23 de novembro de 2008

Idéias ultrapassadas

Uma coisa ridícula que ganhou corpo nos últimos anos é o ensino superior à distância. Ensino à distância sempre existiu. Seja por carta, fitas cassetes, VHS, etc. (aqueles inesquecíveis cupons que vinham no meio dos gibis nos anos 80), sempre existiu. Há também aqueles que são incapacitados de se locomoverem às escolas. Por exemplo, a maioria dos estudantes da Open University, no Reino Unido, é constituída por trabalhadores que têm grave problema de locomoção, trabalhadores em tempo integral, prisioneiros, etc.

Nesse sentido, de atender a demanda reprimida, me parece razoável que o Estado crie opções e escolas.

Em outros casos é terceirizar a relação humana para a interação com a tela de um computador. É diminuir um espaço já diminuto na vida de um indivíduo. Estuda-se cada vez menos, graças à rápida absorção para o mundo do trabalho. Nas faculdades privadas, os primeiro anistas já estão estagiando. Faculdade virou sinônimo de diploma. Isso é grave. E mais grave ainda é deixar o banho-maria se estender para o ensino à distância.

O governo FHC promulgou o Plano Nacional de Educação (PNE) em 2001. O PNE previa metas a serem alcançadas até 2011 (dez anos depois). E eram (são) metas ambiciosas: 30% dos jovens de 18 a 24 anos devem estar inscritos em cursos superiores, sendo que 40% das vagas devem se dar em instituições públicas. Como o governo sai dessa? Criando o projeto Universidade Aberta do Brasil (UAB) nas federais ou pela Universidade Virtual (Univesp) em São Paulo. O governador José Serra (PSDB) inclusive permitiu que até mesmo o ensino médio tenha 20% de sua carga horária à distância.

Sabe qual foi a motivação do Serra em baixar essa norma? A exigência da lei do piso salarial nacional dos professores da educação básica, em 2008, de reserva de um terço da jornada docente para planejamento e preparo de aulas, correção de trabalhos, entre outras atividades. Após o governador contestar a lei por suposto impacto financeiro, a Secretaria da Educação cogitou contabilizar os breves minutos entre aulas na reserva citada!

Pois esse homem é o grande presidenciável de 2010.

***

Na noite da quinta-feira o portal da revista Exame publicou artigo do casal Jack e Suzy Welch sobre a grave crise que as montadoras americanas estão passando. O título, que ganhou grande chamada na Uol durante toda a sexta-feira, é auto-explicativo: “A falência é a melhor solução”.

É preciso abrir um parêntesis. Jack Welch foi presidente da General Eletric (GE) e desde que deixou o cargo se tornou o papa dos livros corporativos de “auto-ajuda” de CEOs (termo amplamente massificado nos anos 90) e de dicas de gestão. Escrevendo sempre ao lado da esposa, Suzy, os Welch se tornaram a coqueluche da literatura empresarial globalizada. Todos os “líderes” americanos – e, por extensão, de todos os países colonizados culturalmente, como nós – tem livros e artigos do casal pelo escritório. Fecha parêntesis.

No artigo, o casal Welch defende um meio termo entre as idéias colocadas em debate pelos democratas e republicanos. São contra a ajuda bilionária do governo dos Estados Unidos às três montadoras à beira da falência (plano democrata) – Ford, GM e Chrysler. Mas também não aprovam a falência das três (plano republicano). Para eles, é preciso uma fusão entre GM e Chrysler. A Ford fica de fora por sua “forte característica familiar”.

O ponto positivo? “Estima-se que a fusão das duas empresas possa gerar até 15 bilhões de dólares em sinergias decorrentes da redução da capacidade instalada e de cortes de despesas administrativas em excesso - uma economia que reduziria o custo de produção dos carros e elevaria o gasto com pesquisa e desenvolvimento”. Citam também as demissões que ocorreriam, mas é pelo bom funcionamento do sistema.

A conta não fecha.

A situação é crítica nos Estados Unidos. A falência das montadoras acarretaria em demissões de centenas de milhares de pessoas, que perderiam salário e benefícios de aposentadoria e cobertura de saúde. Com isso, parte relevante do comércio de bens e serviços decairia ainda mais. Mais que isso. O baque moral seria trágico. A falência de símbolos do sistema yankee rebaixaria a capacidade de retomada.

Se optasse pela ajuda do governo – estimada em US$ 25 bilhões – estaria onerando ainda mais o contribuinte americano, criando um passivo que estouraria lá na frente. Os tão falados “CEOs” das companhias seriam “desculpados” e, mesmo que demitidos, já embolsaram todos os lucros gordos do passado. As companhias teriam de mudar completamente de rumo, optando por linhas de montagem mais enxutas e competitivas, com modelos de carros mais econômicos e condizentes com a situação econômica e os preços da gasolina.

A idéia de fusão, defendida pelo casal Welch, apaziguaria a situação da moral, criando uma grande montadora americana, mas acarretaria em demissões – pelos cargos repetidos nas duas empresas – e não resolveria a questão do modelo ultrapassado de automóveis produzidos. Além do mais, boa parte das plantas está pulverizada em outros países, aproveitando uma mão-de-obra mais barata.

