um poema, um drink
sórdido, irreverente
como os beiços
gordurosos de mainardi
como os peitos
macios de isabela
e a magreza
elegante das amigas
desempregadas
mas o poema
não viu os filmes
de jonh ford
embebedou-se
de paixões apocalípticas
e voltou
sozinho
e desesperado
para casa
nem falou de política
nem escutou música
esperou
o carma da dor
consolidar-se
e retirar-se
vitorioso
sequer chorou
ou conheceu mulheres diferentes
ele caiu
isso sim
num buraco sem luz
e sem contas
de gás
tão fundo
que havia petróleo,
deuses gregos,
e onde homero
ainda não fumava
maconha e gabeira
não recebia votos
do clube militar
a noite acabou
desoladamente
morcegos que fizeram
transplante de córnea
agora enxergam, cara,
é incrível
a noite acabou,
eu ia dizendo
antes dos morcegos
que vêem
morderem-me o lóbulo
esquerdo.
a noite acabou e as moças
delinquentes
estão magras
e charmosas como sempre
como astros
escuros
de um universo mais antigo
que os narizes de palhaço
protestando na cinelândia
enfim, cara,
os troços
desmoços e foços
poços e voços
escudos de amor,
tão lusitanas
saudades que dóem
tão descontentes
tristezas d'além
escorrendo,
frias e desoladas
pelo rio tejo
que desagua na baía
de guanabara
2 de novembro de 2008
politicagens do beco
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