23 de novembro de 2009

Analisando os números do Sensus


(Clique nas imagens para ampliar)

Eu gosto desses números que dividem o eleitorado por faixa de renda, porque ajudam a entender a dinâmica eleitoral de cada candidato. Prestem atenção no quadro acima. Ele mostra que a clivagem classista cresceu nos últimos meses, com Lula abrindo uma vantagem impressionante entre os mais pobres. A popularidade de Lula vai caindo conforme a renda sobe, até chegar num patamar mais baixo, de 55%, entre as famílias com renda mensal superior a 20 salários (mais ou menos 9 mil reais). No entanto, o presidente lidera em todas as faixas. Mesmo entre os mais ricos.



A lista 3 do Sensus é a melhor, na minha opinião, porque não inclui Ciro Gomes, que não deve mesmo disputar a eleição presidencial, e mesmo se o fizer, deve permanecer fiel à situação. Vejamos essa lista com atenção, portanto. Acima, há uma tabela por sexo. Dilma vai muito mal entre as mulheres, enquanto Serra tem mais voto entre mulheres do que homens. Há algo estranho aí. Não tenho nenhuma teoria para explicar isso. Seria o fato de Dilma ser desconhecida para a maioria das mulheres? Seria uma rejeição feminina por uma mulher no poder? Sei que as colunistas mulheres só tem feito críticas à Dilma justamente por ser mulher: é durona demais, é deselegante, é professoral, etc.



Outra tabela muito interessante, talvez a mais relevante dessa série. Ela mostra Dilma reproduzindo o mesmo padrão de Lula. Em pesquisas anteriores, eu havia notado que o eleitorado de Dilma fugia um pouco da clivagem classista do lulismo. Nessa pesquisa, porém, o quadro muda novamente. A candidata do governo tem sua maior força entre os mais pobres (27%, contra 39,7% de Serra), possivelmente em virtude de parte crescente desses segmentos estarem se inteirando de que ela representa o projeto lulista.

Serra, por outro lado, tem força especialmente entre o eleitorado mais rico, onde obtém o número de 58% das intenções de voto, contra 13,8% de Dilma.





Essa tabela aí também comprova que a transferência de votos de Lula para Dilma já teve início. O Nordeste, onde Lula tem uma popularidade fora do comum, está começando a reconhecer a candidata. Dilma conseguiu 33% das intenções de votos no Nordeste, contra 41% de Serra. O padrão do voto em Dilma por região ficou muito parecido com a distribuição regional da popularidade de Lula. Ou seja, há transferência. E ela está só começando.

2 comentarios

Unknown disse...

Caro Miguel, é bom ver alguém esmiuçando os dados das pesquisas como você faz, com critério e ponderação. Tão diferente do que usualmente se vê na grande mídia.
É interessante mesmo o perfil de intenção de voto da Dilma, acompanhando a alta aprovação do Lula entre eleitores de menor renda e das regiões Norte/Centro-Oeste e Nordeste.
Aí, porém, há um fato curioso, porque, nas eleições de 2006, enquanto o Lula obteve vitórias expressivas no Norte e no Nordeste, Alkmin venceu no Sul e em São Paulo (metada da população do Sudeste). Ao analisar os dados da Dilma, parece que um perfil parecido vai sendo desenhado. No entanto, Serra obtém níveis de intenção de voto semelhantes em todas a regiões. Não era de se esperar que Serra obtivesse um perfil oposto ao de Dilma, isto é, percentuais maiores no Sul e Sudeste e menores no Norte e no Nordeste?
Outro ponto que chama a atenção é o percentual alto de eleitores das regiões Sul e Sudeste nas categorias "Nenhum/Branco/Nulo" e "Não Sabe/Não Respondeu". Especialmente pelo fato da Região Sudeste ser a mais populosa, isso coloca um número expressivo de votos em estado de indefinição. Quem tem mais chances de captar esses votos?
Por fim, seria interessante analisar o Sudeste estado por estado. Não sei se o Sensus publicou esses dados. Em 2006, Lula derrotou Alkmin em todos os estados dessa região, salvo São Paulo. Será que a tendência é que isso se repita numa disputa Dilma x Serra?

Vera Silva disse...

Miguel, suas análises precisas são ótimas. As questões que o Eduardo levanta são muito boas. Também fiquei curiosa com o perfil igual do Serra nas diversas regiões e o nível alto de "Nenhum/Branco/Nulo" e "Não Sabe/Não Respondeu". Quando a candidatura da Dilma for lançada, veremos o que acontecerá com estes números.

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