18 de fevereiro de 2008

Desmascarando a mídia golpista ou porque a popularidade de Lula continua subindo

Por que chamamos a mídia de golpista? Muitos não compreendem o epíteto que tão facilmente foi colado no rabo de nossa grande imprensa. Sempre vale a pena, portanto, explicar as coisas didaticamente. A mídia brasileira é chamada de golpista por razões históricas. Tentou derrubar Vargas. Tentou derrubar Juscelino. Finalmente, derrubou Jango. As manchetes garrafais da mídia às vésperas do golpe militar eram: "CHEGA!", "BASTA!", e por aí vai. Já naquela época, agiam em grupo, repercutindo sempre as mesmas ladainhas. Não tenho certeza, porém, que toda a imprensa apoiava o golpe. Alguns órgãos eram simplesmente refratários à política de Jango. Outros eram positivamente conspiradores. E houve aqueles que se consolidaram durante os anos de chumbo, como é o caso do Globo. Muitos dos que faziam oposição à João Goulart, no entanto, não apoiaram o golpe militar nem seus desdobramentos cada vez mais totalitários. Foram sufocados e alguns morreram, constituindo grande perda à pluralidade da imprensa escrita nacional, como foi o caso do Correio da Manhã, da Ùltima Hora e do Jornal do Brasil.

É por isso que chamamos a mídia de golpista. Não é por ela ser contra o Lula. É por seu histórico. Mas também por usar métodos inescrupulosos, que a sociedade vêm identificando cada vez mais. Inescrupulosos e, felizmente, não tão eficazes como "eles", os donos e jagunços da mídia, pensam. Ou pensavam. No artigo anterior, eu destrinchei as incoerências gritantes da coluna da Cora Rónai. Ela não se dignou, naturalmente, a fazer nenhum comentário. No blog dela, apenas escreveu, na caixa de comentários, sobre não dar ibope a um "blog desconhecido". Claro, a salvação dela é impedir que seus leitores tenham acesso ao contraditório. O texto de Cora e as pessoas que o aprovaram, mostram bem que ela, decididamente, alinhou-se ao lado podre da direita nacional.

Eis que hoje temos uma surpresa agradável. O instituto CNT/Sensus divulga que a popularidade de Lula cresceu fortemente nas últimas semanas, atingindo seu maior nível desde janeiro de 2003, quando havia uma verdadeira febre lulista, ainda não contaminada dos inevitáveis tropeços de governo. Descontando o setor infantil do esquerdismo que se desencantou com Lula de forma inexorável, dramaticamente, não importando os fatos sociais, como redução de desemprego e demais bagatelas, pode-se dizer que o lulismo conquistou uma grande parcela que não votou nele.

Observem que a pesquisa mostrou que a maioria dos brasileiros ficou sabendo do caso do cartão e que desaprova o seu uso. A mídia concentrou-se nesse aspecto da pesquisa como tábua de salvação, tentando abafar seu maior significado: um retumbante fracasso da busca frenética da mídia em danificar a imagem do presidente. Só que, em verdade, o uso do cartão representa um avanço na fiscalização pública - há consenso total sobre esse ponto entre especialistas, inclusive os entrevistados pela mídia. Se o povo desaprova os cartões, e considera que eles afetaram a imagem de Lula, a dedução é fácil: a mídia desinformou a sociedade. Na sua desesperada luta para abalar a imagem de Lula, a verdade saiu ferida e o resultado político foi o contrário do esperado: a popularidade do presidente atingiu seu ápice.

A constante popularidade de Lula, depois de seis anos de governo, em que a população pode conhecer bem as qualidades e defeitos do presidente, coloca seus críticos numa situação difícil. E não adianta virem com o clichê, falso, de que somente pobres e desinformados prosseguem dando apoio a Lula. As pesquisas do Datafolha têm revelado, seguidamente, que Lula tem maioria em todas as camadas sociais, inclusive as mais altas - embora aí haja maior equilíbrio - e em todos os níveis de instrução. Por isso, só resta à oposição o discurso moral.

Os dois grandes erros da nossa direita cult, neo-lacerdista, são: reinventar uma guerra fria extemporânea e subestimar seus adversários. O comando dos grandes jornais e seus jagunços tentam colar há tempos a pecha de comunista autoritário no governo e em Lula. Mas não cola. Não cola porque nem o PT e muito menos Lula são comunistas. O PT é, há tempos, uma centro esquerda light, que aceita a propriedade privada, a democracia, e as instituições brasileiras como elas são. Lula, então, sempre negou, repetida e transparentemente o seu desconforto quanto ao rótulo de esquerdista. Sempre reiterou que sua bandeira era melhorar a vida dos trabalhadores brasileiros e combater a fome e a miséria, dois problemas que marcaram, traumaticamente, a sua infância e adolescência. Ele sempre afirmou, isso sim, as suas tendências humanistas e socialistas, mas nunca que defendia rupturas institucionais.

