Dou sequência, portanto, a meus estudos por aqui sobre o comércio exterior brasileiro, com dados atualizados até outubro, colhidos no banco de dados Alice, do Ministério do Desenvolvimento. É um assunto que, por incrível que pareça, me proporciona um enorme descanso mental, pois não preciso pensar muito. No entanto, tenho consciência de sua importância, porque eles não chegam aos brasileiros. Ninguém na mídia corporativa nem na blogosfera realiza esse trabalho, que tem consequências relevantes para a formação de um pensamento geopolítico no Brasil. Esses posts, apesar de receberem poucos comentários, são, de longe, os mais acessados através do Google, ocupando o primeiro lugar na lista de busca com a expressão "Exportações Brasileiras".
Em virtude do peso da América Latina para a economia brasileira, creio que esses números desmoralizam todas as opiniões correntes na mídia que depreciam nossos hermanos. Leio, por exemplo, com frequência, artigos jornalísticos negativos sobre a Argentina. O que os jornais não falam é que a Argentina consolidou-se como a terceira maior parceira comercial do país, atrás apenas da China e EUA, mas com enorme vantagem comparativa em relação a esses dois, porque importa produtos manufaturados do Brasil. China só compra ferro e soja em forma bruta, de maneira que o preço médio dos produtos brasileiros exportados para a China ficaram, nos últimos 12 meses (nov/out 09) em 121 dólares por tonelada. As compras estadunidenses tem um perfil um pouco melhor; o preço médio das exportações nacionais para os americanos atingiu 800 dólares a tonelada em 2008/09. Mas é a parceria com a Argentina que merece destaque, pois o preço médio dos produtos brasileiros exportados para lá atingiu 1.585 dólares a tonelada!
A Argentina é o maior parceiro do Brasil no Mercosul e na América Latina. No acumulado de 12 meses Nov/Out 2009, as exportações brasileiras para a Argentina totalizaram 11,77 bilhões de dólares, o equivalente a um terço das exportações brasileiras para toda América Latina e Caribe.
Outro país que merece muito destaque, e que vem sendo tremendamente injustiçado pela falta de informações que a mídia fornece aos brasileiros, é a Venezuela. Em virtude da rixa da mídia brasileira com Hugo Chávez, os brasileiros não foram informados de que a Venezuela tornou-se o segundo maior destino dos produtos brasileiros na América Latina e Caribe, superando México, Chile e Colômbia, e o sétimo no ranking mundial, acima de Inglaterra, Itália, França, Índia, Rússia... Em 2008/09, o Brasil exportou um total de 3,87 bilhões de dólares para a Venezuela, o que representou um aumento de 647% em 10 anos.
Entretanto, é quando olhamos para o quesito preço que constatamos o tamanho da injustiça que a Venezuela sofre entre os meios de comunicação brasileiros. A Venezuela é o país que, dentre os 40 maiores destinos das exportações brasileiras, pagou os preços mais altos por nossos produtos, significando que adquire os produtos brasileiros de altíssimo valor agregado. Em 2008/09, o preço médio das exportações brasileiras para a Venezuela alcançaram 2.165 dólares a tonelada. Compare o preço médio das exportações brasileiras para seus 10 principais destinos:
Período Out/Nov ----- 2008/09
Países ----- US$/ton
VENEZUELA ----- 2.165
ARGENTINA ----- 1.585
ESTADOS UNIDOS ----- 800
BELGICA ----- 667
HOLANDA ----- 559
ITALIA ----- 410
ALEMANHA ----- 393
FRANCA ----- 360
REINO UNIDO ----- 356
JAPAO ----- 161
CHINA ----- 121
De resto, antes de mostrarmos as tabelas, vale alguns esclarecimentos. A ilha de Santa Lucia, que aparece em terceiro lugar no ranking dos principais destinos das exportações brasileiras para América Latina e Caribe tem essa posição porque é grande compradora de petróleo.
Abaixo, as duas tabelas mencionadas. A primeira traz os 40 maiores destinos das exportações brasileiras, indexados pela coluna preço médio. Uma tabela com a lista completa dos destinos (+ 240 países), pode ser encontrada neste link.
A segunda vem com uma lista dos destinos das exportações brasileiras na América Latina, indexada pela coluna de receita. Reparem, como já disse, no peso da Argentina e no preço médio das vendas para a Venezuela.
Clique nas tabelas para ampliá-las.
Caro Miguel, seus artigos sobre comércio exterior são muito bons e originais. Eu os tenho divulgado no meu blogue. Um abraço.
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