Dia desses encontrei um camarada no bar Senado, um estabelecimento centenário situado na esquina da Gomes Freire com rua do Senado. Tem aquelas prateleiras subindo pelo pé direito gigantesco, ocupadas com garrafas que parecem estar ali desde a fundação, ao lado de são jorges e bugigangas inexplicáveis. Gosto muito desse cara que encontrei e ele também gosta de mim. A gente se abraça, conversa, toma cerveja, fala de samba, boemia e demais carioquices. Nesse mesmo dia, conheci outro sujeito bacana, funcionário do IBGE, que estava se mudando para a Lapa. Dei-lhe conselhos, falei como era bom morar no centro, etc. Papo vai papo vem, o cara do IBGE diz que adora o PSDB, o Fernando Henrique Cardoso e o governador José Serra. Eu fingi que não ouvi direito e continuamos conversando. Aí o outro, o meu amigo, para minha surpresa, disse que era presidente da Juventude do PSDB na cidade onde ele faz pós-graduação. Engoli em seco e mudamos de assunto. Continuamos bebendo, cada vez mais rápido e rachamos um táxi até o Oi Futuro, onde rolava vernissage de uma exposição.
Chegando, nos posicionamos estrategicamente onde os garçons apareciam com os chops e prosseguimos nossa maratona etílica, dessa vez sem pagar nada. O tal presidente da juventude do PSDB desapareceu e fiquei trocando sílabas desencontradas com o outro. Aí encontrei um chapa, um comunistão enrustido como eu e, já bêbado, comecei a dizer, na frente do cara do IBGE que gostava do PSDB, que eu era comunista e tal, só para apavorar. O cara ficou assustado, se despediu e foi embora.
Depois fiquei arrependido. O cara era legal e, porra, eu não sou comunista, apesar de fã dos filmes de Michael Moore. Voto na esquerda, sempre, ou em candidatos apoiados pela esquerda - como foi o caso do Eduardo Paes, no Rio. Sou, no máximo, um capitalista de esquerda, se preferirem.
Lembrei desse episódio porque acordei hoje, como sempre, com raiva da ultra-esquerda. Nós, os mesquinhos, os não-zens, os de alma não muito evoluída, temos sempre que odiar alguém ou algo para nos sentir completos. Isso é o que me une, talvez, aos missivistas do Globo. Não me sinto bem em constatar isso, mas enfim... é a vida. Então, ia falando. Eu odeio a ultra-esquerda. Digo, o PSTU e o PSOL. O PCdoB não. Eu gosto do PCdoB. Aliás, os partidos que eu mais gosto são, por ordem: PMDB, PCdoB e PT. É isso mesmo. O PMDB em primeiro lugar. Depois explico. Deixa eu terminar de falar mal da ultra-esquerda.
Eu acho a ultra-esquerda, hoje, no Brasil, uma tremenda palhaçada de playboys. De playboys e intelectualóides arrogantes. E burros. Historica e politicamente burros. Eles falam de reforma agrária, mas dentre os 20 milhões de agricultores brasileiros, não têm um que os apóie. Falam de libertar os pobres, mas não têm um pobre que os apóie. O PSTU não fez um mísero vereador nesta eleição. Em 2004, haviam elegido dois índios no sertão de Alagoas, mas ambos migraram para o PT poucos meses depois da vitória - provavelmente não suportaram a encheção de saco constante que sofreram. Imagine a pressão de ser o único vereador eleito de um partido como o PSTU!
Não tenho nada pessoal contra eles. Ao contrário. Tive amigas lindas, cultas, sensíveis e inteligentes do PSTU com quem partilhei porres e beijos (minha mulher até hoje morre de ciúmes dessas minhas amigas e não pode ler isso, então essa parte poderá ser apagada a qualquer momento). Tive amigos também, com os quais não partilhei beijos, apenas porres.
Tenho conversado um pouco com o pessoal do movimento estudantil aqui do Rio, por conta desse meu "bico" como editor de blog da Bienal que eles estão organizando, e fiquei sabendo que o PSTU está ganhando as eleições para os centros acadêmicos de todas as universidades federais do país. Como pode isso, perguntei. Explicaram-me que o PSTU está discursando contra o Reuni, que prevê expansão de vagas nas universidades públicas, dando mais recursos e contratando mais professores. O discurso faz sucesso porque é direcionado aos estudantes que JÁ ENTRARAM na universidade. Por egoísmo e alienação, colocam-se contra a expansão do ensino superior.