Desta forma, quando a direita inicia seu discurso machartista, tentando atiçar alguma obscura histeria patrimonialista entre setores médios da sociedade, as pessoas se perguntam: mas onde está o comunismo no governo Lula? Os bancos estão lucrando mais agora do que antes, as empresas idem, está-se criando um vigoroso mercado consumidor, o PIB brasileiro cresceu fortemente nesses seis anos de Lula, a dívida externa foi paga, achamos grandes reservas de petróleo, a democracia está mais firme que nunca. Onde está o comunismo? Então, a direita se apega, desesperadamente, em movimentos sociais marcadamente socialistas, como o MST. Mas o MST, apesar de não ser criminalizado como era por governos anteriores, não tem presença no governo federal. Ao contrário, o MST tem procurado se afastar do governo. O engraçado é que a mídia, no afã de reproduzir qualquer crítica ao governo federal, já publicou depoimentos negativos de inúmeras lideranças do MST sobre o governo. As pessoas, portanto, ficam confusas.

O segundo erro é subestimar o adversário. Houve caricaturização do Partido dos Trabalhadores. "Petista", ou "petralha", para essa direita, virou sinônimo de corrupto, ignorante, burro. Ora, esses defeitos não são privilégio do PT. O que acontece é que o PT é o primeiro grande partido popular da redemocratização. O PSDB, por exemplo, caracteriza-se como um partido de elite. Não tem processos democráticos de escolha de seus comandos executivos. Somente agora é que, pressionado por sua base e pelo sucesso do PT nessa área, vem planejando criar um sistema interno de "prévias" eleitorais. O resultado é que os quadros políticos do PSDB tem origem em altos escalões acadêmicos e no alto empresariado. Não há acesso das classes baixas ou mesmo das camadas médias aos principais postos do PSDB. Por isso, não há negros nem mulatos no PSDB. Não há "povo" no PSDB. Grande parte do preconceito contra o PT advém daí, do preconceito contra "mulatos", "negros" e "operários" que ousam subverter as mais antigas tradições e assumirem o poder. A ascensão do PT ao poder, e de Lula, em particular, reveste-se por isso de um caráter muito mais progressista que a chegada ao poder de Getúlio Vargas, JK ou Jango. Todos eles possuíam o rosto das elites. A diferença é que estavam impregnados de sensibilidade social e nacionalismo.

A nossa direita é extremamente ciosa do domínio da linguagem e da alta cultura. Parte de nossas classes médias também é muito sensível a demonstrações de erudição e virtuoses linguísticas. Tem uma admiração reverencial por essas qualidades, revelando comportamentos subalternos que beiram o ridículo, como é a alcunha de Tio Rei pela qual um colunista tem orgulho de ser chamado por seu séquito. Ora, o culto excessivo à erudição culminou no nazismo alemão e um país com uma relação mais saudável e arejada com a cultura, como os Estados Unidos, assumiu a liderança cultural do planeta. Os grandes compositores de jazz americanos não eram eruditos, mas são respeitados e reverenciados como pertencentes à nata superior da cultura.

A cultura é uma força viva, que se alimenta de toda experiência humana, erudita ou não. Há pessoas que leram muito e continuam estúpidas. Há pessoas com idéias fixas que ajustam tudo o que lêem a estas idéias. Assim funciona a mente de certos sociopatas paranóicos. Demonstram grande cultura, mas é uma cultura fria, estereotipada, adquirida como quem compra armas, com o objetivo pré-concebido de defender os interesses de sua classe. Uma erudição nazista. Os neo-conservadores americanos e seus súditos no Brasil são assim.

Há, todavia, um outro terrível defeito em nossa direita. Um defeito fundamental. Enquanto a direita do primeiro mundo tem orgulho pátrio, a nossa é envergonhada de suas origens. Esta característica explica muito da patologia histérica, inescrupulosa, de nossos pobres neo-con tupi. Aliás, é engraçado demais (e humilhante para eles) dizer isso: direita tupinambá.

3 comentarios

Anônimo disse...

Análise que, como sempre encontro aqui, vai ao centro da questão. Não dá nem pra criticar o Lula, pra quem tem um minimo de conhecimento da classe dominante envergonhada de ser brasileira. Tem ojeriza a pobres, pretos, paraíbas (nordestinos) e analfabetos. Se prosternam face a brancos, ricos e a tudo que pareça proceder de um primeiro mundo que eles imaginam como uma Ilha da Fantasia da TV colorida. Sua indigestão de cultura faz com que admirem principalmente o que não conseguem entender como no conto "O homem que sabia javanês". Daí as bobajadas do Fernando Henriquinho e outros presunçosos serem tão incensadas. E o desprezo que manifestam com altissonante vigor, justamente para se sentirem superiores, aos que trabalham por baixos salários para cuidar de seu dia a dia, desde a manutenção de casas & jardins como da própria alimentação. Nada conhecem da realidade que os cerca. Tem os pés no nosso chão. Mas as cabecinhas ocas? Nem eles mesmo sabem onde...Júlio César Montenegro

Anônimo disse...

Perfeita análise. Vivemos num pais ainda pobre e com uma população (mais de 80% dela) que não fala o mesmo português que esses empolados senhores. A fala enfeitada e hipócrita não diz nada à maioria dos brasileiros. Este país (o nosso país) não lhes diz respeito. Pertence a uma maioria que percebe alguém que fala a sua lingua e tenta suprir com medidas governamentais de largo alcance os anseios e necessidades antes lembrados apenas em discursos de campanha. Longa vida a uma política que siga essa linha.

carlos augusto a. doria disse...

Alô Miguel, aquí é o Dória. Acabo de criar um blog,http://blogdeumsem-mdia.blogspot.com/, com o objetivo de descarregar minha tensão, já que é difícil lêr e ouvir o que o PIG publica. Peço sua autorização para usar suas matérias, lógico, citando a fonte. Abç Dória

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