31 de julho de 2007

Falou e disse Mauro!

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Leiam esse artigo do grande Mauro Santayanna.

Em tempo, o Santayanna é um dos jornalistas mais brilhantes que conheci. Com uma orientaçao progressista, nacionalista, qualidades hoje completamente esquecidas pelas novas geraçoes de profissionais de comunicaçao, ele foi um dos que foram terrivelmente prejudicados pela ditadura militar.

Ele foi amigo do meu (falecido) pai e no ano passado ficou hospedado uns dias la na casa de minha mae. Nao aproveitei bem a ocasiao para conversar muito com ele. Sou timido e desastrado socialmente. Mas o pouco que conversei revelou-me uma inteligencia absolutamente brilhante, uma memoria poderosissima e um conhecimento profundo da historia brasileira recente e antiga, sobretudo da historia politica, sua especialidade.

Sua opiniao, para mim, vale muito mais que a de imbecis vendidos como Clovis Rossi, Noblat ou Merval Pereira. Ele escreve com elegancia e estilo literario, sem o pedantismo sensacionalista de um Reinaldo Azevedo. Seus textos sempre provocam reflexao e nao constituem nunca uma opiniao absoluta lançada na cabeça do leitor. Jamais brinca com emoçoes do momento, como o vulgar Noblat. Seu raciocionio é simples, correto, honesto. Nos ultimos meses, seus textos tem sido os melhores que tenho lido.

Aproveito para colar aqui o trecho de entrevista de Santayanna para a revista Principios (e pescada no Portal Vermelho):


Para o senhor não existem países sem crise, pois a história é uma crise permanente e encerra a luta de pobres contra os ricos. Desenvolva um pouco mais esse raciocínio, se possível fazendo analogia com a crise política atual que afeta o país.

Santayana — Os povos criaram os Estados primitivos como instrumento dos fracos contra os fortes. A primeira razão do Estado é a instituição da justiça, mediante as regras de convívio — a que chamamos lei. Lei é ligação, é amarra, é compromisso moral. Ao longo dos séculos, a vida política tem sido de tensão permanente entre ricos e pobres. A República Romana, até hoje inigualável exemplo de Estado, expressava essa tensão no conflito político entre os “populares”, ou democráticos, e os “optimates”, ou seja, aristocratas da ordem eqüestre. O poder estava ao alcance dos pobres, se eles se destacassem nas fileiras militares, a que todos os romanos estavam sujeitos. Foi assim que o plebeu Caio Mario chegou ao consulado, devidamente eleito, e o exerceu durante seis mandatos. Em nosso caso, o poder sempre esteve nas mãos não da aristocracia —porque nunca tivemos aristocracia, nem mesmo no Império —, mas na dos homens ricos. Os “aristocratas” do Império foram sempre, e o exemplo de Joaquim Nabuco é suficiente, embasbacados admiradores das culturas francesa e anglo-saxônica. Primeiro o poder foi exercido pelos proprietários de terras, associados à incipiente burguesia importadora e exportadora das praças do Rio de Janeiro e Recife (um pouco mais tarde, também a de Santos) e, depois, pelos banqueiros, mas todos eles submetidos ao interesse estrangeiro. Desde o início do século 18, com o Tratado de Methuen, já não eram mais os portugueses que nos exploravam. Eles eram meros capatazes do capital inglês. Do domínio inglês, passamos para o domínio norte-americano. A nossa história tem sido uma sucessão de crises, crises econômicas (quando passávamos de um ciclo a outro), crises sociais, crises políticas. De vez em quando, a crise fica mais aguda, mas ela é, no fundo, o conflito entre os que exploram o trabalho alheio e os que resistem contra essa exploração. Marx morreu, como se sabe, mas ainda não o conseguiram enterrar.

Integra da entrevista aqui.

Trecho

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de artigo de Luciano Martins Costa, publicado no Observatorio da Imprensa em 31/7/2007

Veredicto apressado

Alguns jornalistas se alinham por convicção, outros por conveniência, e grande número porque são profissionais com grande talento para a prospecção de oportunidades na carreira, sejam elas aceitáveis ou não de um ponto de vista ético. Não que devessem usar o posto para fazer proselitismo, como ocorreu em muitas redações durante os anos 1980, em favor do partido que atualmente está no governo. Apenas se observa que, hoje, praticamente inexistem filtros eficientes entre a opinião dos donos e as escolhas editoriais dos profissionais que decidem a linha do noticiário.

Deste lado da sociedade, o risco visível é de que a imprensa perca valor em sua função social de fiscalizar os poderes, por uma insistência viciosa em imputar ao Executivo todos os males do país e creditar ao mercado ou ao imponderável todos os bons números da economia e as análises sobre a estabilidade institucional.

Se perder credibilidade e influência sobre a sociedade de modo mais amplo, como parece ter acontecido nas últimas eleições, e concentrar seu poder de convencimento em determinadas faixas da classe média, a imprensa estará produzindo um tumor de radicalismo e preconceito cujas conseqüências não se pode prever.

A complexidade atual das relações sociais não favorece exercícios de futurologia confiáveis, nem está habilitado este observador para tanto. Porém, é seguro afirmar, pela leitura cuidadosa do noticiário das duas últimas semanas, que a imprensa, de modo geral e quase unânime, procurou jogar no colo do presidente da República os cadáveres do Airbus que fazia o vôo JJ 3054. Apressou-se em dar um veredicto que em dois dias se revelou sem fundamento.

Não há como não dizer que, havendo uma guerra deflagrada entre a imprensa e o atual governo, a primeira vítima tenha sido, outra vez, a verdade.

Leia na integra.

30 de julho de 2007

Golpezinhos baixos e mediocres & previsoes politicas

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É aterrador. Tinha prometido me dar umas férias mas cometi o erro de ver a capa do Globo desta segunda-feira. Com todo o respeito a nosso vizinho, viramos Venezuela. Uma passeata com pouco mais de 200 pessoas se transformou numa caminhada de 6.500 pessoas. Um movimento, que se proclamava apolítico, converte-se num ato de protesto com gritos de “Fora Lula”. Olha só, eu sou democrata. Acho perfeitamente normal um ato destes. Acho que os ricos paulistas tem seu direito de protestar como todos os outros. Mas não digam que o ato não é político. Outra, o ato foi inflado pela imprensa. Foi convocado pela imprensa. Foi estimulado pela imprensa. Foi criado de forma absolutamente artificial, visto que a revolta primeira que animou o espírito desta passeata foi a culpabilização histérica e precipitada de Lula pelo acidente da TAM, com o agravante de conectá-lo ao acidente da Gol do ano passado. Ora, agora que a caixa preta revelou que houve erro do piloto, e o avião não tinha um dos reversos, sem contar que, no caso da tragédia da Gol, estamos carecas de saber que os pilotos americanos desligaram um dos sistemas de segurança para voarem mais rápido, agora como fica o sentido desta passeata? Se Lula não é culpado, se a crise aérea não é culpada, qual o sentido de ligar a tragédia da TAM a um grito de “Fora Lula”? Eu sei. O sentido é a mais despudorada e desavergonhada exploração política da morte de mais de 200 pessoas, sobretudo por parte de grandes órgãos de comunicação, que abdicam de sua função pública de informar para praticar um abjeto e escuso jogo partidário.

Tem outra, em oito anos de governo FHC, que foi feito para melhorar o sistema de transporte aéreo do país? Que eu saiba, tem sido o Lula que tem investido nos aeroportos. Acidentes são fatalidades. A morte de milhares de pessoas, por fome e pobreza, todos os anos, não é fatalidade. É resultado do descaso, da injustiça, da hipocrisia, do cinismo, da crueldade, desta mesma elite branca, paulista, que usufrui nababescamente deste sistema há séculos.

Ontem, o Globo noticiou que as operações contra fraudes fiscais aumentaram 72% este ano. Talvez seja disto que eles tenham “se cansado”. De um governo que comete o sacrilégio de permitir que a Polícia Federal invada grandes e ricos escritórios de advocacia ligados a diversas máfias, que invada e autue templos de luxo como a Daslu, que fraudavam o fisco há anos, com a benção inclusive da família Alckmin. Disto eles estão cansados.

Eu estou cansado de outras coisas.

1) de ver crianças pobres nas ruas cheirando cola;
2) de andar pela madrugada com um olho atrás outro na frente sempre à espera de um assaltante (como carioca velho de guerra, para mim isso virou rotina);
3) de ver centenas, milhares, de pessoas dormindo nas ruas;
4) de ver as polícias estaduais prosseguirem sua política genocida de segurança;
5) de ver a imprensa deturpar sistematicamente os fatos, dificultando o acesso da população a uma consciência política mais imparcial;
6) de muitas outras coisas.

Abaixo o texto publicado na PRIMEIRA PÁGINA do Globo. Mais uma pérola do golpismo midiático tupi.

Manifestação contra o governo reúne milhares

Com gritos de protesto, como “Fora Lula”, uma caminhada que reuniu ontem cerca de 6.500 pessoas em São Paulo, em memória das vítimas do acidente com o Airbus da TAM, transformou-se em ato de protesto contra o governo. Parentes dos mortos participaram da manifestação, que terminou diante do prédio da TAM Express, destruído pelo avião. Eles criticaram o descaso das autoridades e pediram justiça.

O presidente da Anac, Milton Zuanazzi, disse que um novo aeroporto em São Paulo só deve ser finalizado em 2050, contrariando as declarações da ministra Dilma Rousseff.


A matéria ocupa toda a página 3, o espaço mais nobre do jornal. O cantor Seu Jorge aparece declarando: depois é o favelado que não tem educação? Fazendo gesto obsceno na televisão para o filho da gente ver? Peraí, seu Jorge! Bons tempos aqueles que a gente tomava umas geladas nos arredores da UERJ! Você tinha outras companhias na época, não esses ricaços hipócritas de hoje. O Marco Aurélio Garcia fez um gesto dentro de sua sala e um repórter filmou pela cortina entre-aberta. Um gesto privado! Que porra de liberdade individual é essa, se um sujeito não pode mais nem fazer top top na intimidade de seu escritório! Ah, ele estava num escritório público, tá bom. Então, que filmem agora o Lula fazendo cocô no banheiro do palácio do planalto e mostrem no Jornal Nacional! Vejam, Povo Brasileiro, o que o seu querido presidente faz no Palácio! Num lugar público! Uma repartição federal!

Logo na primeira frase do Globo, diz-se que as pessoas gritaram “Fora Lula”, e o jornal não divulgou nenhuma análise sobre o significado político da passeata. Pior, o Globo não deu destaque na primeira página da principal notícia referente ao acidente da TAM: a revelação da Caixa Preta, de que o piloto teria cometido um erro. Um erro já cometido por outros pilotos em outras partes do mundo no mesmo tipo de avião. Ou seja, toda a sanha dos dias anteriores em encontrar as causas do acidente se evaporou. Agora, ninguém mais quer saber das causas. A causa já tinha sido estabelecida no mesmo momento do acidente. A causa é Lula. Foi, é e sempre será Lula, não importa o resultado de qualquer investigação.

Quem importa se o país vem vivendo, nos últimos 6 anos, um verdadeiro processo de reconstrução econômica, com crescimento contínuo? FHC conseguiu estabilidade, mas aumentando juros a níveis estratosféricos, produzindo recessão e desemprego, pedindo emprestado ao FMI, vendendo as nossas melhores estatais (Vale do Rio Doce), mantendo o salário mínimo achatado e espremendo o crédito como nunca.

