Eu não gosto muito de chamar a imprensa de golpista por causa disso. Não me empolgo demasiado com essa história de PIG, embora ache uma terminologia genial do ponto-de-vista político. Quero dizer, é irônico e tem um fundamento. Mas eu não gosto muito porque, sempre que sai um reportagem falando mal do PSDB ou bem do PT, o que é raro, mas acontece, a teoria se esfarela. Na verdade, a imprensa tem lado. Mistura notícia com opinião. Mas também tem contradições internas. Sempre vai ter. Essas contradições devem ser exploradas, porque é através delas que veremos, possivelmente, alguma evolução.
Hoje saiu matéria no Globo dizendo que "jornais de oposição acusam Cristina de trabalhar pouco e ser ofuscada pelo marido". Pois é. Eles admitem, portanto, que existe imprensa de oposição. Na Argentina. Já é um começo. A imprensa tem lado, isso acontece em todo mundo. Jornais têm dono. E o dono orienta a imprensa. Alguns oferecem maior variedade de opiniões. Mas a maior pluralidade está de um jornal para o outro. No caso do Brasil, os jornais todos são oposição, o que criou um desequilíbrio político grande, exacerbado pela popularidade do presidente da República. E temos também um histórico particular de conluio de golpismo e imprensa, com dois grandes traumas: o suicídio de Vargas e a crise política que se sucedeu e a ditadura militar, onde a imprensa foi não só partícipe ativa, mas co-patrocinadora. Diversas reuniões políticas preparatórias para o golpe de 64 aconteceram em escritórios do jornal Estado de São Paulo.
No entanto, como eu ia dizendo, a imprensa brasileira tem um DNA anti-governista básico, fruto de sua ideologia fundamentalmente anti-estatal, conforme os princípios do neo-conservadorismo que a metrópole quer ver aplicados na periferia. Ou seja, há um conservadorismo de primeiro e outro de terceiro mundo. No primeiro mundo, a direita defende um Estado forte, com baixo gasto social mas alto gasto militar, alto gasto científico (via Nasa, Pentágono, etc). Nos EUA, temos 9 funcionários público para cada 100 habitantes. Aqui são 3 funcionários para cada 100, mas a direita ainda acha muito.
Em função desse DNA anti-governista, a nossa imprensa às vezes publica matérias que atingem seus governos queridos, como aconteceu no caso dos cartões corporativos de São Paulo e com essa matéria da Veja acusando diversos ministros de FHC de usarem aviões da FAB para passeios. Há outro fator, além disso, a imprensa, nos últimos anos, politizou-se profundamente e passou a ser muito menos imparcial. Na época de FHC, por exemplo, publicava-se alguma denúncia, mas esta era logo abafada. Não tinha continuidade e não havia repercussão editorial. Ou seja, não tínhamos aqueles intermináveis editoriais sobre a degradação moral da sociedade. A imprensa publicava, de vez em quando, alguma coisa negativa, mas isso nunca não era transformado em crise política. E a oposição, essa não tinha voz. Era barulhenta, mas só no gogó. Não tinha o megafone da mídia.
11 de fevereiro de 2008
Reflexões sobre a imprensa
Tweet Enviar por e-mailPostar no blog!Compartilhar no XCompartilhar no FacebookCompartilhar com o Pinterest
Gostou deste artigo? Então assine nosso Feed.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
ola! Gostaria de saber se apontando as fontes, posso usar seus textos com meus alunos.
grata,
Ana
Postar um comentário