Essa é a ultra-esquerda brasileira. Por isso chamo de palhaçada de playboy. Eles jogam com o egoísmo e alienação da elite. O PSOL é a mesma coisa. Quando surgiu o PSOL? Sei exatamente. Surgiu na Reforma da Previdência, primeiro ano do governo Lula. Os esquerdistas bateram pé que a reforma era um monstro neo-liberal. Nunca caí nessa esparrela. Meu pai, que ganhou bons salários a maior parte de sua vida profissional, pagou o teto máximo do INSS e se aposentou com R$ 900. Foi muito frustrante para ele, que pretendia continuar trabalhando, mas com mais tranquilidade e segurança. O que acontecia era que havia uma enorme injustiça. Os pensionistas do INSS do setor privado tinham teto salarial de R$ 900, enquanto os funcionários públicos não tinham teto: continuavam ganhando a mesma coisa que ganhavam na ativa. Ora, não vejo sentido nessa falta de isonomia! Numa democracia tem que haver um mínimo de equanimidade.
A reforma resultou, por fim, em maior justiça social. Ampliaram o teto do INSS do trabalhador do setor privado para até uns R$ 2.400,00 e este também foi o limite para o funcionário público.
De qualquer forma, os trabalhadores do setor público continuaram com vantagem, pois tem acesso à planos de previdência em condições super vantajosas, oferecidos pelos fundos bilionários desses mesmos setores. Podem continuar se aposentando, portanto, com bons salários, desde que paguem um pouquinho a mais. O trabalhador do setor privado, ao contrário, se quiser ganhar mais que os R$ 2.400 oferecidos pelo INSS terá que ralar muito. Mas até aí tudo bem.
O que não entendi foi ver amigos meus, que nunca foram nem nunca serão funcionários públicos, defendendo histericamente esses privilégios previdenciários, sem considerar que a reforma apontava para melhoria da renda da maioria dos aposentados do setor privado.
Aí o tempo passou. E Lula provou que não era inimigo dos funcionários públicos. Ao contrário, todas as categorias, inclusive os inativos, vem recebendo reajustes generosos, acima da inflação. As carreiras foram re-estruturadas, atendendo demandas históricas dos segmentos. Tanto é assim que a mídia, que é contra qualquer lei, reforma ou reajuste que beneficie o trabalhador, agora acusa Lula de promover gastança do dinheiro público com funcionalismo.
A mídia não diz que, durante os oito longos anos de FHC, o funcionalismo público teve seu poder aquisitivo destruído. FHC gostava de dar dinheiro para banqueiros, para o FMI e pagar juros. Para professores, médicos e policiais, nada. A mídia e os ideólogos neoliberais querem um "choque de gestão" mágico. Querem promover demissões em massa do setor público, reduzir salários dos que restarem e, mesmo assim, acreditam num avanço extraordinário dos serviços. Talvez pensem em recuperar a tradição da chibata. Não tá satisfeito com seu salário? Chibata! Quer fazer greve? Chibata. É assim que o governo Serra, por exemplo, trata seus funcionários. Com brutalidade. Nos últimos anos, estudantes universitários, policiais e por fim até estudantes ginasiais, experimentaram a lei do porrete.
A Folha outro dia publicou matéria dizendo que o governo agora gasta mais com funcionalismo do que com juros da dívida. Como se fosse algo negativo! Ora, que bom que é assim agora! A matéria diz que os gastos do governo com a dívida caíram fortemente, e por isso os gastos do funcionalismo passaram a representar um percentual maior. Sem contar que o Tribunal de Contas da União declarou inconstitucional a onda de terceirização promovida pela gestão tucana. O país viveu agora a sua primeira grande crise internacional em que sua dívida externa, em vez de aumentar, decresceu! Como temos grandes reservas em dólar, e a moeda americana valorizou-se, o Brasil tem mais recursos do que antes da crise!