Lula conseguiu estabilidade pagando, definitivamente, a dívida do FMI, aumentando o salário mínimo, reduzindo o desemprego, fortalecendo e otimizando as estatais (Petrobrás, Caixa, BNDES e BB batendo recorde de lucros e investimentos sociais), reduzindo os juros ao patamar mais baixo em décadas e facilitando o crédito.

Ontem, o Brasil tinha déficit comercial, crescimento negativo e a dívida externa duplicada a cada ano. Hoje o Brasil bate recordes de exportação, tem crescimento sustentável (sem inflação) e pagou sua dívida externa. Ontem, o Brasil não tinha futuro. Os economistas e a sociedade viam o futuro com negro pessimismo. Hoje o Brasil voltou a ter futuro e o país é considerado promissor por quase todos os grandes analistas econômicos do mundo.
Isso é continuidade econômica? E qual o governo, diante destes dados, fez, de fato, uma gestão competente?

Uma coisa é falar em gestão competente. Outra é fazer. O pessoalzinho do PSDB sabe apenas discursar sobre gestão competente. Na hora de fazer, provaram que são um desastre. Sua política externa foi medíocre, de curto alcance, colonizada. Sua política interna foi elitista e catastrófica.

O irônico é que Lula não é mais candidato. A guerra agora é para ver se Lula faz ou não seu sucessor. O Mino Carta defende a Dilma Roussef. Lula demora para sinalizar quem será seu herdeiro. Nelson Jobim, como ministro da Defesa, desponta como uma alternativa ao “presidente eleito” José Serra.

Tenho para mim que José Serra será o nome do PSDB. Serra, Jobim e Rouseff serão os principais candidatos. A direita se alinhará canina e ferozmente ao lado de Serra. A guerra ideológica em curso é para debilitar ao máximo o fortalecimento de um candidato como a Rouseff. Jobim seria palatável. Para quem teve que engolir Lula por 8 anos, Jobim seria fácil. Acho que as coisas irão por aí.

29 de julho de 2007

Filme besta

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Muito ruim o filme Fantasmas de Goya. Dramalhão babaca sobre uma moça, torturada pela Inquisição, à procura de sua filha perdida. Coitado do Goya, ficou em segundo plano, amiguinho da moça tentando ajudá-la a encontrar sua filha.

Valeu apenas para pôr em evidência o nome de Goya, um dos maiores pintores da modernidade, da qual, aliás, ele foi um dos precursores. Acima, o quadro Saturno devorando seus filhos, do pintor espanhol.

Vamo là, everybody understands the blues

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O Joe Turner é um dos maiores. Tocou muito com Jay Mcshann, e outros membros do lendario grupo de jazz-blues Blue Devils.

Escutem esse também. Tem gente que acha que foram os Blue Devils os verdadeiros inventores do rock and roll.

http://br.youtube.com/watch?v=20Feq_Nt3nM&mode=related&search=

Recado aos leitores

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Estou voltando para o Brasil no dia 6 de agosto. Finalmente. Vou aproveitar os últimos tangos de Paris. Tenham paciência com este blogueiro se eu ficar meio sumido esses dias. Retorno aos trabalhos quando pisar no sagrado solo pátrio.

28 de julho de 2007

Outra pedra

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Eu também dizia : hay gobierno, soy contra. Hoje considero infantilismo político. Pois observei que os governos, por mais deficientes e reacionários e incompetentes que possam ser, representam uma possibilidade de defesa contra os interesses privados. As leis podem beneficiar, na maioria das vezes, apenas os ricos, mas a ausência de leis beneficia, necessariamente, sempre, os ricos.

Vejo as pessoas sempre criticando Lula, de forma blasé, à esquerda, com brutalidade, à direita. O fato é que a intelectualidade brasileira ainda não aceita o significado da democracia. Não aceita o fato de que, se um governante ganha eleições e mantém sua popularidade, é porque alguma coisa ele está fazendo de bom. Caetano Veloso pode não gostar de Lula, mas ele teve 88% dos votos da cidade de São Salvador.

E não vem ao caso pensar se ele é o melhor que JK, Jango ou Vargas. O fato é que, diante das circunstâncias políticas atuais, é a melhor opção. A única opção. Não estamos na época de JK, não estamos na época de Jango, nem no tempo de Vargas. O momento nosso é o momento de Lula, com todos seus problemas e qualidades.

A direita é doente, fascista até os ossos, seria capaz fácil fácil de apoiar qualquer Hitler de aluguel para derrotar a esquerda e Lula.

A esquerda continua martelando sua eterna ladainha de que Lula faz concessões demais à direita. Até concordo com essa última hipótese, mas pergunto: e aí? A grande crítica histórica à esquerda não tem sido justamente o seu comportamento dogmático, fechado, a sua falta de respeito ao contraditório? Fazer concessões não é um problema, desde que os objetivos concretos sejam mantidos. O desemprego caiu novamente para 1 dígito, 9.7%, nível baixo historicamente, um dos mais baixos em 30 anos. Porra, isso não é importante? Mais de 30 milhões de pessoas que tinham dificuldade para adquirir alimentos agora estão recebendo ajuda para fazê-lo. JK fez isso? Pelo que eu sei, JK foi um bom presidente, mas manteve uma política fortemente inflacionária e não determinou nenhuma política efetiva contra a fome no país. Por acaso, a esquerda está vendo a política para a agricultura familiar atual? Que espécie de esquerda é essa que não vê a importância disso? Não é importante comer? Que é importante então? Cagar? Naturalmente, tem o fato de que 130 mil milionários detém metade do PIB nacional. Lula poderia prender todos na cadeia, apropriar-se de seu dinheiro e investir a grana em estradas e ferrovias. Mas, eu me pergunto: a imprensa iria apoiar? A OAB iria apoiar? O Supremo Tribunal de Justiça iria apoiar? O Senado iria apoiar? O Congresso Nacional iria apoiar? Eu iria apoiar, mas e daí? É preciso força política para fazer isso. Força se acumula, sobretudo através da luta ideológica. A esquerda tem feito seu papel? Não acho. A esquerda tem se mantido um tanto discreta no combate ideológico. Os intelectuais “oficiais” não tem nos oferecido muito material novo para alimentar a militância. A novidade tem saído de atores novos, gente escrevendo na internet, comentando em blogs e sites.

Quanto aos juros, estão no nível mais baixo em 50 anos. Ou não? Tem que baixar mais, claro, mas não é um bom sinal que tenham baixado tanto?

Agora a Miriam Leitão começou a peidar, sugerindo que a hora é de parar de reduzir os juros... E o salário mínimo, a duzentos dólares, é melhor que os 30 dólares de salário mínimo do FHC, ou não? E vem cá, é muito fácil controlar a inflação mantendo o câmbio fixo 1 real – 1 dólar como fez o FHC, não? Muito fácil estabilidade pedindo emprestado ao FMI e vendendo estatais, não? Pois essa foi a política econômica “maravilhosa” de FHC: uma estabilidade mantida com dinheiro emprestado e câmbio fixo articialmente. Grande merda.

Acho até engraçado ver a esquerda incensando Evo Morales e, ao mesmo tempo, fazendo referências condescendentes a Lula. Olha só, eu apoio fortemente Morales. Aliás, acho curioso que colunistas como Miriam Leitão, que nunca se interessaram pela Bolívia, que afundava mais e mais na miséria, na corrupção, na falta de perspectivas, agora critiquem tão raivosamente o governo boliviano. Mais engraçado ainda: a Miriam Leitão se preocupa agora com os acionistas da Petrobrás, se estão perdendo alguma coisa com o processo da nacionalização das fábricas lá. Mas não vi ela comentando o fato de que nunca os acionistas da Petrobrás ganharam tanto. Não vi ela comentando o fato de que, enquanto no governo FHC, o maior feito da Petrobrás foi ver a P-52 afundar, um prejuízo de bilhões e perda de vidas humanas, a empresa agora consolidou-se como a maior da América Latina, e com um capital aberto para qualquer pequeno investidor brasileiro.

Entretanto, dar pitaco no quintal do vizinho é fácil. Vê-se apenas o lado bom. É claro que o governo Morales tem seus problemas. Todo governo é problemático. Todo governo é contraditório. Pretender a existência de um governo absolutamente bom, absolutamente eficaz, absolutamente coerente, não é apenas ingênuo. É desonesto. É estupidez. Eu apoio Lula não porque eu seja um de seus “áulicos” que venera tudo, mas porque estou ciente do processo de luta política que rege qualquer palavra que eu diga sobre Lula. E, desde que esta luta, no Brasil, assumiu o aspecto de um golpismo puro, em que o objetivo não é dialogar ou fazer a crítica construtiva, me sinto impedido fazer qualquer tipo de crítica, pois vejo que esta seria manipulada e deturpada.

Chegamos num momento triste para a democracia brasileira, em que a imprensa nacional parece dar credibilidade apenas aqueles que são contra o governo, especificamente contra o governo Lula. E a favor do PSDB. O contraditório está sendo criminosamente omitido. Aconteceu no tempo da primeira grande crise política. Está acontecendo de novo. O último programa do Observatório da Imprensa, na TV Cultura, trouxe apenas figuras ligadas ao histérico anti-governismo. Eliane Catanhede, para começar. Que tipo de credibilidade espera ter essa senhora, agora que as causas do acidente foram atribuídas ao erro do piloto e falhas mecânicas, ou seja, nada a ver com a crise aérea? Outra, até onde a imprensa não vem contribuindo para disseminar pânico e medo na população e, por conseguinte nas próprias tripulações aéreas? Até que ponto a imprensa não vem contribuindo para desestabilizar o sistema aéreo, interferindo tendenciosamente na questão sindical dos operadores, suspeitos, diga-se de passagem, de sabotaremo o sistema, em troca de propinas oferecidas pela oposição?

Esse acidente aéreo da TAM mostrou do que a mídia brasileira é capaz. Aquela do psicanalista chamando o Lula de assassino, com chamada na primeira página, entrou para os anais do golpismo midiático tupi. Seremos obrigados a ficar ouvindo, nos próximos 20 anos, que Lula foi responsável pela tragédia. Não importa se as investigações e mesmo se a própria imprensa, apontarem o contrário. Como aqueles japoneses malucos que não acreditavam que o Japão havia perdido a guerra, ainda teremos que suportar, por muito anos, os malucos repetirem, ad infinitum, todas as teorias golpistas vociferadas pela imprensa nas últimas semanas.

Pergunta se eu cansei? Ah ah ah, claro que cansei disso. Mas não posso pagar publicidade na Globo. Não posso influenciar amiguinhos milionários e advogados da OAB. Não tenho dinheiro. Tenho apenas minha palavra, e a atenção de vocês, leitores. Tenho um voto, porém, que vale o mesmo que o voto de um imbecil da OAB. Vocês tem o seu voto. Que vença o melhor. E que Deus nos abençoe.

26 de julho de 2007

Mais uma pedra na cabeça do Golias

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Lembram do acidente do Metrô de São Paulo? Vozes se levantaram de toda parte, gritando: Não vamos politizar a tragédia! O próprio Alberto Dines cansou de repetir o slogan. O Serra até hoje não falou nada sobre o acidente e nunca o Dines protestou. O fato é que nunca uma tragédia foi tão despudoradamente politizada como esse acidente da TAM. Os mortos devem estar se revirando em seus túmulos. Se eu fosse familiar de alguma vitima, chamaria a imprensa para protestar: parem com essa palhaçada! Queremos apenas uma investigação técnica!