Vivemos o ocaso do sistema de organização econômica antiga. Mas também o ocaso dos “gênios” e “estrategistas” antigos. A literatura de auto-ajuda corporativa também terá de mudar.

***
Hoje é um dia histórico para estar no Rio. O país do futebol pode assistir ao nascimento do primeiro clube a conquistar seis vezes o título de campeão nacional.

***
Da série de relançamentos de grandes cineastas brasileiros, a versão restaurada de "São Bernardo" (1973), do Leon Hirszman, em DVD, está imbatível. O longa pertence a uma fase de filmagem de grandes histórias nacionais, ficcionais ou não, como o ótimo "Os Inconfidentes" do Joaquim Pedro (73) e, mais abaixo, "Toda Nudez Será Castigada" (também de 73), do Jabor.

4 comentarios

Anônimo disse...

Olá meu caro e estimado colega jornalista do blogue ÓLEO DO DIABO tudo bem com você? Antes de mais nada, queria deixar a você os meus parabéns pelo sucesso insólito alcançado por seu blogue.

Acompanho-o todos os dias daqui de São Luís do Maranhão onde seu blogue já se tornou uma ferramenta imprescindível de informação tanto pra mim quanto para todos os leitores que queiram manter-se informados.

Destarte, queria pedir a você caro amigo que viesse em sua página dá uma singela colaboração no sentido de divulgar os nossos Blogs JP, ou seja, os novos blogues do Jornal Pequeno onde me incluo com o meu. O jornalista Lourival Bogéa é o Diretor Geral do Jornal Pequeno há cerca de 25 anos em substituição ao seu pai Ribamar Bogéa.

O Jornal Pequeno desde sua fundação tem o papel de guardião dos verdadeiros interesses do povo maranhense. Não dos interesses que tentam induzir o povo a acreditar, mas dos reais e cristalinos interesses dessa coletividade consciente, que confia no Jornal Pequeno porque sabe que pode contar com ele na hora que realmente precisa.

Nesse sentido, o JP online com o escopo de alcançar os seus leitores virtuais acaba de lançar mais um projeto inovador: formou uma respeitada e excelente equipe de blogueiros de credibilidade no estado para compor o portal do jornal (Jornal Pequeno) na internet, todos comprometidos em divulgar notícias com conteúdo independente voltado sempre e principalmente a serviço da opinião pública.

Portanto meu caro amigo peço encarecidamente, se possível, a colaboração de sua senhoria na divulgação de nossos blogues JP recomendando-os como sugestão de leitura aos seus leitores como também incluindo o link destes (linkando) como favoritos de seu blogue, tamanha a expressiva audiência e repercussão do seu blogue.

Vamos praticar a política de boa vizinhança na blogosfera, ou seja, um ajudando a divulgar da melhor forma possível o blogue do outro. Assim dessa forma ficaria imensamente grato. Desde já externo meus agradecimentos! Um grande abraço e conto com você!

Blogue do John Cutrim JP http://www.jornalpequeno.com.br/Blog/JohnCutrim/

Atenciosamente John Cutrim http://www.jornalpequeno.com.br/Blog/JohnCutrim/

Jornal Pequeno http://www.jornalpequeno.com.br/

E-mail: johncutrim@jornalpequeno.com.br

Anônimo disse...

aula presencial anima, acirra, acalanta, calor,
a virtual dá sono

Anônimo disse...

BEM QUE A EDITORA GLOBO TENTOU CENSURAR.
EXTIRPOU PÁGS COM COMENTÁRIOS DO "AR"...

MAS NÃO DEU TEMPO! É O MILAGRE DA WEB

PORTANTO, LEIAM O ESTRAGO QUE A REVISTA ÉPOCA CONSEGUIU FAZER COM SEUS LEITORES.

A SANHA DE "ENCOBRIR" NÃO DEU CERTO...

http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDI0-15223-1-17715,00.html

Leiam tb Blog do Nassif:
"O caso Época"

Anônimo disse...

John Cutrim deve estar se referindo a algum outro jornal que se chama Pequeno...

Em toda a campanha eleitoral deste ano o Jornal Pequeno de São Luiz fez propaganda descarada pelo Castelo, contra Flávio Dino. O jornal que eu vi foi esse, descrito pelo meu amigo Adauto, de São Luiz:

Veja como funciona o Jornal Pequeno aqui no Maranhão. O Jornal reproduz todos os dias dezenas de matérias produzidas pela mídia tucana do sudeste, sempre contra o PT e o governo Lula. Participa organicamente das campanhas tucanas no estado. O deputado federal Roberto Rocha que aparece com artigo especial aí na capa do JP de hoje, é o presidente do PSDB no Maranhão. Agora o grande desespero é com a possibilidade real e iminente da cassação de Jackson Lago, o que seria um duro golpe no esquema tucano para as eleições de 2010. Muita gente aqui e fora do Maranhão, acha que ser contra o esquema Jackson/PSDB é ser a favor de Sarney. Ainda bem que o mundo é muito mais complexo e cheio de alternativas...am

Então John Cutrim deve estar profundamente equivocado, iludido, ou então mal intencionado...

alyda sauer

Postar um comentário