Por falar em crise, continuo achando extremamente ridículo o pessimismo forçado e tendencioso da mídia corporativa. Miriam Leitão voltou a ser feliz. Ela floresce na desgraça. Mas não temos, em verdade, nenhuma desgraça. Ora, cumpadres, acabamos de achar as maiores reservas de petróleo do planeta! E não venham com essa de que é difícil explorar, que é fundo demais! Balela! Nossa elite parece que não gosta de dinheiro! Sempre tive a impressão de que nossas elites e nossa mídia não ficaram felizes com a descoberta dos novos campos de petróleo. Até hoje sinto uma ponta de irritação com um episódio. Quando anunciou-se, pela primeira vez, em público, a descoberta do megacampo Tupi, com reservas de 6 a 8 bilhões de barris, a imprensa contra-atacou dizendo que se tratava de "marketing político". Outro disse que isso já era sabido (ora, se já se sabia, porque as ações da Petrobrás dispararam no dia seguinte?)
Eu estava numa festa, e um amigo nosso, quer dizer, um namorado de amiga nossa, que é advogado da Petrobrás, e tucano, veio com o mesmo discursinho copiado dos jornais. Igualzinho. Que o governo tinha exagerado, que o pessoal da Petrobrás não acreditava muito naquele campo.
Opa opa opa. Só de lembrar me dá nervoso. Não do cara, que é gente boa. Tucano mas gente boa. Mas, como todo tucano, não gosta do Brasil, muito menos da Petrobrás, onde está apenas por falta de emprego melhor (!). Eu respondi que o governo tinha sido, na verdade, extremamente conservador, já que diversas pesquisas indicavam que as novas reservas do pré-sal podiam ultrapassar em muito os tais 8 bilhões, e o campo Tupi. Podiam chegar a mais de 80 bilhões de barris e se estender por grande parte da costa brasileira. Hoje está provado que o governo foi modesto. Consultorias do mundo inteiro já publicaram relatórios apontando para o potencial gigantesco de nosso pré-sal.
A nova onda da mídia, agora, é dizer que, com a crise e os preços mais baixos do petróleo, não haverá recursos para explorar o pré-sal. Em primeiro lugar, não se pode transformar um fato positivo, a queda no preço do petróleo, num negativo. É bom que os preços do petróleo tenham caído, porque barateia o transporte, o alimento e ajuda a controlar a inflação. A imprensa trabalha sempre com a teoria do copo meio vazio. Para ela, nunca há copo meio cheio, e isso é tendencioso e desinformante. Para o Brasil, que ainda tem déficit de combustivel, a queda nos preços do petróleo é uma vantagem. E o pré-sal é uma garantia. Não temos desespero de começar logo a exploração. É uma garantia de futuro.
O potencial do etanol é outro fator extremamente promissor para o futuro do Brasil, pois não há outro país com terras e tecnologia em tão larga escala para produzir o combustível verde.
Por fim, temos produtos alimentícios que somente o Brasil possui, como o açaí.
17 de novembro de 2008
Divagações extra-partidárias
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# Escrito por
Miguel do Rosário
#
segunda-feira, novembro 17, 2008
# Etichette: Crônica, Economia, Política
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OFF TOPIC – Gente, estou divulgando com atraso, para a de hoje não dá mais tempo. Mas o PSOL está convocando manifestações “contra a corrupção”, segundo eles. Mas, na verdade, direta-mente dirigidas contra o circo que se montou para desmontar a Operação Satiagraha e para afastar o Juiz De Sanctis do julgamento, garantindo a impunidade de Dantas. Acho que todas as pessoas de esquerda deste país, e mesmo as de direita de boa fé, devem participar disso, sejam do PSOL, PLUA, PESTRELA, PCOMETA, o diabo, o que importa agora não é o sectarismo partidário mas sim uma luta justa contra o crime organizado e, também e não menos importante, em defesa de funcionários públicos que estao sendo perseguidos pelo fato de cumprirem com o seu dever.
Esqueci de dar as datas: no dia 17 de novembro às 12h estarão em Porto Alegre, na Esquina Democrática; no dia 18, em São Paulo, em frente à Assembléia Legislativa; no dia 19, em Brasília, em frente ao Supremo Tribunal Federal. PS: A data coincide também com o prazo final para que o juiz Fausto De Sanctis dê a sentença a Dantas.
Miguel, só agora aprendi como deixar comentários no seu blog. Seu meio lesada com computador.