Desde já deixo aqui meu testamento, para o caso de uma tragédia. Nunca se sabe. Não utilizem politicamente minha morte! Sobretudo no interesse daqueles contra os quais eu luto!

O Brasil vive um esquizofrenia profunda. Os analistas de mercado e os órgãos oficiais já revisaram o crescimento econômico deste ano para cima. O Brasil deve apresentar um dos maiores crescimentos em décadas, com a diferença positiva de que este crescimento se apóia no aumento da renda das famílias brasileiras, a começar pelas mais pobres. A classe média também vai bem, obrigado. Vide as vendas recordes de carros, computadores e o aquecimento do mercado imobiliário. Claro que tem muita gente ficando pobre. Capitalismo é isso. Mas tem muita gente melhorando de vida também. Sobretudo, milhões de famílias saíram do estado de pobreza e ingressaram na classe média baixa.

O país bate sucessivos recordes de exportações (contrariando, como sempre, as previsões negativas da Miriam Leitão), com uma pauta diversificada, onde os segmentos com valor agregado estão fazendo a diferença. A agricultura familiar vem, pela primeira vez na história nacional, recebendo um grande volume de crédito. Há pouco tempo, poucos dias antes do acidente da TAM, a própria Miriam Leitão começava a dar o braço a torcer: a economia nacional vive um grande momento (mas ela atribui tudo, claro, ao bom clima internacional).

É uma estupidez analisar a perfomance econômica de país considerando apenas um índice. Necessário ter uma visão de conjunto. O desemprego no Brasil está controlado, e declinante, num patamar baixo historicamente, com uma saudável formalização dos empregos.

A dívida externa foi paga. A dívida pública está controlada e declinante. O governo deu início a reformas interessantes no sistema de educação, começando por onde se deve começar: melhorando o salário dos educadores. Enfim, existem naturalmente uma série de deficiências e problemas ainda a serem sanados, mas as pesquisas de opinião vinham apontando um grande otimismo aflorando no Brasil. Otimismo que é quase entusiasmo entre os segmentos mais pobres, onde o presidente Lula tem mais de 80% de aprovação.

Tem ainda a Polícia Federal. Desde o início do segundo mandato, a sociedade e a imprensa têm assistido, perplexas, a PF desmontar quadrilhas poderosíssimas, que atuavam há décadas. Foram presos desembargadores, juízes, grandes advogados, mega-empresários, ex-governadores, governadores, prefeitos, altos funcionários públicos. Por que a perplexidade? Porque nunca tínhamos assistido operações tão ousadas. Porque, por mais soubéssemos, sempre doía ver até que ponto a corrupção estava enraizada nos altos escalões do poder. E quem estava prendendo: a PF do Lula! Que não poupou nem conhecidos e parentes do presidente. Hoje sabemos que, dentro da PF, existem tendências políticas divergentes e que o indiciamento do irmão do Lula foi uma espécie de golpezinho baixo por parte do grupinho tucano interno; e mesmo assim, consideramos inclusive essa dialética interna da PF como algo positivo, pois refutava acusações de ser chapa-branca; embora também indique a existencia de um segmento interno da PF que vazava seletivamente informações, quase sempre contra o governo e para a mídia anti-governista, sugerindo um esquema de pagamento de propina, por parte de revistas como a Veja, para figuras da laia de um delegado Bruno, viúvas dos dourados tempos tucanos, em que a PF não fazia nada, não prendia poderosos e não fazia sindicancias internas sérias.

Em diversas matérias, jornalistas e oposicionistas deixaram claro o seu desânimo e a sua falta de perspectivas. Por isso, o acidente da TAM vem sendo explorado com a histeria que se vê. Havia um desespero político acumulado. Um ódio, um grito preso na garganta. E qualquer pudor de explorar politicamente o acidente foi mandado às favas. O lema dessa gentalha é o lema de Jarbas Passarinho, no momento quando decidiram decretar o AI-5.

Fiquei muito contente com a indicação de Nelson Jobim para o Ministério da Defesa. É a figura certa na hora certa. Ele tem aquela aura um pouco aristocrática que acalmará um pouco a histeria da classe média anti-plebéia. Por outro lado, é um político progressista, um sujeito integro, o que ajuda a fortalecer a banda boa deste partido. O PMDB é fundamental à estabilidade política do país, visto que é o maior partido da Câmara (o segundo é o PT) e também o maior do Senado (onde o governo tem uma situação frágil).

Além disso, Jobim, ex-ministro do Supremo Tribunal Federal, grande jurista, erudito, e homem político não desprovido de certa agressividade, impõe respeito. Mais um grande movimento político de Lula, que, ciente do valor de Jobim, já quis trazê-lo para o Ministério da Justiça.

Entretanto, o que esse novo surto de golpismo midiático revelou foi a sua sanha, a sua voracidade por expulsar a esquerda do poder e a falta de escrúpulos quanto aos meios a serem utilizados. Aquela de espionar o Marco Aurélio Garcia foi demais. O governo federal deve ter perdido o que lhe restava de inocência quanto ao profissionalismo jornalístico da imprensa brasileira. O caso deve estar rendendo interessantes reflexões a Franklin Martins, outra figura de grande peso ao lado de Lula. Eu confio no Franklin. Ele conhece a barra pesada. Conhece a imprensa. Conhece o Globo. Dêem-lhe tempo para contratacar. Enquanto isso, a nossa guerrilha continua mais ativa que nunca. Como dizia o lema de um jornal anarco que eu publicava em meados dos anos 90, no Rio: a única luta que se perde é aquela que se abandona!

25 de julho de 2007

Sobre os moinhos de vento que nos esperam

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Honoré Daumier, Don Quijote y la mula muerta, Musée d´Orsay. Paris


A intepretação marxista para a teoria da repetição histórica, segundo a qual as tragédias são revividas como farsas, não se aplica no Brasil. O acidente da TAM despertou os abutres golpistas. Imprensa e oposição unidos num objetivo comum: derrubar o governo, lembrando os amargos momentos que antecederam o suicídio de Vargas. Que antecederam o golpe de 64. Até uma suposta participação de militares, como sugere a hipótese de sabotagem do Cindacta-4 de Manaus, que causou transtornos no sistema aéreo nacional, trouxe de volta o fantasma sinistro de golpes anti-democráticos realizados em conluio com a imprensa. Não esqueçamos que algumas reuniões estratégicas que levaram ao golpe de 64 foram realizadas em escritorios do jornal Estado de São Paulo, e que a Folha emprestou kombis para a polícia conduzir suspeitos de "subversão" para os centros de tortura do Dops. Apenas tragédias. Nenhuma farsa.

A República do Galeão está de volta. O acidente da Gol vem sendo investigado pela polícia de São Paulo, controlada pelo Secretário de Segurança do governo José Serra. Não estou seguro se o mundo mineral está ciente disso, mas a polícia paulista é extremamente partidarizada, pois o PSDB se perpetua há quase 15 anos no Palácio dos Bandeirantes.

Big Brother virou realidade? Uma câmera da Globo espiou entre as cortinas do gabinete de Marco Aurélio Garcia, e o flagrou fazendo gestos obscenos. O Dines aprovou essa atitude da imprensa!!! Comparou com o Bill Clinton, que usou o salão oval da Casa Branca para fazer sexo oral com uma estagiária. Conspurcou o salão oval!!! Garcia conspurcou, portanto, o sagrado recinto federal fazendo o famoso top-top!!! Que agressão aos santos princípios da família!!!

Ora ora, não tenho palavras para expressar minha indignação. Uma televisão do porte do Globo, concessionária de serviço público, não tem o direito de perseguir, com artifícios tão inescrupulosos, um governo eleito democraticamente. Eles não tinham o direito de expor um assessor da república desta maneira! Na intimidade de seu gabinete, Garcia tem o direito de fazer top-top, falar palavrao, o que quiser! Que stalinismo é esse? É a polícia politica de Orwell! Estou chocado com isso. Engasgado. Foi uma agressao terrivel à liberdade. A imprensa pega um cidadao fazendo um gesto dentro de sua sala, interpreta esse gesto e o usa para produzir um desgaste politico, uma humilhaçao e cumprir um objetivo partidario muito claro.

Impressionante como a imprensa nunca mostrou o video de José Serra confraternizando com os sanguessugas e agora exibe, em cadeia nacional, uma cena completamente apocrifa, sem absolutamente nenhum valor jornalistico, apenas para agredir um membro do governo. Enquanto isso, os verdadeiros hipocritas, cinicos e corruptos, deixados em paz pela midia conivente, festejam o fato de que os holofotes tenham sido (enfim!) desviados de seus problemas com a Policia Federal e a Justiça.

Novamente, guerra. Desta vez, uma guerrinha ainda mais sórdida. Explora-se a perplexidade do público diante da tragédia. Provoca-se o adversário até o limite do suportável psicologicamente. Uma hora ou outra, quem sabe, algum Zidane governista dá uma cabeçada?

Encaremos a batalha como mais uma prova. Mais uma prova de Deus, para quem acredita, ou da História, se preferirem, para testarmos os limites de nossa democracia. O golpismo voltou ao centro do palco. Que importa se o Brasil está crescendo? Que importa se as coisas estão muito melhores para os pobres? Que importa se, finalmente, estávamos sendo respeitados internacionalmente e estabelecendo sólidas alianças com outras nações em desenvolvimento? Que importa se a Polícia Federal vinha desmontando sistematicamente as grandes quadrilhas que infestavam o poder público?

Que importa se os planos de segurança e de educação estavam finalmente saindo do papel? Não, a imprensa quer sabotar qualquer agenda positiva. Não satisfeita com a dor natural que uma tragédia causa à nação, ela quer beber o sangue dos mortos. Os mortos do acidente da TAM estão sendo negociados em praça pública. Quem dá mais?

O fato é que o Brasil tem 130 mil milionários que respondem por metade do PIB nacional, meus caros... Éééé. Deu na Folha de São Paulo. Deu no Le Figaro francês. Alguns culpam Lula por isso, mas quando o governo tentou passar a lei da herança, que poderia levar a uma saudável mordida sobre essa grana, lá no começo do primeiro mandato, a oposição massacrou e a imprensa ficou caladinha, naturalmente. E os juros chegaram às alturas no governo do Farol de Alexadria. Demorou para baixar no governo Lula, mas a inflação foi controlada, e agora os juros estão no menor patamar em 50 anos.

Peraí, do que eu estou falando? Os 130 mil milionários não estão gostando nada disso... Eles ficaram mais ricos no governo Lula, sim, mas por isso mesmo também ficaram com mais medo... Medrosos e milionários, eis uma fórmula explosiva. Estão aí os patrocinadores do golpismo. Em outros países, os super-ricos bancam universidades. Aqui bancam golpes. Vá lá, em outros países já bancaram coisa pior: guerras, por exemplo. Paremos de achar que somos piores em tudo, inclusive em golpismo, cinismo e crueldade de nossas elites.

O único pensamento que realmente me acalma é o que, definitivamente, não estamos diante de nenhuma novidade. Há milhares de anos que a disputa pelo poder, no seio das comunidades humanas, não conhece escrúpulos. Por trás disso, existe uma forte guerra de classes. Não apenas entre ricos e pobres, mas sobretudo entre as próprias elites. Existe uma elite brasileira, ainda não consolidada, que está ganhando força com o dinamismo e a expansão de nosso mercado interno. A elite ligada ao mercado financeiro, todavia, tem um poder extremamente concentrado. Quando Armínio Fraga subiu, bruscamente, os juros básicos do país para 45%, ele ajudou a consolidar o poder de gente como Daniel Dantas e cia. Hoje o Armínio comprou a rede latino-americana do Mc Donalds... Tudo bem, tudo bem. Normal. O cara é gênio e pronto. Não o acuso de nada. Não quero perder a razão por uma bobagem dessa.

