ( homens de negocio) versus otimismo do povo, outro equivoco, que se contradiz com a propria afirmação.
Ora, se os homens de negocio são pessimistas, não tem auto-estima, como explicar que se mantenham no topo do desenvolvimento empresarial( em relação ao povo, que lhes serve de mão de obra) enquanto o Povo, cheio de otimismo, não consegue se desenvolver em termos empresariais?
Queres um palpite sobre o que penso acerca do "grande problema" do Brasil: Temos treinado, ao longo dos seculos, para "bamburrar", para nos dar bem! Para ganhar muito, em muito pouco tempo, e ir gastar na Corte ( antes Lisboa e Paris, hoje, Miami e Dubai...). Nunca pensamos SERIAMENTE em fundar uma nação.
Ainda não sabemos o que queremos ser quando crescer...
Ouso dizer que somos muito mais individualistas que os americanos.
Essa é minha SENSAÇÃO - muito mais preciosa que minha razão.
Mas veja, não sou pessimista. Acredito em mudanças e mudanças rápidas. Incluindo a imprensa, que é apenas uma parte do problema

Miguel do Rosário disse...

Rodrigo, temos que exigir mais sim. A primeira coisa a fazer é reduzir o spread bancário, o roubo mais absurdo que eu posso conceber. O segundo, mas aí é uma opinião pessoalíssima e evidentemente muito polêmica, é extinguir os bancos privados, nacionalizar tudo e impor o Juro Zero e Spread Zero, para que o nosso dinheiro não nos seja surrupiado em taxas e juros intermináveis. Em terceiro lugar, e aí é outra proposta polêmica minha, é acabar com o Imposto de Renda e o Imposto sobre a Folha Salarial, e impor somente o imposto sobre a circulação financeira, para que o imposto incida sobre o dinheiro que temos no presente e não sobre o que ganhamos no ano anterior. Abraço, Miguel.

josaphat disse...

Eu também sou pacifista. Apenas desejo que os pigs se fodam.

Digo Letras disse...

Miguel, meus conhecimentos sobre economia são, diria, parcos.
Contudo, algo me deixa profundamente consternado e indignado, como pode um deputado federal ganhar quase R$ 24 mil por mês (fora outros custeamentos) enquanto o salário mínimo é de R$ 415? Ganham os representantes quase 60 vezes o que auferem os representados! Mudar isso me parece tão urgente quanto os spreads bancários, se não mais. Devíamos é botar o bloco na rua, ou os banqueiros e políticos no paredão. Bem, lá se vai meu pacifismo...

Miguel do Rosário disse...

Rodrigo, não entre nessa onda midiática contra os políticos. Os deputados devem ganhar muito bem sim, por inúmeras razões. São eles que escrevem e aprovam as leis que afetarão nossas vidas. O salário pago aos parlamentares foi uma das mais importantes conquistas dos trabalhadores ingleses, contra os lordes aristocratas, que entendiam que, se a função política não fosse remunerada, os trabalhadores teriam dificuldade para se elegerem e se manterem no cargo. Ou quando se elegessem seriam facilmente corruptíveis.

Para alguns deputados oriundos da classe pobre, e eles existem, estes salários são a única renda da família, sem esquecer que o emprego dura apenas 4 anos. Muitos deputados da área trabalhista são pessoas que se arriscam, fazem dívidas, e esse salário não os deixa ricos.

A direita não precisa desse salário, porque é composta de grandes empresários e latifundiários.

Claro que devemos coibir exageros. Acho um absurdo, por exemplo, que os parlamentares decidam sobre os próprios salários. Está claro, para mim, que ninguém pode decidir sobre o próprio salário. Quem deveria decidir isso é o Tribunal de Contas ou outro órgão específico e independente.

Quanto ao paredão, eu deixaria os políticos de fora, pois esses, mal ou bem, são os representantes do povo. Já os banqueiros...

Digo Letras disse...

