"Petistas e tucanos da internet, essas novas categorias do cenário político, irresponsáveis e agresssivos, ficariam surpresíssimos se ouvissem a troca de elogios que Serra e ilustres lulistas trocam fora dos holofotes. Mas não seguiriam. Aliás, nem compreenderiam.
Qualquer tentativa de pensar grande, seja de Lula, seja de Serra, seja de Aécio, acaba indo de roldão na avalanche de pequenos e grandes erros comuns aos dois lados. O dinheiro público vai para o ralo, e a política vai junto. Certamente, porque o poder é deletério e talvez porque falte grandeza ao ser humano."
Trecho final da coluna de Eliane Cantanhede, publicada na Folha de São Paulo, domigo, 10 de fevereiro de 2008
Que pérola! Que maravilha de estilo! Quanta profundidade! Ai, meu Deus, porque eu perco tempo com isso? Seguramente, por diversão. Também por estratégia. Não podemos ficar em silêncio diante desse golpismo. Por que golpismo? Não é liberdade de imprensa? Nananinanão. Quando fica só na imprensa, tudo bem, mas quando uma tapioca monopoliza a agenda nacional, paralisa o Congresso e abafa temas tão mais importantes, aí é golpismo. As três revistas semanais vêm com capas quase idênticas: Veja, Época e Istoé, todas querendo disputar quem bate mais forte no Lula, na busca desesperada de agradar uma parcela da classe média que, de tão mimada, manipulada, enganada, puxada para cá e para lá, já apresenta sérios problemas mentais.
Há uma premissa equivocada em toda a cobertura dos cartões corporativos, seja dos cartões do Serra, seja os cartões do governo federal. Os cartões foram criados para pagar despesas variadas do funcionalismo público e do governo. E para isso estão sendo usados. Qual o grilo com churrascaria? O Clovis Rossis escreve: "um montanha de carne em churrascaria". Ora, montanha de carne? Os policiais de SP já ganham pouco, correm risco de vida, e agora vão ser crucificados por terem comido carne? A mesma coisa vale para todos os outros gastos. No caso dos gastos dos cartões federais, que eu saiba, todos estão sendo justificados. Não se trata, portanto, de "farra" ou "descontrole", e sim de gasto normal. A imprensa, mais uma vez, julgou antes de apurar. Toda a cobertura do caso dos cartões iniciou-se sob uma premissa pré-concebida: houve prevaricação com verba pública. Mas que corrupção meia-boca é essa que o nome do sujeito, o valor gasto e local estão na internet, para todo mundo ver?
Esse texto da Eliane Cantanhede, no entanto, foi o supra-sumo da hipocrisia, do cinismo e da falta de senso. Vejamos: "petistas e tucanos da internet". Que isso? Não são seres humanos? Agora existe petista real e petista de internet? Tucano real e tucano de internet? Aí também vemos o ideal superior da Folha: quer blogs "isentos", provavelmente "isentos" como a Folha de São Paulo. O último parágrafo, em que coloca Lula, Serra e Aécio no mesmo balaio, finaliza com uma profunda constatação moral, extremamente perspicaz e profunda: "Talvez falte grandeza ao ser humano". Hum... Acho que nem Kirkegaard faria uma análise tão sucinta, angustiada e pertinente sobre a humanidade. Só não entendi o uso do advérbio "talvez". Talvez? Então quer dizer que não, que talvez não falte grandeza ao ser humano? Ou talvez falte grandeza em alguns e sóbre grandeza em outros. Talvez sóbre grandeza a Eliane Cantanhede, que fez uma cobertura extremamente responsável, ética e competente sobre a febre amarela, e falte grandeza a esses políticos brasileiros, tucanos e petistas. Não se salva ninguém, no Executivo, Legislativo ou Judiciário. Quer dizer, no Judiciário não. Lá temos esta muralha moral que é o Marco Aurélio de Mello. O fato dele ter soltado o Cacciola, e dezenas de outros bandidos de colarinho branco é só um detalhe que de forma alguma conspurca a sua "grandeza" moral.
E eu, irrefletidamente, tomado desse sentimento de malícia, masoquismo e curiosidade malsã que nos domina às vezes, folheei a revista Veja na loja, e descobri que a média de gastos com cartão de executivos de empresas privadas é tantas vezes menor que a média de gastos com cartão pelos funcionários da Presidência. Ora, quanta exatidão e acuidade científica! Agora, fiquei curioso com uma coisa. Nessa média dos executivos, estão incluídos os barnabézinhos com cartãozinho mixuruca ou só entram altos executivos? Estão somente grandes empresas ou trata-se de uma média geral? Claro que não há informação sobre isso. O leitor de Veja, essa criatura paranormal, com QI muito acima da média brasileira, deve ficar indignado com um governo no qual a média de gastos com cartão corporativo é tantas vezes superior à média verificada nas empresas privadas. Ora, o governo poderia usar a estimativa da Veja e fazer uma nova lei: a média de gastos com cartão corporativo será igual ou menor à média verificada nas empresas privadas, conforme apurado pela Veja. Aproveitando o embalo, podia-se extinguir a Controladoria Geral da República (conforme fez FHC) e criar um conselhão formado por nababos da mídia para exercer o controle ético-administrativo dos governos. Uma das primeiras medidas, naturalmente, seria proibir o petismo, porque ele é, de fato, o grande mal. Qualquer um que lê a Folha, a Veja, e acompanha seus colunistas e blogueiros, sabe que o país só superará a crise ética em que está mergulhado no dia em que for iniciada um violento pogrom anti-petista, perseguindo, prendendo, torturando e matando qualquer pessoas sob a mais leve suspeita de petismo. Os jornais já vem fazendo sua parte, embora ainda tenha muito o que fazer. Segundo alguns os líderes mais radicais do nazismo-católico-midiático da tupilândia, os grandes jornais continuam infectados de petistas. Poucos, mas o suficiente para estragar o cesto inteiro de maçãs. Mas há otimismo, há confiança de que figuras como Ali Kamel, Demétrio Magnoli, Carlos Alberto Di Franco, Sardenberg, Olavo de Carvalho, Reinaldo de Azevedo, e toda a turma de puxa-sacos e demais pusilânimes, irão vencer a batalha mais cedo ou mais tarde e teremos redações limpinhas, esterilizadas de qualquer petismo. Aí teremos todos defendendo o Papa, atacando o aborto, zombando do politicamente correto, formando um bloco unido e poderoso, que irá, enfim, terminar a missão iniciada por FHC, que é vender o que resta do país, matar o povo de fome, e enriquecer meia dúzia de lordes bem relacionados no mundo da alta política.
Mais tarde, daqui a alguns séculos, quando um historiador se debruçar sobre nossa época, irá constatar, entre o perplexo e o risonho: como assim, um país com potencial tão grande de desenvolvimento foi arrastado para um destino de miséria e humilhação por causa de um salgadinho local chamado tapioca?
*
Bem lembrado, Mello. Porque César não abre a SUA CAIXA PRETA?
http://blogdomello.blogspot.com/2008/02/rodrigo-maia-sob-as-ordens-de-paipai.html
10 de fevereiro de 2008
Tapiocas midiáticas III
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