Trata-se de uma guerra de informação. De inteligência, portanto. Se David conseguiu vencer Golias com uma pedra bem lançada...

O fundamental é concentramos esforços. Existe uma mobilização um pouco maior desta vez. A ultima crise politica nos preparou. O tipo de guerra é mais ou menos o mesmo. Uma guerra ideológica, com objetivo de ganhar pontos junto aos formadores de opinião. Já vencemos uma vez. Mais importante que vencer, todavia, é conservarmos nossa dignidade. Existe uma moral quixotesca, talvez, guiando nossas ações. Sejamos quixotescos então! E se ficarmos tristes, lembremos o que dizia o velho cavalheiro andante: "Las tristezas no se hicieron para las bestias, sino para los hombres; pero si los hombres las sienten demasiado, se vuelven bestias".

24 de julho de 2007

Canja e poesia nao fazem mal

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A guerrilha eletrônica vai indo bem. A exploração política da tragédia da Tam foi imensa. Mas os neo-partisans da blogosfera permanecem vigilantes e conseguiram reduzir danos. Melhor, conseguiram contra-atacar com boa eficácia. A credibilidade de setores da imprensa, de alguns colunistas, afundou-se para abaixo do que acreditávamos ser possível. A atuação de nossa mídia é vergonhosa. Quando penso, porém, nas guerras civis que assolam países africanos, no assassinato dos Kennedy (do presidente eleito e do senador-candidato a presidente), na guerra civil americana, nas guerras mundiais, nas revoluções, entendo que a sede de poder explica essa violência. Há mesmo uma grande irracionalidade no fundo, um chauvinismo brutal. Nenhuma compreensão, no entanto, nos exime da responsabilidade de lutar. Pode-se mesmo lutar com doçura e inteligência, como fazem as mulheres. Ou com agressividade e crueldade, como fazem os homens. Ou com ironia e indiferença, como fazem os artistas. O fato é que a luta faz um grande bem ao espírito. Nos torna mais fortes, viris, atentos, à revelia do cansaço, das feridas, do desânimo e mesmo do desespero que parece nos dominar num primeiro momento.

Eis minha contribuição, poemas. A maior parte foi inspirada justamente nesse sentimento de impotencia do cidadao diante da brutalidade das guerras de informaçao e contra-informaçao, da distancia entre o que acreditamos ser justiça e verdade e aquilo que os meios de comunicaçao tentam nos impor, do desespero de ver palavras que nao sao nossas brotando de nossas bocas. Enfim, a poesia robustece a subjetividade; ajuda a lutar contra a idiotice, que é a grande luta; a mais importante, no final das contas.

http://hellbar.blogspot.com/2005/12/poemas-selecionados.html

Ah, e leiam esse artigo do Caroni, na Agencia Carta Maior.

23 de julho de 2007

Na estrada

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Ontem fui assistir um filme antológico. The last of the blue devils. O documentário reúne os monstros sagrados do jazz e blues de kansas city. Conheci muita coisa nova, entre eles os bluesman/jazzistas Joe Turner e Jay Macshann (foto). Estou na estrada novamente. Vai ser difícil postar nas próximas 2 semanas, mas vou tentar. Tô vendo que a urucubaca continua no Brasil. Desejo sorte a nossa combativa blogosfera. Leiam o Eduardo Guimarães!




Abaixo um link para assistir Turner:
http://www.youtube.com/watch?v=uMJ2XH_qHkU

20 de julho de 2007

Explicaçoes

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Um dos leitores deste blog, Wilson, pediu explicações mais detalhadas sobre a minha recusa em continuar abordar os desdobramentos políticos do acidente da TAM. Ok, Wilson, a explicação é a seguinte. Em primeiro lugar, estou novamente botando o pé na estrada e ficarei com o tempo limitado para postar. Em segundo lugar, não adianta ficar nervoso. A mídia tem procurado exasperar ao máximo o brasileiro mas, pelo que eu conheço da sociedade brasileira, está exasperando apenas aqueles que já são mesmo exasperados. Os histéricos de sempre. Por outro lado, já se formou um bloco de opinião crítica à mídia muito sólido e muito compacto. Esse bloco tem pouco espaço oficial, articula-se sobretudo pela net. Mas já está, digamos, vacinado. Querem um exemplo disso? Leiam esse artigo aqui do Dines. Ele esculhamba o governo. Naturalmente. Estamos diante do neo-Dines, o lacerdista. O interessante sao os comentarios. Deem uma lida neles com atençao. Em sua ansia golpista, a midia se afunda mais e mais. A exploraçao politica da tragédia so produziu desprezo. O bloco critico ficou mais solido, mais forte, mais numeroso, mais vacinado.

PS: Deem uma lida nesse texto do Carrara sobre o acidente.

19 de julho de 2007

Se estivesse em Sampa, eu iria...

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Recuso-me

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Mudei de Bezerra da Silva para Beethoven. Apaguei alguns posts anteriores, porque nao quero mais entrar na polemica desta tragédia e seus desdobramentos politicos. Nao vou engolir essa isca. Diante da dor extrema, a racionalidade perde força e debates ideologicos e partidarios soam ridiculos. Assistirei os gigantes combaterem na planicie.

17 de julho de 2007

Matéria minha no Portal Literal

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Continuo fazendo uns free-lances para o Portal Literal. O ultimo é uma entrevista com a grande escritora Marcia Denser. Deem uma olhada.

http://www.portalliteral.com.br/

E viva Bezerra da Silva!

Rendeu isso, héin?!

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Upa lelê! A história das vaias pegou fogo mesmo! Por si só, as vaias não significam muita coisa. O Globo tenta esconder a verdade quando solta títulos como: Ingressos eram diversificados. Logo depois na matéria, confessa que os ingressos vendidos a R$ 20 eram minoria e localizados atrás do gol. E logo depois o preço saltava para R$ 100. Parece que a maioria era mesmo de R$ 250. Muitos custavam R$ 800.

Aí pipocam comentários dizendo que Lula foi vaiado pela classe média. Porque a classe média está se empobrecendo e tal. Eu olhei imediatamente para meus botões, como diria o mestre Mino, e eles riram na minha cara e berraram: UÉ? SE A CLASSE MÉDIA ESTÁ SEM DINHEIRO, COMO PODE PAGAR 200 PAUS POR UM INGRESSO?

Meus irmãos, meus queridos. Eu sou classe média. Ganho bem. Sou jornalista especializado. Sou bom no que faço. Mas nunca teria dinheiro para pagar 200 paus num espetáculo. Isso não é coisa de classe média. É coisa de rico mesmo. Classe alta. De neguinho que ganha mais de 10 mil por mês. Vocês, meus leitores, conhecem a vida. Sabe que, apesar das coisas estarem melhorando no Brasil, a vida continua dura. Temos que pagar internet, telefone, celular, computador, plano de saúde (disso eu já desisti, por exemplo), faculdade, cursos e tudo que precisamos para crescermos e não sermos engolidos pela globalização. Agora, pagar 200 paus por um ingresso no Pan? Sei que tem muita gente que paga. A maioria filhinho-de-papai ou rico. Tenho nada contra. Dinheiro é pra gastar mesmo.

Tem outra coisa. Com todo respeito pelo PAN e tudo. Mesmo que eu tivesse dinheiro, eu não ia gastar vendo abertura de PAN. Desconfio que não iria nem de graça. Sei lá, não me interessa muito. Prefiro beber uma cerveja na Lapa. Como sou casado, teria que pagar uns 400 ou 500 paus para ir ao PAN. AHAHAHA. Engraçado só de pensar nessa possibilidade. Melhor gastar 50 paus com 2 ingressos para uma casa de show na Lapa, e mais uns 50 ou 100 paus em bebidas alcóolicas. Eventualmente, mais uns 20 reais de taxi.

Ou então, com 500 reais, eu posso ir a São Paulo, assistir umas peças de teatro na praça Roosevelt, beber umas cervejas e ainda pagar um hotel ali por perto.

Na coluna do Merval Pereba, está escrito que as vaias à Lula acenderam as esperanças do PFL, ops, do DEM, de ganhar a presidência da República em 2010. Parece que o César Maia pode ser o candidato. Ou então o seu filho, Rodrigo Maia. Plano perfeito! Organize uma vaia ao Lula e vire Presidente da República!

Todos os colunistas, por conta da vaia, passaram a atirar no ventilador todo aquele arsenal de mentiras que conhecemos. Todos. Chega a ser cansativo. A blogosfera vai desmontando um a um, usando pesquisas científicas, dados econômicos, informações confirmadas, a imprensa parece recuar um pouco… e basta qualquer pretextozinho para os golpistas voltarem com a baixaria toda de uma vez.

Enfim, parece que o César Maia agora ficará conhecido mesmo como:

CESAR VAIA

**

E a profeta do apocalipse, aquela que sempre esta prevendo grandes catastrofes economicas para o Brasil, parece ter se olhado no espelho ontem e visto que sua cara estava ficando dura demais. Deu o braço a torcer: a economia esta bombando. Leia sua coluna de hoje. Naturalmente, ela nao faz nenhuma analise ou interpretaçao politica. Apenas apresenta os dados. Por que sera? Olhei para meus botoes (como faz o Mino) e eles, sem nada dizerem, deram sua risadinha marota de sempre.

16 de julho de 2007

O humanismo fora-da-lei de Marcia Denser

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Publicado originalmente no Portal Literal, em 16/07/2007.

Não tem flagrante, porque a fumaça já subiu pra cuca. Uso os versos imortalizados por Bezerra da Silva* para lembrar que Márcia Denser está na área.

A escritora paulistana, com trinta anos de carreira e uma das melhores fortunas críticas do país (era a preferida de Paulo Francis) – o que equivale a não fazer nenhum ponto na loteria esportiva! –, vem aproveitando sua coluna no Congresso em Foco para mostrar sua insatisfação contra o conservadorismo e o marasmo que, segundo ela, tomaram conta da vida intelectual brasileira nos últimos anos. Não há flagrante porque a sintática de Denser é brilhante, psicodélica, terrível e, ao mesmo tempo, delicada e triste. Não é aí que a polícia do pensamento conservador encontrará algum ilícito. Está tudo na mente, na história, ou, como prefere Denser, no corpo da linguagem. Nas histórias de devassidão, amores traídos, bebedeiras, estranhos jogos de sedução, desesperadas reflexões existenciais, construção e desconstrução de personagens – aí mora o crime. Aí encontrar-se-á aquela fundamental subversão, raiz de todo humanismo verdadeiro, que é sempre rebelde e fora-da-lei, visto que sua ética e justiça não podem ser aprisionadas em nenhuma carta constitucional.

Nunca recebeu prêmios, mas – ainda citando Bezerra – é na frente do homem que bate o martelo que veremos quem é que errou. É o julgamento final da História que irá assegurar o justo lugar da autora de obras-primas como o conto "O quinto elemento" e "O vampiro da alameda Casa Branca".

A literatura de Denser é daquelas que, mais do que serem lidas, merecem ser assimiladas no sangue, como anfetamina. O coquetel de erudição, feroz análise psicológica e delirante descrição de cenários e situações te deixa realmente bêbado. Maravilhosamente bêbado de literatura. Com a vantagem de não atacar o fígado e não dar ressaca no dia seguinte – embora, como os livros de Henry Miller ou uma chamada telefônica num sábado à noite, a literatura de Denser nos empurre, inexoravelmente, para a vida e seus drinks - reais ou afetivos.