Tá bom, Miguel, só que ganhar bem não é isso. Isso é, como você disse, exagero, até em vista do que ganha o povo e das liberdades excessivas que têm os parlamentares, como o fato de decidirem sobre os salários e de trabalharem só quando querem. A idéia de que devem ganhar bem para evitar a corrupção não me parece funcional. Afinal, as grandes empresas e os latifúndios apóiam se justamente nos parlamentares para perpetuar o poder.
Dívidas também faço, assim como todos. Isso é uma discrepância, não pode ser assim. Ganham, inclusive, mais que o Presidente da República, o qual se expõe mais e não tem as liberdades que eles têm.
Outro problema que me parece crônico, sem querer me estender muito, é o fato de que o parlamentar no Brasil fica uma vida inteira na legislatura, isso impede a renovação e profissionaliza a política, quando ela é, na verdade, serviço público.

Anônimo disse...

Miguel, um artigo que põe a pá de cal no caso Battisti pela visão da Carta Capital e seu diretor: http://www.culturaebarbarie.org/blog/2009/02/rapina-e-terror-o-caso-battist.html. Blog de Alexandre Nodari. Cheguei lá por uma indicação do Idelber Avelar.

Juliano Guilherme disse...

Peço licença para responder ao Emanuel. Acho que o pessimismo das classes mais altas está em que ela não acredita num projeto de nação para o Brasil. Exatamente nisso que você fala que nós temos dificuldade em concretizar: Fundar uma nação, no que concordo. Mas é a elite, não o povo, que não acredita na nação brasileira. Mas acredita, e muito, em si mesma, e em seu direito de apoderar-se a seu bel prazer das riquezas do país, já que, segundo ela, o Brasil é uma casa da Mãe Joana. Um pessimismo muito conveniente, não? Já o povo brasileiro é nacionalista sem precisar fazer discurso. Naturalmente busca uma identidade comum aos que vivem nessa continental terra tropical. Uma identidade que poderia ser chamada de brasileira. Isso é o fundamento de uma nação. Já em relação ao otimismo das classes mais baixas, que você questiona, por não ser capaz de fazer com que essas pessoas "subam na vida", é preciso ter em mente uma coisa. A estrutura social brasileira é muito engessada. As oportunidades que um indivíduo tem para migrar de sua classe para uma mais alta, no Brasil, são muito poucas. Não basta o trabalho, o mérito. Quando acontece é por razões excepcionais. Tipo pelo futebol ou pela música pop. Daí a popularidade recorde do Lula. Tanta gente passando das classes D e E para a classe C, no Brasil, é quase uma revolução

Anônimo disse...

Juliano,

Concordo com Vc que a Politica Social do Governo Lula está permitindo, ou melhor, promovendo uma quase revolução silenciosa neste País. O universalização do programma Bolsa Familia e a politica de recuperação do Salario Minimo são conquistas que, acredito, vieram pra ficar.
Quanto à dicotomia "elite/povo" não costumo levar a esse extremo. Acho que os mais aquinhoados financeiramente, intelectualmente, socialmente, representam os extratos sociais em suas qualidade e defeitos. Ou seja, não há, para mim, um "povo" povo e outro "povo" elite.

Quanto ao salário dos deputados ( parlamentares de um modo geral) concordo com o Rodrigo.
E busco nas colocações do Miguel argumentos para minha sugestão a seguir.
Os parlamentares representam parcelas da população ( obvio). Um vereador ( pra ficar num exemplo local, mais perto da gente) eleito por uma comunidade muito pobre ( aqui no recife há alguns casos) e que passe a ganhar muito mais do que ganhava antes de ser eleito tende a perder o contato com seus representados. A primeira coisa que faz é comprar uma casa fora da comunidade e adquirir um carro, pra não andar mais de Busão. Os filhos, bota em escola particular.
Quem este vereador passa a representar????
Sugestão:
Haveria um piso e um teto para remuneração dos parlamentares. O desempregado que viesse a ser eleito receberia o piso. O "super-rico" que ganhasse ( ou comprasse. sei lá...) uma eleição receberia o teto.
Entre um e outro a remuneração seria aquela auferida pelo candidato ANTES da eleição ( digamos: Média dos Cinco anos anteriores).
Lembrete: Parlamentares não recebem "salários". Não são "empregados". Logo, não haveria que se cogitar de isonomia remuneratoria.

