as sapatilhas
da inocência e as meias
esparramadas na sala
e os quadros
ainda não pintados
não se parecem com nada
que não sejam óbitos
e batizados anônimos
nem são crianças
eleitas
votos nulos
e musicais
cara, não imito
o desprezo bufão
que pinga no banheiro
o desprezo blasé
das belas universitárias
que não comi
afinal, que são os homens
no interior dos toaletes
brincando de ser gente?
que será da poesia, cara,
antes de ser gente
fora do toalete?
não seria melhor
descalçar as sapatilhas
da menina
tão linda na foto?
duro é viver
sem a desculpa de ser triste
nas horas vagas
escrever poemas
técnicos
para publicar
no boletim da petrobrás
soluços então
e os punhos rendados
da mesma menina
fazendo pose pra foto
vestida de bailarina
tão linda
não tens o direito
de roubar-me o domingo,
dona tristeza,
mister l.
e demais
artífices
disfarçados da ordem
não tens
o direito,
don evaristo
dos horizontes não-azuis
auroras manchadas
de sangue velho
e urina radioativa
cara, a fúria não tem som
antes da dor
chegar ao braço da tela
antes do som
abraçar
os desgraçados
atores
e demais
não-consumidores
dos planos de saúde
tudo bem, eu amo
demais a menina
da foto
a bailarina
de cinco anos
é minha mulher
que explora
o preto nos ouros
e tira os dentes
de minas gerais
no mais,
as desculpas
as histerias
da minha parte são ratos
que fogem dos esgotos
dessa alma mesquinha
e pérfida
presa no banheiro
drogada
refinada
alienado
como astros cuja luz
vem de universos extintos
cafona e autêntico
como um poema
não-acadêmico
inesquecível
e duro
como um tiro
2 de novembro de 2008
crianças & eleições
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