Pode nos contar como foi a sua formação cultural? Os livros que te marcaram na infância. Você lia muito quando criança? Seus pais ou o colégio contribuíram para seu interesse por literatura?

Márcia Denser. Minha formação foi essencialmente humanista: eu gostava de História e Mitologia (e isso não é um paradoxo, porque ambas se completam). Acho que essa pode ser uma boa base para um ficcionista, acrescentando-se a biblioteca do meu avô – cheia de romances e ficção. Na época, éramos umas trinta crianças, entre primos e primas, que passavam retas pela biblioteca sem se deter, salvo eu. Que dia a dia subia um lance de escada rumo às prateleiras mais altas. Lembro que na festa de meus nove anos, larguei meus amigos, primos, presentes, brincadeiras, larguei tudo e me enfiei no quarto para ler Monteiro Lobato, cujos três primeiros livros, Reinações de Narizinho, Viagem ao céu e O Saci, meu pai havia me dado. Dei as costas para o mundo porque outro universo se abriu. Então, a priori, nós, escritores, somos leitores, a nossa vocação é a leitura, aliás compulsiva. De Proust à bula de remédio, sem contar os filmes de Hollywood.

Você já parou para pensar até que ponto São Paulo influenciou a sua forma de escrever?

Denser. Sou escritora e a cidade é meu campo de ação, meu altar de sacrifícios, minha entidade mais secreta. E também a mais pública. Desde tempos imemoriais, a cidade é um símbolo feminino, é mulher, então compreende-se porque as estátuas de deusas-mãe, como a Diana de Éfeso, ostentam coroas em formas de muros. Assim, minha personagem Diana Marini é uma representação de São Paulo. Na novela Welcome to Diana ela dá boas vindas ao leitor (em inglês, posto ser cosmopolita), seu lema é seduzi-lo – ­para melhor devorá-lo! Meu último romance Caim é uma história de São Paulo, é a saga de uma família diaspórica e a crônica de uma cicatriz.

No conto "O quinto elemento", você faz uma extravagante e poética análise de sua própria personagem Diana Marini. Segundo suas próprias palavras, é um processo de desconstrução da Diana. A Diana morreu? Ou como dizia Guimarães Rosa, encantou-se? Onde o momento histórico do país e o seu momento existencial se confundem com essa "desconstrução"?

Denser. No "Quinto elemento" conto a história secreta da minha personagem pública, Diana Marini que, no plano pessoal, extrapolou e me invadiu, provocando uma crise de identidade, aliás uma crise em todos os setores da minha vida e, paradoxalmente, pelo sofrimento, me fez amadurecer, como escritora e como ser humano. Porque Diana Marini é um arquétipo, e arquétipos não pagam aluguel! Por outro lado, DM também não morre, arquétipos são imortais, cara, o destino trágico e o desencadear das Fúrias cabe ao ser humano, sempre que este se identifica com arquétipos, os deuses.

O momento foi o início dos anos 90, com o colapso da literatura brasileira (bem como do cinema, da música, do teatro,etc.), quer dizer, com o colapso de toda a cultura brasileira, que até então cultivava o próprio imaginário e tinha orgulho de si, mediante o ataque da globalização e a imposição de seus parâmetros aos quais – só hoje eu sei – não era necessário render-se, não tão completamente, tal como ocorre hoje no âmbito cultural. Se você abre mão das suas raízes culturais, estará condenado à irrelevância em toda parte e para sempre! É o que a burguesia rica brasileira está fazendo – detonando culturalmente o país – sempre a serviço do patrão ianque/europeu, a quem nossos dirigentes de fato servem como sócios menores. Mas não adianta dizer isso, estou gastando meu latim, as pessoas sabem disso, sabem e não se importam, isto é que é terrível!

Denser, qual a importância da literatura no Brasil? Mais especificamente, qual a função social da literatura no Brasil?

Denser. Se a literatura é a empresa de conquista verbal da realidade, como definia Cortázar, no Brasil a importância dela então é imensa, neste país do alheio e do alienado, a função da literatura é acender a luz, conscientizar as pessoas da nossa realidade aqui e agora, para que esta conquista – da literatura e da realidade – se consume. Veja que então nossa tarefa é dupla, nada fácil. O francês, o norte-americano, o inglês, incluindo o mexicano, o argentino, o venezuelano, sentem-se donos de seu território, com direito às suas tradições culturais, das quais se orgulham, como parte inclusive do próprio patrimônio individual! Nenhum artista existe como tabula rasa, ele precisa se ligar a algo que veio antes, a começar da própria língua, etc. Este desmanche cultural a pretexto de globalizar-se a longo prazo é suicídio!

Falando sobre crítica literária, você acha que, diante da grande liberdade que a arte respira hoje (depois de Duchamp, Joyce, Faulkner, Godard), esta crise da "crítica", ou seja, da falta de "critérios" seria o preço a pagar? Ou seria falta de coragem para apontar defeitos ou qualidades? Ou seria realmente que a arte, no caso a literatura, foi mais rápida que a crítica, que ficou para trás, confusa e infantil?

Denser. Olha, crítica e criação são uma só e mesma coisa. Porque a literatura só avança, se desenvolve, amadurece, quando as obras são lidas, relidas, criticadas, discutidas até à exaustão! Os textos precisam ser polemizados, colocados na berlinda, o diabo. O que não pode de forma alguma é prevalecer o presente estado de coisas (agora me desculpe, mas vou citar a mim mesma): Será que a crítica da cultura e da literatura agora se resume a este exercício de insinceridade estética que se traduz pelo tipo de resenhas/matérias/critérios de premiação/badalação praticado oralmente e por escrito, na internet, na imprensa, em sociedade, enfim, na vida? É importante captar a pulsação do "espírito de época" (ou da "falta de espírito de época") porque essa "insinceridade cultural" praticada a torto e a direito, de efeitos catastróficos a longo prazo, é produto da Censura Econômica a que se sujeitou o ser humano que, ou se acanalha ou morre de fome, mandando para o diabo toda a literatura e a liberdade para escrevê-la!

Que lições tem tirado de sua experiência como colunista política no Congresso em Foco?

Denser. As melhores possíveis, porque se eu escrevesse na outra mídia – toda ela – não poderia dizer o que penso, teria que mentir ou me omitir. Seria um grande problema. Uma coluna on-line me garante liberdade de expressão! Mas pior que o pensamento único dominante é a própria ausência de pensamento que contamina os contemporâneos e suscita a generalização da cretinice e do oportunismo político enquanto embota a percepção, donde a falência da elite intelectual, que parece ter desistido ao mesmo tempo do Brasil e da reflexão sobre o processo histórico em curso. Segundo Paulo Arantes, o que acontece é a "extinção da inteligência dos inteligentes" no mesmo instante em que ocorre a formação de um "bloco histórico da crueldade social", que envolve a grande mídia na atmosfera envenenada e obscura duma Censura (e auto-censura) Onipresente, infinitamente pior que a Censura praticada durante a ditadura que, comparada à atual, não passava de brincadeira de amadores.

Aproveitando o gancho político, o que pensa do governo Lula? Na sua opinião, qual a razão da mídia (digo, os jornalões) estar assumindo uma linha editorial cada vez mais oposicionista?

Denser. Acho que aquela minha coluna Mídia Perversa & Burra esgota a questão da mídia. Quanto ao Lula, na medida do possível, ele está fazendo um bom governo, bem intencionado, etc., mas acho que ele não devia mais fazer tantas concessões à direita, mesmo porque a mídia tem deixado claro que não só jamais será sua aliada, (posto que controlada pela elite perversa e burra), como desde que se elegeu presidente, não deixou um só dia de trabalhar para derrubá-lo do poder.

Aliás, essa elite só tem um inimigo: o povo brasileiro. Assim como nos Estados Unidos, o inimigo não são os iraquianos/afegãos/cubanos/etc., porque a guerra não é contra o Iraque/Afeganistão/Cuba, etc. mas contra o povo norte-americano. No mundo inteiro trata-se de promover a guerra contra os civis!

Li uma entrevista sua, por ocasião de lançamento de seu último romance, em que você, citando Faulkner, se não me engano, diz algo como: todas as histórias já foram contadas, ou seja, o que importa hoje, na literatura, é a maneira como a história é escrita. Entretanto, em suas histórias, assim como nas de Faulkner, temos histórias incríveis, originais, delicados e terríveis dramas psicológicos, embora naturalmente intrínsecas à "forma" como são contadas, só poderiam ganhar vida através das ferramentas sintáticas usadas. Na realidade, então, a forma da narrativa ainda não estaria, dialeticamente, presa ao conteúdo? A diferença não seria que, no romance contemporâneo, a forma acaba, muitas vezes, se tornando mais um personagem?

Denser. O romance enquanto obra maior da linguagem, tal como o conhecemos, é invenção relativamente recente, por incrível que pareça. Do final do século XIX e início do XX, a partir de Proust e Joyce. Proust desenvolveu ao máximo aquilo que conhecemos como "fluxo de consciência", levando ao infinito as possibilidades do "romance psicológico" praticado pelos franceses, de Stendhal a Flaubert. Quanto à Joyce, veja-se a re-proposição mítica da estória – pessoal – e da história – social, tudo num só dia em Dublin, sem contar o reinventar das palavras em "palavras-valise". Quer dizer, passa a existir a chamada "prosa de raiz poética" – de invenção aparentemente inesgotável. Porque de Homero ao século XIX o que existia era o "romance vertical" – no caso da poesia épica – e o novelão, os mitos e o mar de histórias. Literatura ponto, não literatura como arte. Que fique bem claro: escritor não é contador de histórias porra nenhuma!!!!!!!!!!!!! Ao escrever um texto, a última coisa que me preocupa é a história, o plot, o enredo, a trama, cara. Tudo o que me preocupa, só o que me preocupa é a linguagem, e então sim, encontrada esta voz, e nenhuma outra, poderei dizer o que eu quiser, porque forma e conteúdo serão indissociáveis, serão uma só e a mesma coisa, percebe?


MÁRCIA DENSER Bio-biblio

Paulistana da capital, nascida a 23/05, cinqüenta anos, graduação em Programação Visual/Comunicações e Artes no Mackenzie, 1975, e pós-graduação em Letras e Comunicação pela PUCSP, 2003. Publicados nove livros solo: Tango fantasma (contos, 1976-2003), Exercícios para o pecado (novelas, 1984), O animal dos motéis (contos, 1981), Diana caçadora (contos, 1986-2003), A ponte das estrelas (aventuras, 1990), Toda prosa (inéditos e dispersos, 2002), Diana caçadora/Tango fantasma (reedição, 2003, Ateliê Editorial), Caim (romance, 2006, Record) e a sair em outubro Toda prosa II - Obra escolhida (Record, contos e novelas). Participação em dezenas de antologias no Brasil e exterior. Obras traduzidas e publicadas na Alemanha, Bulgária, Suíça, Estados Unidos, Holanda, Espanha, a sair na Hungria e Argentina. Curiosidades: o conto "O vampiro da alameda Casa Branca" (em primeiro lugar nos anos 80 entre os Cem melhores contos brasileiros do século, org. Ítalo Moriconi, Objetiva) já foi traduzido em três idiomas: inglês, holandês, alemão.

* Versos da canção "A fumaça já subiu para a cabeça", de Bezerra da Silva.