Miguel do Rosário disse...

emanuel, vou fingir que não entendi.

Anônimo disse...

Pois faço uma proposta bem mais radical, voltemos aos primórdios da democracia, à Grécia antiga, onde um conselho de 500 cidadãos (lá, mulher, estrangeiro e escravos não votavam, isso aí agente muda, claro!) era eleito por sorteio e encarregado de votar nas assembléias. Sendo sorteio, alternar-se-iam os votantes, mitigavam-se assim as oportunidades de corrupção e recuperava-se a democracia direta. É claro que o sorteio sofreria todo o tipo de tentativa de fraude.Para evitá-la, ninguém poderia ser sorteado duas vezes seguidas.
É claro que não é tão simples assim, mas íam-se acertando os detalhes. Além disso, acho difícil que o sistema se tornasse mais obscuro e complexo do que o que esta aí.

Anônimo disse...

É isso, Rodrigo...
Sorteio também pode ser uma boa ideia.
Primeiro seriam inscritos todos aqueles que pretenderiam concorrer ao cargo. Muitos, por razões profissionais, de vocação, etc, não quereriam um cargo parlamentar nem de mão beijada. Estes estariam Fora.
Feito o concurso o "sorteado" não participaria do Próximo concurso. Mas poderia fazê-lo no seguinte.

Anônimo disse...

Miguel,
Reconheço que minha "terapia" pode não ser das melhores...hehehe
Mas quanto ao "diagnostico" acho correto.
Uma das principais ( se não a principal) forma de estratificação social é a renda auferida por cada uma das camadas que formam a Sociedade.
Ninguem me convence que um proletario, morador de um distante suburbio, permaneça fiel aos seus "eleitores" originais depois de saltar de 1.500 reais para 12.000, 16.000, 24.000 reais por mes.
Percebi isso quando vi o ex-presidente da Camara aqui do Recife andando num "carro preto" com motorista e tudo.
Fiquei pensando: O que restaria naquela "autoridade legislativa" do Menino pobre do Morro da Conceição???
Temo que a resposta seja: Quase nada...
Não por acaso, amigo, muitos chamam Brasilia de "ilha da fantasia". Chega-se ali e rapinho se perde a noção da vida real. ( ao menos no periodo que vai de uma eleição à outra...).
E para lhe escandalizar ainda mais: Sou favorável ao estabelecimento de "quarentenas" para quem já tenha ocupado cargos eletivos por certo periodo. Isso ajudaria muito a renovação, a alternancia no Poder.
Obvio que qualquer alteração deveria ser feita pelos meios legislativos apropriados ( aí é que a "torca porce o rabo". os nossos representantes mudam qualquer coisa, desde que não se mexa no joguinho que estão acostumados a jogar...)

Juliano Guilherme disse...

Caro Emanuel, é verdade que todos os nascidos e/ou que moram aqui constituem o povo brasileiro. Mas existe algo de atávico que vem daqueles que espoliavam o Brasil desde de 1500, e que a gente percebe nas elites econômicas de hoje. Isso de não ter um sentimento de nação, mas ver as riquezas do país com os olhos de "opa, ninguém tasca, que eu vi primeiro". Já quanto aos salários dos políticos, ao contrário de você e do Rodrigo, acho totalmente irrelevante. Se você somar todos os salários de todos os políticos do Legislativo e do Executivo, e até os membros do judiciário vai dar o que, 0,000001% do PIB? O que é preciso é fortalecer os mecanismos de fiscalização sobre eles,a tal ponto, que seja quase impossível que desviem dinheiro público. Talvez um monitoramento da movimentação bancária deles. O algo parecido

Anônimo disse...

