4 de novembro de 2008

O vôo do condor



Via Idelber Avelar


Não adianta fingir-se de cético ou cínico e pretender que a vitória de Obama não implicará mudanças para o Brasil. Esse é um pensamento, aliás, tristemente egoísta, que não faz justiça ao caráter nacional. Observo as eleições americanas com grande interesse. Primeiro por emoção, depois por ideologia. Quem já leu Luz em Agosto ou Santuário, de William Faulkner, ou viu filmes como Mississipi em Chamas, entre outros, sabe que o racismo nos EUA não se restringe a um preconceito de cor. Ele nasce de uma arrogância profundamente enraizada na cultura, um sentimento de superioridade e ufanismo nacional que só pode ser comparado ao nazismo. Com o agravante de vir acompanhado de um individualismo extremista, competitivo, implacável, que têm levado jovens de quinze anos a metralharem seus colegas e professores.

Os jornais brasileiros abordaram, de maneira extremamente medíocre, a questão de saber qual o candidato seria mais vantajoso para o Brasil, usando como critério principal se haverá redução ou não da tarifa sobre o etanol. Ora, para o Brasil, está evidente que o melhor será um presidente democrata, negro, um verdadeiro representante da esquerda esclarecida, porque o Brasil é um país de negros e um país de esquerda. No Brasil, grupos de extrema direita são raríssimos, insignificantes, enquanto a extrema esquerda domina o cenário estudantil e só não ganhou força nas eleições porque foi engolida pela esquerda average (PCdoB, PT, PSB, PDT) e pela centro-esquerda (PMDB). Toda a América do Sul e Caribe inclina-se para o lado do poente, e um Obama presidente poderá estabelecer um diálogo muito mais frutífero com irmãos e hermanos ao sul do Rio Grande.

O melhor de tudo, porém, será contemplar a expressão de ventilador enguiçado dos direitistas tupinambás. Olavão, que fugiu do Lula indo para os EUA, vai ter que voltar correndo, com rabo entre as pernas, apavorado com a festa do black power. Após a revelação de que o principal líder da direita austríaca, morto recentemente, traiu sua esposa, por vinte anos, com o secretário do partido, nosso filósofo right-wing talvez procure refúgio junto aos gêmeos psicopatas da Polônia, únicos autênticos conservadores do mundo moderno.

Outros, como Ali Kamel e Jabor, astutamente, resolveram posar de progressistas e apoiar Obama. A esquerda nos EUA, claro, é mais chique.

Para se informar em detalhes sobre as últimas horas da campanha presidencial americana, acompanhe o blog do Idelber Avelar.

1 comentário

José Carlos Lima disse...

"É a resposta de jovens e idosos, ricos e pobres, democratas e republicanos, negros, brancos, hispânicos, asiáticos, americanos nativos, gays, heterossexuais, deficientes e não-deficientes."

Ao citar esta frase do primeiro discurso de Obama a Globo cortou as palavras "gays, heterossexuais, deficientes e não-deficientes".

Deve ser para economizar e por falta de vergonha na cara.

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