Desespero dos lacerdistas

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Que o lacerdismo voltou, eu já falei e vocês estão cansados de saber. A novidade é o seu grau de desespero. Leiam o artigo do Clovis Rossi (foto) abaixo, em que compara os votos de Lula no primeiro turno com o total absoluto de votos e não com os votos válidos. Tudo isso para colocar em suspeição a legitimidade democratica de sua vitoria eleitoral. E ainda vem falar de estupidez e idiotice. Rossi fala que Lula teve no segundo turno APENAS 58 milhões de votos. APENAS?! Bem, Rossi, 58 milhões de votos constitui simplesmente a segunda maior votação da história de países democráticos com eleições diretas para presidente. E correspondeu a 60,8% dos votos válidos. Só ficou atrás do George Bush, nos EUA, que obteve 62 milhões de votos, mas com 50.7% do total dos votos válidos. Vale lembrar que a população americana é de 302 milhões, contra 190 milhões no Brasil. Uma diferença de 110 milhões. E não, a India não tem eleição presidencial direta; é democracia, mas com eleição INdireta para presidente.

O Sarkozy venceu, recentemente, o segundo turno da eleição presidencial na França com 53% dos votos válidos (e um total de 18.98 milhões de votos) e ninguém lá é louco de colocar em discussão, nem mesmo da forma melíflua como faz Rossi, a sua legitimidade democrática.

A vitória de Lula foi, portanto, acachapante, fato muito raro em democracias modernas, em que os pleitos sao fortemente disputados.

Qual o seu problema, Rossi? Antigamente, voce não parecia tão sem caráter. A pressão está grande aí dentro, é? Quem não meter o pau no Lula corre o risco de perder o emprego, é? Como aconteceu com o Nassif, com o Franklin, com tantos outros. Tenho conversado com alguns colunistas e eles admitiram que a pressão esta insuportável, e que só vem aumentando. Pois bem. Então, que continuem assim, que metam o rabo entre as pernas e sigam cumprindo a agenda golpista. Vão arrancar carrapato de bode, todos vocês.

Repararam que qualquer jornalista que não siga, à risca, a agenda golpista é uma hora ou outra atacado violentamente pelos novos pit-bulls do golpismo, aqueles que fazem o serviço mais sujo. Falo de Reinaldo Azedao e Diorgo Mainerda. Alvos: Kennedy Alencar, Nassif, Teresa Cruvinel, e tantos, tantos outros. Todos sao perseguidos pela sabujice raivosa dessa duplinha dinamica, muito convenientemente alojados na revista Veja.

Abaixo o exemplo brilhante do neo-lacerdismo, com minhas observaçoes em italico.


Domingo, Julho 15, 2007
CLÓVIS ROSSI Um risco no teflon

SÃO PAULO - Diz a lenda que Luiz Inácio Lula da Silva é o teflon da política: nada gruda nele, nem escândalos, nem as bobagens que de vez em quando diz, nem inação administrativa, nada.

A seqüência de vaias na abertura do Pan mostra que a realidade é algo mais complexa do que diz a lenda. Tudo bem que o Rio de Janeiro sempre foi irreverente, sempre teve uma quedinha forte pelo oposicionismo, mas deixar um presidente da República pendurado no microfone sem a escada é um baita constrangimento, ainda mais quando mostrado ao vivo no horário nobre.

A realidade mais complexa que a lenda começa, aliás, com uma leitura menos ufanista (para o presidente) do resultado eleitoral. No primeiro turno, Lula teve 46,6 milhões em 125,9 milhões possíveis. Dá, portanto, 37%, índice ruim para uma hipotética Olimpíada de popularidade de governantes.

[Que palhaçada é essa Rossi? Tem que contar sobre os votos válidos, seu mula-sem-cabeça! ]

Significa que dois terços dos eleitores ou queriam outro presidente ou não tinham por Lula (ou por qualquer candidato) entusiasmo suficiente para movê-los a sair de casa para votar.

No segundo turno, Lula subiu para 58,2 milhões de votos, ainda assim abaixo da maioria absoluta (ficou com 46,2%).

[Ah, essa é boa. O percentual certo foi de 60,8%, seu malandrinho! Não se conta o percentual sobre o total absoluto. Se fosse contar, então o adversário, o Alckmin, teria uns 10% dos votos, não é não?]

Elegeu-se porque a regra - absolutamente legítima, aliás - leva em conta apenas os votos válidos.

[Ah, é absolutamente legítima? Passou então pela cabeça de Rossi que os votos não válidos poderiam ser servir para alguma coisa? Ta pancada, mêu?]

É claro que a vaia não torna Lula impopular. Nem o constrangimento levá-lo-á a cortar os pulsos.

[Não, Rossi. A pesquisa do Ibope deu aprovação de 66% para Lula. Desculpe. Não é vaia osquestrada pelo César Maia, com ajuda dos riquinhos da Barra, que vai mudar isso.]

Seus áulicos na mídia e na academia até poderão criar mais uma teoria conspiratória debilóide e inventar que a elite comprou todos os ingressos da festa do Pan só para vaiar Lula. Pode até ser, mas aposto que em festa da Febraban ele jamais será vaiado.

[Oh oh oh. Se fosse tão debilóide assim, você nem as citaria, não é? A verdade é que elas são um tanto convicentes…]

Idiotices conspiratórias à parte, vale o fato de que a realidade é mais complicada do que sugerem a autolouvação e o culto à personalidade que se faz com Lula.

[que culto à personalidade ó seu trouxa? Por acaso, estamos na Coréia do Norte? Lula tem carisma, é diferente, e vocês jornalistas tucanizados morrem de inveja que seus candidatos de merda não lhe chegam aos pés nesse quesito. E carisma não é defeito, seu paspalho! Carisma se conquista com muito sofrimento, experiência, criatividade e superação das dificuldades. E que auto-louvação, seu barnabé! Olha os cadernos de economia, mané! 1 milhão de empregos formais gerados no primeiro semestre do ano! Em 8 anos, o governo FHC não gerava nem mil empregos por mês!]

crossi@uol.com.br

15 de julho de 2007

Compilando os contos

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Estou iniciando uma compilaçao dos contos publicados na net. Vou tentar juntar tudo e linkar por aqui, neste blog renovado. Eis alguns.

Orgia no baile funk
A historia secreta do Comando Vermelho
Marginal Blues 1980
O diabo nao bebe cerveja
O suicidio do governador Antonio Menino
Ecos da Palestina
O menino
O relatorio
Uma apariçao inusitada
O segredo do Homem
Ainda não tenho saudades de Katia
Crise de inspiração
O sucesso bate à porta
Filosofia do café solúvel
Estupro na Joaquim Silva
Sperata
O esfomeado louco de Paris
Os fins dessa tristeza exilada
O leitor comum
Regina Duarte quis casar comigo



Tem muito muito mais. Mas estou um pouco cansado agora. Vou alimentando esse post aos poucos.

Mais considerações sobre o golpismo

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É todo dia. Hoje novamente o Merval Pereira, colunista político do Globo, nos brinda com sua verve golpista. Inicia o artigo assim: “a propalada ineficiência de gestão do governo Lula…”.

Vejam só que maravilha. A propalada. Não tem jeito. Geração recorde de emprego. Pagamento da dívida externa. Exportação recorde. Crescimento da indústria. Crescimento chinês dos segmentos e das regiões mais pobres do país. Aumento de mais de 60% nas vendas de computadores. Sucesso do programa Bolsa Família, com reconhecimento internacional. E tudo que o governo ganha de Merval Pereira é “propalada ineficiência de gestão”.

Recomendo que o colunista leia o caderno de economia do próprio jornal que trabalha.

Sobre a questão das vaias, eu entrei hoje na internet até pensando em apagar o post anterior. Que me importa vaias em Maracanã? Se foi claque organizada do César Maia e do Rodrigo Maia (não esqueçam que o garoto agora é presidente do DEM, ex-PFL, e quer mostrar serviço), só lamento o triste papel prestado à democracia e à imagem nacional. Senão foi, mostra realmente o sucesso da linha golpista da imprensa. Aliás, estimula a linha golpista, que imagina estar sendo bem-sucedida. Triste Brasil. Lembra daquela piada besta sobre Deus criar um país maravilhoso, mas um povinho… Pois é. A piada tinha que ser modificada. Em vez de povinho, devia ser, mas uma imprensazinha…

Falando em caderno de economia, fico impressionado como a Miriam Leitão simplesmente ignora as notícias sobre a geração de mais de 1 milhão de empregos formais no primeiro semestre do ano. Para jornalistas econômicas neo-liberais, o emprego não tem conexão com a economia. Agora, se algum executivo da Gerdau lhe telefona, ela abana o rabinho como uma cachorrinha e dedica uma coluna inteira ao papo. Sempre assim. Como faz falta um Celso Furtado. O grande Furtado ensinava que a manutenção do nível de emprego é fundamental para a estabilidade de um país. Quando associado a outros dados positivos, como o aumento impressionante do consumo das famílias, podemos ver, no cenário econômico, perspectivas positivas para o crescimento sustentável. O câmbio livre vem afetando a renda de setores importantes ligados à exportação, mas, por outro lado, bem beneficiando a maioria da população, que vê os preços dos alimentos declinarem e seus salários (em reais) ganharem valor. Além do mais, o Brasil está começando a perceber o seu mercado interno como um consumidor muito mais fiel e importante que o mercado externo. Os industrias que perceberam isso estão ganhando muito dinheiro. Os que não perceberam, estão percebendo. Por muitos anos, setores industriais esnobaram o mercado doméstico, produzindo caro e para poucos. A indústria de sapatos do sul do país está quebrando porque pensou assim. Quem não se lembra o preço do sapato? Sapato era coisa de rico. Hoje, com a China vendendo barato, os pobres estão podendo comprar sapatos. E a indústria do Sul, que nunca procurou aumentar a sua escala de produção, que se acostumou a vender para uma reduzida elite ou exportar para EUA e Europa, agora reclamam da vida. Querem capitalismo, mas querem um capitalismo-chupeta, mamando nas tetas do Estado, como sempre fizeram.

Manipulação midiática

Outro dia discuti com um rapaz que veio me falar: e agora até o irmão! Referia-se ao Vavá. O rapaz não sabia que Vavá havia sido inocentado. Não sabia que Vavá era um bobalhão, sem nenhuma capacidade de ser LOBBISTA de grandes empresas. Não sabia que, mesmo que Vavá fosse um assassino, espião da CIA e estuprador de crianças, Lula não teria nada a ver com ele. Todos nós temos irmãos. Ninguém assume a responsabilidade que nossos irmãos fazem. Legalmente, moralmente, espiritualmente, um irmão é um cidadão completamente à parte de nossa responsabilidade pessoal perante ao mundo. Podemos aconselhar e ajudar, mas assumir culpa não. Digo isso para ressaltar o absurdo que foi a exploração da imagem de Vavá junto à mídia. O rapaz em questão não se considera pobre. Por conseguinte, não se considera ignorante. Não se considera ingênuo. Mas é ingênuo.