Prezado Juliano,
Quando fiz referencia ao salario dos parlamentares me fixei nem tanto no valor, que nem é tão alto assim.
Me preocupa é a alteração do padrão financeiro de muitos ( creio que a maioria) dos que se elegem para um cargo que tem por natureza: 1- ser representativo de uma parcela de eleitores; e 2- Ser transitório.
É essa mudança de "status" financeiro - e por consequencia social - que me preocupa.
A pergunta que faço é essa: Quem se elegeu representando os pobres de um determinado lugar e muda de padrão de vida continua legitimo representante dos pobres que o elegeram?

Juliano Guilherme disse...

Caro Emanuel, uma boa e sagaz colocação a sua. Sem dúvida que a democracia representativa apresenta muitas armadilhas. E essa é uma delas. Mas não podemos achar que seja insolúvel. Senão nós teríamos que achar que a classe social a que pertence o sujeito seria tão determinante dos seus atos, que praticamente constituiria uma etnia, uma raça ou algo parecido. Será que para defender os interesses das classes baixas necessariamente tem que ser pobre? O Lula já não é a muito tempo. Alguém já fez mais, efetivamente, pela distribuição de renda do que ele? Bom, talvez, o Getúlio. Mas esse chegava a ser um latifundiário. Será que não é menos importante o que o político é do que o que ele faz? Precisa ser negro para defender os direitos sociais do negros? Um exemplo: A Marta Suplicy defende a legalização do casamento gay. Não me consta ela seja lésbica

Anônimo disse...

Pois então, Juliano, pense o seguinte: imagine que você é dono de uma empresa em que seus funcionários ganham 60 vezes o que você ganha. Os deputados trabalham para o povo, não o contrário.
Posso até aceitar que ganhem bem, o que não aceito é que o povo ganhe tão mal.
Exemplo, onde trabalho, a limpeza geral é feita por uma empresa terceirizada, as moças que lá trabalham recebem salário mínimo e vale transporte, nem vale alimentação recebem, porque os parlamentares têm tantas regalias?
Não se esqueça que as elites econômicas são também as políticas, nunca se dissociaram no Brasil.
Concordo que a fiscalização pode ser uma solução, mas quando os salários dos representantes divergem tanto daquele dos representados, cria-se um vácuo que os separa, é como se vivessem em mundos diferentes.
A câmara dos comuns, na Inglaterra, no sèculo XVII, não representava o povo, e sim a burguesia ascendente. A dos Lordes, a nobreza. O terceiro estado, na França revolucionária, também representava a burguesia. Se prestares atenção, verás que o nosso sistema político representa as empresas e o capital, não o povo. Salvo gratas exceções.
Não sei se estou maluco, mas me parece que sou o único por aqui que acha que deve haver uma reforma política.

Juliano Guilherme disse...

Rodrigo, você não está maluco não. Reforma política é necessária sim. Principalmente nessa questão dos financiamentos de campanha. Além do mais, reformas vão ser sempre necessárias, pois nunca se chegará a um sistema satisfatório o suficiente. A democracia vai estar sempre em transformação e nunca estará pronta. Essa é a beleza dela. Já os regimes totalitários tem a arrogância de achar que possuem a solução definitiva. O que é uma falácia. Os alemães que o digam, né?

Anônimo disse...

É verdade, Juliano, mas não iria tão longe, a quartelada de 64 mostrou-se tão totalitária quanto as da Europa. Quanto à democracia, diria, ruim com ela, pior sem ela. De fato, foi o que de melhor se criou, em matéria de sistema de governo. Gostaria era de ver uma social-democracia de fato no Brasil, não apenas um viés político, uma maquiagem para esconder o neoliberalismo, mas uma democracia de orientação social. O Lula, em minha humilde opinião, começou algo assim por aqui, importante seria que o poder não voltasse para o PSDB em 2010, pois, se isso acontecer, eles acabam de vender o Brasil e, como sempre, com dinheiro do BNDES.

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