O garoto volta da escola com uma nota baixa e o pai, ao ver o boletim, aplica-lhe um tapa na cara:
- Isso vai nos custar duas semanas de fome, seu fio-duma-peste.
*
O professor, ao corrigir provas, pensa duas vezes antes de dar uma nota. Sabe que terá a responsabilidade de fazer essa ou aquela família passar mais fome que a outra.
*
Não, a proposta de Tasso, definitivamente, não é séria. Não há sentido em vincular o bolsa família ao desempenho dos alunos. Até porque as escolas brasileiras, sobretudo nas regiões pobres onde há ampla cobertura do programa, não possuem sistemas de avaliação confiáveis.
Enquanto voava em seu jatinho, Tasso, desesperado para ganhar visibilidade fácil, imaginou o estratagema mais eleitoreiro possível: propor o aumento do bolsa família. Para não ser acusado de populista, no entanto, teve essa idéia estapafúrdia, tipica de um homem distante da rotina das pessoas comuns: atrelar o aumento do benefício ao "sucesso" do aluno nas provas. Falta pão para o povo? Ora, que comam brioches!
A senadora Ideli Salvati foi a única com bom senso para detectar o absurdo da proposta. A criança sofrerá pressão emocional. Não sei se Ideli percebeu que o professor também sofrerá pressão. Nunca mais corrigirá provas com a isenção necessária. Cada questão corrigida numa prova corresponderá a um valor pecuniário do qual ele privará o aluno, que por sua vez odiará o mestre insensível à sua lamentável situação familiar. Muitos professores, compassivos, distribuirão somente nota dez para os alunos cujas famílias recebem o BF, para ajudá-las a receber um pouco mais de assistência.
Enfim, criar-se-á uma série de distorções, vícios, pressões emocionais, que apenas contribuirão para denegrir o bolsa família. Além disso, põe o programa em evidência, o que não é saudável. Apesar do tamanho, um programa social deste tipo deve oferecer discrição às famílias que o recebem, pois sempre é uma prova de pobreza extrema. Por isso o cartão, que permite à família sacar o dinheiro de forma reservada, longe da vista de todos, é tão bom.
Uma vez eu viajei ao nordeste, nos tempos fernandistas, e vi, diante do Banco do Brasil (ou Caixa), uma enorme fila formada na praça de uma cidadezinha do interior. Perguntei a alguém e fui informado que se tratava da distribuição do bolsa escola, o programa social que os tucanos alegam ser o pioneiro do Bolsa Família. Era uma vergonha. Sob um sol escaldante, as donas de casa eram obrigadas a esperar horas a fio para recolher um montante não superior a 15 reais. A humilhação era chocante, porque as senhoras e suas misérias ficavam expostas a todo mundo que passava. Dava pena (e a pena é um sentimento que humilha) ver pessoas vindo de longe, perdendo um dia inteiro de trabalho ou afazeres domésticos, para recolher uma quantia tão ínfima.
Os tucanos são alienados. Não têm experiência nem imaginação para se colocarem no lugar das pessoas pobres e, portanto, continuamente as prejudicam. Privatizam a telefonia mas não pensam em impor regras que impeçam as companhias de cobrar preços abusivos. Privatizam estradas mas lavam as mãos quanto ao preço dos pedágios.
Um projeto de lei, assim como a própria lei, possui um espírito. O Bolsa Família se tornou um dos programas sociais mais bem sucedidos no mundo porque tem um espírito nobre, simples e objetivo. Visa combater a fome e a miséria extrema, e ao fazê-lo, ajuda a ativar economias antes paralisadas.
Qual o espírito da idéia de Tasso? Melhorar a vida das miseráveis populações nordestinas? Melhorar a educação? Não, o cinismo é tanto que os tucanos mesmos confessam que se trata de uma manobra para vincular o nome do partido ao Bolsa Família. Abaixo notinha da página 3 do Globo.
O Globo, claro, já deu uma ajudinha nesse sentido. Confiram a capa do jornal desta quarta-feira.
3 de março de 2010
Proposta de Tasso não é séria
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Perfeito Miguel, não precisa mais escrever por três dias(bônus para ficar pensando, investigando, etc...), esse texto mostrou que esses caras não estão preocupados em aperfeiçoar nada, apenas desmontar.
É Miguel,
Eu que sei bem a realidade deste povo, já que moro na região mais pobre de Minas Grais, que não é o Jequitinhonha, é o Mucuri.
Aqui tem muito petista burro, que gosta de apresentar beneficiário do bolsa-família, mas não dá tanto impacto porque é muita gente!
Mas a questão dos inomináveis no psdb não fazem idéia do que fazem.
o prefeito de Setubinha, é mais novo qu eeu, tem 23 anos, filho de um dos líderes do psdb, a cidade tem o menor idh-m da região e um dos piores do Estado, na reunião dos prefeitos da microrregião tem o carro mais caro! deve custar só ums 150 mil reais...
e o pai dele, ex-prefeito, como assessor dos grandes, adora carregar as malas deles...
Bem, é duro ver uma coisa dessas. Mas bulir no bolsa família, o contra-ataque do governo federal virá a galope.
grande abraço.
Que idéia infeliz!
É ridículo esse pessoalzinho do PSDB. As eleições prometem desmascarar essa corja de ladrões.
salve, miguel,
o blogueiro definiu com louvor o espírito do bolsa família. com essa proposta insana, pais, alunos e professores serão pressionados pelas notas e a cizânia será mato nessa estória.
mais uma vez, tasso e seus asseclas, os demos-tucanos e "ingenuos"
, como cristovão buarque e representantes do pt, caem na armadilha daqueles que detestam o povão. não aprendem nunca, não é mesmo?
carlos anselmo-fort-ce
Olá, Miguel e comentaristas. Li a notícia ontem e de pronto pensei: "que absurdo!". Querem por que querem afirmar uma meritocracia que não existe. A proposta é digna de um tucano: ridícula, demagógica e antipedagógica. E mais desqualificativos inventaria caso não estivesse com tanto sono ... Abraços cordiais.
É visão do mundo do Sr. Tasso tenho jatinho porque posso Jereissate, empresario capitalista selvagem. Filhinho de papai, que ficou podre de rico não por meritos proprios, mas por entrar na politica. O BNB e o governo do Ceara que o digam.
Olá Miguel,
Bom o texto, porém melhor ainda a percepção! Na escola onde minha esposa trabalha o pessoal da secretaria quando vai verificar junto aos professores a frequencia dos alunos beneficiados pelo programa bolsa-famíla (os dados tem que ser repassados para governo), o fazem com certa discrição. O motivo é que os alunos sentem vergonha, pois os colegas ficam de "zuação". Além do oportunismo cínico, este pessoal do psdb não tem nenhuma sensibildade mesmo para as questões sociais. É falta de traquejo.
Luis Fraga
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