A verdade é que a maioria dos brasileiros não tem condições de se defender da manipulação midiática. São culturalmente vulneráveis. Realmente, é um fenômeno incrível Lula estar mantendo uma popularidade tão alta. Mostra um pragmatismo muito forte. Os brasileiros, mesmo bombardeados por informações negativas sobre Vavá, Vevé, Vovó e Vuvu, estão pensando como se deve pensar numa democracia moderna: com o bolso. Por que se deve pensar com o bolso numa democracia moderna? Por que é um voto científico. A elite sempre votou (e deu golpes) com o bolso. Por que o povo não pode voltar com o bolso? O pensamento: “todo mundo rouba, então votarei com quem rouba mas governa bem e para o povo” carrega uma sensatez aristotélica que a filosofia lacerdista nunca alcançará. Os filósofos modernos compreenderam o vigor, a virilidade e a força espiritual do bom senso popular. Por aí acessamos a milenar diferença entre o conhecimento e a sabedoria, citada por Santo Agostinho. Conhecimento se adquire em livros, em jornais e agora na televisão e internet. A sabedoria se adquire na vida. Não é por outra razão que temos acadêmicos com cérebro de minhoca, pequeno para tanto preconceito, violência e hipocrisia (caso de R.Azevedo, FHC, Olavo de Carvalho, Miguel Reale Jr, entre outros) e gente aparentemente ignorante com capacidade tão ampla para compreender o mundo e as pessoas (não cito exemplos, porque são tantos e por uma espécie de modéstia terceirizada).

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Sobre a historia das vaias, a Novae fez uma coletanea interessante de artigos. Especialmente esse. O Eduardo Guimaraes tambem dedicou alguns posts a respeito. Esse blog aqui até disponibilizou um video mostrando que a vaia foi "ensaiada" na véspera.

14 de julho de 2007

Sobre as vaias de Lula

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As explicações são as seguintes. Primeiro, a forte rejeição de Lula junta as classes super-altas do Rio de Janeiro, presentes em peso à festa de Abertura, principalmente através dos camarotes vips e dos convites emitidos pela prefeitura e governo estadual. O reacionarismo dos super-ricos cariocas é notório. São os mesmos que espancam domésticas e prostitutas nas ruas. Outra razão. A prefeitura do Rio é dominada pela direita, DEM (ex-PFL) e PSDB. O filho de César Maia, prefeito, é o Rodrigo Maia, hoje presidente do DEM. É lógico que a prefeitura do Rio mobilizou uma enorme massa de adeptos para irem ao PAN e talvez (digo, é mesmo provável) que tenha havido um movimento osquestrado para produzir um fato político negativo.

Os aplausos entusiastas ao prefeito César Maia são a prova concreta. O dia em que o carioca espontaneamente aplaudir o César Maia, em sã consciência, pode internar que está muito mal.

Agora, foi uma tremenda falta de educação. As verbas para a realização do PAN foram engolidas pela prefeitura e governo estadual. O governo federal punha dinheiro e o dinheiro evaporava. Acabou custando mais de 3 bilhões. E o PFL responde assim.

Lembrando: Lula teve 69,69% dos votos válidos do estado do Rio de Janeiro em 2006. Considerando apenas o município, Lula teve 65.91% dos votos válidos, contra 34% de Alckmin.

A opinião é compartilhada por muitos. Leiam abaixo o texto do Mastretto, que recebi por email:

Lula e o golpe da vaia no Rio

Massimo Mastretto

Triste a conduta do Sr. César Maia e de sua claque tucano-pefelista armada para vaiar o presidente do País. O golpe deu certo e o mundo inteiro viu o rosto de decepção de Lula. Conseguiram também a armada repercussão na imprensa, conforme a articulação golpista que une oposição, Folha, Estadão, Abril e Organizações Globo.

Quem esteve lá sabe que as vaias foram puxadas pelos voluntários escalados pela máquina do mandatário carioca. E seguidos pela classe média carioca, que pagou as cem pilas para entrar. É o povo mesquinho, cafajeste e estúpido, manipulado pelo esquema golpista da Rede Globo de Televisão.

A Prefeitura e o Estado do Rio comeram o dinheiro público e comprometeram os Jogos. Foram salvos pelo Governo Federal, especialmente pelo empenho do presidente. A retribuição foi a armadilha covarde armada contra o presidente. Mostraram senão a falta de educação de um setor da elite e dos canalhas que a festejam.

O presidente que fez a PF trabalhar de verdade, que gerou o recorde na criação de empregos, que baixou os juros, que pagou o FMI e que baixou o dólar é vaiado.

O cafajeste propineiro do César Maia foi poupado. Muitos dos brasileiros, tristemente, não se respeitam. Mais um ponto para a estupidez e para a indústria da vaia. Lamentável.

Merval e o Cavalo de Tróia

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Errei. Merval Pereira não é burro. É safado. Quando quer, sabe escrever coisas menos absurdas. Sobretudo quando o assunto não é política nacional. Mas há tempos ele vem se notabilizando como um dos mais notórios golpistas da imprensa tupi. Hoje (O Globo, 14/07, pag.4, Fato Novo, clicar no link) por exemplo, ele nos brinda com um belíssimo exemplo.

Pra início de conserva, ele volta ao mensalão. Agora que já se passaram dois anos, os colunistas do golpe aproveitam-se para omitir alguns detalhes. Entre eles, que o mensalão nunca foi provado. Recebiam dinheiro para votar com o governo? Ora, então deputados do PT, e das correntes mais fiéis, recebiam para votar com o mesmo PT? O que ficou provado e confessado foi o Caixa 2. Pereira não se importa com a inconsistência. Seu texto deve ser estudado em universidades, porque é um excelente modelo. Na falta de argumentos substantivos, o texto é rico em adjetivos. Como todo texto golpista. Começa lembrando a “estranha entrevista” de Lula em Paris, quando disse que o Caixa 2 do PT era feito por todos os partidos. Ora, a fala de Lula calou fundo. Doeu. Mas era a pura verdade. Doeu porque mostrou que a imprensa havia sido leniente por décadas. A Justiça idem. Os políticos eram coniventes. Eduardo Azeredo, na época presidente do PSDB, declarou publicamente que praticou caixa 2 em Minas Gerais, usando dinheiro do Valerioduto, o qual era, portanto, uma autêntica criação tucana. O PT errou? Errou. O PT perdeu a virgindade? Perdeu. O PT perdeu a aura santa? Perdeu. Mas pagou por isso. Pesadamente. Um preço político enorme e uma série de processos que ainda estão sendo investigados. Mas Pereira não deveria entrar nesse proselitismo partidário tendencioso. Deveria ser mais imparcial.

Aí afirma que Lula vem emprestando seu prestígio popular para passar a mão na cabeça de mensaleiros, sanguessugas, aloprados… Opa! Que samba doido é esse? Misturando mensaleiros (que não existiram) com sanguessugas com aloprados, Pereira presta a capciosa função de confundir e desinformar o público. Informar-se é, sobretudo, saber separar, hierarquizar, comparar. Mesclando tudo, Pereira apenas desinforma. Os sanguessugas foram presos pela PF de Lula. Não teve nenhuma “mão na cabeça”. Os aloprados foram chamados com esse nome pelo próprio Lula. E foram presos pela PF de Lula. Isso é passar a mão? Passar a mão é o que fazia FHC com os banqueiros, para os quais emprestava, a fundo perdido, bilhões e bilhões. É o que fazia FHC com grupos internacionais, aos quais emprestava dinheiro a juro zero para comprar o nosso próprio patrimônio, como foram as privatarias. O governo FHC foi o primeiro caso da história em que um proprietário desvaloriza o seu produto (para baixar o preço inicial de venda), contrata um avaliante ligado ao comprador, empresta dinheiro para o comprador e, quando o povo e a sociedade protesta, não permite nenhuma discussão pública. Isso é democracia tucana! Engolir a pílula que eles nos davam! Senão, porrada! Com o apoio da mídia, é claro! E dá-lhe Miriam Leitão a assegurar, citando poderosas fontes em Brasília, que o dólar não iria se desvalorizar no início de 1999! E dá-lhe quebrar as empresas não ligadas aos amigos do rei!

Por fim, como não podia deixar de ser, Merval nos vem com essa última pesquisa do Banco Mundial, que fala sobre o aumento da corrupção no Brasil. Ora, agora sabemos mais sobre essa pesquisa. Não tem nenhuma metodologia. Usa apenas os fatos que vem à tona. Afinal, se os casos de corrupção que são investigados hoje eram desconhecidos antes, como avaliar se a corrupção cresceu?

O ministro da Controladoria-Geral da União, Jorge Hage, nos informou melhor sobre a “qualidade” desse estudo. O titular da CGU observou que o Bird não mede a corrupção, mas “as percepções sobre os fatos” revelados a respeito. “E isso tem realmente aumentado a partir do momento em que se passou a investigar e revelar a corrupção que sempre existiu.” Hage foi além. Disse que os índices do Banco Mundial são tão inconfiáveis que nem mesmo este os utiliza. A rigor, como o próprio ministro explicou, o Bird ressalva que os dados do relatório anual “não refletem a visão oficial [da instituição], nem dos seus diretores, nem são usados para alocação de recursos ou para qualquer outra finalidade”. Para mim, isso significa que o estudo é falacioso e desastrado. Mas um caso em que as virtudes são transformadas em defeitos. Clássico exemplo dos valores invertidos. O governo determina investigações corajosas e profundas sobre a própria administração pública. Descobre centenas de casos de corrupção. E as forças políticas de oposição (das quais a mídia é a força principal) procuram transformar isso em “aumento de corrupção”. Lógica miserável, essa. As investigações estão acontecendo, mega-empresários, altos funcionários públicos, juízes, advogados famosos, ex-governadores, estão sendo presos, pela primeira vez na história da república brasileria e a imprensa conclui que a corrupção aumentou! Ora, o mais importante aqui não é nem saber exatamente o quanto a corrupção aumentou e sim que ela está sendo combatida. Os figurões são liberados depois pela Justiça? Ora, ao menos foram presos por um tempo. Já é um tremendo avanço. E as quadrilhas foram desbaratadas. Que a PF vem fazendo um belo trabalho, ninguém pode negar. A maioria dos casos ainda não foi julgado pela Justiça. O que sabemos é que, como envolvem muitas figuras poderosas, com poder financeiro, os réus contratam os melhores advogados do país e conseguem prorrogar os processos. O que importa é que estão com a Lei lhes mordendo os calcanhares. Qualquer peido em falso e podem dançar feio. Roubar só é bom sem esse tipo de confusão. Sem aparecer nos jornais, sem passar algumas semanas no xadrez e sem sofrer noites de insônia pensando na possibilidade de uma condenação.

Em sua coluna, Merval nos dá uma informação importante para compreender o que está acontecendo hoje. Lembra que o governo tem maioria muito frágil dentro do Senado. Baseada principalmente no apoio do PMDB. Ora, está explicado agora porque o golpismo está atrás dos bois do Renan. As forças políticas de oposição detectaram o ponto fraco do governo. O Senado. Com alguma perspicácia, e zero de escrúpulo jornalístico, pode-se quebrar a maioria do governo. E ainda posar de paladino da ética! Como criticar a imprensa por estar expondo as mazelas éticas dos senadores? Se existe uma seletividade estratégica nos alvos dos inquéritos éticos da imprensa, que podemos fazer? A imprensa está interessada apenas nos desvios do lado de lá, mas pelo menos está interessada. Se puder juntar o útil (investigar falcatruas) ao agradável (derrubar um aliado de Lula da presidência do Senado), excelente! A lógica da disputa política vai além da imaginação. Realmente, é difícil entender. Política hoje é uma coisa para entendidos, de preferência proprietários de meios de comunicação. Nem os jornalistas, nem os colunistas, pensam a política hoje. Apenas fazem o trabalho braçal. Mete o pau ali! Mete o cacete lá! Ah, seria bom um Céline por essas plagas. Anti-comunista, seria bem aceito pelas elites. Mas seu cinismo devastador, imparcial, incorruptível, quase santo, nos faria muito bem!