Quero te parabenizar pelo riquíssimo trabalho que tem feito nesse blog, já que PHA, Azenha e outros, piraram de vez. Chega a ser ridículo essa tentativa do PHA (o louco)de fazer do protógenes um herói. Me poupem!!!
Ps. Eu adoro esse nome "óleo do diabo". Só uma opinião.
Miguel, também tenho asco desses ultra-esquerdistas insanos. Eles também estão me enchendo o saco em meu blog. Dá uma olhada... Abraços e parabéns pela lucidez, coisa rara.
Oi Andre, lúcido é a anarquista aí, ou pelo menos é o que diz o apelido dela. eu não aguento mais essa historinha de protogenes.
oi Dani, valeu pelos comentário. tem razão, os caras piraram. e não só por isso. você vê uma incoerência total. acho uma pena. mas creio que é passageiro.
Miguel, essa piração pode até ser passageira, mas para mim foram desmascarados. PHA não passa de um mau caráter lutando pelos seus interesses pessoais. Fez sua fama na crise de 2005 defendendo o governo, mas na verdade estava só se vingando dos ex-patrões. Ele não tem nada de esquerda nem de ultra-esquerda, é apenas um oportunista de plantão. To fora dessa passeatas ridículas de psolistas. Porque eu vou defender um delegado que cometeu inúmeras ilegalidades? Ou vc investiga dentro da lei ou corre o risco de ser também um criminoso.
estive em Brasília neste fim semana,
pesquisas apontam Brasília como uma cidade que, apesar da crise, está com economia a todo vapor,
de fato, pude presenciar isso com meus próprios olhos,
a cidade parece um canteiro de obras, o condomínio Aguas Claras é só construção, a cidade toda é assim,
e sabem porque?
porque o salário dos funcionários públicos, uma grande população do DF, movimenta a economia.
Brasília é um exemplo de que fazer o que o PSDB sonha em fazer, ou seja, pagar 3 mil a um delegado de polícia, não é uma boa saída
miguel excelente suas divagações políticas,só não entendi essa preferência pelo pmdb em 1 lugar,já que vc não respondeu no texto,o faça aqui.Também não tenho mais paciência para esses partidos ultra-radicais,quando eles começam a falar me dá dor de cabeça,eles apostam no quanto pior melhor!
tete, depois explico. num post à parte. abs
caramba, miguel!
esse seu texto,tal sua coerência, etílica e política, é uma motivação a mais pra gente enfrentar os tucanos, demos, psolistas e afins, não necessariamente pela ordem.
valeu!
Advogado da Petrobrás e tucano? Tá doido? Isso é raposa tomando conta de galinheiro. A Petrobrás precisa, urgentemente, rever seu departamento jurídico "do contra". PMDB, Miguel? Isso é novidade para mim.
depois explico isso num post juliano, amanhã. ou pessoalmente hoje. abraço
duas coisas que minimizam, ou deveriam minimizar, a paranóia:
1) o novo relatório da PF é muito duro com Dantas. E, ao que parece, mais objetivo e eficaz do que o anterior, do nosso valoroso protogenes.
2) o juiz de sanctis foi mantido pelos desembargadores. falta agora o parecer do cnj. esperemos.
Olá Miguel,sobre essa "esquerda" eu compartilho a msma opinião.
Recomendo um documentário sobre a queda do Allende chamado A Batalha do Chile,e mostra como esse pessoal mais radical é amigo da onça.
Você acertou em cheio quando criticou a chamada ultra-esquerda. Essas pessoas são completamente desligadas da realidade. Há duas possibilidades de futuro para eles: tornam-se loucos ou - o que é pior - viram tucanos. Exemplos disso se tem aos montes.
http://opiniaopontual.blogspot.com/
Miguel,
Você disse que iria explicar o porque que o PMDB é o seu partido preferido, e acabou não explicando.
Miguel, ótimo texto! Claro que sou meio suspeita pra falar alguma coisa né? Mas tenho que admitir que sua preferência pelo PMDB me deixou bastante curiosa. De qualquer maneira, adorei o blog, os textos são ótimos! Passarei mais vezes por aqui.
Abraço até mais!
Entrei sem querer com o login do trampo. Então, Bia, bem vinda! Volte sempre. Depois explico melhor o negócio do PMDB num post próprio.
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