Finalizando, Merval cita as vaias de Lula no Pan 2007. Ele admite que elas podem tem sido “armadas” (e se ele admite, eu tenho certeza. Típica coisa do César Maia e seu filho, agora presidente do DEM. Com uma ajudinha básica do envenenamento constante aplicado pelo Globo às massas. De qualquer forma, tradiçao do carioca é vaiar mesmo). O que não o impede de concluir o artigo dizendo que também pode “ser um sinal que as coisas estão chegando ao limite do aceitável”. Ah! Guerreiros, chegamos às praias de Tróia! A opinião pública inflamada diz BASTA! O astuto Merval Pereira esconde-se bem quietinho no interior do Cavalo de madeira, e manda dizer a seus prezados leitores que podem conduzi-lo para dentro de seus apartamentos bem fornidos, com empregadas de avental branco e enormes televisores de tela de plasma na sala. E eis que, já dentro das casas, ele sai do Cavalo e surge diante de seus leitores, vestido com roupas onde se lê “Basta! Abaixo o Mensalão!”, “Fora Lulla ladrão”! E pronto. Mais um pouco, com as defesas devastadas e os portoes arrombados, entram os gregos, todos com máscaras dos governadores José Serra e Aécio Neves, prontos para dominar a cidade. Como diziam os romanos: Si vis pacem, para bellum. Se queres paz, faça guerra. Em jargão popular: se queres o PSDB no poder (e manter seu emprego no jornal), seja golpista.

Conversando sobre literatura & poema de Dylan

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Hoje eu quero falar de Hemingway. Ontem li uma biografia dele. E um conto, a Breve Vida Feliz de Francis Macomber… simplesmente magnífico. Durante algum tempo, tive um preconceito bobo com o Hemingway. Talvez porque não tivesse lido ainda bastante coisa dele. Acontece muito com as pessoas. Não gostarem daquilo sobre o qual conhecem pouco.

Nos ultimos tempos, todavia, corrigi essa lacuna. Li os romances Adeus às Armas e Por quem os sinos dobram, e agora o conto citado (numa coletanea de contos, que devo visitar novamente hoje).

Hemingway, de fato, está no cerne da literatura contemporânea. Agora entendo porque Bukóswski tinha implicância com Hemingway. Era impossivel nao ter inveja. Hemingway ficou muito rico, possuiu mulheres belíssimas, teve amigos na elite da elite (aristocratas sensíveis, divas de hooliwood, milionários que lhe pagavam viagens pelo mundo). Dentre seu círculo de amigos, encontramos nada mais nada menos que F.Scott Fitzgerald, Gertrude Stein (que lhe acolheu em Paris, quando tinha menos de 25 anos e não tinha lançado nenhum livro), o poeta Wallace Stevens (com que lutou boxe e perdeu), Ezra Pound (que, segundo ele, lhe ensinou a escrever), entre outros. Teve brigas históricas com Faulkner e Fitzgerald (por incompreensão de Hemingway, que havia se tornado excessivamente suscetível após certa idade).

Outro mito que a biografia que eu li ontem desfez foi a de que Hemingway teria sido espião da Cia contra o governo cubano. De fato, ele foi espião em Cuba. Mas contra os nazistas, na época da II Guerra, quando os submarinos alemães tentavam entrar nas águas do Caribe. Em relação à revolução cubana, Hemingway foi um apoiador, embora sem muito entusiasmo (na época, já no fim da vida, se interessava muito mais por caçadas na Africa do que por política).

Enfim, o suicídio de Hemingway. Assim como Jack London, eu tinha a imagem de um homem que se matava no auge de uma vida gloriosa. Nada disso. London se matou após uma longa doença, que lhe tornava a vida insuportável, e com sua resistência física esticada ao último limite. Hemingway estava ainda pior. Em sua vida, havia sofrido vários acidentes graves e, por inúmeras vezes, foi proibido de beber por conta do fígado arruinado. Sete anos antes de sua morte, Hemingway havia sofrido um grave acidente de avião na Africa, que lhe devastara de vez. Além disso, estava com problemas mentais, sofrendo lapsos de memória e mania de perseguição. Tentou se matar diversas vezes. Para agravar o quadro, a psiquiatria medieval da época decidiu aplicar-lhe dezenas de sessões de eletrochoque e prendê-lo em quartos fechados, sem companhias, sem livros, sem material para escrever, sem telefone. Não admira que, na primeira oportunidade, pegou em armas e deu fim a si mesmo. Tinha 62 anos.

Mudando de assunto. Uma palavrinha sobre James Joyce. Alguns posts atrás, escrevi algo que parece desmerecer o irlandês. Quero esclarecer apenas que gosto muito de Dublinenses (seu primeiro livro de contos) e um pouco menos (mas gosto) de Retrato de Artista quando Jovem. Quanto ao Ulisses, simplesmente não consigo ler a tradução do Houaiss. Me dá engulhos. Estou esperando alguma oportunidade de ler no original. Nao quis desmerece-lo, apenas constatar a verdade: Ulisses, ou pelo menos sua traduçao para o portugues, é muito chato.

Para finalizar o post, queria transcrever aqui um lindissimo poema de Dylan Thomas, composto para seu falecido pai. Trata-se de um desses poemas, na minha opinião, intraduzíveis, porque sua beleza está justamente na melodia da língua inglesa, que é um idioma belíssimo para a poesia, porque simples e musical.

Elegy

Too proud to die, broken and blind he died
The darkest way, and did not turn away
A cold, kind man brave in his burning pride

On that darkest day. Oh, forever may
He live lightly, at last, on the last, crossed
Hill, and there grow young, under the grass, in love,

Among the long flocks, and never lie lost
Or still all the days of his death, though above
All he longed all dark for his mother’s breast

Which was rest and dust, and in the king ground
The darkest justice of death, blind and unblessed.
Let him find no rest but be fathered and found,

I prayed in the crouching room, by his blind bed,
In the muted house, one minute before
Noon, and night, and light. The rivers of the dead

Moved in his poor hand I held, and I saw
Through his faded eyes to the roots of the sea.
Go calm to your crucified hill, I told

The air that drew away from him.

13 de julho de 2007

O ultimo zurro de Merval

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Eu adoro o Merval Pereira. Ele é o imbecil perfeito. Se todos os colunistas de direita fossem tão débeis mentais como ele, as coisas seriam muito mais fáceis para o país. A sua diatribe de hoje é comparar o governo Lula com o governo Geisel. Tudo bem, liberdade de imprensa é isso aí. Cada um tem o direito de falar a asneira que quiser. Mas que guentem a porrada quando falam merda.

Bem, não é preciso QI elevado para saber as diferenças. Lula foi eleito, duas vezes, com a maior votação da história da democracia brasileira. Geisel chegou ao poder caminhando sobre o cadáver de nossa liberdade.

Mas saltemos esse detalhe. Merval fala sobre o programa nuclear brasileiro. Lula aprovou a construção da Angra 3 e liberou mais 1 bilhão para pesquisas no setor.

E aí vem seu primeiro erro, que beira um ato de traição. O colunista do Globo presta um belíssimo desserviço aos interesses nacionais. Nem Larry Rother, aquele agente da CIA travestido de jornalista do New Times, faria tão bem. Vocês acreditam que Merval junta dois ou três caquinhos e conclui que o programa nuclear brasileiro pode despertar suspeitas de que estaríamos querendo produzir a bomba atômica? Não basta as dores de cabeça que tivemos há alguns anos, quando tivemos que provar e reprovar ao mundo que não se tratava disso. A Agência da ONU veio aqui, como lembra Merval, e confirmou o que todo mundo sabia. O Brasil é de paz. Com esse artigo, o colunista tenta botar areia em nossos projetos de autonomia energética.

O domínio da tecnologia nuclear é fundamental para um país do tamanho do Brasil, com um potencial enorme de crescimento. Não podemos depender somente da energia elétrica, que nos deixa à mercê do regime de chuvas. Segurança energética é isso.

A estupidez de Merval, no entanto, vai ainda mais longe. Ele lembra que o governo Geisel também tinha um programa de álcool e faz uma observaçãozinha mal criada, de que não é verdade que tudo começou no governo Lula. Ora, qual o problema de Merval? Ele ainda trabalha para a campanha de Alckmin? CLARO QUE TUDO NAO COMEçOU COM O GOVERNO LULA. Se o Lula fala isso de vez em quando é porque ele é político e quer vender o peixe dele. Se o Geisel teve programa de álcool e teve programa nuclear, ótimo. Se Lula retomou esses programas, remodelou-os, atualizou-os, excelente. Deixa de ser bobo, Merval. O que conta aqui é a inteligência de sua vontade política de retomar determinados programas interessantes ao país. Além disso, isso cheira aquela falaciazinha bem medíocre, ao gosto do Farol de Alexandria (como o Amorim chama FHC), que consiste em dizer que tudo que Lula fez começou no governo anterior. O Bolsa Família, por exemplo. Omite-se que a questão central aqui não é quem começou, mas a intensidade e a amplitude com que os programas foram retomados (no caso de terem sido retomados). O Bolsa Escola ia para um punhadinho de gente, para ganhar 15 reais por mês, com um sistema operacional atrasado. Eu vi uma fila de duzentas pessoas numa cidade do nordeste, todas se humilhando para ganhar 15 reais ou menos. Hoje as pessoas têm cartão magnético, ganham mais de 100 reais e são mais de 30 milhões. E não venham falar em esmola. Todos os países desenvolvidos, sem exceção, possuem programas de distribuição de renda, voltado para os segmentos mais vulneráveis da população. Tem outros nomes, mas têm a mesma característica e finalidade.

O pior ainda vem, esperem. É absolutamente inacreditável. Merval lembra que Geisel tinha uma estratégia para o crescimento econômico do Brasil voltada para três eixos: substituição das importações, aumento das exportações e estímulo à demanda interna.

Ora, ora, ora. De vez em quando o diabo também encaçapa a bola 7. A estratégia citada por Geisel é simplesmente a única que existe para um país crescer. De Margareth Tatcher a Roosevelt, Júlio César, Napoleão, Bill Clinton, qualquer governante que já existiu no mundo, e que assistiu algum tipo de crescimento em seu país ou império, fez parecido. Pois bem, Merval encerra a coluna lançando a pergunta mais besta que algum jornalista já lançou nos cinco mil anos da história da escrita ocidental. Ou Geisel estava certo ou Lula está retrocedendo ao passado? Escolham. Ponto final. Merval não dá outras opções. Não dá, por exemplo, a opção mais óbvia: a de que tanto Geisel quanto Lula estavam certos nas opções econômicas adotadas. Com a diferença que Geisel mentiu. O consumo interno no Brasil cresceu apenas entre as classes médias durante o regime militar. Nunca houve crédito popular durante a ditadura. Não havia combate à corrupção. Se um jornal denunciasse um coronel por desvio de verba, era taxado de comunista, preso, torturado e lançado do alto de um helicóptero.

Merval, fala sério! Respeita a inteligência de seus leitores.

12 de julho de 2007

Sergio Sampaio, nosso velho bandido

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Sempre ouvi falar do Sampaio. A galera que entende de musica, tem um carinho especial por esse velho maldito da musica brasileira. Agora entendi porque.

E esse outro, tb do Sampaio, é melhor ainda:
http://www.youtube.com/watch?v=RQeHfct-YPs

Seu futuro é duvidoso... eu vejo grana, eu vejo dor

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Outra classica dos anos 80 (essa é foda)

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